- O Terceiro e Quarto Teste -

149 27 0
                                    

O pátio de Nerendor estava um completo vazio e silêncio, somente os ventos uivavam entre as imóveis colunas e estátuas. Os guardas aliais permaneciam em seus postos, mas certamente sua presença não iria fazer diferença, vendo que conheciam a regra de jamais interferir em qualquer assunto.

No centro do pátio, havia uma coluna quadrangular de altura média, espessa na base e pesada como uma rocha, estava lá para servir como certificado de que o norsel não fugiria em algum possível momento de histeria, seu pescoço estava enrolado por uma corrente presa na coluna. Ele poderia ousar bater suas asas ou correr, mas no fim a coluna não iria se mover. Derion não se agradou do que viu, mas não possuía grandes motivos para contestar a atitude, já que o animal ainda não aparentava estar sentindo dor. 

Todos eles assumiram a mesma posição de antes, Grimbor ficou no lado direito com as mãos para trás, quieto e atento. Os três mestres foram para o lado esquerdo e os quatro participantes alinharam-se de frente para o animal. Este, que estava deitado até antão, pôs-se de pé em suas quatro patas e sacudiu o pescoço plumado fazendo a corrente tilintar. 

— Além dos conhecimentos acadêmicos, um Ejion deve possuir domínio sobre as criaturas viventes, já que o perfeito dom da criação está em sua essência — disse o andor que conduzia o teste. — Aproxime-se do norsel e domine-o. 

Mercilio entendeu que a ordem foi direcionada à ele, tomou iniciativa e começou a dar os primeiros passos para se afastar dos demais. O norsel virou-se para ele e o observava friamente com aqueles olhos amarelos profundos, possuía uma aura de desconfiança e inclinou sua cabeça para analisar aquele andor que se aproximava. O rapaz estava trêmulo, talvez mais pelo nervosismo do que pelo medo, seu braço esticado não se sustentava firmemente e gotas de suor desciam de sua testa. 

Quando o rapaz chegou à poucos centímetros de distância e olhou diretamente nos olhos da criatura, o norsel se zangou. O animal berrou e abriu suas enormes asas brancas, Mercilio arregalou seus olhos e começou a dar cambaleantes passos para trás ao ver o avanço da criatura tilintando a corrente. 

Não havia mais o que esperar para ver, os mestres logo anunciaram o resultado. 

— O norsel negou ser domado, nenhum ponto. 

Derion percebeu o susto que o rapaz levara pois estava ofegante e transpirando, ele retornou para o seu lugar na fileira e o nome de Joron logo foi solicitado. 

O rapaz vordiano apresentava uma completa despreocupação com o teste, como se já soubesse o resultado que viria. Derion permaneceu atento aos mínimos movimentos do rival, desde as posições adotadas por seus pés até a distância em que ousava aproximar a sua mão. No fim, aconteceu o que ele torcia para ser um engano de sua mente, o norsel aproximou-se lentamente e abaixou sua esbelta cabeça para ser acariciada pelo rapaz, este sussurava palavras amigáveis e carinhosas.

— O norsel permitiu-se ser domado, um ponto. 

Não é justo, pensou Derion. Mas não devia se surpreender tanto assim, vendo que o resultado havia sido o mesmo na noite em que roubaram o trenó. 

Donerton foi o próximo. Ele deu passos precisos e calmos, manteve seus olhos fixos nos do norsel e esticou seu braço. Começou a murmurar coisas, palavras de mansidão talvez, mas o norsel ainda não se dava por convencido. O animal soltou um baixo ruído, talvez de aviso para ele recuar, mas essa não era a intenção do rapaz, ele precisava domar a criatura. O resultado da empreitada foi lementável para quem estava exibindo um ótimo desempenho até então, o norsel abriu suas asas e berrou em desaprovação à aproximação do aluno, este viu-se obrigado a recuar. 

— O norsel negou ser domado, nenhum ponto. 

Joron soltou um suspiro de satisfação ao ver o fracasso do rival, agora teve certeza de que sua empreitada em roubar o trenó pra aprender a domar o norsel havia sido a melhor coisa que poderia ter feito. 

A Pretensão dos CavaleirosWhere stories live. Discover now