A Pretensão dos Cavaleiros

By fbcioprudente

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O humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene... More

| APRESENTAÇÃO |
- Mais Um Belo Dia em Asmabel -
- Tal Mãe Tal Filha -
- O Confeiteiro Enfermo e Seus Desejos -
- O Debate dos Confeiteiros -
- Pães, Bolos e Tortas -
- As Rivalidades dos Nobres -
- A Coroa e o Cajado -
- O Respeitado Rei de Vordia -
- O Conto do Primeiro Cavaleiro -
- O Massacre do Vilarejo -
- Um Confortável Moinho -
- O Filho Esquisito e o Filho Estúpido -
- Um Trabalho Muito Honesto -
- Os Quatro Cavaleiros Irmãos -
- Hora de Uma Nova História -
| COMENTÁRIOS |
- A Incontestável Crença Alial -
- Uma Proposta Tentadora -
- As Crianças Sem Rumo -
- O Mendigo Caridoso -
- A Trapaça dos Competidores -
- Um Norsel, Um Trenó e Um Punhal -
- Harmonia Mágica e Natural -
- A Fabulosa Cidade de Asmabel -
- O Chefe da Ordem dos Ejions -
- Uma Fagulha de Esperança -
- Desavenças na Estalagem -
- Solidariedade e Consequências -
- O Cavalo e o Bispo -
- As Melhores Intenções -
- A Casa da Justiça -
- A Grandiosa Cidade de Vordia -
- A Oportunidade Perfeita -
| COMENTÁRIOS |
- Florescer de Sentimentos -
- O Bondoso Rei de Asmabel -
- A Princesa dos Cervos -
- O Próximo Plano -
- A Revolta dos Alunos -
- O Intenso Fogo Branco -
- O Jardim das Rosas Brancas -
- Um Menino Frustrado -
- A Ponte da Marcha -
- Muitas Roupas Para a Festa -
- Um Banquete Deslumbrante -
- Presentes da Primavera -
- A Princesa e o Plebeu -
- O Príncipe e a Donzela -
- A Rainha e o Cavaleiro -
- Uma Péssima Manhã -
- A Aprendiz e o Mestre -
- O Verdadeiro Poder -
- O Primeiro e Segundo Teste -
- O Terceiro e Quarto Teste -
- Um Treinamento Intensivo -
- A Arena de Brolom -
- Os Guerreiros e o Monstro -
| COMENTÁRIOS |
- Um Último Juramento -
- A Honra da Espada -
- A Sagrada Árvore Alial -
- O Quinto Teste -
- Um Comandante Imprestável -
- As Exigências do Rei -
- Uma Batalha Feroz -
- Derrotas, Vitórias e Mais Derrotas -
- Um Pai, Dois Filhos e a Madrasta -
- Um Ressentimento Profundo -
- As Baixas da Batalha -
- O Duvidoso Destino do Reino -
- Juramento de Lealdade -
- O Filho Indeciso e o Filho Inútil -
- Um Beijo de Despedida -
- A Partida da Cidade de Asmabel -
- O Recomeço dos Ejions -
- Os Andors Selecionados -
- O Jantar Real -
- Uma Coroação Ilegítima -
| AGRADECIMENTOS |

- A Fúria do Príncipe -

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By fbcioprudente

Os bardos costumam contar histórias, das mais alegres às mais tristes. Muitos foram os nomes que contribuíram para moldar a história de Aradus ao longo dos longínquos tempos, assim como muitos outros contribuíram para mudá-la ao longo dos recentes tempos. Reis e rainhas nasceram e morreram, deixaram seu legado para seus herdeiros e construíram novos rumos para os tempos venturos. Estações vieram e se foram, moldaram a terra e mudaram os céus, assim como os que habitavam nesse mundo.

A mais temida das estações sempre fora o inverno pois seus ventos gélidos traziam a fome, a perda das plantações e as doenças seguidoras do frio. Muitas vezes o inverno é dito como sinônimo de morte, e todos temiam isso. Ora, a Cidade de Asmabel já havia passado por incontáveis invernos desde seu levantamento, mas nenhum foi tão desastroso como o inverno de dezenove anos atrás. A maldita estação que gerou a guerra entre os dois reinos que até então viviam em paz. O mesmo inverno que destruiu as plantações de grãos, que afastou os peixes dos rios, que assombrou os animais das redondezas e levou as aves dos céus.

Alma nenhuma esperava que o frio desta vez havia chegado para ceifá-los. Em nenhuma época o sagrado Altar dos Ejions foi visitado tantas vezes como naqueles dias sombrios. Os cidadãos da cidade rezavam aos Seres Aliais pelo fim daquela calamidade, clamavam pela varredura das nuvens que insistiam em impedir a vinda do sol, as mesmas que perseveravam em mudar o adorado rosado por um branco sem fim. Os armazéns estão escassos, os fazendeiros avisavam. Os vilarejos não produzem mais, os governantes declaravam. Mantenham a fé, os andors pediam. Mas a fome prevalecerá, as pessoas diziam.

A cidade estava à beira de um colapso, e isso ninguém podia negar. O Rei Grival escondia-se nos confins de seus salões e mantinha-se aquém dos clamores de ajuda daqueles que tentavam adentrar o castelo. O povo estava faminto, e nem mesmo o rei e sua corte sabiam o que fazer. A adorada Rainha Ferlira, tida como solidária com o sofrimento de todos, insistiu que seu marido enviasse um pedido de ajuda ao único que teria capacidade de auxiliar seu povo, o Reino de Vordia. Um absurdo, muitos afirmaram. O orgulho prevaleceu nos nobres da corte ao ouvir tal sugestão. O rei não aceitou, não havia possibilidade para tal. Acreditava profundamente que nada poderia lhe fazer mudar de ideia. Até que a fome bateu na porta de seu castelo.

Na desolação do inverno, a Rainha Ferlira concedeu ao Rei Grival seu primeiro herdeiro, uma menina que recebeu o nome de Fenuella. No entanto, pouca foi sua felicidade pois a desgraça assolava cada vez mais a população. A fome perdurava não somente na plebe mas na corte também. O choro da menina foi o último lamento que quebrou o orgulho do rei. Uma mensagem foi redigida e enviada através da mente do Andor Conselheiro, nela era levada relatos de sofrimento e pedidos de ajuda.

O Reino de Vordia também enfrentava um rigoroso inverno naqueles dias, mas os Seres Aliais pareciam ter optado por castigar Asmabel com o extremo frio e fome. O Rei Malonder de Vordia recebeu o pedido de ajuda e ponderou o que deveria fazer. Alguns aconselharam o uso da solidariedade, já outros o persuadiram a dar ouvidos à esperteza. Sua esposa, a Rainha Cassiana lhe deu sábios conselhos. Por outro lado, seu único filho, o jovem Príncipe Valandir afirmou que a negociação presencial e assinatura de tratados era a melhor forma de garantir benefícios por ambas as partes. E essa foi a decisão do rei. Uma visita da corte asmabeliana foi solicitada a ser realizada na Cidade de Vordia.

O Rei Grival não hesitou, reuniu os membros da corte e marchou com sua comitiva pelas terras frias que antes foram as mais férteis desta terra. A Rainha Ferlira não aceitou deixar sua recém nascida filha sob a guarda de parteiras e aias, insistiu em levar a pequena Fenuella consigo, e assim fez. Quando chegaram nos portões da grandiosa Cidade de Vordia, foram recebidos com olhares silenciosos e atentos do povo vordiano. Três dias foi o período que levou a negociação. Entre reuniões e debates, foi estabelecido que o Reino de Vordia forneceria duzentas carruagens contendo sacos de grãos, jarras de óleos e potes de especiarias. Em troca, o Reino de Asmabel se comprometeria em fornecer minério bruto, madeira sofisticada e cavalos tratados. Sob esses termos, foi assinado o Tratado de Troca.

A Rainha Ferlira de Asmabel depositava todos os seus cuidados na pequena filha, um aconchegante cômodo foi disponibilizado para ela e sua criança. Mas a adorada rainha possuía outras facetas além de seu amor pelo povo. Meiron, um membro de sua guarda real, era o responsável por agradar a rainha em seus lençóis nos confins de seus aposentos durante as solitárias noites. O Rei Grival obviamente não nutria desconfianças da conduta de sua amada esposa, ou, se nutria, não as deixava transparecer. Por meses, rainha e guarda mantiveram relações escondidas dos olhos de todos. Mas as coisas não eram mais as mesmas, algo havia mudado. O desejo carnal de Ferlira parecia ter se esvairado pois várias foram as vezes que ela rejeitou a aproximação do amante. O nascimento de sua primeira filha a havia mudado, era o que ela garantia. A rainha não era mais a mesma, tornou-se uma mãe. E isso não agradou Meiron. Seu amor deixou de ser correspondido, nem mesmo seu corpo a agradava mais. E esse descarte foi o estopim para a sua revolta.

Após os três dias de negociação e o selo do tratado, a família real deixou a Cidade de Vordia e partiu com sua comitiva para retornar ao Reino de Asmabel. Mas naquela sombria manhã, o guarda Meiron decidiu que atrapalharia os planos de seu soberano, ele desejava vingança pela rejeição. Nada lhe agradaria mais do que causar o sofrimento daquela que lhe humilhou. Adquirir uma armadura vordiana e usurpar o posto de um guarda real foram as tarefas que lhe permitiu infiltrar-se nos aposentos da Rainha Cassiana de Vordia. Ela tentou se defender, mas seus gritos foram abafados e o homem a estrangulou. Ele foi capturado logo depois, mas no fim a rainha jazia morta em seu quarto.

Quando o Príncipe Valandir tomou ciência do ocorrido, ele deparou-se com o seu pai segurando o cadáver de sua mãe. Foi a única vez que Valandir permitiu-se derramar uma lágrima. Tristeza acompanhou o emissário que anunciava a morte da Rainha de Vordia e a população depositou suas condolências no funeral. O assassino foi preso e torturado, não para revelar a verdade, mas sim para que sofresse. As supostas confissões foram lhe arrancadas com facilidade, matou Cassiana à mando da Rainha de Asmabel, foi o que disse. Não tendo nenhum posicionamento de seu pai, Valandir ordenou que o assassino fosse apresentado em público e executado para que o povo tivesse conhecimento de que a bondade de Vordia havia sido traída pelas maquinações dos asmabelianos. O ódio foi instaurado na população.

A corte cobrou uma atitude firme da parte do Rei Malonder, mas este encontrava-se aprisionado em um luto profundo. O rei afastou-se dos conselhos, afastou-se do povo e afastou-se da luz, preferiu esconder-se nas sombras de seu quarto a abraçar o silêncio do vazio. Alguns meses depois, Malonder foi encontrado morto em seus aposentos, ele suicidou-se. A morte do rei foi anunciada, e com ela veio exigências dos nobres e revoltas da plebe. O Príncipe Valandir convocou os nobres e reuniu a corte, um conselho assumiu que Asmabel cometeu traição em quebrar a lealdade firmada durante o tratado, portanto, eles deveriam sofrer consequências para reparar os estoques fornecidos por Vordia e o assassinato da rainha. Valandir decretou guerra, preparou seu exército e afirmou que ele seria coroado rei somente quando retornasse da guerra. Ele lideraria as tropas como um príncipe pois não seria o primeiro rei vordiano a ser derrotado por Asmabel.

Quando o Rei Grival foi informado sobre a declaração de Vordia, ele viu-se desorientado. O inverno assolava a população e as sepulturas tomavam o espaço das plantações. A corte decidiu por reforçar as defesas dos vilarejos que encontravam-se próximos à Fronteira Tortuosa na tentativa de enfraquecer o exército inimigo antes que ele chegasse nos portões da cidade. O Vilarejo Esmerion viu-se mais protegido do que jamais estivera, mas Valandir enviou seus barris explosivos para destruírem seus muros. Sua resistência durou menos tempo do que a passagem de uma estrela cadente no céu. O Vilarejo Vorlovel construiu catapultas e armou arqueiros para deter o exército inimigo, mas os andors trazidos por Valandir usaram seus feitiços para explodir as pedras no ar e permitir o avanço das tropas. O local viu seus recursos serem saqueados mais depressa do que a correnteza de um rio feroz.

Restando apenas o Vilarejo Cimonell para que o inimigo alcançasse as pradarias verdejantes da cidade, o Rei Grival decidiu enviar todo o seu exército para massacrar as tropas inimigas antes que eles fossem além do vilarejo. No entanto, os andors de Valandir o informaram antecipadamente sobre a aproximação de um número incontável de soldados. Um confronto direto resultaria em sua derrota. Sendo assim, ele optou por sair da rota do vilarejo e marchou um longo percurso a mais seguindo a afluente do Rio Florin. Quando os sentinelas nas ameias da cidade avistaram a aproximação das tropas inimigas, o caos tomou a população. Os cidadãos correram para suas casas e os nobres afugentaram-se no Castelo da Corte. Valandir enviou os aríetes para derrubarem os portões e os arqueiros atingiram os defensores da muralha. Com menos da metade do exército presente na cidade, sua derrota estava concretizada.

Os soldados vordianos assassinaram os militares que encontraram em seu caminho. Nenhum morador foi ferido, nenhum plebeu e nenhum nobre. A violação estava direcionada apenas às forjas, às carpintarias e aos estábulos. No entanto, isso não satisfaria o orgulho de Valandir. O príncipe atravessou a cidade com seus homens e invadiu o Castelo da Corte. A Rainha Ferlira ordenou que suas aias escondessem a pequena Fenuella e ela decidiu por ficar com seu marido no Salão Real. Quando Valandir adentrou o local, deparou-se com o casal real protegido por seus guardas. Houve um curto confronto onde os soldados de Asmabel pereceram. Valandir empunhou sua espada e assassinou a Rainha Ferlira diante de Grival como uma justiça em nome de sua mãe. Ele afirmou que poderia matá-lo, assim como sua herdeira, mas não era seu desejo encerrar a monarquia asmabeliana. Afirmou que o deixaria viver, para que ele se lembrasse do homem que o derrotou.

O Príncipe Valandir deixou o Reino de Asmabel levando consigo não apenas seu exército quase incólume, mas também carruagens de minério bruto, madeira sofisticada e cavalos tratados. Quando ele retornou à Cidade de Vordia, foi recebido pela população com saudações e glórias. A cerimônia de coroação foi realizada e o jovem príncipe foi nomeado Rei do Reino de Vordia, Comandante Supremo das Forças Vordianas e Décimo Oitavo Monarca.

Sua liderança na guerra restaurou a confiança da população e seus feitos inspiraram a criação da conhecida canção Fúria do Príncipe.

Oh! Inverno terrível!
Oh! Inverno terrível!

O frio era grande
A fome temível
Todos clamavam
Maldição invencível!

Inverno terrível!
Inverno terrível!
Disseram ao frio
Para fome temível!

Oh! Oh!
Oh! Oh!

Reis e rainhas
Nasceram e morreram!
Deixaram seus legados
Para os seus herdeiros!

O tratado assinaram
Em Vordia selaram!
Pena que a rainha
Eles não pouparam!

Oh! Oh!
Oh! Oh!

