- Presentes da Primavera -

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As mesas estavam fartas de diversos pratos e bandejas que exibiam os mais variados tipos de comida. O lado esquerdo do extenso móvel apresentava os chamados aperitivos onde pequenas preparações estavam expostas para abrir o apetite dos nobres convidados. Já o centro da mesa exibia grandes bandejas com gordos pernis, porcos assados, coxas de frango tostadas e fileiras de frutos do mar. Havia também amontoados de tortas recheadas, peras e maçãs cozidas em caramelo, além de bolos e tortas de diversos sabores.

Idarcio se aproximou da mesa e ousou apanhar um palito contendo um cogumelo recheado com queijo. O andor analisou o aperitivo e julgou se deveria levá-lo à boca.

— Você está esperando o quê? Está com medo do cogumelo?

Borbon e Devin esparavam o veredito do andor sobre a estranha comida para em seguida fazerem o mesmo. Inicialmente, o menino arregalou os olhos ao se deparar com a diversidade de alimentos que havia em uma única mesa. Perguntou a si mesmo se era possível que aqueles nobres no salão teriam uma barriga grande suficiente para comerem tanto sem explodir.

— Esta comida é estranha para mim — dito isso, Idarcio mastigou o aperitivo e levou alguns segundos para analisar seu sabor. — Não é ruim. O cogumelo possui um gosto meio amargo mas o queijo contribui para melhorar o sabor.

O cavaleiro e o menino estenderam a mão para apanhar os palitos e não hesitaram em comer os aperitivos.

— Eu nunca comi cogumelo. — disse Devin de boca cheia.

— Não são os meus preferidos. — Borbon devolveu o palito ao seu antigo lugar em meio aos demais cogumelos.

Ao se dirigir para o centro da mesa, Idarcio apanhou o que deveria ser uma ostra possivelmente saborosa. Tendo ciência do que se tratava, ele logo engoliu seu conteúdo.

— Mmm, o tempero contribuiu na medida certa aqui.

— Nem me lembro da última vez que comi uma dessas. — disse Borbon.

— Que bicho esquisito.

— Eu assumo que essa é a primeira vez que você experimenta um fruto do mar, sim, meu caro Devin? Pois saiba que provavelmente será a última também. Animais raros como este não estão no cardápio de meros plebeus como nós.

Ao percorrer os olhos pela mesa, Idarcio avistou um amontoado de tortinhas assadas de frango. Ele pegou uma delas e as analisou com o olfato antes de prová-la.

— Mmm... o gosto está tão agradável quanto o cheiro. As cozinheiras da corte realmente possuem mãos talentosas para preparar algo tão delicado e saboroso assim.

— As tortas estão boas.

— Tem um monte aqui. Será que a gente não pode levar algumas escondidas? — Devin perguntou.

— Talvez nós possamos esconder algumas depois que esse salão estiver mais vazio. Por enquanto é melhor mantermos a formalidade, meu querido Devin.

Mais uma vez um silêncio estabeleceu-se no ambiente. Os visitantes tiveram sua atenção direcionada ao altar onde a Rainha Eline preparava-se para entrar em sintonia com os jovens instrumentistas. Todos aguardavam ansiosos com suas taças de vinho em mãos. No centro do altar e de frente para os súditos, a melodia dos instrumentos começou a ser tocada e a rainha começou a acompanhar a música com a sua voz, a sua doce voz.

— Ela vai cantar uma música? — Adilan mostrou-se surpreso.

— É uma canção antiga, chama-se Presentes da Primavera — Mercel imediatamente reconheceu os versos cantados. — Os músicos costumam cantá-la no fim da estação quando esta se mostra produtiva.

A Pretensão dos CavaleirosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora