- Derrotas, Vitórias e Mais Derrotas -

142 30 33
                                    

O fogo da batalha seguia inflamando na rua da cidade. Os moradores que inicialmente estavam por ali já tinham se afastado há muito tempo. Tornou-se claro que aquilo tudo não se tratava de nenhuma encenação ou treinamento. 

Eurene sentia seus braços ficarem cada vez mais doloridos com o peso dos golpes daquele soldado. Mas ela não podia parar em hipótese alguma, sua vida estava em jogo naquele momento. A mancha de sangue em sua testa revelava a cabeçada que já tinha levado e talvez houvesse alguns arranhões por seu corpo, mas tudo isso era muito insignificante para fazê-la desistir ou baixar sua guarda. 

Por outro lado, Talion não podia dizer que compartilhava do mesmo ânimo que a garota, tendo em vista o tanto de chutes e socos que já tinha levado em sua costela, braços e pernas. Encontrar um ponto vulnerável naquela armadura escura parecia impossível aos seus olhos, decerto a adrenalina dificultava ainda mais. 

Houve um momento de descuido, e o soldado viu a oportunidade de se livrar daquele infortúnio. Ele desarmou Talion e cortou-lhe o braço do cotovelo para baixo. Um único golpe foi suficiente para realizar a tarefa, e o rapaz gritou de dor como nunca havia gritado antes. Talion caiu no chão e encolheu-se levando a outra mão no que havia restado de seu braço esquerdo. Ele gritava tanto que seus olhos lacrimejaram. Formou-se uma poça de sangue embaixo de si. O soldado observou a agonia do rapaz, e não pronunciou um único som, possivelmente estava esperando o minuto mais perfeito para encerrar seu sofrimento. 

— Ei, bobão! — Devin segurou firmemente seu bastão. — Me enfrente se tiver coragem! 

O soldado olhou para o menino através de seu elmo. Talvez fosse cruel assassinar uma pessoa tão inocente mentalmente, mas não há empecilhos a serem evitados quando se trata de eliminar o inimigo. Sendo assim, o homem deu passos segurando sua espada coberta de sangue. 

— Devin! Volta para a estalagem! — Eurene gritou para o irmão pois ela mesma não podia ir ao seu auxílio, cada vez mais era obrigada a se afastar por causa do duelo que travava. 

— Não! Eu vou acabar com ele! 

O menino estava convicto e empregou toda a sua força para bater seu bastão no elmo do enorme soldado, mas o máximo que conseguiu foi a quebra de sua arma como se aquilo não passasse de um simples galho. O militar deu um tapa tão forte no rosto do menino que a bochecha tornou-se vermelha e com uma grande mancha escura, certamente era um rasgado na pele. Quando estava prestes a dar o golpe fatal, o soldado foi interrompido pela lâmina da espada de Adamor que entrou em sua nuca e saiu em sua garganta, jorrou esguichos de sangue sobre o menino caído. Talion firmou seu pé nas costas daquele homem e o empurrou para frente enquanto puxava sua espada de volta, ele segurava no punho negro com sua única mão restante. 

Devin assustou-se ao ver o corpo de armadura jazer ao seu lado, suas roupas amarelas agora tornaram-se tingidas pelo sangue. Talion deixou a espada cair e simplesmente deu passos cambaleantes para chegar na calçada da esquina, sentou-se de forma desengonçada e por lá permaneceu em silêncio até que desmaiasse pela dor insuportável que sentia. 

A exaustão tomou conta do corpo de Eurene. Ela já mal aguentava segurar os ataques do rival e o fato daquele homem não ter sofrido nenhum dano apenas lhe causava desânimo e desesperança. Por um momento, ela viu-se prestes a ser morta, pois o soldado foi capaz de lhe desarmar. Sua espada provocou um alto ruído ao chocar-se nos blocos do chão. Agora seus olhos estavam mais atentos do que nunca. O homem descia a lâmina com ferocidade para ferí-la e Eurene esforçava-se a todo custo para não ser atingida. Assim os dois permaneceram, virando-se de um lado para o outro na tentativa de se livrar do rival. 

Não sabia dizer o porquê, mas de forma súbita Eurene lembrou-se do punhal que Mercel lhe dera nos treinamentos na praia. Ela instintivamente o puxou de seu cinto e, ao rodopiar-se para se livrar de um ataque, saltou para cima do soldado e cravou-lhe o punhal em seu pescoço. O sangue esguichou por todo seu braço e o homem a deu socos e chutes para afastá-la. A garota demonstrou extrema violência em puxar o punhal e enfiá-lo novamente na garganta até estraçalhá-la. 

A Pretensão dos CavaleirosWhere stories live. Discover now