O Baile de Máscaras - Parte Três

25.4K 1.6K 167
                                    

O canto dos pássaros, do lado de fora da janela, me fez acordar. O sol entrava pelos vidros e incidia diretamente em minhas pernas que estavam descobertas, mas eu não o sentia. Era uma luz que não esquentava. Era estranho.

Passei as mãos em meu rosto antes que eu me esticasse e sentisse todos os meus músculos relaxarem de uma forma gostosa. Parecia que eu havia corrido uma maratona e depois dormido por horas a fio. Sentei na cama e reparei no lugar. Eu reconheceria aquele quarto onde quer que eu o visse, mas era impossível ser. Era uma casa, construída inteiramente de madeira rústica e o piso de linóleo. Eu morei ali a minha infância inteira, mas ela foi destruída por causa de um incêndio quando eu fiz dez anos.

Sorri ao me dar conta de que estava ali outra vez. Lembro-me que Alex estava na barriga. Minha mãe dizia que pararia por ali, bastava apenas uma menina e um menino. Alguns anos depois ela engravidaria das gêmeas. Uma surpresa e tanto para toda a família.

Levantei da cama e segui para fora do quarto. Usava um short de seda pequeno e uma blusa de malha branca, de alças. Peguei um elástico, em cima da cômoda, e amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo muito mal feito. Caminhei pelo corredor e de lá para a escada.

— Mãe? Pai? — respirei fundo e continuei descendo em direção ao térreo. — Alguém em casa? — entrei na sala de estar e vi uma senhora, com cabelos brancos no comprimento do ombro. Estava de costas para mim, mas os dedos finos tamborilavam no braço de uma cadeira de balanço. Havia duas alianças em seu anelar e ela parecia estar à espera de alguém.

Assim que notou minha presença, levantou-se.

— Alice! Achei que dormiria até mais tarde hoje — me encarou com aqueles incríveis olhos azuis e, no íntimo, eu a conhecia. Só não lembrava quem era aquela mulher.

— Onde eu estou? Quem é você? — perguntei franzindo o cenho.

— Não se preocupe com quem eu sou, mas a sua pergunta sobre onde você está, será respondida — falou devagar, a velhice transparecendo em sua voz tremula. Antes que eu pudesse exigir que ela me desse uma satisfação, uma menina segurou minha mão direita. Aparentava ter a idade de nove anos e sorriu para mim. — A nossa princesinha vai te mostrar tudo — a menina me olhava e por mais louco que possa parecer, eu sorri para ela também. Os cabelos castanhos e extremamente lisos, caiam por sobre suas costas e os olhos, quase da cor do mel, me olhava com amor. Eu conhecia aquela menina, mas igual a senhora eu não sabia de onde.

Deu as costas e me puxou junto com ela, não largava minha mão em momento algum. Cruzamos a porta da frente e quando dei por mim, estava em meu quarto de quando eu tinha dezoito anos. Notei que também havia mudado de roupa. Usava uma blusa vermelha, por baixo de um casaco de couro negro e uma calça jeans. Botas concluíam a vestimenta.

— O que fazemos aqui? — perguntei e ela levou o dedo pequeno até a boca e me mandou fazer silêncio. Eu assenti e voltei a observar a cena. Uma cópia minha saiu do banheiro, falava ao celular e alisava a enorme barriga de gravidez. Eu me lembrava daquele dia, como esqueceria? Falava com Susan sobre o nome da bebê. Foi ela que me deu a ideia de chama-la de Laura. Eu não tinha a mínima noção de como escolher um nome.

A minha cópia desligou o telefone, respirou profundamente e começou a conversar com a bebê. Dizia que ela estava agitada demais naquele dia. Não pude evitar de acumular lágrimas em meus olhos. Aquele foi um dos dias mais difíceis e feliz, em toda a minha vida. A eu jovem levantou-se da cama e deu alguns passos, antes que se apoiasse na parede e segurasse o baixo ventre. Aquele era o motivo de toda a agitação da bebê. Ela estava para nascer.

— Mãe! — gritou. — Mãe, me ajuda — gritou novamente. Eu tive o instinto de me aproximar, mas a menina segurou em minha mão.

— Não pode interferir — me alertou. Assenti antes que a mulher parasse na porta do quarto.

ImortalWhere stories live. Discover now