Dave Miller

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Caminhei à passos largos em direção ao balcão de recepção da DM Industries. Era um conglomerado de empresas que constitua toda a fortuna de um garotinho que usava aparelhos e tinha espinhas, na época do colégio. Assim me lembrava do Dave.

Meus pais e os dele eram amigos desde a época da faculdade, então era normal que nos conhecêssemos desde sempre. Crescemos na mesma rua e estudamos na mesma escola, até o ensino médio.

Desde jovem era fascinado por armas e dizia que um dia teria uma fortuna criando-as e vendendo-as. Não acreditei e agora estava ali, diante das três recepcionistas, em um dos maiores prédios da cidade. Senti orgulho.

— Olá! Por favor, gostaria de falar com o senhor Miller — pedi para uma das mulheres.

— Creio que terá que retornar outro dia, senhorita... — a jovem, de longos cabelos, extremamente negros, me olhou pedindo um nome.

— Alice.

—... Senhorita Alice. O senhor Miller acabou de sair — deixou transparecer uma expressão de tristeza —, mas se desejar posso agendar uma conversa para a próxima semana, na segunda—feira.

— Não tenho tanto tempo — respondi mais para mim do que para a jovem. — Façamos o seguinte — ela me olhou sorrindo. — Me dê o endereço da casa dele e vou encontra-lo lá.

— Sinto muito, mas não posso. Não tenho autorização para dar o endereço do senhor Miller. É uma informação pessoal.

— Para a minha pessoa você tem — respondi deixando que minha pupila dilatasse e pudesse entrar na mente daquela mulher.

— É claro! Para a senhorita tenho a autorização — respondeu sorridente. Pegou uma folha de papel e anotou tudo ali. — Tenha uma excelente noite, senhorita Alice.

— Obrigada — respondi da mesma forma que ela. Virei de costas e ainda consegui ouvir as três conversando sobre a recepcionista ter me dado o endereço do patrão e ela dizer que tinha recebido autorização para isso. As outras duas perguntaram quem havia dado e ela não sabia dizer quem.

Identifiquei na portaria e fui autorizada a entrar no conjunto de luxo, na cidade de Catonsville. Também tive que usar a persuasão no homem da guarita, mas aquilo era o de menos.

Dave morava na última casa do conjunto, de modo que demorei mais cinco minutos até encontrar o número correto e parar bem em frente a ela.

Por minha mente, passava-se várias coisas que aconteceram no colégio, e isso incluía o dia em que deixamos de nos falar e cada um seguiu sua vida. Me arrependo tanto daquele dia porque além de perder o meu melhor amigo, percebi que fui uma idiota e ele estava certo o tempo inteiro. Encará-lo não seria tarefa fácil.

Aproximei da porta e toquei a campainha. Reparei que no interior da residência tocava uma melodia, em som ambiente, e logo reconheci como sendo a nona sinfonia de Beethoven. Dave adorava esses tipos de músicas.

Alguns segundos depois ela foi abaixada e batidas de um coração tomaram seu lugar. Senti minha garganta queimar antes que pudesse prender a respiração e a governanta abrir a porta para mim.

— Dave está? — perguntei sem rodeios.

— A quem devo anunciar? — perguntou com um sorriso simples no rosto.

— Alice — respirei fundo. Não queria que ninguém soubesse que eu estava viva, mas para que Dave me ajudasse, teria que contar a verdade para ele. — Doutora Alice Baker.

— Por favor, doutora, aguarde um instante enquanto vou anunciá-la ao senhor Miller — a mulher, que já aparentava ter mais de cinquenta anos, me apontou uma sala de espera que ficava bem ao lado da porta. Era bastante aconchegante.

ImortalWhere stories live. Discover now