Imortal

By FlviaRolim

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[Vencedor do prêmio Wattys 2015 na cateogoria "Os Mais Populares"🎖️] ESTÁ SENDO REESCRITA E REVISADA. A his... More

Prólogo
Conhecendo o Desconhecido
Visita Noturna
Saltos no Vazio
Compromissos
Rompendo Relações
Knockout
Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Um
Fugindo das Lendas e Caindo na Realidade - Parte Dois
Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Um
Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Dois
Xeque-Mate
Eu Escolho a Eternidade - Parte Um
Eu Escolho a Eternidade - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Um
O Baile de Máscaras - Parte Dois
O Baile de Máscaras - Parte Três
Fragmentos
Perdoe-me Por Dizer Adeus
Causa Mortis - Parte Um
Causa Mortis - Bônus
Causa Mortis - Parte Dois
O Outro Lado da Moeda
Emboscada - Parte Um
Emboscada - Parte Dois
Angustia Existencial
Dave Miller
Finalmente Pronta
Alguma Coisa no Caminho
Outro Amanhecer - Final
Epílogo
Amores Imortais
Prévia - Eterno
Eterno está no ar
Bônus - Christine
1 anooooooo!!!!!
Arthur e Victor (Bônus - Um ano de Wattpad)
Revelação da Capa
VERSÃO ANTIGA (RASCUNHO) X VERSÃO ATUAL (PRIMEIRA EDIÇÃO)

Nada Mal Para Um Imortal

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By FlviaRolim

Se disser que consegui me concentrar durante as horas restantes, estaria mentindo. Era complicado parar de pensar que vampiros, a mando de Victor, estavam roubando bolsas de sangue no hospital. O mais intrigante de tudo era que Ethan fez questão que soubesse que estava no local. Caso contrário, não teria se chocado comigo daquela forma. Foi proposital.

— Você está bem, Alice? — perguntou uma das enfermeiras que estava de plantão comigo.

— Sim, estou bem — passei a mão no rosto na tentativa de aliviar aquele estresse. Depois olhei para o relógio. Fim do plantão. — Iria continuar mais algumas horas, para dar suporte a vocês, mas não estou me sentindo bem. Estarei no bipe, caso precisem.

— Ainda ficarei por algumas horas aqui — informou. — Antes que me esqueça... — a ruiva me passou algumas pastas. Eram relatórios médicos que precisava dar o parecer e entregar para o Steve. — Ele disse que precisa do seu parecer para ontem.

— Me diz, o que o Steve não precisa para ontem? — falei sorrindo enquanto apanhava as pastas e as colocando em um dos braços. Puxei a bolsa de cima da mesa e segui na direção da porta. — Já ia me esquecendo! O aniversário das gêmeas será na semana que vem. Leve a Elizabeth e a Anna.

— Não vou poder, Lice. Semana que vem estarei de férias, lembra? Ted comprou as passagens para levar as meninas para a Disney esse ano — respondeu.

— Tenho que levar as minhas pequenas também — disse. — Então fica para a próxima. Boa noite, Sarah.

— Boa noite, Alice.

Tomei um banho corrido, na sala dos residentes, me troquei e me dirigi à saída. Encontrei Steve no corredor, que começou a falar sobre o meu desenvolvimento no hospital e sobre meu futuro para os próximos cinco anos.

Se ele soubesse o que ocorria na minha vida, naquele momento, talvez nem me desse uma semana a mais. Ethan me disse que Victor não iria gostar de saber sobre ter procurado um caçador. E pensar no que ele poderia fazer a mim e à minha família me deixava em pânico. Para mim, ele ainda era completo desconhecido.

Voltei a minha atenção para Steve por mais alguns minutos, procurando espantar meus pensamentos, e logo nos despedimos. Ele sabia que estava realmente cansada e por isso não se prolongou mais. Segui até meu carro, passei em uma sorveteria e tomei o caminho de casa. Era a noite do sorvete.

Assim que entrei, as gêmeas vieram logo ao meu encontro. Tomaram os dois potes de minha mão e saíram correndo para a cozinha. Eram tão cheias de vida, com um caminho longo pela frente. Imaginei como seria se Laura estivesse ali.

Ela era a bebê mais linda que conheci. Seus olhos eram da cor do mel, iguais ao do pai. O sorriso era o meu, definitivamente. Tão quieta e nunca me deu trabalho, mesmo quando esteve doente. Seus cabelos eram idênticos aos de minha mãe, castanhos. Tinha aprendido a engatinhar uma semana antes de me deixar.

E assim, nove anos se passaram, e ainda lembrava de cada momento de sua vida. Ah, como me lembrava!

Só conseguia dormir se estivesse próximo a mim. Como amava sentir meu cheiro e calor, embora, tenha deixado de mamar com quatro meses. Desenvolvemos um vínculo forte demais e a sua morte foi a pior experiência que passei em minha vida.

Como disse a Victor: pais não deveriam enterrar seus filhos. É uma dor forte demais e nunca nos abandona.

Fingi um sorriso quando minhas irmãs voltaram comendo o sorvete e sentaram-se no sofá para assistir a um filme que minha mãe colocou no DVD.

Subi as escadas e me tranquei. O relógio marcava pouco mais de sete da noite e só queria soltar o choro preso por tanto tempo. Os anos na faculdade e o trabalho me tiravam um pouco do foco, mas era impossível não me lembrar dela. Impossível.

Caminhei até minha penteadeira e a abri, retirei um álbum de fotografias. Sentei na cama e passei a olhar as fotos. A primeira era eu, com pouco mais de oito meses de gestação. Era uma menina ainda e com uma responsabilidade tão grande. Uma vida crescendo dentro de mim. Estava tão assustada com aquilo e ao mesmo tempo feliz. Laura nasceu de parto normal e recebi alta médica dois dias depois. Mas, minha bebê ficou no hospital e ali começou minha luta. Não saí de perto dela em momento nenhum. Passei a viver naquele lugar, passei a viver para ela.

Virei a página e lá estava outra foto de minha menina, conectada ao respirador e com um curativo grande na caixa torácica. Grande demais para ela. Era tão pequena e sofreu tanto no início da vida, mas na foto ela estava sorrindo. Aliás, tinha um sorriso perfeito, alegrava qualquer pessoa. Olhar para ela me fez sorrir também.

— Cheguei em uma má hora? — perguntou Victor e estremeci com a aparição repentina dele.

— Droga, Victor! — ele me encarou ostentando um sorriso. Fiquei completamente encantada, mas o sorriso logo desapareceu. — Você me assustou.

— Mil perdões — desculpou-se. Aproximou-se, sem tirar os olhos de mim. Me levantei imediatamente. — Porque pediu ajuda a um caçador? — Ele foi curto e direto. Sabia que teria de enfrentá-lo mais cedo ou mais tarde.

— Não pedi! — disse e engoli em seco. Tentei me afastar lentamente, mas ele continuou a se aproximar. E a tal ponto que cheguei a encostar à parede. Os olhos fixos no colar em meu pescoço. Tentou tocá-lo, mas retirou a mão muito rápido, como se aquilo o queimasse.

— Prata? — indagou.

— Prata, alho e papoula — saciei sua curiosidade. Os olhos mudaram de verde para o quase branco. Continuamos nos encarando, mas aí ele demonstrou um sorriso, o que fez mostrar seu par de presas.

Afastou-se de mim, sentou-se em minha cama, voltou a sua forma aos poucos, e por fim, suspirou.

— Como se chama o caçador? — perguntou ao mesmo tempo em que me observava. Tentava manter o controle, parar de tremer, mas não conseguia. Ele continuava a me olhar, esperando pela resposta. Jamais entregaria minha avó ou daria o número de Nicholas para ele. Me arrependi na hora de ter pensado aquilo.

O encarei, mas ele não esboçou nenhuma reação.

— Você não pode mais ver meus pensamentos — disse, enquanto tocava o colar.

— Não, não posso — falou de um modo desapontado.

— Não vou dizer quem é o caçador.

— Isso vai muito mais além do que você e eu, Alice.

Quando ele se levantou, voltei a me encostar à parede. No início, o temia. Ele me deu as costas, mas continuou a falar.

— Tenho um clã que depende de mim. A proteção deles é a minha prioridade. Se tem um caçador em nossas terras, preciso saber quem é.

— Mas não saberá através de minha boca — afirmei convicta. — Sinto muito, mas não vou falar.

— Você me desaponta, profundamente — Virou-se para me encarar com aqueles olhos verdes intensos. — Prometi que nada de mal aconteceria a você. E na primeira oportunidade, se junta a alguém que quer destruir a minha raça, meu clã, minha família. Diga-me o que devo fazer agora? Ainda devo confiar em você?

— Não posso simplesmente dizer, Victor — minhas palavras saíram ofegantes. Ele caminhou em minha direção. Comecei a me apavorar e por causa disso não consegui conter as lágrimas. — Entenda que eu não posso entregar uma pessoa assim. Simplesmente não... — me calei no momento em que Victor tocou meu rosto, enxugando minhas lágrimas. As mãos dele eram frias, o que provocou um arrepio que foi dos pés à cabeça.

— Eu sei. Você é humana e automaticamente defende os seus semelhantes. Perdoe-me — os olhos verdes me esquadrinhavam a uma distância de pouco mais de sessenta centímetros. Fiquei paralisada como se fosse a presa de um animal feroz. Mas, ele apenas me contemplou por um longo tempo, o suficiente para ser considerado constrangedor, até que ouvimos meu nome ser chamado.

— Alice, o jantar está pronto! — gritou minha mãe da cozinha. O vampiro continuou com os olhos fixos em mim. Depois balançou a cabeça negativamente.

— Programei de te levar a um lugar hoje. Sair dessas paredes — Victor abaixou o olhar e se afastou. Examinou meu quarto e depois voltou sua atenção para mim. — Confie em mim.

— Alice! — e de novo minha mãe me chamava.

— Te espero lá embaixo — Victor aproximou-se da janela. — Cinco minutos — Ele me olhou, para ter certeza que eu havia ouvido, e pulou. Continuei parada no lugar onde estava e soltei toda a minha respiração. Levei a mão até o pescoço e toquei no colar. Graças a ele, Victor não captou que a caçadora era minha avó.

Não me importei em trocar de roupa, desci as escadas correndo e procurei disfarçar as minhas mãos trêmulas.

— Mãe, vou sair com um amigo — anunciei da porta da cozinha.

— Amigo? O William? — perguntou enquanto dispunha uma porção de arroz em uma travessa.

— Não. É outro amigo — respondi. — Ele está me esperando lá fora.

— Como se chama esse outro amigo? E porque ele nem sequer se deu o trabalho de entrar para falar com a sua família? — indagou com um olhar estreito, segundos antes que a campainha tocasse. Limpou as mãos no avental e seguiu até a porta. Ao abrir, deu de cara com Victor sorridente.

— Boa noite, senhora Baker — o homem a cumprimentou com um aceno de cabeça.

— Mãe, esse é Victor Brates — o apresentei. O vampiro me lançou um olhar sério. Lembrei que ele não tinha dito o seu sobrenome. Tive a certeza que ele sabia como descobri. — Um amigo que conheci no hospital — tentei ser o mais convincente possível. De alguma forma minha mãe sempre sabia quando mentia, mas pareceu que ela acreditou.

— Muito prazer, Victor — ela esticou a mão para ele. — Eu sou Linda Baker — O homem segurou a sua mão e a levou até seus lábios, depositando um beijo. Com apenas esse gesto, ele tinha a conquistado. Minha mãe era daquele tipo de mulher que era fascinada por cavalheirismo e Victor, sem dúvida, era um exímio exemplar de um cavalheiro.

— Não aparenta ser a mãe. Parece ser a irmã — concluiu. Definitivamente havia ganhado a dona Linda. Minha mãe corou violentamente e ele sorriu.

— Estaremos de volta antes das onze, não é? — o olhei e Victor assentiu.

— A trago de volta antes disso — respondeu me dando espaço para que eu saísse. — Até mais, senhora Baker.

— Divirtam-se — falou ela. O meu sorriso desapareceu quando ela fechou a porta. Respirei fundo, agora era eu e o vampiro. Virei para olhá-lo e me surpreendi ao ver e um Mustang preto, com vidros fumê, parado na frente da minha casa.

— Um carro? — perguntei admirada.

— Achou que me transformava em um morcego e saia voando por ai? — debochou.

— Há três dias você era uma lenda para mim — respondi ainda na defensiva. Parecia que Victor tinha se esquecido da história de descobrir o caçador. Apesar de que não estava totalmente convencida disso. — Não me surpreendo mais.

— Deixe-me mostrar que você está errada e que ainda posso te fascinar — Victor abriu a porta do carro para mim e eu não soube como reagir. Ele sorriu ao perceber meu constrangimento.

— Estou vendo que não conheceu muitos homens gentis — Ele olhou para o banco do carro e finalmente saí do meu estado de torpor. Confesso que fiquei deslumbrada com o jeito dele. A obra completa de Victor me causava admiração. Era algo inerente ao fato dele ser um vampiro, um ser feito para hipnotizar. É mais fácil caçar quando faz com que sua presa sinta afeição por você.

Sentei no banco e ele fechou a porta. Deu a volta no carro e tomou o seu lugar ao volante.

— Onde nós vamos? — perguntei sem o olhar, com o rosto voltado para rua, com desejo que não fosse pela última vez que a visse.

— Surpresa. — respondeu e ligou o veículo. Senti meu corpo inteiro se arrepiar quando Victor acelerou e vi minha casa pelo retrovisor.

O carro parou em frente a um lugar chamado Skate Land e o vampiro abriu a porta para que descesse. Desta vez, estendeu a mão para me auxiliar.

Olhei a enorme fachada do prédio, onde tinha o nome do lugar, separados por patins. Já ouvi boas críticas do lugar, mas não tinha encontrado tempo para ir ali. Era uma pista de patinação sem gelo, em piso de madeira. Meus amigos diziam que era um clima bastante agradável, com várias pessoas e músicas ritmadas que tornavam o passeio muito mais alegre.

Victor me esticou a mão e eu a olhei, soltando o ar de meus pulmões antes que pudesse encontra-la e ser conduzida até o local. Estava quase vazio. Percebi alguns homens, vestidos de preto, que identifiquei logo como sendo o pessoal que trabalhava ali. Olhei para Victor e ele sorriu.

— Aluguei o lugar por uma noite — me confessou, ao mesmo tempo em que cumprimentou um deles. O homem alto, de olhos incrivelmente azuis, me encarou e sorriu. Indicou o lugar onde deveríamos sentar. Cada mesa tinha uma lâmpada no centro e apenas uma estava acesa. Foi para essa que Victor me conduziu e puxou minha cadeira para que sentasse. Na mesa havia apenas um jogo de pratos e talheres, mas achei estranho quando vi duas taças. Ele fez um aceno para um dos homens, dando permissão para que ele trouxesse "o seu pedido", e pousou os olhos em mim. Não desviei a atenção da taça em frente a Victor.

— É para o vinho — comunicou e isso me fez corar. — Incrivelmente ainda podemos beber, sem a parte chata de ficarmos bêbados.

— Deve ter muita vantagem em ser... — me calei no momento em que o garçom aproximou-se com uma garrafa de tinto e nos serviu. —... o que você é.

— Não se preocupe, eles sabem — me informou. Agradeceu ao garçom que saiu depois de encher nossos copos.

— Eles são...

— Vampiros? Não — respondeu. — Digamos que sejam simpatizantes e doadores. A maioria das casas comerciais de Baltimore sabe da nossa existência e tem funcionários próprios para doações. Bastaria que erguesse uma de minhas mãos para que alguém me fosse trazido.

— Vocês pagam isso por fora? — perguntei mais ríspida do que deveria.

— É melhor do que deixar um rastro de corpos para trás, a espera apenas de um caçador. O engraçado é que mesmo evitando os corpos, eles ainda aparecem — Bingo. Estávamos de volta a aquele assunto.

— Só preciso que saiba que não o procurei. O achei sem querer. Nem sabia da existência deles até topar de frente com um. Assim como vocês.

— E não vai mesmo me dizer quem é? — Victor não desviava os olhos de mim. Aquilo me dava calafrios e me deixava envergonhada, ao mesmo tempo.

— Não — respondi e o vampiro esboçou um sorriso. O garçom trouxe a porção de comida e colocou diante de mim. Comida italiana. Não pude deixar de sorrir.

— Sua comida preferida, não é? — perguntou ele. Sabia a resposta, viu em minha mente quando ainda podia.

— Sim. Obrigada! — agradeci com o foco no prato de macarronada. O cheiro estava maravilhoso e minha boca encheu-se de água, mas não podia comer. Ainda não. — O que o Ethan estava fazendo no hospital? — perguntei pensando se Victor me responderia. Devia uma resposta a ele também. Se ele se negasse a falar, talvez eu entendesse. O vampiro não me respondeu de imediato. Encarou-me por alguns segundos antes de abrir a boca.

— Pedi que ele fosse atrás de uma amostra de sangue de seu paciente. Queria saber qual o tipo de veneno corria nas veias dele. O dos modificados é diferente do nosso — me respondeu enquanto bebia um pouco de vinho. — As bolsas de sangue foram consequência. Ele achou facilidade quando esteve ali e por isso voltou. Não podemos perder a oportunidade de levar comida para casa — senti meu estômago embrulhar.

— Não acharam nada nas amostras de sangue. Os exames disseram que Gabriel estava limpo.

— Porque não era o sangue dele. Ethan trocou — ele passou o dedo na borda do copo de forma distraída.

— Trocou? E o que vocês acharam na amostra? — indaguei. Porém, ele não respondeu. Continuou naquele movimento repetitivo, absorto na taça de vinho. Estiquei meu braço e toquei em sua mão fria. Automaticamente, os olhos verdes encontraram os meus. — O que acharam?

— Como disse, não foi um de meu clã — os olhos agora estavam concentrados nos meus. Talvez tenha sido porque também não o deixei de tocar. Eu parecia paralisar quando Victor me olhava. — Foi um modificado.

— O que são modificados? — quis saber, retraindo a minha mão, o que fez surgir um momento constrangedor. Tentei aliviar aquele momento focando em minha comida.

— Modificados são uma espécie de vampiros. Existem apenas duas: Hematófagos comuns e os modificados — suspirou e continuou: — Eu e meu clã somos os comuns, assim como vários outros clãs espalhados por aí.

— E por que chamam os outros assim? — questionei levando uma quantidade de macarrão a boca. Estava realmente bom aquilo.

— Porque é o que eles são — Victor respirou fundo. — Eles são diferentes de nós. Resistem ao Sol, podem comer comida humana, são mais rápidos e mais fortes. A prata os fere, não na mesma intensidade, mas ainda podem matá-los se expostos por muito tempo. Enfim, eles são superiores.

— Isso é demais para minha cabeça — disse sem pensar e me encostei ao assento da cadeira. Larguei os talheres no prato. — O que os impedem de nos atacar então? Já que podem se passar por nós, humanos, facilmente?