Agora furioso
O herdeiro retornou!
É o Grande Valandir!
A multidão glorificou

Os vordianos se vingaram!
Asmabel eles queimaram
Com a sua espada apunhalou
A rainha ele assassinou!

A vitória garantida
Pelo príncipe concebida!
Foi na frente do rei
Que a vingança foi cumprida!

Essa é a fúria!
Essa é a fúria!

— Eu estou muito curiosa para saber os detalhes da conversa que vocês tiveram com o meu pai. — Fenuella optou por sentar em uma cadeira e esticar as pernas sobre a borda da mesa.

Quando Laurelia tomou conhecimento sobre a vinda da filha do rei, ela logo adiantou-se em trazer uma cesta contendo deliciosos pães confeitados e rosquinhas adocicadas.

— Trata-se de uma proposta que nós fizemos sobre retaliação aos ataques sofridos. — Adamor permanecia apoiado na borda da mesa tomando apenas uma xícara de café.

— Retaliação? Você quer dizer destruir os vilarejos deles também? Nossa, isso é ousado.

— Na verdade, princesa, a proposta que nós levamos ao rei não foi somente revidar os ataques sofridos. Nossas ideias vão além disso, muito além. — Mercel esclareceu.

— E o que estão esperando para me contar?! Parem com esse mistério ou eu vou morrer de curiosidade.

— Nós queremos reunir um exército, marchar para Vordia, atacar aquela cidade e matar o rei deles. — A revelação de Eurene acabou sendo mais impactante do que Adamor esperava que sua palavras fossem.

Para o estranhamento de todos, um sorriso surgiu no rosto da princesa.

— Isso é bom... isso é muito bom!!! — Ela deu uma mordida no pão em sua mão.

— Perdão, mas Sua Alteza concorda com a proposta que apresentamos? — Idarcio a indagou. — Confesso que esse não era exatamente o posicionamento que eu esperava inicialmente.

— Faz dias que eu venho dizendo ao meu pai que nós precisamos tomar uma atitude em relação aos vordianos. Mas ele... não me escuta. Parece até que eu sou a mãe e ele é o filho dizendo bobagens.

— De fato o rei não demonstrou interesse nenhum em considerar nossas ideias. Nem mesmo a rainha agiu em nosso favor.

— Isso não me admira. É mais fácil esse flito aí conversar do que aquela mulher fazer o que é certo — Fenuella comentou.

Filo, que estava perto da cadeira dela, virou-se para Idarcio em busca de explicações. Mas aparentemente, nem mesmo o andor havia compreendido o que a princesa quis dizer, afinal conversar com o flito era o que Idarcio mais fazia em sua vida.

— A rainha não é sua mãe? — Eurene perguntou com curiosidade.

— Os Seres Aliais me pouparam desse fardo. Eline é só a minha madrasta, minha mãe foi morta há dezoito anos. Morta pelas mãos do rei que vocês querem destronar.

Eurene mostrou-se surpresa. Por um momento sentiu-se como se fosse a única ali presente que não detinha conhecimento sobre a realidade e a história do próprio reino. Idarcio, percebendo a falta de interpretação da menina, pôs-se a explicar.

— Esse terrível acontecimento pertence aos fatos que narram a guerra conhecida como Fúria do Príncipe, minha cara Eurene. O assassinato da adorada Rainha Ferlira foi um golpe na pouca felicidade do povo de Asmabel naquela época.

— A minha mãe foi uma grande mulher e uma ótima rainha, todos dizem isso. — Fenuella assumiu uma feição reflexiva coberta por amargor. — Valandir me tirou o direito de crescer nos braços dela. Fazer ele pagar por isso é o mínimo que eu posso desejar.

— O povo asmabeliano sente a falta de sua mãe até os dias de hoje, princesa — Adamor acrescentou. — Mas você precisa se lembrar que, além do assassinato de sua mãe, há outros motivos para querermos a morte dele.

— Ele enviou tropas para massacrar e saquear dois vilarejos nossos nas semanas recentes — Mercel informou.

— Sim, eu sei sobre a destruição dos vilarejos Esmerion e Erban. Quando a notícia chegou no castelo, eu tentei conversar com meu pai sobre o assunto mas ele logo me interrompeu quando eu disse a palavra guerra. Meu pai deseja fugir de um confronto contra Vordia a todo custo. Ele já perdeu uma guerra contra eles antes, e acima de tudo perdeu sua rainha, a minha mãe. Por isso peço que não guardem rancor pelo o que ele possa ter dito a vocês naquele salão.

— O rei tem seus motivos para evitar uma guerra, e nós compreendemos isso. Mas de qualquer forma, a ameaça está batendo em nossos portões, e nós precisamos responder à altura.

— Eu concordo com vocês. Venho defendendo uma retaliação há dias e vocês são os primeiros a tentar um levante de armas nessa causa. Sua presença aqui será vital para mudar a opinião do meu pai, cavaleiros.

— Na verdade, princesa, apresentar a proposta ao Rei Grival não é somente o que nós pretendíamos. O Idarcio é o andor de nossa equipe, ele será responsável por influenciar a mente de algumas pessoas próximas ao rei para que o leve a tomar a decisão que esperamos.

— Controle mental não é minha especialidade, mas acho que posso ser bem sucedido nessa tarefa. — O andor afirmou abrindo um sorriso.

— Pelo visto vocês pensaram em um segundo plano caso a audiência desse errado.

— Era necessário, não podemos apostar somente na diplomacia.

— Bom, eu não vim aqui apenas para conhecê-los, senhores. Quando eu soube que foram apresentar uma proposta contra o Reino de Vordia, eu logo assumi que vocês poderiam ser meus aliados em mudar a opinião do meu pai. Eu pensei em outras formas de vocês obterem êxito nessa missão. Em outras palavras, eu não vim aqui de mãos vazias.

— O que quer dizer, princesa?

Fenuella ajeitou-se na cadeira e inclinou-se erguendo os olhos para todos ao seu redor.

— Haverá um torneio daqui duas semanas, o Desafio Mortal. Quatro guerreiros irão disputar o posto de Comandante do Exército, o cargo militar mais alto e prestigiado do reino. Acontecerá na Arena de Brolom, os quatro enfrentarão um orgolon adulto e, quem conseguir matá-lo ou for o último a restar vivo, assumirá o posto do atual comandante.

Houve um momento de silêncio causado pela análise de todos.

— Será que alguém pode me dizer o que é um orgolon? — Eurene dirigiu sua pergunta para cada um dos presentes.

— Orgolon é uma criatura dos tempos antigos, cara Eurene. Eles estão quase extintos nos dias de hoje, creio que os dois que são mantidos nos confins daquela arena são os últimos exemplares vivos no Reino de Asmabel.

— Sim, é uma criatura selvagem e irracional — Fenuella complementou. — Eles possuem uma enorme facilidade em matar quem os perturba naquela arena.

— Desculpe a pergunta, princesa, mas o que isso tem a ver com a nossa causa? — Roren indagou ouvindo a conversa.

— Um reino é sustentado por três pilares, a coroa, o cajado e a espada. O meu pai é o rei que quer evitar uma guerra. O Andor Conselheiro não pode usar a Crença Alial para interferir nos assuntos militares. Mas, por sua vez, o exército não obedece diretamente ao rei. Não, eles obedecem ao seu líder, o Comandante do Exército. Se o comandante ordenar a partida das tropas em direção ao Reino de Vordia, mesmo sem o consentimento do rei, o exército o obedecerá. É por isso que esse cargo é tão almejado.

— Aonde quer chegar nos dizendo isso, princesa? — Adamor semicerrou os olhos.

— O que eu quero dizer é que, se um de vocês participar do torneio e vencer, terá então o total controle do exército de Asmabel e não precisarão da permissão do rei para iniciar essa guerra.

— Mas iniciar uma guerra sem a permissão do rei seria traição. Isso poderia trazer consequências para todos nós.

— Não se vocês vencerem a guerra. Inicialmente sim, seriam considerados traidores, mas se vocês derrotarem Valandir, tomarem o controle da cidade e vingarem a morte da minha mãe, o meu pai os isentará de qualquer punição e poderão até serem considerados heróis, não só pela corte mas pelo povo também.

— O que acha disso, Adamor? — Mercel perguntou.

Através de sua expressão, percebia-se que o cavaleiro refletia profundamente sobre tal proposta.

— Acho que é uma opção a ser analisada.

— Mas quem de nós vai lutar nesse torneio? — Roren dirigiu sua pergunta aos companheiros.

— Quanto tempo temos para decidir?

— Cinco dias — a princesa respondeu. — É tradição que a corte forneça um banquete de apresentação dos participantes no castelo para que os nobres da cidade conheçam e parabenizem os valentes guerreiros que colocarão suas vidas em risco para servir ao reino. Mas isso tudo são apenas palavras bonitas para dizer que os participantes terão uma última refeição decente antes de morrer naquela arena.

— Isso é perigoso demais para qualquer um de nós - Mercel afirmou - Lutar contra uma criatura desse porte é algo que está além do nosso treinamento em Edaron.

— Mas pode ser a nossa melhor chance — Borbon opinou. — Esperar o andor controlar a mente dos nobres naquele castelo pode levar anos.

Idarcio pareceu sentir-se ofendido pela expressão em sua face.

— A pressa é inimiga da perfeição, Borbon - Mercel argumentou. — Nós estamos em uma missão que exige cautela e por isso saber esperar é essencial.

— Mas e se ele falhar? E se o andor for descoberto e preso? Acabará com o plano.

— É um risco que temos que correr pois essa é a alternativa mais segura.

— Eu digo para irmos ao desafio — Borbon afirmou com firmeza. — Se o comandante dessa cidade conseguiu vencer esse monstro, nós também conseguiremos. Ou melhor, eu conseguirei. Estou disposto a lutar contra esse orgolon.

— Não. — O firme tom de Adamor chamou a atenção dos demais. — Eu participarei do desafio.

— Chefe, será melhor se um de nós enfrentarmos essa criatura. Afinal você é o líder — disse Roren.

— Justamente por isso, é eu que devo enfrentá-lo.

— Deixe-me lutar contra o mostro, Adamor — Borbon deu um passo à frente. — Sou o mais forte entre nós.

— Sei disso, meu amigo. Mas eu fui proclamado líder, jamais permitiria que um de meus seguidores lutassem em meu lugar. Eu fui o responsável por criar essa causa, logo os maiores esforços devem cair sobre mim.

— O risco de você morrer é muito alto, Adamor — a princesa o alertou. — Para vencer, o guerreiro deve ser o último dos quatro a restar vivo ou, no mais raro dos casos, matar o orgolon.

— Então um árduo treinamento me aguarda nesses próximos dias, treinarei intensamente para me preparar até o desafio.

— Mas lembrem-se que haverá um banquete uma semana antes do torneio. O participante poderá levar quantos convidados quiser para o castelo. Será uma longa noite de cumprimentos e conversas com os nobres da cidade. Você deverá ir e apresentar seu nome ao Andor Conselheiro.

— Então eu farei isso. Eu irei ao banquete e meus companheiros também. — Ele virou-se para todos os que estavam ao redor, desde Adilan até Mercel.

— Então está decidido. — Fenuella demonstrou satisfação com o rumo final do diálogo. Em sua opinião, nada poderia ter sido melhor.

— Essa será uma jogada arriscada, meus amigos, mas é por um prêmio que vale a pena. Nós derrotaremos aquele rei. — Foram as palavras de Adamor.





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