Imortal

By FlviaRolim

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[Vencedor do prêmio Wattys 2015 na cateogoria "Os Mais Populares"🎖️] ESTÁ SENDO REESCRITA E REVISADA. A his... More

Prólogo
Conhecendo o Desconhecido
Visita Noturna
Saltos no Vazio
Compromissos
Nada Mal Para Um Imortal
Rompendo Relações
Knockout
Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Dois
Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Um
Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Dois
Xeque-Mate
Eu Escolho a Eternidade - Parte Um
Eu Escolho a Eternidade - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Um
O Baile de Máscaras - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Três
Fragmentos
Perdoe-me Por Dizer Adeus
Causa Mortis - Parte Um
Causa Mortis - Bônus
Causa Mortis - Parte Dois
O Outro Lado da Moeda
Emboscada - Parte Um
Emboscada - Parte Dois
Angustia Existencial
Dave Miller
Finalmente Pronta
Alguma Coisa no Caminho
Outro Amanhecer - Final
Epílogo
Amores Imortais
Prévia - Eterno
Eterno está no ar
Bônus - Christine
1 anooooooo!!!!!
Arthur e Victor (Bônus - Um ano de Wattpad)
Revelação da Capa
VERSÃO ANTIGA (RASCUNHO) X VERSÃO ATUAL (PRIMEIRA EDIÇÃO)

Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Um

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By FlviaRolim

Não me senti à vontade para dormir, por isso passei a noite em claro. Os sonhos que Christine queria que visse, tornavam-se ainda mais perturbadores a cada noite. O último, com Arthur e Victor, me fizera tremer profundamente. Ela foi disputada pelos dois, assim como agora estou sendo.

Nada me tirava da cabeça que Arthur estava vivo, o vi. Falei com ele. Sem contar que era idêntico a Victor, exceto a voz. Como não percebi a diferença? A voz dele era mais firme, mais rude. Mesmo que tentasse falar manso, aquilo parecia ser uma tarefa difícil.

Era diferente do irmão. Victor tinha uma maciez ao falar, passava segurança, não espantava. Digo isso porque por mais que tivesse consciência de que era um vampiro, o desejava por perto. Como o queria.

Imaginei se ele já tinha partido para a Transilvânia e se sim, como conseguiu evitar o Sol, durante a viagem? Quando voltasse, teria que contar como foi. Gostava de ouvi-lo falar.

Quando reparei que a movimentação na casa começou, sai de meu quarto. Anunciei que fui liberada, conforme combinado com Victor, e sugeri que partíssemos imediatamente.

— Não poderemos ir hoje, querida — informou minha mãe enquanto colocava um prato para cada uma das gêmeas. — Programamos para sairmos amanhã à tarde. Suas irmãs têm médico marcado para amanhã de manhã e seu pai precisa resolver algumas pendências no trabalho, antes de ficar fora.

— Então, acho que vou na frente, para arrumar tudo — acabei de falar e me servi de um pedaço de torrada.

— Seria uma excelente ideia, meu amor — minha mãe encheu meu copo com suco de laranja e sorri.

— Posso ir com a Lice? — perguntou Alex também sentado à mesa. O único que não estava ali era o meu pai.

— Negativo — respondeu minha mãe sentando-se na cadeira ao meu lado. — Acha que não o conheço, mocinho? Da última vez, em que você e o seu pai foram na frente, você saiu dez minutos depois que chegaram. Aqueles seus amigos foram lhe buscar de carro, você se lembra? — Alex balançou a cabeça negativamente. — Ah, mais lembro-me muito bem. Por isso, você vai ficar aqui e só vai quando eu for. Vou te lembrar: você está de castigo!

— Mas mãe, já estou de castigo há dez dias. Não vejo a Mandy desde então.

— A Mandy sabe onde você mora. — o alertei.

— Não falei com você. — Alex me olhou seriamente.

— Não vou admitir que fale assim com a sua irmã. Ela é mais velha e você tem que respeitá-la. Peça desculpas, agora, ou juro que ficará de castigo por um ano inteiro.

— Desculpe, Lice — ele respirou fundo antes de falar e apenas assenti com a cabeça.

— Okay. Seu castigo vai até a gente retornar do lago. — Alex fez uma cara de indignação, quando minha mãe falou. Ela lhe ofereceu um olhar gélido que o fez encolher-se na cadeira. — Depois que voltarmos, estará livre. Mas com uma condição: está terminantemente proibido de pegar o meu carro, ou o da Alice ou o do seu pai. E terá horário para voltar para casa.

— Tudo bem! — concordou com a cabeça baixa. Ainda fiquei na mesa por alguns minutos antes de me levantar e subir para o meu quarto. Arrumei a minha mala e tudo o que iria precisar. Já era quase meio dia quando tudo estava pronto. Antes que eu pudesse descer, ouvi minha mãe chamar.

— Alice, telefone para você.

— Atendo aqui em cima — disse e assim fui até a mesinha de telefone que ficava no corredor. A princípio achei que fosse Victor, para me avisar que tinha chegado, mas não era. — Alô!

— Alice — assim que ouvi a voz, como um reflexo, desliguei o telefone. Dei as costas. E quando voltava ao meu quarto, o telefone tocou outra vez. Atendi.

— Não, desliga. Me escuta.

— O que você quer, William?

— Só quero falar com você! Pode ser?

— Já está falando — retruquei de forma ríspida.

— Me encontra no café, em meia hora? Por favor. — Pediu ele.

— Sinto muito! Estou de saída — respondi.

— Não tem como passar lá, dez minutos apenas? Preciso te ver.

— Por quê? — perguntei. Ele permaneceu calado por uns segundos. — Por que quer me ver?

— Eu amo você, Alice — respondeu. Fiquei muda. — Está aí?

— É, estou! E a minha resposta é não! — disse entre os dentes. — O que aconteceu entre a gente já passou, William. Já tem seis anos isso. Me esqueça!

— Não posso! — respondeu de uma forma tão apressada que mal me deixou terminar. — Você é a mulher da minha vida.

— Quando engravidei, eu não era. Era uma vagabunda e traidora!

— Foram atitudes de uma criança, Alice! Entenda o meu lado também. Amava você, mas ideia de ser pai me deixou louco. Não tinha emprego fixo, morava com meus pais e estava indo para a faculdade. Pirei! Como sustentaria essa criança, Alice? Como?

— Estava na mesma situação que você, William. No entanto, consegui criar a nossa filha por oito meses. Dei a ela tudo o que precisou e o que você não deu! Sinceramente, é nessa hora que a gente percebe quem é homem e quem não é. E você não passou no teste!

— Alice, por favor...

— É tudo o que tenho a dizer. Passe bem, Will — desliguei o telefone e me encostei na parede. Fechei meus olhos e respirei fundo.

— Então, William era o pai da Laura? — a voz de minha me deixou em sobressalto.

— Por favor, mãe! Não quero falar sobre isso.

— Você mentiu para gente, Alice, todos esses anos.

— Estava magoada com ele, está bem? — elevei o tom da minha voz a tal ponto que ela se assustou. Raramente falava alto com algum deles. — Ele me chamou de vagabunda e traidora. Disse que estava grávida e que não era dele. O que queria que fizesse, mãe? Ajoelhasse na frente dele, implorando para que assumisse a Laura? Não! Fui mulher para fazê-la e para assumi-la. Foi a melhor coisa da minha vida — soltei o ar pesadamente e abaixei a cabeça. — Desculpe, não queria gritar.

— Nós somos os seus pais, Alice! Poderia ter confiado na gente — e assim senti seus braços me envolverem. — Sabe que pode contar tudo.

— Desculpe ter mentido.

— Tudo bem, já passou. Agora que sei quem é o verdadeiro William. Não quero mais que saia com ele — me alertou.

— Somos duas então — concordei sorrindo e assim o telefone tocou de novo. O peguei pronta para falar mais algumas verdades na cara de William, mas não era ele.

— Alice, é Victor — e como foi bom ouvir sua voz calma.

— Oi Victor — respondi sorrindo. Minha mãe apontou para o telefone e falou sussurrando: "Esse parece valer a pena". Revirei os olhos. — Como foi a viagem?