— Nós, os vampiros comuns. — respondeu dando ênfase no que eram, assim como enfatizei o fato de pertencer à classe dos humanos. — Há uma luta milenar entre nós, Alice. Tudo isso para que não precisemos nos expor. Ficar nas sombras é uma bela forma de sobrevivência. Tudo está mais fácil agora e por uma bela quantia em dinheiro, podemos comprar a discrição dos humanos, mas eles não querem isso. Preferem que sejamos conhecidos. Nós viemos tentando impedir a qualquer custo, mas está cada dia mais difícil. Corpos estão sendo encontrados, pessoas estão desaparecidas e mais modificados aparecem a cada dia. Muitos vampiros, que conhecia, morreram lutando. Poucos são os antigos e a maioria que resta, está em meu clã.

— Sean é um deles — afirmei lembrando-me da história que Victor contara sobre transformar o capataz da fazenda em vampiro.

— Não só ele — me ofereceu um sorriso. — Amira, Ethan, Tom e Tricia também. Nós seis somos os membros do conselho. Cada clã tem o seu, mas todos reportam ao conselho principal, que somos nós. Dessa forma mantemos sempre um contato com os outros. E se for necessário, poderemos enviar algum suporte.

— De todos só conheço Sean, Ethan e você.

— Vou te apresentar aos outros — disse com um sorriso. Parecia animado com a ideia de me levar até onde eles moravam. Para ser sincera, não gostei nada disso, era como se fosse um rato em ninho de cobras.

— Por favor, não — solicitei apavorada, com os olhos vidrados no vampiro. E o sorriso que ele ostentava, desapareceu. — Não estou pronta para conhecer mais alguns de vocês. Foram três em uma semana, já é um bom começo. Na verdade, já é um maravilhoso começo. Principalmente para alguém como eu, cética e que surta por qualquer besteira. Então... por favor — sorri ao perceber que me embolei na hora de falar.

— Tudo bem — respondeu com o sorriso voltando a seu rosto. — Temos tempo.

— Obrigada — agradeci sem jeito.

— Com licença — era a voz do garçom. — Estão bem servidos? Está tudo bem?

— Sim, obrigada — agradeci e voltei a saborear um pouco do macarrão.

— Não vai querer nada mais além do vinho, senhor? Preparamos o que o senhor mais gosta — Victor lançou um olhar para o homem e depois para mim. — É AB negativo, estou certo? — gelei. Esse era o meu tipo sanguíneo.

— Não, obrigado — agradeceu ele. — Não quero beber nada agora.

— Sim, senhor. Com sua licença — fez uma reverência e se afastou, enquanto a atenção do vampiro voltou a mim. As minhas mãos começaram a tremer. Era sobre isso que Victor havia falado, tinha alguém ali que estava apenas esperando para que ele chamasse.

— Como vocês identificam o tipo sanguíneo? — tentei parecer natural e quebrar aquele maldito silêncio. A fome tinha passado, mas tinha comido uma boa quantidade.

— É característico. Do mesmo modo que você distingue o cheiro de um bolo e uma carne, sendo assados. O odor é diferente e é assim que você os diferencia, sem que tenha colocado os olhos nos pratos — abriu um sorriso quando viu minha expressão. — Desculpe-me por ter comparado com comida. Achei que assim você entenderia melhor.

— Tudo bem — o acalmei e bebi o restante do vinho que ficou em meu copo. Victor me ofereceu mais uma taça, mas recusei. Sempre fui fraca para bebida e não poderia correr o risco de perder a razão. Principalmente, em um jantar com um vampiro.

Permanecemos na mesa por alguns minutos, conversando amenidades. Fiquei surpresa por compreender que gostava de sua companhia. Ele me fazia rir.

— Você quer patinar? — me perguntou quando viu que meus olhos estavam voltados para a pista.

— Não sei patinar — confessei, sendo o mais sincera possível. Era boa apenas em ser médica. Nunca patinei na minha vida, nem em solo de madeira e muito menos em gelo. Não era boa nessas coisas.

