- A Trapaça dos Competidores -

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A hora havia chegado, Derion poupou-se de passar muito tempo conversando com Morren pois esperava que ele não demorasse a pegar no sono. O rapaz de cabelo vermelho não lembrou-se do plano de Derion pois não fez nenhuma pergunta ou comentário a respeito. Após a última aula do dia, os dois amigos dirigiram-se para o dormitório e encerraram mais um dia de árduos estudos.

Derion ficou em silêncio deitado no beliche. Os outros dois colegas de quarto eram dois rapazes asmabelianos que vez ou outra trocavam falas entre si. Estavam deitados um em cada beliche e não demoraram a pegar no sono, foi o que Derion concluiu por observá-los.

O rapaz tinha seus pensamentos tomados por ansiedade e receio. As possíveis consequências do que essa ação furtiva iria lhe causar levava-o a cogitar negar participar do ato que Joron planejava. Ser visto perambulando pelos salões do templo no início da madrugada provavelmente lhe renderia alguns sermões dos mestres andors, o que ele sempre se esforçou para não causar. Mas sair para o pátio do templo e roubar um trenó puxado por norséis era algo com consequências inimagináveis para ele. Embora garantisse a Morren sua determinação e coragem para participar de tal ato, em seu interior ele estava pensativo e o arrependimento começava a consumí-lo.

Em meio ao silêncio no dormitório, Derion ouviu uma quase inaudível batida na porta. Lembrou-se que não havia perguntado a Joron qual código ou senha eles usariam para chamá-lo. Ficou quieto olhando para a porta sem ter certeza do que deveria fazer. Depois de alguns segundos em completo silêncio, ouviu duas batidas mais fortes e alguns cochichos no lado de fora. Essa foi a certeza que precisava ter para enfim deixar seu beliche e caminhar cautelosamente para a porta.

Antes de tocar a maçaneta, Derion olhou para Morren que dormia folgadamente no colchão.

— Desculpa por ir contra a sua opinião desta vez, meu amigo, mas todos nós precisamos quebrar as regras de vez em quando. Quem diria que logo eu falaria isso?

Derion usava seu pijama pois não sabia se Joron julgaria necessário usar o uniforme completo, pisou no chão com cautela e rodou a maçaneta com todo o cuidado possível.

— Cadê esse otário? — Enerius já demonstrava o estresse por ter que esperar a vinda do asmabeliano. Quando estava prestes a bater na porta pela última vez, esta se abriu.

— Ah! Já estava achando que você tinha desistido.

Joron e seus dois amigos usavam seus uniformes completos e olharam Derion dos pés à cabeça.

— Cadê seu uniforme?

— Eu pensei que não seria necessário já que a intenção é não chamar atenção. As botas causariam muito barulho.

— É por isso que nós três estamos de sandálias. — Ele puxou a calça para exibir os pés. — Mas nem por isso precisava ir de pijama. O uniforme pode dar alguma proteção.

— Proteção? Haverá a necessidade de proteção? — A preocupação estampou-se no rosto de Derion.

— Nós vamos voar em um trenó — adiantou-se Virmon. — Existe a chance de a gente despencar de uma boa altura, não?

— Isso não é motivo para você desistir agora, Derion — afirmou Joron.

— Qual é, a gente vai ficar aqui conversando ou vamos logo? — Enerius claramente mostrava-se ser o mais impaciente entre os quatro.

Após fechar a porta cuidadosamente, os quatro iniciaram sua corrida pelo extenso corredor escuro da ala dos dormitórios. Não havia esferas de luzes nessa área pois não era do interesse dos mestres que os alunos perambulassem para fora de seus dormitórios durante a noite. Dessa forma, os quatro não passavam de silhuetas correndo na frente das inúmeras portas. Quando chegaram no fim do corredor, viram-se prestes a terem que atravessar o salão principal. Os quatro pararam seus passos atrás da primeira coluna que sustentava o teto e observaram o caminho a frente.

A Pretensão dos CavaleirosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora