Receber a ligação dela hoje foi definitivamente uma das melhores surpresas que eu poderia ter, os últimos dias foram tórridos e cheios, meus compromissos profissionais vem sugando todas as minhas energias e no meio de tanto caos tentar ser um pai presente para três adolescentes torna tudo ainda mais difícil.
A Costatine exige todo meu foco e atenção, qualquer passo em falso pode resultar em um prejuízo milionário levando em consideração a concorrência acirrada, onde há um jogo sujo e corrupto do qual me recuso a me render, essa resistência tira toda a minha paz, pois estar dentro dos trâmites da lei brasileira sendo um empresário no país é uma tarefa bastante difícil.
Estaciono o carro na frente da faculdade, com os vidros ainda erguidos varro meu olhar sob o lugar, procurando-a e logo meus olhos a encontram. Parada próxima ao portão mexendo em seu celular, uma alça de sua mochila pendurada em um dos seus ombros, ela veste uma calça jeans e uma regata branca com um desenho colorido estampado no busto, o vento da manhã toca seu cabelo e o envolve em seu rosto angelical, pareço ver tudo em câmera lenta, cada detalhe da garota é avidamente percebido por mim, minha percepção não permite que nada escape dos meus olhos.
Abaixo o vidro do banco carona e aperto a buzina duas vezes seguidas, a garota dirige sua atenção ao som e caminha até o carro, sorrindo. Me sinto nervoso, minha mão soa e eu pareço estar prestes a me desmanchar a qualquer momento.
A muitos anos uma mulher não me proporcionava tais emoções, isso é estranho para mim.
Lorena abre a porta do carro e logo se acomoda, coloca sua mochila em seu colo e encaixa o cinto de segurança em volta do seu corpo, observo tudo atentamente e a menina sorri quando percebe o meu olhar de fascínio.
- Me desculpe, sua beleza me deixa desconcertado e eu não consigo disfarçar. Te deixei constrangida?
- Não, está tudo bem - responde entre risos - Eu gosto do jeito que me olha, parece que há algo interessante em mim.
- Você é incrivelmente bonita - digo olhando-a atentamente - Meu Deus, preciso me reestruturar se não vai achar que sou louco.
- Nunca me elogiaram dessa forma - confessa surpreendendo-me.
- Como? - questiono - Não pode estar falando sério.
Finalmente dou partida com o carro, me recomponho e começo a prestar atenção no percurso.
- Para onde pretende me levar? - ela muda de assunto parececendo não ter uma resposta para me dar.
- Estava pensando em um restaurante muito bom que fica a alguns quilômetros do centro da cidade, o que acha?
- Por mim tudo bem - concorda.
Seguimos o restante do percurso em uma conversa suave, Lorena não parece estar retraída com minha presença, apesar dela passar a imagem de uma jovem tímida me provou não ser assim, ao menos não comigo.
Logo avisto o restaurante, estaciono na garagem subterrânea do mesmo, mas antes de sair do carro algo parece retrair a jovem, a observo sem entender e ela abaixa o olhar.
- Aconteceu alguma coisa? Não gostou do lugar?
- Aqui é muito sofisticado, olhe como estou vestida..
- Você está linda, o que há de errado?
- Estou de calça jeans e regata, sem levar em consideração meu tênis. Não estou vestida a rigor, vão rir de mim..
- Ninguém ousaria rir de você Lorena, está linda e sequer reparariam na sua roupa. Ainda assim, se não se sente a vontade podemos fazer outra coisa, ou ir a outro lugar..
- Eu realmente não queria desfazer nossos planos, mas não consigo me sentir bem..
Ajusto o cinto novamente em volta de meu corpo e dou ré com o Jeep saindo da garagem.
- O que sugere? - pergunto sorridente enquanto volto a dirigir.
- Estacione na próxima esquina, eu sei o que fazer.
- E não vai me contar?
- Se importa de comermos dentro do seu carro?
Sorrio com a ideia, sempre fui metódico e cuidadoso com meus bens, principalmente meu carro, mas sequer por um momento passou pela minha cabeça recusar a proposta da garota, comer dentro do meu automóvel nunca me pareceu uma ideia tão boa.
- Eu acho que seria ótimo - concordo estacionando onde a garota pediu, ela simplesmente sai do carro sem cerimônia me virando as costas.
A capixaba bate a porta atrás de si e caminha até um restaurante localizado no lugar, olho curioso e a menina some assim que adentra a porta do espaço. Espero alguns minutos e ainda não a vejo, agoniado com a espera saio do carro e caminho até o estabelecimento, a primeira visão que tenho é da morena no caixa com uma sacola branca de plástico na mão, caminho até ela e me coloco a sua frente, pagando o pedido antes que a jovem o fizesse.
- Você realmente não precisava fazer isso - diz enquanto caminhamos juntos de volta para o carro, pego a sacola de sua mão e Lorena me lança um olhar frustrado.
- Por favor, não fique brava comigo. Me dê a oportunidade de ser um cavaleiro, é nosso primeiro almoço juntos - estendo minha mão e um sorriso escapa de seus lábios, sua mão toca a minha e então voltamos juntos para o carro.
Dou partida mais uma vez, agora seguimos em silêncio, estaciono o Jeep em uma rua calma e pacata, nos entreolhamos e ela pega a sacola em meu colo,em seguida me entrega uma embalagem descartável e fica com a outra. Abro o recipiente e institivamente olho curioso para a comida presente ali, Lorena começa a rir da minha expressão e eu me sirvo usando o talher de plástico.
- Isso é bom - digo após terminar de mastigar, limpando minha boca com um guardanapo de papel - Um pouco gorduroso demais, mas bom.
- Então é a primeira vez que o senhor come uma marmita?
- É, acho que sim - ela começa a gargalhar enquanto eu me sirvo mais um pouco - O que tem nesse macarrão? Está muito bom!
- Corante, alho e óleo, muito óleo - dou de ombros e continuo comendo enquanto Lorena faz o mesmo - Estou dentro de um carro, comendo marmita com o dono da maior indústria da região. Nem em mil anos me imaginei tendo uma experiência como essa.
- Está sendo tão ruim assim? - questiono trampando o recipiente de plástico já satisfeito.
- Está sendo muito bom, a sua companhia é incrivelmente boa - Lorena pega nossos recipientes e guarda na sacola, juntamente com os talheres de plástico - Acho que esperava um almoço melhor, mais formal, me desculpe ter arruinado tudo.
- A anos eu não me divertia tanto em um almoço, obrigada por isso.
- Me fale mais sobre você, me conte um pouco da sua história - pede ela enquanto termina de limpar os cantos da boca com um guardanapo de papel.
- Me mudei para o Brasil a exatos dezenove anos juntamente com minha esposa, éramos recém casados, queríamos nos desprender da influência das nossas famílias na Itália e construir uma nova história. Com ajuda dos meus familiares construí a Costatine, minha esposa comprou uma grife e enfim nos estabilizamos. Hoje sou pai de três filhos, todos brasileiros nascidos aqui no Espírito Santo, duas meninas e um rapaz, ambos adolescentes e uma deles adotada, Gabriela de quatorze anos, os outros dois são gêmeos Antonella e Giovanni com dezesseis anos - respiro fundo quando paro de falar e dirijo meu olhar a ela - Sua vez, o que tem para me contar sobre você?
- Sou filha de uma família cristã e um pouco conservadora, me desprendi da religião a mais o menos um ano e venho tentando me descobrir desde então. Namoro a três anos, moro com meu pai, minha avó, minha mãe e meu irmão, estou no terceiro período de pedagogia e gosto da cor azul..- ela parece tentar reorganizar seus pensamentos para então prosseguir - Venho tendo alguns problemas quanto a minha identidade, coisas e pessoas que antes me faziam bem hoje já não fazem mais, mudei muitas das minhas percepções, sinto que amadureci e isso vem me incomodado, também incomoda todos aqueles que estão a minha volta e que me conheciam antes disso.
- Você está se desconstruindo Lorena, isso se chama desconstrução. Um processo nada agradável, que nos tira da nossa zona de conforto e nos faz repensar tudo que tínhamos como concepção antes.
- Então você me entende?
- Eu acho que sim, já passei por isso. O conselho que te dou é: não se sinta culpada, viva esse momento com a maior intensidade que puder, porque é uma dádiva, não são todos que tem a possibilidade de passar por essa metamorfose e você está sendo agraciada com isso, aproveite.
- Você parece entender e compreender em mim tudo que eu tento explicar para as pessoas que me rodeiam e não tenho sucesso. É tão bom finalmente ser ouvida - a menina diz me penetrando com o olhar.
Sem pensar muito estendo o braço, tocando seu rosto carinhosamente com minha mão, acariciando o local. A morena fecha os olhos com meu toque e eu continuo com o singelo movimento sob sua pele.
- Você é tão linda ragazza, pareço estar enfeitiçado - seus olhos se abrem e me fitam como duas grandes jabuticabas, damos início a um contato visual inquebrável, no qual nossos olhares parecem conversar entre si, conseguimos dizer um ao outro tudo que sentimos durante aquele momento sem precisar proferir sequer uma palavra - Eu posso beijar você?
Ela não me responde, apenas aproxima seu tronco de mim, lentamente, logo nossos rostos estão frente a frente, minha mão permanece no mesmo lugar e logo nossos lábios se encostam pela primeira vez. Uma onda de calor parece se espalhar sob meu corpo, cada centímetro dele se arrepia quando a maciez daquela boca toca meus lábios.
Sem que eu possa controlar minha mão desliza até a nuca da garota, meus dedos se entrelaçam em seu cabelos e involuntariamente eu aperto o local, chocando nossas bocas com pressão, deixando de lado o contato singelo e tímido de antes. Sua língua invade o beijo e eu imediatamente correspondo, logo apoio minha outra mão em seu rosto tentando de alguma forma a deixar ainda mais próxima a mim, sedento por mais dela. Afasto nossos rostos em um movimento rápido, Lorena me olha sem entender minha atitude e eu fecho os olhos tentando encontrar minha sanidade.
- Por favor, me peça pra parar agora, depois eu não conseguirei mais - peço.
- Luigi - ouvir ela proferindo meu nome me faz abrir os olhos - Por favor não pare.
Suas palavras me livraram do resto de juízo que eu ainda tinha, agarrei seus cabelos mais uma vez e os puxei para trás deixando seu pescoço livre, comecei a beijar a região, espalhando beijos molhados pelo local, a ouço arfar, sua respiração passa a ficar pesada com o contato, então volto minha atenção a sua boca, tomando-a mais uma vez. Seus braços envolvem minha nuca me trazendo para mais perto ainda, deslizo minhas mãos até sua cintura, apertando o local tentando colar ainda mais nossos corpos.
Meu membro já se encontra totalmente enrigecido, sendo apertado pela cueca e calça social, incomodando-me. A tensão sexual presente no pequeno espaço parece transpirar por nossos poros, enquanto eu puxo seu cabelo sem pudor algum sua língua encontra a minha em beijo molhado e sedento.
Gradativamente Lorena afasta seu rosto do meu, tiro minha mão de seus cabelos e vejo o quanto os dexei desgrenhados e desarrumados. Tentamos realinhar nossa respiração que parece falha, sorrimos um para outro e nos encaramos por mais alguns segundos, tento arrumar seu cabelo e falho miseravelmente, a garota ri vendo minha tentativa e eu finalmente desisto.
- Eu acho melhor ir para casa agora - diz ela desviando seu olhar.
- Está bem, vou levar você.
- Não, melhor não. Da última vez meu namorado quase viu você e eu prefiro não correr o risco..
- Está bem, se prefere assim tem um ponto de táxi logo ali e você pode pegar um - digo tentando realinhar minha blusa social - Pode me passar seu telefone? Eu gostaria de te ver mais vezes.
- Luigi, não podemos repetir o que aconteceu aqui - as palavras da menina parecem destruir um muro de expectativas que eu tinha criado sobre possíveis outros encontros - Eu tenho namorado, você é casado.. Eu queria muito que se repetisse, mas não é certo, não podemos fazer isso outra vez.
- Está bem - respondo apenas - Um táxi acabou de estacionar logo ali - digo apontando para o carro.
Saio do Jeep e a menina faz o mesmo, ando a sua frente fazendo um sinal para que o taxista espere. Dou o endereço ao homem e pago a corrida, Lorena me lança um olhar de reprovação e eu simplesmente ignoro. Abro uma das portas do banco traseiro para que ela entre, antes de se sentar toco seu braço e ela me olha.
- Se mudar de ideia, e eu realmente espero que isso aconteça, sabe onde e como me procurar.
Ela me responde apenas com um sorriso e adentra o veículo, fecha a porta e eu fico parado, vendo o carro dar partida frustrado e atordoado.
Eu não deveria me importar tanto com o fato dela não querer me ver outra vez, afinal, está certa, além de tudo tenho uma família a zelar. Mas deixar Lorena ir parece um sacrifício, eu a quero por perto e realmente não sei se estou disposto a deixá-la se afastar de mim.
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Mais um capítulo pra fechar o final de semana com chave de ouro, agora nos veremos só na terça como combinado. Tá bem?
Então bom restinho de domingo, se gostaram do capítulo me contem, por favor.. votem e comentem.. até terça! ❤