— Te ensino — se ofereceu. Aquilo me fez corar. Sorriu quando percebeu que o sangue fluiu em minhas bochechas. Assenti e nos levantamos da mesa. Um dos homens de preto nos trouxe dois pares de patins, com quatro rodas, e nos entregou. Calcei, mas não levantei. Estava com muito medo de cair.

Victor terminou e se colocou em frente a mim. Esticou a mão em minha direção.

— Ainda não acho que seja uma boa ideia — alertei insegura.

— Te guio. Não se preocupe — ele sorriu. — Não irei te deixar cair. Confie em mim.

Confiei nele. Uma humana tola que confiava em um vampiro. Estendi a minha mão e ele a segurou de modo firme. Talvez para passar segurança e demonstrar que realmente estava disposto a não me soltar. Me levou até o meio da pista, entre escorregadas e desequilíbrios.

— Vou cair — o avisei entre risos. Confesso que estava me divertindo.

— Um pé de cada vez, Alice — me orientou quando me soltou e se afastou. Deslizou para longe de mim, me deixando em pé sozinha. — Passos de bebê.

Forcei meu corpo para a frente e deslizei para trás. Victor me segurou antes que me desequilibrasse por completo.

— Jogue o pé para o lado, assim terá seu equilíbrio. Patinar é diferente de andar.

— Por que não me disse antes? — perguntei irônica e Victor sorriu.

— Vamos lá. Mais uma vez — me incentivou quando se afastava novamente. Respirei fundo e fiz como ele mandou. Finalmente consegui andar um pouco, mas de novo ameacei cair. Parecia que aquele chão era coberto por cera ou algo bastante escorregadio. Perguntava a mim mesma como Victor conseguia ser tão gracioso em seus movimentos e eu, tão desastrada daquela forma.

De novo, ele me apanhou e de modo mais próximo. Pude sentir a sua respiração em meu pescoço. Victor paralisou, segurando-me pela cintura. A minha respiração ficou ofegante e comecei a transpirar. As mãos do vampiro ainda estavam ao redor da minha cintura quando parou de respirar.

Me afastou sem me soltar e mesmo que ele tivesse feito aquilo tão rápido, ainda consegui ver seus olhos voltando à cor natural.

— Acho melhor pararmos por aqui — falei quase como em um sussurro.

— Se você desejar... — disse ainda prendendo o ar. —... assim será. — Sabia que ele lutava contra si mesmo. Juntava o fato de ser um saco grande de sangue com a infelicidade de ter o tipo sanguíneo que ele gostava. Era uma azarada, em definitivo.

— Desejo — afirmei sem pensar duas vezes.

— Então, vou te levar para casa — avisou me puxando, de uma forma gentil, para perto dele e me conduziu até a saída da pista. Retirei os patins e calcei meus sapatos. Victor seguiu até uma das salas e se demorou um pouco por lá, enquanto aguardava do lado no portão.

Dez minutos depois ele saiu. Talvez, pensou que não notaria o respingo de sangue em sua camisa. Ele havia se alimentado, bebido o sangue de alguém. Me perguntei se a pessoa ainda estava viva. Mas como não vi nenhum alvoroço por parte da equipe que trabalhava ali, acreditei que ele não matou ninguém.

Na verdade, Victor já tinha me dito que eles não matavam mais. Havia as pessoas que se doavam aos vampiros. Oferecia seu próprio sangue em troca de dinheiro, reconhecimento ou apenas por simpatizar com eles. Talvez a pessoa de quem ele bebeu fosse uma dessas.

Segurou em minha mão, me conduziu até o carro e abriu a porta para que entrasse. Antes de tomar seu lugar, virou-se para conversar com o dono do estabelecimento e lhe deu uma quantia grande de dinheiro. Nem se juntasse um ano inteiro, do meu salário, conseguiria aquilo.

Victor deu a volta e sentou-se no banco do motorista. Respirou fundo antes de ligar o carro. Prendeu a respiração até aquele momento. Não que ele precisasse respirar, mas fiquei aliviada em saber que agora ele estava sob controle.

— Desculpe por estragar a noite — falou enquanto o carro seguia pela estrada, em direção à pista principal.

— Não se desculpe, gostei do jantar — o tranquilizei, mesmo que não conseguisse encará-lo. Não estava mentindo, tinha me divertido de verdade em sair com Victor. Ele se mostrou uma pessoa alegre, mesmo tendo toda aquela limitação.

— Fala isso da boca para fora — disse em um tom provocativo, escondendo seu sorriso. Achava lindo quando ele fazia isso, porque se formava um bico engraçado tentando não sorrir.

— Sério. Foi divertido e esclarecedor — Victor me olhou de soslaio, parecia não acreditar no que havia dito. Na verdade, nem eu mesma coloquei fé no que disse. — Quero dizer: é fácil conversar com você — Victor manteve sua atenção para a estrada, mas abriu-se em um sorriso ainda mais largo.

Dez minutos depois, o carro parou em frente à minha casa e suspirei aliviada. Antes que pudesse abrir a porta para sair, Victor deu a volta no carro e fez isso por mim. Foi um cavalheiro, como durante toda a noite.

Seguimos calados até a porta.

— Posso te perguntar uma coisa? — foi eu que quebrara o silêncio. — Por que apagou minha mente?

— Não foi por maldade — me informou. — Só não queria que chorasse mais. Lembrar-se de Laura lhe faz chorar e isso foi confirmado, assim que coloquei os pés aqui hoje. Vi as fotos do álbum antes que pudesse fechá-lo — Victor olhou para os próprios pés. — Só gostaria que você tivesse um tempo de paz e que pudesse dormir tranquila. Se você soubesse que estive aqui, se lembraria da conversa que tivemos sobre sua filha. Por isso tive que apagar tudo.

— Obrigada por se preocupar. Mas, existem coisas que não podem ser apagadas. Seria como matar uma parte do que você realmente é. Laura é uma parte do meu passado, não quero esquecê-la.

— Me desculpe por tê-lo feito — ele fez um aceno de cabeça e suspirei. Me virei para seguir até a entrada da minha casa.

— Agora posso te fazer uma pergunta? — indagou, depois que subi alguns degraus.

— Claro que pode — assenti.

— Por que guardou as vermelhas? — Pude jurar que corei, porque as vistas de Victor corriam pelo meu rosto, me analisando.

— Gosto de rosas vermelhas — respondi abaixando o olhar. — Não te agradeci por elas. Embora aquilo tenha me assustado.

— Foi precipitado?

— Demais — disse envergonhada, o que provocou um sorriso em nós dois. — Mesmo assim, obrigada! Boa noite, Victor.

— Boa noite, Alice.

Entrei em casa, respirei fundo e encostei na porta. Estava bem, nada demais aconteceu.

Ostentava um sorriso bobo na cara.

— Alice? — era a voz de minha mãe, que estava na sala, sentada no sofá maior com o meu pai. Um homem jovem, não deveria ser muito mais velho do que eu, se encontrava na poltrona de frente para eles.

— Querida, quero que conheça nosso novo hóspede — ela apontou para o rapaz. — Nicholas Evans, é filho de um amigo antigo de sua avó. Ela ligou pedindo para que ele ficasse alguns dias aqui em casa, enquanto resolvia um problema na cidade. Acabou de chegar.

Encarei o homem de modo sério enquanto ele se levantava e seguia até mim, com a mão estendida. Usava uma calça jeans surrada e um casaco de couro preto, por cima de uma camisa quadriculada vermelha.

— É um prazer conhece-la, Alice. Sua avó fala muito de você — me revelou com aquela voz grossa e um sorriso de lado estampado na face. Compreendi quem ele era e sabia o porquê estava ali. Diante de mim estava o caçador que a vovó pediu que procurasse. Provavelmente, ela adivinhou que não ligaria e tomou à dianteira. Agora tinha certeza que nada de bom ia acontecer.

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