- O Cavalo e o Bispo -

334 48 54
                                    

Os quatro que restaram na estalagem não perderam o tempo que lhes era fornecido, uniram duas das mesas quadradas que estavam disponíveis no restaurante e puxaram quatro cadeiras para se sentarem. 

Idarcio pediu que Eurene fosse permitida a participar da discussão que viria a se seguir, o que não enfrentou contestação por parte dos dois cavaleiros. Dessa forma, a garota sentou-se ao lado do andor e Filo por vezes transitava entre os pés de seu dono e os dela. Adamor e Mercel sentaram-se no outro lado das duas mesas unidas, ambos retiraram seus cintos com a bainha contendo suas espadas a fim de ficarem mais a vontade pelo tempo que a conversa levaria. 

— Bom — Idarcio uniu suas mãos sobre a mesa. — Uma proposta que você afirma ser capaz de mudar a vida de todos que vivem em Aradus... há de ser uma proposta digna de ser ouvida, não? Minhas mãos já estão formigando pela curiosidade de saber o que você está prestes a nos dizer. 

— De fato. É um assunto que deve ser discutido e considerado por sua parte, andor Idarcio. 

— Antes de tudo, eu peço que me chame apenas de Idarcio, cavaleiro Adamor. Não me considero ninguém digno de exigir tantas formalidades. Fora que eu não sou descendente de nenhuma linhagem nobre.

— Atenderei à suas preferências se você atender às minhas. Me chame de Adamor, nada além disso. — Apesar de firme, o líder dos cavaleiros exibia serenidade em suas palavras e de forma alguma transmitia rigidez. 

— Estou de acordo com suas condições. — concordou Idarcio com um sorriso. 

— Mas qual é o assunto? Vocês estão demorando demais. — Eurene criticou.

— A garota tem razão, Adamor. — Mercel afirmou com seu olhar inexpressivo. 

— Não vou mais adiar o que tem que ser tratado. Não sei se você está ciente, Idarcio, mas algumas semanas atrás um vilarejo asmabeliano foi saqueado e massacrado pela frieza de soldados não pertencentes à este reino. Poucos dias depois, outro vilarejo também teve o mesmo destino pelas mãos desses mesmos soldados. 

Eurene enrijeceu. Após ouvir a última palavra dita pelo cavaleiro, as terríveis lembranças daquela maldita noite invadiram sua mente. Idarcio olhou de esguelha para a menina ao seu lado, não precisou de muito para perceber seu desconforto. 

— E... vocês sabem quais foram esses vilarejos? — o andor perguntou.

— Vilarejo Esmerion e Vilarejo Erban, ambos próximos à Fronteira Tortuosa — informou Mercel prontamente. 

— Você sabe o que isso significa? Não há outra possibilidade, Idarcio, fomos atacados por soldados de Vordia. 

— Sim, realmente não há outra possibilidade. — Idarcio desviou seus olhos do olhar penetrante de Adamor em sua frente.

— Entende a gravidade disso? O rei de Vordia enviou seus soldados para atravessarem a fronteira sem autorização, seus homens marcharam contra dois vilarejos desprovidos de defesas, saquearam os alimentos que não os pertencia, assassinaram moradores inocentes e queimaram suas casas. Eles destruíram dois vilarejos cujas pessoas não possuíam nenhuma participação sobre as intrigas políticas da Coroa. No mínimo cem famílias foram mortas por esses infelizes. Imagine o sofrimento que aqueles homens, mulheres, crianças e idosos enfrentaram. Imagine o que...

— Adamor. 

O discurso do cavaleiro foi interrompido pelo chamado de Mercel ao seu lado. O líder virou-se para a frente e viu que Eurene havia se rendido às lágrimas pelas terríveis lembranças que tais palavras lhe traziam. 

— Eu acho que talvez seja melhor você se retirar, minha cara Eurene. Acredito que não será bom para você ouvir essas palavras terríveis. — Idarcio colocou a mão direita no ombro da menina cabisbaixa que tinha sua face oculta nos cachos de seu cabelo. 

A Pretensão dos CavaleirosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora