Emboscada - Parte Um

24.2K 1.5K 327
                                    

As mãos de Arthur alisaram os meus cabelos enquanto eu permanecia em seus braços. Não queria perguntas, não queria falar. Desde cedo o que eu queria era chorar quieta e o único que me permitiu aquilo, era a última pessoa a quem eu recorreria.

Beijou minha cabeça e me afastou. Os lábios estavam uma linha reta e os olhos corriam por meu rosto.

— Não chore — pediu quase em um sussurro. — Nunca sei o que fazer quando vocês choram.

— Nós? — perguntei.

— Mulheres — respondeu colocando um sorriso perfeito no rosto.

— Então porque me fez chorar tantas vezes? — me afastei de súbito. Acabei me dando conta de quem era aquele que estava ali na minha frente. Poderia enumerar as várias maldades que fez comigo e com Victor. Me perguntei o que fazia ali, afinal. O empurrei e recoloquei o capacete. Arthur segurou em meu braço.

— Eu imploro que fique.

— Me dá apenas uma única boa razão para que faça isso — pedi alterando a minha voz. As coisas que ele havia feito começaram a passar por minha cabeça como se fosse uma tela de cinema: manipulou, estuprou e matou Christine. Matou o Christopher, embora até aquele momento eu não soubesse se era verdade ou não. Me manipulou, usou, machucou, sequestrou, e me transformou. Tudo isso poucos meses depois de ter me conhecido. Eu o odiava e só Deus sabia porque eu ainda continuava na frente dele. Pedindo uma explicação.

— Não fui eu — respondeu de supetão. — Quer dizer... — ele me deu as costas e passou a mão nos cabelos. Estavam maiores que os de Victor. Eu tinha que parar de compará-los. —... fui eu, mas não me lembro. Sei que fiz muita merda, Alice, mas não pode me responsabilizar por elas. Eu não era dono de mim. — Franzi o cenho. Não o estava entendendo.

— Como assim não era dono de você?

— Fica e tento te explicar — os olhos verdes não me abandonaram em minuto nenhum e eu me senti inclinada a aceitar. Não havia entendido nada e queria que ele me explicasse. Respirei profundamente e me aproximei. Retirei o capacete e o coloquei na mesinha que ficava bem ao lado da porta. Guardei a chave ali também. Ninguém seria ousado a ponto de pegar.

— Uma chance apenas, Arthur. É tudo o que lhe dou. Desperdice-a e eu mesma coloco uma bala de prata em seu coração — ele assentiu sem desviar o olhar. — Que bom que estamos entendidos — conclui e ele soltou o ar que estava preso em seus pulmões.

— Você está suja de sangue — me analisou rapidamente. — Venha, vou te dar uma toalha, roupas limpas e um lugar para que possa dormir.

— Não estou com sono. No clã de Victor não dormimos durante a noite — rebati.

— Eu sei, mas imagino que esteja cansada depois de tudo o que aconteceu. Sinto muito por esse ter sido o único modo. Pensei que havia herdado o autocontrole dos modificados. Comportou-se bem no cemitério — Arthur me deu as costas e seguiu pelo corredor enquanto falava. Não me mandou segui-lo porque não precisava. Estava implícito aquilo.

Conduziu-me até o final de um corredor, com dezenas de portas, e abriu a última delas. O lugar estava no mais completo silêncio.

Era um quarto enorme em comprimento, mas na medida certa em largura. Assim que entrei, dei de cara com uma cama de casal, coberta com um lençol branco. No final dela havia um lençol cinza, mais grosso, e estava dobrado de modo que parecia uma tira de pano, de cinquenta centímetros, que a cruzava de um lado a outro. Os travesseiros eram brancos, mas o contraste se dava por duas almofadas na cor vinho que eram da mesma cor do carpete que tomava todo o chão. De frente para a cama havia uma cômoda baixa, com uma televisão desligada, repousando em cima dela. Mais ao fundo, uma mesa de escritório com abajur, computador e papeis espalhados para todos os lados.

ImortalWhere stories live. Discover now