- O Mendigo Caridoso -

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— Boa tarde, queiram desculpar a minha intromissão, mas é que eu não pude deixar de ouvir suas palavras e, pelo que parece, está havendo uma contenda aqui por causa de um cavalo? 

Eurene e Devin deram um passo para o lado pela súbita aparição do estranho sujeito entre eles.

— Isso não é da sua conta, mendigo — respondeu o Senhor Ermundo com uma feição séria. 

— Mmm... mendigo não é um termo muito gentil para se denominar alguém. É meio rude, se é que me entende. 

— O que é que você quer? Esmola? Se continuar atrapalhando meus negócios eu direi aos guardas que o arrastem para fora desse vilarejo!

O pedinte abaixou a cabeça e deu um leve suspiro seguido de um sorriso. Segurando seu bastão ele deu alguns passos para ficar à poucos centímetros de Ermundo que manteve sua postura firme. O sujeito olhou nos olhos de seu desafiante e de forma bastante audível ordenou: 

— Eu quero que você deixe essas crianças em paz. Você vai esquecer que conversou com elas, vai dar meia volta e seguirá até o curral dos vorgos onde comerá todo o esterco que puder encontrar. 

Assim que proferiu a última palavra, as pupilas de Ermundo mudaram para um tom esbranquiçado e este piscou os olhos para recuperar os sentidos. 

— Sim, crianças! Podem ficar com o cavalo. Eu não os incomodarei mais. Agora se me derem licença, vou até o curral dos vorgos comer um pouco de esterco. Tenham um bom fim de tarde!

Sendo assim, o sorridente Senhor Ermundo afastou-se da presença dos três e seguiu seu caminho em direção ao pasto dos vorgos. Os dois irmãos seguiram perplexos os passos do homem sem compreender absolutamente nada do que acabara de acontecer. 

— Há! Você viu aquilo?! Esse com certeza foi o meu melhor controle mental! 

Filo ergueu-se na perna de seu amigo para compartilhar de sua alegria. 

— Está bem, o que você fez com aquele homem? — perguntou Eurene observando o contente homem em sua frente. 

— Nada que ele não mereça. É um charlatão que se aproveita da amizade do governante para pegar as moedas dos estrangeiros. Obrigando as pessoas a lhe entregarem seus cavalos... é um aproveitador. Ah, ainda não me apresentei, que falta de educação de minha parte. Prazer, me chamo Idarcio, e este aqui é o meu melhor amigo Filo. 

Eurene relutou em apertar a mão do estranho sujeito. Não sabia se direcionava atenção à ele ou à exótica criatura no chão que olhava para ela. 

— Me chamo Eurene. E este é o meu irmão mais novo Devin. 

— Ah, percebe-se que ele é bem mais novo que você. 

— Que bicho é esse? — O menino mostrou-se enormemente admirado em ver tal criatura. 

— O Filo? Ele é um flito. Criaturinhas muito simpáticas e adoráveis, podem ser um pouco irritantes de vez em quando mas nada que um pouco de comida não dê jeito. Nunca tinha visto um antes? Estranho pois pelo que sei eles estão em todas as regiões de Asmabel. E vocês são asmabelianos pelo o que eu vejo. Ou estou enganado? 

Eurene levou alguns segundos para perceber que estava sendo questionada sobre algo. Sua curiosidade foi notavelmente despertada pelo novo animal que acabara de conhecer. 

— Sim, nós somos do Vilarejo Erban. 

— Ah, sim. Nunca ouvi falar. Mas tenho certeza que deve ser um lugar muito agradável. 

— É, ele costumava ser. 

Um silêncio pairou sobre os três que olhavam um para o outro. 

— Mas me digam, há algum motivo que os trouxeram até aqui? Aliás, não pude deixar de notar que vocês estão sozinhos. Por acaso não estão com seus pais ou algum parente? 

A Pretensão dos CavaleirosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora