As Joias do Infinito

By AnaEspadeiro

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A explosão gerada pelo Big Bang, mudou as coisas no multiverso. Mas, além disso, surgiram 6 gemas com extremo... More

Avisos
Elenco
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capitulo 5
Capitulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Capitulo 19

Capitulo 11

124 14 30
By AnaEspadeiro

🚨 Aviso de Gatilho 🚨

"A beleza dói
Mostramos o que temos de pior
Você tenta consertar algo
Mas você não pode consertar o que não pode ver
É a alma que precisa de cirurgia"
–Pretty Hurts, Beyoncé

~P.O.V. Phoebe~

Abro os olhos extremamente cansada. Vontade de continuar dormindo é o que não me falta agora. O treino de hoje de manhã é meu. Já estou no 5º treino, e acho que evolui bastante nesse meio tempo, até porque meu treinador não me deixa passar um dia sequer sem dar um treino de no mínimo 15 minutos. No inicio me irritava, mas ja consigo perceber a diferença de como eu era e pra como estou.

Viro para o lado e vejo Eve em sua cama dormindo. Renee estava certa, ela ficou muito melhor com o cabelo curto. As duas se tornaram muito amigas nessas 3 semanas desde que Eve chegou, onde Renee está, a Eve está. Sorte que Aaliyah não é do tipo ciumenta, diferente do meu pobre amigo Matt que se vê barrado por Eve sempre que tenta se aproximar da Joia da Realidade.

Ponho-me de pé, meio zonza pelo sono e pela fome. Corro pro banheiro, escovo os dentes, tiro meu pijama roxo de unicórnios, tomo meu banho ao som de "Sweet But Psycho" da Ava Max e ponho uma blusa azul, uma calça legging, e um casaco esportivo preto por cima. Prendo meu cabelo em um alto rabo de cavalo e visto os tênis de corrida saindo.

Quando volto pro quarto vejo Eve já acordada trocando de roupa ali mesmo.

–Bom dia, Eve! –Digo arrumando minhas roupas.

–Bom dia! –Ela responde enquanto praticamente corre pra fazer as coisas.

–Nossa! Que pressa. Vai fazer algo hoje? –Pergunto.

–Ah, vou sim! –Ela responde pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha. –A Renee me chamou pro quarto dela, ela quer me mostrar algumas músicas do país dela.

–Coréia? Gosta de K-Pop? –Pergunto confusa. Não parecia muito o estilo de música que alguém como a Eve escutaria.

–Na verdade eu nunca ouvi, mas a Renee me garante que é muito bom, então eu quero conhecer. –Ela diz ainda socando as roupas dentro do armário.

–Mas, pra que tanta pressa? –Pergunto apoiando-me no gaveteiro.

–Não quero deixa-la esperando! –Ela fala afoita. Aquilo realmente não parecia algo muito normal pra Eve, ela não era assim com mais ninguém. Semana passada quando o Edward marcou de mostrar algumas constelações para nós ela até se atrasou!

–Ah! Sim... –Digo suspeitando.

–Gosta de que estilo musical, Phoebe? –Ela pergunta calçando os tênis vermelhos.

–Que? Eu? Ah! Indie! Algo mais leve!

–Combina com você! –Ela diz e eu sorrio pra mesma. –Bem, vou indo, tchau! Bom treino!

Ela agarra sua bolsa, sorridente, e sai pelo quarto batendo a porta e eu me estremeço com o susto. Há 3 semanas estamos dormindo no mesmo quarto e há 3 semanas que sempre a vejo agir assim quando a Renee está em questão.

–A possessiva foi embora? –Olho pra frente e vejo Matt entrar no quarto.

–Foi sim. E adivinha! –Digo.

Hum!

–Foi atrás da Renee! –Falo. –Como sempre!

–Qual é? Você já foi assim com alguma amiga sua? Quero dizer, esse grude todo? –Ele pergunta parado na porta claramente irritado.

–Matt, quer que eu seja sincera?

–Claro!

–Eu posso estar muito enganada, mas eu acho que a Eve não gosta da Renee como amiga. –Falo bem baixo me aproximando dele pra que ninguém mais ouça.

–Como não, Phoebe? Elas vivem juntas e...

–Matt! Eu não estou dizendo que a Eve não gosta da Renee! Eu estou dizendo que acho que ela gosta tanto, que não é um gostar de amizade, mas um gostar casal!

No instante que termino a frase a mente de Matt parece explodir dentro dele. Acho que eu quebrei a mente da Joia da Mente. Os olhos se esbugalham e o rosto fica pálido em uma expressão de surpresa e choque.

–Matt?! Matt? Você está bem? Matt?

–Ai... Meu... Deus... –Ele sussurra com os olhos fixos na parede e eu paro em sua frente sacudindo-o tentando trazer sua alma de volta ao seu corpo sem que eu precise chamar a Aaliyah pra isso.

–Matt?

–Como eu não pensei nisso antes? –Ele pergunta ainda em choque.

–Porque você é homem, é meio lerdo! –Respondo dando uns tapinhas nas suas costas. –E lamento te informar, maninho, mas a Renee é bissexual, então, a Eve é uma forte concorrente. Ainda mais com aqueles olhos azuis, você viu como são azuis?! Parecem até o oceano!

Exclamo pensando na imagem de Eve e me esqueço do que estamos tratando. Olho pra Matt e ele me olha furioso, e eu percebo que acabei falando demais.

Ops... Foi mal! –Digo com um sorriso amarelo tentando que ele me perdoe. –Mas, pensa pelo lado bom! Você é um amor de pessoa! E tem essa franja que é muito legal de brincar!

–Eu não sei, Phoebe... –Quando ele me chama assim, é porque o bagulho tá sério. –Eu realmente gosto da Renee, e... No dia do treino dela, eu realmente senti algo, eu pude sentir uma química entre nós, eu sei rolou algo entre nós e sei que ela também sentiu. Mas, ai a senhorita "Vamos Fazer Tudo Juntas" apareceu e... E agora tudo o que você falou faz sentido! –Ele diz desolado sentado na ponta da cama de Eve.

–Então, Matt! A Renee gosta de você e talvez goste da Eve também, a questão é saber de quem ela gosta mais.

–Como saber, se ela está sempre por perto? –Ele pergunta.

–Eu ouvi falar que o Stark está querendo fazer outra festa. Não tão grande quanto a primeira pra nossa recepção, mais uma socialzinha mesmo, convida ela!

–E a Eve?

–Quem me contou sobre isso foi a Ali, duvido que a Eve saiba. Chegue antes que a ruivinha descubra, meu caro amigo! –Digo depositando um beijo no topo de sua cabeça, em seus cabelos. –Agora eu vou indo, antes que o Loki brote em meu quarto me xingando.

–Okay, Fifi. –Odeio vê-lo assim. –Até!

Saio pelo corredor em direção ao refeitório, pego uma xícara de café pondo o mais forte que eu aguento, espero esfriar e tomo de uma vez, até tomar um susto com a ilusão que brota na minha frente do nada.

–Phoebe!

–QUE SUSTO! –Grito quase derramando o café. –Ai, Loki! Que merda! Agora eu entendo porque a Renee te xinga tanto! Aparece do nada que nem uma alma penada!

–Está atrasada!

–Eu estava ajudando um amigo. –Justifico.

–E eu estou tentando te ajudar, então vê se não demora mais!

–Ta bom, vossa alteza!

Minhas mãos tremem um pouco e sei que é pelo excesso de cafeína. Sempre tomo meu chá de erva doce, mas nos dias de treino prefiro café e sem açúcar por motivos pessoais.

–Bom dia, Phoebe! –Olho pra frente rápido e vejo Aaliyah entrar na sala. Escondo minhas mãos atrás do balcão rápido para que ela não as veja tremer.

–Bom dia, Aaliyah!

–Estranho... –Ela me olha meio confusa.

–O quê?

–Você só disse "bom dia", cadê as milhares de perguntas e coisas que você sempre fala?

–Ah! Sim! É que eu tenho treino com o Loki e já estou super atrasada.

Sinto minha barriga roncar, não só roncar como doer de fome. Preciso comer algo, então opto por algumas frutas de baixo teor calórico.

–Ai!

–Ta tudo bem? –Pergunta Aaliyah tirando os olhos heterocromáticos de seu café. –Você parece melhor, Phoebe, não sei dizer o qué... Parece mais... Saudável?

–Você acha?! –Abro um enorme sorriso. –Que bom que notou! Ganhei alguns quilos sim, nada demais.

Parte de mim se sente feliz em dizer isso, enquanto o ser dentro de mim grita o quão horrível isso é e o quão fracassada eu sou.

–Mas, você está...

–Estou atrasada! Vou indo antes que Loki volte! Tchau, Aaliyah! –Me despeço rapidamente mudando de assunto e saio correndo para o subsolo.

Assim que chego vejo aquele homem alto de costas pra mim. Os cabelos pretos ondulados colado a sua nuca, e aqueles traços marcantes em seu rosto. Acho que a sorte dele é que a joia do Poder sou eu, e não Renee, certeza que ela destruiria esse rostinho bonito em um soco.

–Pensando no quê? –Ele pergunta se virando pra mim.

–Na imensa sorte que você tem em estar me treinando. –Dou uma pausa enquanto ele franze o cenho confuso. –Quase todas as outras joias querem te matar!

–É uma honra saber disso, senhorita Odili. –Ele abre um sorriso debochado.

–Por nada, Odinson!

–Laufey! –Ele diz desmanchando o sorriso.

–Como?

–Laufeyson! –Corrige. –Depois de anos de mentira, Odin não tem mais o direito de me chamar de filho!

–Pensei que tinha feito as pazes com seu pai, digo, com Odin.

–Por que pensou isso?

–Bem, você está de bem com o Thor, não está enfiando uma faca no abdômen dele como fez no ataque à Manhattan há anos atrás. Até se tornou um Vingador! –Digo me aproximando.

–É, depois que o Ragnarök quase destruiu Asgard, eu percebi que o trono já não era tão importante, e que mesmo assim, Thor continuava tentando ajeitar as coisas entre nós. Diferente de Odin, que sempre foi um mentiroso descarado comigo, com Thor, com o reino, como quando escondeu a existência de Hela. –Ele diz meio decepcionado. Não gosto de vê-lo assim.

–Todos temos problemas com nossos pais, Loki.

–Nem tenta. Sua família é perfeita!

–Talvez! Mas, minha mãe biológica é 100% ausente! –Digo.

–Isso porque ela é feita de vocês! Ela não existe mais!

–Detalhe! –Digo e ele ri.

–Vamos, não estamos aqui pra falar sobre mim, temos que te treinar, ainda quero que vença um deles.

–Nós não lutamos entre nós! –Retruco.

–Acredite, Phoebe, um dia algum imbecil vai querer saber qual de vocês sete é o mais forte, aposto que essa pessoa será o Edward ou o Thomas. E o meu nome estará em jogo, assim como os dos outros Vingadores! –Ele diz ajeitando seu traje.

–Desista, meu caro! A Renee pode ter o poder que quiser! Não tem disputa com ela. –Falo. –Assim como não tem disputa com o Thomas se ele resolver voltar no tempo antes que eu possa fazer algo, ou a Aaliyah se ela quiser sugar a minha alma, ou o Matt se ele quiser entrar na minha mente e me fazer ver os meus piores medos!

–Espera... –Ele parece pensativo. –Repete a última parte, a que se refere ao Matt.

–Que ele pode entrar na minha mente e me fazer ver os meus piores medos?

–Phoebe, você é genial! –Os olhos dele parecem brilhar.

–Eu sei! –Digo até me perguntar. –Por quê?

–Saberá em breve. Mas, agora, esqueça! Vamos focar no que importa. –Ele diz tomando distância. –Quero que aprenda a usar seus poderes enquanto luta.

–Quê?

–As outras joias estão treinando separadamente. Magia uma hora, luta corporal na outra. –Seu olhar desafiador se concentra em mim, era explícito o quanto ele me via como uma aluna prodígio que ele quer muito treinar. –Quero fazer diferente com você.

–E qual o seu plano?

–Unir ambos. –Ele diz com naturalidade, como se não soasse uma loucura. –A joia do poder só pode ser controlada por alguém que entenda perfeitamente sua força.

–Como pretende fazer isso?

–Ah! Pare de complicar as coisas, Phoebe. –Ele diz.–Faça o seguinte, eu quero que sempre que você for dar um golpe, você se concentre na área de seu corpo que vai usar e deixe o poder fluir.

Penso bem em suas palavras e começo a analisar a situação. Me preparo pra correr, e quando o faço ergo-me no ar apontando um soco pro boneco a minha frente e concentrando em meu pulso, mas me sinto zonza e o soco fraqueja.

–Merda! –Exclamo irritada balançando as mãos machucadas.

–Está dispersa! –Ele diz.–Algo tem a sua concentração, e não é a minha beleza, muito menos nosso treino.

–Eu to concentrada. –Minto. Estou tão fraca e zonza como estive há dias atrás quando Edward me encontrou desmaiada no banheiro. –Vamos de novo.

–Tudo bem.

Tomo distância mais uma vez, mas antes que eu possa dar o primeiro passo meu estômago dói, dói absurdamente. A fadiga era tanta, o cansaço, que do nada minha visão fica turva, se escurece, mas eu me concentro ao máximo pra me manter acordada, mas isso custa os movimentos dos meus membros inferiores, e eu simplesmente caio de joelho no chão me amparando com as mãos completamente zonza.

–PHOEBE?!

Penso ser a voz de Loki, mas por meio de meus olhos entreabertos e a pouca luz que consigo captar, vejo aqueles olhos avelãs me encarando e a barba por fazer em seu rosto. De repente sinto meu corpo ser agarrado e erguido no ar.

Droga!

–E-Eu to bem... –Sussurro na esperança que ele desista disso tudo.

–Vai ficar tudo bem, eu to aqui. Não vou deixar nada de ruim te acontecer! –Ele falava aquilo com sua voz grave, preocupada, que eu realmente não sabia que ele tinha.

Percebo que qualquer pedido de que ele dê meia volta será inútil, sei pela preocupação em seus olhos e pelos batimentos acelerados em seu peito contra o meu ouvido. Por isso, me rendo em seus braços enfim perdendo a consciência e desmaiando mais uma vez.

***

Abro os olhos perdida. Não me lembro de muita coisa, apenas flashes. Um salto no ar, então eu estava no chão e de repente no colo de Edward.

Tudo parece mais claro agora. O ar entra melhor em meus pulmões, minha visão parece melhor, tudo parece mais claro.

Olho ao meu redor e vejo aquela sala branca, o teto branco, ao meu lado direito um banco, a frente uma porta, e a esquerda uma poltrona maior, onde Edward estava deitado de olhos fechados. No meu braço, vários acessos ligados ao soro.

Soro fisiológico. A solução glicosada. Água, sódio, açúcar e outros eletrólitos. Aproximadamente 1500 calorias e, visto que Edward está em um sono profundo, esse já deve ser o meu segundo ou terceiro soro.

Me sinto frustrada, irritada, é como se todo o esforço dessa semana para perder peso, os treinos, as abdominais, as refeições que não fiz, como se tudo fosse por agua abaixo com esses litros de soro que eu tenho certeza que tem várias ampolas de glicose.

–Phoebe...? –O nome me chama enquanto a água emerge os olhos marejados e transborda por meu rosto. –Hey... Calma. Ta tudo bem... O que houve?

–M-Me desculpa! –Balbucio entre as lágrimas.

Shhh! Calma! Não foi sua culpa! Vamos descobrir o que está acontecendo. –Ele diz acariciando meu cabelo bem próximo a mim.

Ah, Edward! Se você soubesse a verdade será que ainda me olharia assim ou seria apenas mais um na plateia de júris a me julgar pelos meus ato?

A porta se abre revelando uma mulher asiática, os cabelos lisos presos em um coque, o jaleco branco e a pele também. A conheço de vista, mas nunca fomos devidamente apresentadas.

–Boa noite! –Há quanto tempo eu estou apagada? –Prazer, eu sou a doutora Helen Cho, encarregada pelo Nick Fury como médica de todas as joias. Vocês são... Phoebe Odili e Edward Fontana, respectivamente joia do poder e do espaço, certo?

–Sim, certo. Qualquer dificuldade basta associar as iniciais aos nomes. –Edward explica bem próximo a mim, segurando firme a barra da maca. –Mas, doutora o que está havendo com ela? Já é o segundo desmaio dela em menos de 2 semanas.

