- Os Guerreiros e o Monstro -

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As engrenagens começaram a ranger e o primeiro raio de luz adentrou o espaço oculto atrás do portão. Quando este havia sido erguido por completo, os quatro desafiantes adiantaram-se em dar os passos para revelarem-se diante da plateia que já urrava em animação. O forte sol chegou até a incomodar os olhos de Adamor, mas logo pôde ter uma visão geral de toda a área ao redor. Ele não foi capaz de avistar seus companheiros, tendo em vista a incontável quantidade de pessoas ocupando os três níveis de arquibancadas.

Quase todos os espectadores urravam o nome de seus campeões, os que eles torciam fortemente para vencer. Sem dúvida alguma aqueles homens possuíam uma parcela de afeição por parte dos cidadãos, já que exerciam certa influência social, seja por possessão de terras ou por postos militares. O único que não apresentava uma notável quantidade de adoração era Adamor que não passava de um desconhecido ao lado daqueles três guerreiros. 

Havia outro espaço abaixo das paredes da arena onde Mercel, Borbon e Roren foram permitidos ficar para assistir a batalha, levaria muito tempo até eles encontrarem um lugar vazio naquela imensidão de gente lá em cima. Uma grande janela na parede lhes permitia observar o que acontecia no lado de fora, uma janela protegida por grades. Os três cavaleiros analisavam silenciosamente o comportamento dos quatro desafiantes, viam o porte físico de cada um e as armas que carregavam em suas mãos. 

Por que ele não escolheu uma lança como os outros? Mercel indagou-se ao ver que seu líder era o único a segurar uma espada. 

O público urrava e clamava pelo início do espetáculo. Na verdade, a maior parte dos exaltados eram homens que ansiavam por um momento de diversão. As mulheres em sua maioria mantinham-se sentadas e abanando-se com seus leques. O que eles tanto clamavam para ver não iria mais demorar a vir, pois o barulho de engrenagens tomou conta do local. Todos agora, público e desafiantes, viraram-se para o canto leste da arena onde havia uma grande abertura abaixo da área destinada aos nobres da corte. 

O enorme portão fortificado com barras de ferro começou a ser erguido lentamente e produzia um ruído ensurdecedor. Agora as pessoas não gritavam mais pois estavam muito ansiosas para verem o monstro depois de tantos meses desde a última celebração. Adamor engoliu um seco e tinha seus olhos fixos na escuridão atrás daquele portão. Na arquibancada, Devin provavelmente era o mais ansioso dentre os companheiros do cavaleiro, estava explicitamente animado em ver o primeiro monstro horrível em sua vida. 

Quando o portão foi erguido por completo, um vazio escuro era tudo o que as pessoas puderam ver. Todos estavam apreensivos aguardando a saída do que é que estivesse lá dentro. E isso não demorou a acontecer. 

Uma mão escura surgiu no canto da abertura, uma mão de três dedos grossos e pele negra como ébano. Em seguida a criatura se revelou por completo, e era enorme. O orgolon deu alguns passos lentos para fora e levou o braço acima da cabeça, a forte luz do dia incomodava seus pequenos olhos. Aquele era, sem dúvida alguma, o ser vivo mais mortal que Adamor já vira em sua vida, sua feição não mudou em nenhum momento para uma expressão de terror, mas não poderia dizer que estava animado em estar ali.

A criatura de três metros tinha ombros largos e braços musculosos, decerto era a sua anatomia natural. As pernas eram curtas e isso não o fornecia uma grande agilidade. Não usava nada em seu corpo, nem peças de armadura e nem um pedaço de tecido para lhe cobrir, tudo que o constituía estava exposto. Mesmo à distância, podia-se perceber que aquilo possuía uma pele resistente pois era espessa e nem um pouco oleosa. A criatura podia ser facilmente vista em qualquer lugar da arena, assemelhava-se muito a um grande ponto negro em toda aquela área arenosa. 

Os quatro desafiantes começaram a se afastar e tomar posições estratégicas diante do enorme adversário. Adamor fez o mesmo, empunhou sua espada e começou a caminhar cautelosamente pelo lado leste da área. O orgolon, que agora já tinha seus olhos pretos acostumados com o ambiente, alternava sua atenção entre os quatro homens que caminhavam em sua direção. Ao ver as armas nas mãos deles, a criatura começou a rugir e demonstrar um comportamento feroz de intimidação diante dos inimigos. Mas nenhum deles demonstrou medo, apenas continuaram avançando com as armas prontas para matá-lo. 

A Pretensão dos CavaleirosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora