Visita Noturna

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Eu não gostava de ficar só. Isso era um fato que me acompanhava desde quando era apenas uma menina. E essa visita inesperada, agravou ainda mais a situação. Depois daquilo, ficar sozinha era algo inconcebível. Porém, naquele momento, não tive escolhas.

Comi o que tinha na geladeira, assisti um pouco de TV e resolvi tirar um cochilo. Afinal, tinha dormido quase nada, naquela noite. Subi até o meu quarto e não pude evitar de me olhar no espelho, era como uma necessidade.

Meus cabelos loiros estavam mais ressecados que o habitual e meus olhos azuis não combinavam em nada com minhas novas olheiras. Há algum tempo que não me importava com a minha aparência.

Peguei um prendedor e fiz um coque alto, e assim resolvi o problema do cabelo. E para as olheiras, bastava apenas dormir um pouco. Me joguei na cama e de tão exausta que estava, adormeci quase de forma instantânea.

Sonhei que estava tendo um dia daqueles no hospital. Não paravam de chegar feridos em diversas situações. Lembro de ter atendido uma senhora com uma fratura exposta, provocada por um escorregão no banheiro. E ter prestado socorro a uma criança que conseguiu a incrível façanha de engolir um garfo. O plantão estava uma loucura até que ele entrou pela porta da emergência.

Era o mesmo homem que me perseguiu na garagem e pela rua. A mesma capa que cobria a parte superior de seu rosto e os lábios que formavam um sorriso maldoso. Paralisei na recepção, e não conseguia fugir, enquanto o homem vinha em minha direção.

Comecei a gritar, como uma louca, chamando pelos seguranças que estavam parados nas entradas. Contudo, eles não esboçavam reação alguma ao meu pedido de socorro. Depois de tanto clamar por ajuda, percebi que ninguém se importava comigo. Nesse momento ele me alcançou. Estendeu sua mão pálida em minha direção e tocou o meu pescoço.

— Olá, minha senhora — me cumprimentou. Retirou a capa de cima da cabeça. — Está pronta para conhece-lo?

O desespero tomou conta de mim e acordei, transpirando muito, ainda com a sensação de sua mão gelada em meu pescoço. Respirei fundo, me joguei novamente na cama e reparei que já era noite.

Demorei um tempo deitada, com a esperança de me concentrar nos sons do ambiente. E tudo que ouvia era o silêncio. Aquilo me pareceu estranho, pois mamãe já deveria ter voltado, com as meninas, e era o horário em que, normalmente, Alex estaria por aqui. Papai era sempre o último a chegar, por causa da empresa.

Levantei, preocupada, e comecei a perambular pela casa.

— Alex, você está ai? — cheguei ao seu quarto, onde tudo estava tranquilo até demais. Desci as escadas e parei próximo à porta da frente.

— Mãe, já chegou? — me aproximei da janela, afastei as cortinas e reparei que o meu carro ainda não estava na garagem.

Só depois de alguns minutos, me dei conta de que ainda estava sozinha. Fui até os bancos da cozinha e me sentei. Havia mais um recado, dessa vez, era a letra quase indecifrável de meu irmão.

"Lice, eu cheguei do colégio, mas você estava dormindo. Como não quis te acordar, resolvi fazer igual a dona Linda e te deixar um recado na geladeira. Fui buscar a Mandy e vamos ao cinema. Avise a mamãe. Ps: Eu estou levando o carro dela. A²"

Sorri com o "ao quadrado" posto no "A" final, era seu costume quando assinava algum bilhete. Sua desculpa era que tinha a primeira letra do nome dele e que havia sido a primeira a nascer.

Alex não tinha jeito mesmo!

Se existia um garoto que adorava problemas, era o meu irmão. A prova disso foi ele ter pegado o carro da mamãe, mesmo que ela tivesse deixado bem claro que ele estava de castigo. Isso porque ele apareceu bêbado em casa, na última festinha que participou, sem autorização, na casa do melhor amigo dele.

ImortalWhere stories live. Discover now