–Segundo? –Ela me olha pasma, mas não surpresa. Ela era inteligente demais pra não saber a verdade. –Então, isso é algo recorrente, senhorita Odili?

–N-Não... Digo, por que seria? –Gaguejo. Nunca soube mentir. –E me chame de Phoebe, por favor...

–Okay, Phoebe. Acho melhor conversarmos em particular. –Ela diz e eu retraio meu corpo abraçando o mesmo enquanto olho para os lençóis envoltos no meu corpo, tentando evitar qualquer contato visual com Edward.

–Quê? –Ele indaga inconformado. –Não! Eu preciso saber o que está acontecendo, doutora! Ela tem alguma doença? É isso? O que está havendo?

–Edward, se acalme, por favor. –Ela diz. –Tem que entender que o paciente...

–Não, doutora! Não tenho que entender nada, eu...

Eles ficam discutindo por alguns minutos enquanto eu aproveito essa mínima distração para remover o esparadrapo da dobra de meu braço e, calmamente, remover a agulha ali inserida. Mas, assim que a solto, ela bate contra o metal na cama fazendo um baixo barulho que ecoa na sala e faz os dois me olharem.

–Senhorita... Digo, Phoebe. –Ela se auto corrige. –Precisamos conversar. Agora.

Era explícita a urgência em sua voz que parecia calma.

–Pode falar, doutora... –Talvez essa tenha sido a decisão mais louca que eu já tomei. Nem mesmo Matt, que é meu melhor amigo nessa casa sabe. Nem 4 de meus 5 irmãos. O único que sabe é meu irmão adotivo mais novo, Zaire, de apenas 14 anos e meus pais, quando Zaire contou pra eles. –Edward, promete guardar segredo?

–Quê? Mas...

–Promete?! –Pergunto olhando-o com os olhos marejados.

–Prometo... –Ja vi esse olhar uma vez. Foi o mesmo que Zaire me deu quando me viu ajoelhada no banheiro.

–Então, doutora, podemos conversar agora. –Sussurro, mas ela consegue me ouvir.

–Okay, então. Phoebe, eu serei direta. –Ela da uma pausa respirando fundo, e solta: –Há quanto tempo você é anoréxica?

Aquelas palavras soam como um chute na garganta de Edward. Ele fica atordoado, confuso, se questionando se ouviu certo. Mas, para mim, elas são apenas como o som do tiro de canhão em uma guerra, familiar.

–2 anos e meio... –Digo sem perceber as lágrimas que caem.

–E quem mais sabe disso?

–Meus pais. Você. Meus médicos. Meu irmão de 14 anos. E agora o Edward. –Falo pausadamente.

–Seus pais sabem há quanto tempo?

–9 meses, mas... não os culpe, por favor. Eles são pais legais. São ótimos, na verdade. Mas, eles têm 5 crianças pra cuidar, não da pra reparar em mim 100% do tempo.

–E os médicos não perceberam isso antes?

–Tenho quase 18 anos, doutora. Meus pais não iam mais comigo aos médicos, era eu quem marcava, quem desmarcava e quem fingia que ia. –Digo. –Sempre uso roupas largas e enchimentos pra que não vejam... Não perceberam por quase 2 anos, até meu irmão me ver ajoelhada em frente a privada forçando o vômito. Abuso da maquiagem, pra que não percebam as olheiras profundas em meu rosto e as marcas em minha pele.

–Marcas? –Ela indaga com os olhos franzidos.

Puxo a coberta para o lado e levanto um pouco o vestido de hospital que estou usando, mostrando a minha perna. Lá estavam alguns hematomas bem roxos, e em outro lugares cicatrizes similares a perfuração de uma faca.

–Phoebe, o que são essas marcas? –Ela pergunta chocada. –São automutilação?

–Não. –Dessa vez falo a verdade. –É o poder da joia! Ela já é forte demais pra um corpo feito de carne e osso aguentar, e, bem, quando você não tem muito tecido muscular, adiposo, entre outros pra te fortalecer, a essência acaba sendo muito forte pra que a minha pele sozinha a segure em meu corpo. Então, ela vaza. Rasga minha pele, rompe vasos sanguíneos, etc.

