Compromissos

35.7K 2K 461
                                    

O jantar terminou exatamente às dez e vinte, tempo o suficiente para William me deixar em casa e chegar antes de Victor. Isso se não tivéssemos perdido meia hora parados no meio do caminho, há dois quilômetros de casa, porque o "carro quebrou" misteriosamente. Ele nunca foi um bom mentiroso e não seria agora que iria me convencer de que realmente alguma coisa acontecia ali. Franzi o cenho, sentada no banco, enquanto Will encenava aquele teatrinho debaixo do capô. Como percebi que ele estava disposto a seguir com aquilo, peguei a minha bolsa e comecei a andar em direção a minha casa.

— O que está fazendo? — perguntou com os braços abertos, no meio da estrada.

— Indo para casa. — respondi sem me virar, seguindo o meu caminho.

— Mas fica há dois quilômetros daqui.

— Chego em vinte minutos se for a passos largos. Se encontrar uma carona, é possível que chegue mais rápido ainda.

— Alice, espere! — Ele correu até mim e me ordenou: — Volte para o carro.

— Não estava quebrado?

— Você sabe que não. — Ele respirou fundo e me encarou.

— É incrível, sabia? Quando acho que você realmente cresceu, vejo que continua o mesmo garoto arrogante e mimado de quando tinha dezoito... — antes que eu pudesse concluir, William me agarrou em um beijo e me apertou em seus braços. O empurrei para longe e o mais forte que podia, dando-lhe uma tapa em seguida. — Nunca mais, em sua vida, toque em mim outra vez.

— Lice... — falou ele.

— Me leve para casa. — voltei até o carro e sentei-me no banco. William ficou em pé, na estrada, ainda por alguns segundos. Depois fechou o capô e retornou ao carro.

— Me desculpe.

— Essa tem sido a sua frase favorita, durante o dia todo. — minha voz saiu mais ríspida do que devia.

— Eu vou lhe levar para casa. — disse ao mesmo tempo em que ligou o carro. Acelerou o quanto conseguiu, na rua principal, e parou em frente à minha casa, exatamente quando o relógio de pulso avisou: onze horas. — Obrigado pelo jantar.

— Boa noite, William. — disse enquanto saía do carro.

— Boa noite, Lice.

Ele esperou que eu entrasse em casa, antes de dar meia-volta e ir embora. Encostei-me à porta, respirei fundo, e só percebi o silêncio que dominava o ambiente, segundos depois. Meu coração disparou de imediato.

— Mãe. — chamei, mas não tive resposta. — Mãe, cadê você? — O silêncio ainda reinava quando subi as escadas em disparada, com receio de que algo ruim tivesse acontecido. Abri a porta do quarto do Alex na passagem, mas a cama estava vazia e sem qualquer vestígio que ele estivera ali. Dirigi ao quarto de meus pais e finalmente encontrei minha mãe, com o telefone no ouvido, enquanto andava de um lado para o outro. — Mãe?

— Alice. — ela me olhou como se tirasse um peso de suas costas e desligou o telefone. — Estou tentando falar com você há uma hora e o seu celular só cai na caixa postal. Já estava ficando preocupada.

— Descarregou, me desculpe. — respondi fazendo bico. — O que houve?

— O que houve não, o que haverá. — ela gesticulou estressada. — Vou deixar o seu irmão de castigo até a quinta geração.

— O que ele aprontou dessa vez?

— A polícia o prendeu em uma festa, com identidade falsa, alcoolizado e chapado. — Ela respirou profundamente. — Nem sei o que farei quando conseguir colocar as mãos nele.

ImortalWhere stories live. Discover now