— Bem, mas acabei descobrindo que o grande Drácula deu uma fugida do castelo.

— Fugiu, como assim? — perguntei.

— Sabe como é a Transilvânia. O povo acredita muito em vampiros. E como meu pai já morava aqui há quase trinta anos e não envelhecia, os boatos começaram a se espalhar. Ele teve que mudar.

— E onde ele está agora?

— Você vai rir quando eu disser. — De forma espontânea comecei a rir antes que começasse a falar. — Está aí, nos Estados Unidos.

— Então a sua viagem foi para nada.

— Só para aproveitar a noite na Transilvânia e beber o sangue romeno. — e isso me fez calar. — Eu estou brincando, Alice.

— Se você o diz — respondi sorrindo outra vez. — Quando você volta?

— Já programei meu voo de retorno. Sai daqui a duas horas — ele parou de falar. — Está tudo bem com você? — Perguntou com preocupação na voz.

— Estou ótima. Acabei de arrumar as minhas coisas, vou para o lago assim que almoçar.

— Excelente e lembre-se...

— Não direi a ninguém para onde estou indo, Victor — ele riu. — Te vejo em algumas horas.

— Assim que chegar, irei para lá.

— Está bem! Boa viagem!

— Obrigado — ele desligou o telefone em seguida. Me perguntei como sabia o meu número, mas aquilo pouco importava. Caminhei até meu quarto, peguei a mala, e desci para o andar debaixo. Almocei com a minha família e sai de casa. Coloquei a mala no banco de trás e segui para minha posição de motorista. Liguei a ignição e manobrei tranquilamente, antes de parar de modo brusco para não atropelar William, que se jogou na frente do meu carro.

— Você é louco ou o quê? — perguntei furiosa saindo do veículo. — Se já tivesse pegado velocidade você tinha virado pasta!

— Mas não pegou — respondeu enquanto ficava em pé. — Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé — revirei os olhos sem paciência alguma.

— Você deu viagem perdida. Como disse: Eu estou de saída! — dei as costas para ele, mas senti sua mão segurar meu braço com força.

— Por favor, Alice! Me dá uma segunda chance.

— Eu não posso!

— Por que não? — indagou. Não sabia o que fazer. Tinha que arranjar uma desculpa que finalmente conseguisse tirar William da minha vida. Só havia uma única forma.

— Eu estou compromissada.

— Está compromissada?

— Isso! Estou saindo com alguém e gosto dele. É por isso que não posso te dar uma segunda chance — William abaixou o olhar e soltou meu braço. Pareceu triste, mas me mantive séria. Levaria aquela mentira até quando eu conseguisse.

— Está indo se encontrar com ele? — me perguntou ainda sem me encarar. Os olhos baixos e o maxilar trincado.

— Acho que isso é o de menos — respondi. Ele me encarou e reparou na minha mala no banco de trás. — Acabou, William. Vou ficar alguns dias fora. Aproveite para pensar um pouco e tente me esquecer.

— Para onde você vai?

— Não posso dizer — respondi encostada no veículo.

— Alice, está tudo bem? — perguntou minha mãe da porta. Os braços cruzados e o cenho franzido. William a olhou.

— Boa tarde, senhora Baker — mesmo com cumprimento educado, ela o olho torto.

— Boa tarde. — o cumprimentou de modo frio. — Você não estava de saída, Alice? — perguntou ainda sem desviar os olhos do homem à minha frente.

— Estou indo agora, mãe — encarei William que soltou meu braço. — Com licença! — entrei no carro e fechei a porta.

— Alice, não se esqueça de pedir ao Sr. Ryan que desocupe a garagem. Precisamos de espaço para os dois carros.

— Sim, mãe.

— Ryan, o caseiro do lago? É para lá que está indo? — indagou curioso.

— Até mais, Will! — respondi acelerando o carro e tomei pela rua. A viagem não demora mais que vinte minutos e até lá, a vista é linda. Passamos por uma estrada onde tem floresta de um lado e uma linha de trem do outro. Logo mais à frente, está o lago Roland. Costumava passar as tardes ali, em uma época que era mais nova e sem tantos compromissos. William já foi várias vezes lá comigo. Pegava o carro do pai, dirigia até lá, para ficarmos sozinhos e longe da vista de nossos pais. Não passávamos mais que uma tarde ou uma manhã naquele lugar. Mas foi o suficiente para marcar com tantas lembranças. Foi ali que engravidei de Laura.

Estacionei o carro ainda na entrada e segui a pé até a casa. Fui recebida pelo caseiro e dei o recado de minha mãe. O Sr. Ryan era um homem idoso, com setenta e poucos anos, mas não se negava a trabalhar. Sempre fora prestativo e estava conosco desde quando me entendo por gente. Acho que desde quando meus pais compraram a casa do lago, alguns anos antes de se casarem.

Abri a porta da casa e o odor de objetos antigos e poeira acumulada me invadiu. Há dois anos ninguém pisava ali para passar um final de semana. Minha mãe apenas depositava o dinheiro na conta do caseiro e meu pai passava por ali só quando o Sr. Ryan avisava que tinha algo para consertar.

Tratei de abrir todas as janelas e portas, desde andar de cima até embaixo para circular o ar. Passei a tarde inteira limpando a casa e quando deu por volta das dezoito horas, o caseiro veio me dizer que estava indo. Agradeci por ele ter me ajudado na faxina e também por liberar a garagem para quando minha família chegasse. Quando ele se foi, tratei de trancar todas as portas e preparar alguma coisa para comer.

Cozinhava uma sopa quando senti aquela dor forte na cabeça, como se algo comprimisse meu cérebro com uma força incrível. Caí no chão me debatendo. Tinha consciência que sofria uma convulsão, fiquei apavorada antes de apagar de uma vez.

Quando acordei, não reconheci o lugar que estava. Escuro, úmido, enfim, apavorante era a resposta certa. Olhei para todos os lados até que a vi. Usava um vestido azul comprido, com uma manta em um tom mais claro. As mangas eram imensas, chegavam mesmo a cobrir-lhe as mãos. Tinha os cabelos loiros presos na parte de cima e soltos na parte de baixo. Eram extremamente grandes.

— Já passou da hora de termos uma conversa, não é Alice? — a mulher me contemplava de modo sério. Não consegui deixar de tremer, por causa da incrível semelhança. Ela era eu.

— Christine — respondi e ela sorriu. Aproximou-se de mim até ficar a um metro de distância. — Onde estou?

— Em um lugar onde possamos conversar sem sermos interrompidas.

— E onde seria esse lugar?

— Em sua cabeça — esclareceu com um sorriso. — Você terá que fazer algumas escolhas, Alice, e quero me certificar que fará as certas.

— Que escolhas seriam essas?

— Antes de tudo, confie em Victor. Não questione o que ele fizer. É para o seu bem e sempre será — me informou e assenti com a cabeça. — A segunda coisa: escolha sabiamente quem estará ao seu lado e não confie em todos eles. Alguns só estão próximos para ver a sua queda.

— Eles quem? — perguntei encarando-a

— Os vampiros que estão com Victor. Nem todos são fiéis a ele — ela respirou fundo e aproximou-se de mim, tocando em minha mão. — Tem outra coisa. Quando for a hora, não hesite como assim eu fiz. Deixe que ele a transforme.

— Não! — neguei enquanto desvencilhava de seu toque.

— Alice, não seja estúpida da mesma forma que fui. Olhe só pra mim — ela afastou-se, me dando total visão de sua aparência. De repente, a sua figura linda e jovial tornou-se sofrida. Feridas abriram-se em seu pescoço, como se ele tivesse sido estraçalhado por algo. Seu vestido fino deu lugar a uma camisola ensanguentada e seus cabelos loiros tornaram-se escuros por causa da poeira da terra. — É assim que quer acabar? Morta, jogada em uma vala qualquer?

— Não!

—Victor disse que me transformaria em um deles, logo quando o nosso relacionamento se tornou mais firme. Mas neguei. Ele respeita a nossa decisão.

— Eu sei. Já tive a prova disso — respondi mais para mim do que para aquela mulher. — Mas não posso, Christine! Tenho minha família e não saberia o que dizer a eles.

— É por eles também que fará isso. Acha que Victor pode oferecer proteção em tempo integral? Se eles não conseguirem te pegar, Alice, a quem acham que vão recorrer? Acredita que não sei como se sentiu, quando viu que Susan era um alvo? Irá querer aquilo para Dianne ou Meredith? Ou Alex? Ou seus pais?

— Já chega! — gritei em completo desespero. Imaginar meus irmãos e meus pais passando por aquela situação me deixou apavorada. — Isso não irá acontecer com eles! Não aconteceu com seu filho e marido, assim como nada aconteceu com Coraline.

— Não sabe de nada, Alice! — repreendeu. — A minha história foi diferente. Frederico não era quem dizia ser.

— Como assim? — perguntei curiosa antes que Christine sorrisse e desaparecesse diante de mim. Senti um cheiro tremendamente forte e acordei assustada. O caseiro havia esquecido umas compras feitas para sua família, e voltou para busca-las. Ele me acordou, colocando o vidrinho de água-de-colônia, que sempre carregava, na frente de meu nariz.

— A senhorita está bem? — indagou enquanto me auxiliava a sentar.

— Estou sim — respondi frustrada. Christine queria me contar algo, mas foi interrompida. Deus saberia quando aquilo aconteceria outra vez. Isso se acontecesse novamente.

Sr. Ryan me trouxe um copo com água e se certificou se eu estava melhor. Depois disso, seguiu de retorno à sua casa. Não antes de me dizer que viu William na casa dos pais dele, que moravam na cidade. Precisamente há dois quilômetros de distância de onde estava.

Foi aí que entendi, ele me seguiu. Veio para Towson porque eu estava lá. Se Victor soubesse disso, ficaria furioso. Primeiramente porque William é um ex-namorado e segundo, porque ele me mandou não falar para onde eu iria. Se bem que esse último a culpa foi de minha mãe.

Terminei de preparar a sopa e a tomei. Subi para meu quarto e me joguei na cama. Não me preocupei em tomar banho ou mudar de roupa, porque me sentia cansada. Adormeci quase que de imediato.

Não sonhei, mas preferiria ter sonhado.

Acordei no meio da noite assustada e a minha cabeça doía muito. Parecia que levei uma paulada na nuca ou coisa parecida. Meu coração batia descompassado. Estava desesperada, principalmente depois que meu braço esquerdo adormeceu. Tive todos os sintomas de um infarto. Não que tivesse algum problema cardíaco ou coisa do gênero, mas depois de tudo o que estava vivendo, era de se esperar que o coração recebesse a maior carga.

Levantei da cama me arrastando e parei no corredor. A casa apresentava-se escura completamente, o que me deixou nervosa. Lembrei que estava no lago e que não havia ninguém ali. Estava em pânico e não tinha ninguém com quem contar.

Voltei correndo para pegar meu celular e mandar uma mensagem para Sean, saber se ficou no país. Mas meu celular estava descarregado e não me lembrava onde estava o maldito carregador. Respirei fundo, procurando me acalmar e colocar minha cabeça para funcionar. Era médica, droga! Tinha que saber lidar com isso.

Tentei controlar a minha respiração, me tranquilizar, mas aquilo só aumentava. Precisava ir a um pronto-socorro, com urgência. Não poderia dirigir, isso seria suicídio! Entretanto, a única opção não era a melhor alternativa. Pedir auxílio para William seria como voltar a ser a menina vulnerável e dependente do ginásio. Mas, ou era aquilo ou morrer sozinha em casa.

Apanhei o telefone fixo e disquei o número com dificuldade. Meus dedos escorregavam pelas teclas e minha mão pingava de suor. Após o quinto toque alguém atendeu com voz de sono. Mas não era quem esperava.

— Alô! William?

— Não, aqui é Merci.

— Merci me passe para o William.

— O Will está dormindo e eu também estava. Afinal são três horas da manhã — não me lembrei de imediato quem era Merci. Na verdade, ela era uma prima do William, que a família havia descoberto há pouco tempo.

— É uma emergência, por favor! — fiz um esforço para ser educada — entregue o telefone a ele — eu pude ouvir, claramente seu ranger forte de dentes e rosnar baixinho. Após alguns segundos de espera, ouvi uma voz grossa e suave, com um toque especial de sono.

— Alô!

— William? É a Alice! — Falava ofegante e bastante envergonhada. Provavelmente, achou que seria a última pessoa, na face da Terra, a ligar para ele.

— O que houve, Lice? — Perguntou preocupado, com timbre da voz mais elevado.

— Will, não estou me sentindo muito bem. Você pode me levar a um hospital?

— Mais é claro que sim! O que você está sentindo?

— Não sei bem ao certo, mas sinto medo — as lágrimas começaram a escorrer por minhas bochechas.

— Está bem! Me espere que logo estarei aí. Só que eu tenho um problema, estou sem carro. Sarah fez o favor de bater com ele — Sarah era a irmã mais nova do William, deveria ter algo entorno de seus vinte anos.

— Vamos no meu — respondi com a voz fraca.

— Espera, seus pais não estão em casa?

— Não, eles viajaram — respondeu de modo sereno. Imaginei o que a Merci estaria fazendo lá. — Estarei aí em alguns minutos.

— Está bem — respirei fundo. — Will?

— Sim?

— Me desculpe! Te tratei tão mal hoje e você ainda vai me socorrer. Obrigada! — um instante de silêncio se fez presente. Consegui ouvir uma baixa gargalhada.

— Alice Baker sendo gentil comigo? A coisa deve ser realmente séria. Mesmo assim, não há de que! Até já! — exclamou e a ligação caiu.

Desliguei o telefone me sentindo bastante culpada e, ao mesmo tempo, com raiva daquela mulher. Só não entendi o porquê. William era adulto o suficiente para falar por si próprio. Não mandaria recado por ela.

Não precisei esperar mais que dez minutos e William bateu com força em minha porta. Duvidei até que fosse ele. Pois, era impossível ele percorrer, a pé, dois quilômetros em dez minutos. Levantei arrastando. Minha situação piorara de forma drástica. Agora calafrios eram frequentes e fortes, meus dentes se batiam com força por causa do frio e já não me aguentava em pé.

Abri a porta e minhas pernas não mais me obedeceram. Pendi para o lado esquerdo e William me segurou com uma velocidade incrível.

— Opa! Cuidado, bela adormecida.

— Como chegou aqui tão rápido? — perguntei encarando-o. Os olhos castanhos estavam mais escuros, quase negros.

— Peguei carona — respondeu sorrindo.

— Obrigada por vir, mesmo eu tendo sido tão grossa com você.

— Você está pior do que pensei. É a segunda vez que me agradece hoje. — Ele sorriu e perdi a consciência por alguns segundos. Pude jurar ver Christine me encarando de forma séria e com o olhar de reprovação. — Vamos logo! — Ele me carregou no colo e pegou a chave do carro, que eu deixava em cima de uma mesinha pequena, próxima da saída. Abriu a porta e me colocou no banco do carro, com extremo cuidado. Apertou o meu cinto e foi para o lugar do motorista. Uma vontade de vomitar surgiu e William notou.

— Ei moça, se for vomitar, vira para o outro lado.

— Não vou vomitar. Acha que quero sujar meu banco? — Ele mostrou um sorriso tímido de canto de boca, o que deixou o momento menos tenso. E daí, dirigiu o mais rápido que pode até chegar ao hospital.

— Me ajudem aqui — solicitou para alguns enfermeiros que estavam na portaria. Eles logo trouxeram uma cadeira de rodas e me colocaram. William me empurrou até a recepção e falou com a moça asiática que digitava algo no computador. Ela chamou um enfermeiro.

— Alice, vou preencher alguns papéis aqui e você vai com esse rapaz, está bem? A gente se encontra mais tarde.

— Está bem! — respondi quase como um sussurro, antes de perder a consciência outra vez. Christine me esperava com o restante da história para ser contada.

Estava em um corredor extenso, com inúmeras portas na cor mogno, entalhada com ricos detalhes de arabescos. Um tapete vermelho se sobressaia no piso claro de madeira polida e as paredes eram de um tom de creme bem claro com detalhes em marrom, da mesma cor das portas. Era um lugar harmonioso e belo.

Desviei minha atenção daquilo e percebi que Christine estava em minha frente. Usava o mesmo vestido azul de antes e já não havia feridas ou sangue. Apresentava-se limpa.

— Sinto muito termos sido interrompidas — respondeu a jovem.

— Então seja rápida dessa vez. Estou em um hospital. Me trazer de volta, de um desmaio, é fácil para eles.

— Frederico era um vampiro, um modificado, e meu filho também. Por isso nada aconteceu a eles. Já Coraline, o assunto é mais complicado.

— Você se casou com um vampiro? — perguntei sem entender mais nada.

— Não sabia o que ele era. Se adivinhasse, jamais teria me casado. Descobri depois que vi seus olhos tornarem-se completamente negros — ela respirou fundo e me encarou. — Quando Victor me contou sobre os modificados soube, naquele momento, que um deles era o meu marido — Christine não estava triste, mas percebi que seus olhos se encherem de lágrimas enquanto falava. Aquilo a machucava e sentia as mesmas sensações. — O sangue do vampiro, que corre em suas veias, é de Frederico e de Andrei, mas...

— Mas o quê?

— Ainda existem coisas que não posso te contar, Alice.

— Por que não pode me contar? O que te impede?

— Porque você precisa trilhar seu próprio caminho. O que disser apenas vai acabar com a sua paz. Não quero isso! Não quero que se torne paranoica assim como fui — ela aproximou-se de mim. — Seja esperta. Saiba escolher seus aliados, tanto humanos quanto vampiros. Você é muito mais forte do que eu, Alice. Posso sentir. Somos a mesma pessoa, mas temos garras diferentes. Fomos criadas em épocas diferentes e isso nos tornou mulheres diferentes. Faça com que suas decisões também sejam divergentes das minhas — ela me tocou e senti suas mãos geladas, em minha pele. — E cuidado com Arthur.

— Arthur? Mas ele está morto, não está? O que sabe sobre ele?

— Só que foi ele que me fez isso — ela mostrou o pescoço e lá estavam as feridas outra vez. — Ele não morreu. Está por aí e só peço que tome muito cuidado.

— Por que ele lhe fez isso? Não entendo mais nada.

— Coração partido é um dos principais gatilhos para o ódio e mágoa, Alice — ela tentou sorrir, sem muito sucesso. — Parti seu coração, ele partiu o meu pescoço. Simples assim! — ela deu a volta ao redor de mim, tocando nos objetos que decoravam uma mesa pequena. — Victor, eventualmente, irá te propor a transformação. Não pense, apenas aceite. É a melhor chance que tem. Você e sua família — ela virou-se para mim outra vez. — Você está gostando dele, de estar com ele, não está? Sei por que começou assim comigo.

— Por que não ficou com ele, Christine? Tudo seria diferente agora.

— Como disse: tomei as decisões erradas. Você é a minha chance de consertá-las e, por isso, não faça besteira — ela se afastou de mim. — Provavelmente essa será a última vez em que falo com você. Seu corpo reage de forma violenta e se eu continuar, provavelmente morrerá ou terá complicações graves.

— E os sonhos, Christine? Preciso saber o que aconteceu com você.

— Já lhe mostrei tudo o que precisava mostrar — ela sorriu. — Agora é com você — Christine me deu as costas e seguiu caminhando por aquele corredor antes de ser tomada por uma luz forte. Na verdade, aquela luz foi um dos médicos realizando o exame de pupila fixa em mim. Isso ocorre apenas em caso de morte cerebral. É direcionado um facho de luz, como de uma lanterna, nos dois olhos abertos do paciente. Um de cada vez. Em um paciente vivo isso provoca retração das pupilas. Já em um paciente com morte encefálica, nada acontece.

Respirei fundo e um dos médicos sorriu quando reagi aquilo.

— Bem-vinda de volta — disse. E um sono forte se apoderou de mim outra vez.

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