–Tecnicamente, está me falando que você pode explodir? –Ela me olha surpresa com seus olhos esbugalhados.

–Meio que isso... –Respondo envergonhada de tudo isso.

–Phoebe, já procurou ajuda psicológica?

–Já sim... Fui internada quando eles descobriram. Fiquei 3 meses em uma clínica. Um mês internada e os outros dois na reabilitação... Foram os meses mais difíceis da minha vida... Eu era amarrada à cama a noite pra não sair correndo, ou fazer abdominais na cama, ou qualquer outra coisa. Eu tenho pavor de algemas...

–E esses meses lhe ensinaram sobre seu distúrbio?

–Não me parece um problema, doutora. –Sussurro. –Digo, eu faço exercícios.

–Não minta pra si, Phoebe. Seus exercícios não são feitos para o bem de seu corpo, mas sim para a deterioração do mesmo. –Ela fala séria. –Logo, não haverá mais gordura em seu corpo e o mesmo passará a destruir seus musculos pra te manter viva, como acontece com muitas das crianças de seu país que vivem nas áreas carentes. Isso é um problema sério, Phoebe. Anorexia e bulimia não são brincadeira...

–Eu sei, doutora. –Falo. –Estou me tratando e por mais que ainda tenha algumas recaídas, eu ganhei peso. Não uso mais enchimentos, ou coisas do tipo, às vezes eu consigo comer, faço 2 refeições diárias, mas... Eu tenho dias ruins. Como todo mundo tem. E nesses dias, eu me sinto um lixo e ponho pra fora tudo que comi... Como quando Edward me encontrou desmaiada no banheiro.

–Ela vai melhor, doutora Cho! –Pela primeira vez desde que essa conversa fora iniciada, Edward se manifesta. Havia me esquecido que ele estava nessa sala. –Ela vai em um psicólogo, psiquiatra, o que ela tiver que ir, ela vai!

–Obrigada, Edward. –Ela agradece. –Agora, será que eu posso por o soro de volta em você, Phoebe?

–Quantos já pôs...? –Pergunto secando o rosto com as costas das mãos. Ela inspira sabendo o que vai acontecer e responde:

–Esse é seu terceiro.

–Sabia que isso totaliza 4500 calorias...? O necessário pro ser humano diariamente são 2000! Ja me deu mais de 3000! Já está bom! –Digo me sentindo agoniada. Sufocada. Era como se eu não conseguisse respirar, falar, ou pedir socorro.

–Phoebe, você está fraca.

–Eu... Eu... –O ar falta nos pulmões, minhas mãos suam frio e meu corpo começa com espasmos. Eu estou em pânico. É como se meu mundo fosse destruído por cada caloria ingerida e tudo que eu consigo pensar é em como e quando eu vou poder perde-las. –Me tira daqui! E-Eu preciso de ar!

–Phoebe...?

Antes que alguém fale mais alguma coisa, me ponho de pé mais rápido do que eles possam acompanhar. Edward agarra em meu braço, mas meu pânico era tão forte que a joia do poder extravasa de mim mais uma vez e o joga sentado contra a poltrona.

Saio correndo sem olhar pra trás sentindo uma imensa dor na mão que o empurrou. Jogo as portas para os lados e passo direto por qualquer um que me veja com aquele vestido branco de hospital. As portas do Complexo se abrem e eu corro mais um pouco, saio noite a fora, vendo as luzes do complexo ligado, adentrando a pequena floresta que havia ali por perto, perdendo o fôlego e as forças até enfim cair sobre meus joelhos no meio daquela mata ao meu redor.

Minhas mãos apertam a grama e terra sobre elas, e eu respiro ofegantemente, olhando pra baixo e puxando o ar com tremenda dificuldade. Eu puxo e solto. Puxo e solto. Puxo e solto. Em meio a tudo isso, eu choro. Choro como nunca. Choro com a dor de alguém que sabe que tem um problema mas que não quer a cura. A anorexia é o meu escape, é a minha droga.

É a minha droga pra fuga desse mundo, pra fuga de quem eu sou. Passei minha vida como pedra acorrentada ao orbe, e agora me sinto acorrentada a mim mesma.

Não há nada que psicólogo algum possa me dizer que eu já não saiba. Eu jamais usaria drogas, isso destruiria meus pais, sei que se sentiriam falhos, péssimos, e eu jamais poderia fazer isso com eles. Então, estar com fome, passar fome, é a minha alternativa pra tudo. Me concentrar em quantas calorias devo perder e em não comer, me faz sair um pouco de meus problemas...

–PHOEBE?! –Faria de tudo pra não ser encontrada agora, mas meu choro alto e frenético ecoa pelas árvores chamando a atenção até dos animais que ali vivem.

–Calma... Calma... Vai ficar tudo bem!

Como quem se aproxima de um cachorro raivoso, ele vai se aproximando aos poucos, esperando minha reação, vendo se irei empurra-lo de novo ou se deixarei-o se aproximar.

Mas, dessa vez, eu não estou mais com a descarga de adrenalina em meu corpo me preparando pra luta ou pra fuga. Estou apenas eu. Fraca, tremula, vulnerável, mais uma vez, um fardo.

Shhhh!

Edward me envolve em seus braços e eu apoio a cabeça em seu ombro deixando aquela mágoa sair de mim pela primeira vez. Morar em uma casa com mais 5 irmãos não é fácil, chorar nunca foi algo que pude me dar ao luxo de fazer. Mas, isso não significa que eu não tinha meus próprios sentimentos.

–Por que não nos contou? –Ele pergunta.

–Não queria me tornar um peso pra vocês. –Ele segura meu rosto em suas mãos quentes forçando-me a olhar para ele, então diz:

–Você não é um peso, Phoebe Odili. Está me entendendo? Você é uma das mulheres mais fortes que eu já conheci, e eu não estou falando sobre nossos poderes. Independente do que esteja acontecendo, você vai conseguir passar por cima. Eu vou estar com você a cada passo que der. A cada refeição. Você consegue superar isso! E eu vou te ajudar!

–Eu to tão cansada, Edward...

Minha mão esquerda doía tremendamente, olho para ela e vejo um hematoma que cobre grande parte da minha mão. Roxo, alguns pontos vermelhos e outros amarelos. Foi por onde a magia extravasou.

–Bota pra fora. –Ele diz calmo.

–Eu... E-Eu... Eu não aguento mais, sabe? –Falo abafadamente. –Ser infeliz cansa! Cansa muito! Eu sei que eu to sempre saltitando pelos lados, com um sorriso no rosto dando bom dia pras pessoas. Mas, eu tenho medo de que elas estejam passando por coisas piores que eu. Tenho medo de que se descobrirem a verdade, eles se afastem de mim e o meu problema só aumente. Edward, eu to em pânico!

As lágrimas já desciam sem pedir autorização, eu só sinto um forte aperto no peito e uma imensa falta de ar.

–E o que você quer fazer agora?

–Eu...? Eu quero que isso acabe!

–Confia em mim pra te ajudar? –Ele arqueia uma das sobrancelhas com seu olhar claramente compadecido. Eu nunca havia visto esse lado nele.

–Confio...

–Confia em você? –Ele pergunta causando uma epifania em mim.

–Eu não sei... É como se houvesse outra pessoa dentro de mim, que grita coisas horríveis o tempo todo. Às vezes eu consigo cala-la, mas tem momentos que esse outro ser dentro de mim destrói a Phoebe que existe em mim e toma conta da minha cabeça e do meu corpo, e tudo que ela fala eu acredito.

–Então, nós vamos continuar nisso. Você está conseguindo se alimentar, você quer viver, você está indo um dia de cada vez. Uma refeição de cada vez. Vamos buscar ajuda. Toda a ajuda possível. Psicólogos, psiquiatras, clínicas, especialistas, tudo! Nós vamos fortalecer a Phoebe e destruir esse ser dentro de ti de uma vez por todas, está me entendendo?

Balanço a cabeça em afirmativo e ele seca uma das lágrimas de meu rosto me acolhendo em seus braços mais uma vez e me deixando ali, em paz, fazendo com que eu me sinta bem melhor relembrando de cada refeição que já fiz, das conquista que cada uma delas foi, e esse pensamento me tranquiliza.

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