O Outro Lado da Moeda

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Caminhei até a entrada do cemitério e de lá até o carro. Um homem, de camisa verde e calças jeans, aguardava encostado no veículo. Ao me ver, deu a volta e abriu a porta para mim. Parecia saber que iria até lá e isso me intrigou ainda mais.

Eu não sabia o que me esperava ao entrar e também não podia voltar atrás. Arthur mataria a minha família sem pensar duas vezes. Era mais fácil fazer o que ele havia me dito e dançar conforme a música. Só tinha medo do ritmo dela.

Olhei mais uma vez para o sujeito que ainda permanecia em minha frente, segurando a porta. Era alto e tinha os cabelos incrivelmente pretos e arrepiados. Os olhos tinham duas cores diferentes, um azul e outro castanho. Era portador de uma anomalia genética chamada heterocromia, mas não fazia a menor diferença quando seus olhos assumiam a cor negra.

Continuei observando-o até que fez o sinal com a mão, me mandando entrar. Respirei fundo antes de sentar no banco e vê-lo fechar a porta. Arthur sentou-se no minuto seguinte. Parecia querer ter a certeza de que eu o faria para então se aproximar.

— Olá Alice — falou retirando os óculos escuros e guardando-os no bolso interno da jaqueta de couro. Não respondi, apenas continuei olhando para a frente. — Relaxe um pouco, só vamos dar uma volta — bateu no ombro do motorista que arrancou o carro. Arthur encostou-se no banco e continuou me encarando por um tempo longo o suficiente para se tornar constrangedor.

— O que você quer? — perguntei por fim.

— Passar um tempo com você. É metade minha também — respondeu de uma forma simples, como se eu fosse um brinquedo que os dois poderiam dividir a hora que bem entendessem. Respirou fundo e tirou um lenço vermelho do bolso. — Mas para onde nós vamos, não posso deixar que veja o caminho. Já me causou problemas demais com o hotel.

— Vai me sequestrar outra vez? — virei encarando-o. Ele colocou um sorriso simples no rosto. O mesmo sorriso fácil que Victor tinha. Era incrível como eu ainda me impressionava com a semelhança dos dois.

— Não, Alice. Como eu disse, vamos apenas dar uma volta. Estará sã e salva quando tudo terminar — não confiava em Arthur e nem em mil anos confiaria. Ele havia matado Christine e tentado me matar. Dissera que não, mas eu sabia que deixaria meu coração explodir se Victor não tivesse sido rápido e se apegado a ideia de que conseguiria criar uma hibrida. — Vou te privar dos sentidos. Sabe como é, não é? Vampiros tem uma excelente audição e olfato também. Além da visão, é claro.

— E se eu não quiser nada disso?

— Teria que ser um pouco mais insistente — respondeu sem piscar. Os olhos verdes correndo por meu rosto, tentando decifrar cada expressão que se formava.

Virei no banco do carro, de modo que ficasse de costas para ele, enquanto amarrava a venda em meus olhos. Depois me deu algo forte para cheirar e meu olfato foi embora imediatamente. Assim como também colocou fones de ouvidos em mim, enquanto tocava uma música alta. Rock.

Ele realmente não queria que eu soubesse para onde iríamos.

Tentei decorar as voltas que o carro deu e quantas vezes virou a esquerda, a direita ou passou por uma lombada, mas o motorista parecia saber o que estava fazendo e antes de chegarmos onde tínhamos de chegar, ele rodou por quase duas horas.

Depois de um período de incertezas, ele finalmente parou. Arthur saiu do carro e eu quis retirar a venda, mas antes que o fizesse, abriu a porta e segurou meu braço. Não rude como das outras vezes, mas gentil. Aquilo me despertou um medo sem tamanho.

Me conduziu até um lugar e quando percebeu que era seguro, retirou os meus fones e foi para trás de mim.

— As paredes são a prova de som — alertou enquanto desamarrava o lenço vermelho. — Não vai conseguir ouvir nada enquanto estiver aqui. Seu olfato ainda está sob o efeito da mistura que cheirou e só retorna em mais ou menos duas horas. — o pano saiu de meu rosto e abri meus olhos. Doeram com a intensa claridade ali dentro, mas logo se acostumaram. Paralisei ao perceber onde estava.

ImortalWhere stories live. Discover now