Cada Vez Mais

By AMaySousa

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O mundo de Emilia Calton não acabou depois de descobrir a traição do namorado com uma de suas melhores amigas... More

Epígrafe
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte & Um
Vinte & Dois
Vinte & Três
Vinte & Quatro
Vinte & Cinco
Vinte & Seis
Vinte & Sete
Vinte & Oito
Vinte & Nove
Trinta
Trinta & Um
Trinta & Dois
Trinta & Três
Trinta & Quatro
Trinta & Cinco
Trinta & Seis
Trinta & Sete
Trinta & Oito
Trinta & Nove
Quarenta
Epílogo
★Agradecimentos★

Treze

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By AMaySousa

Não havia sido uma semana das melhores. Longe disso. Eu sobrevivera até a sexta-feira na base do estresse e indignação. Ainda estava digerindo o fato de que teria que trabalhar com Henri. Mas, como meus amigos ressaltaram - muitas vezes -, faltava bastante para isso, o que não eliminava o problema, mas, pelo menos, o adiava.

Quanto a Antony, eu o via pela escola, mas o evitava a todo custo. Nas aulas, quando eu o pegava olhando para mim, virava o rosto na hora. Se bem que ele não tentara nenhuma outra conversa depois do nosso confronto fora da sala. O que não me surpreendia. Só provava que tudo não passou de uma pegadinha para me irritar. Eu teria deixado de lado, e ignorado, como todas as suas outras tentativas anteriores de me tirar do sério, mas não dessa vez. Antony havia brincado com uma coisa séria demais para mim. Flora não perdeu a chance de me dizer que eu estava exagerando, apenas Austin ficara do meu lado. Ele nunca gostara dos atletas da escola mesmo.

Eu estava em casa, havia recusado o convite deles para ir ao Mama Sarita! Meus pais tinham acabado de receber uma ligação de uma das primas do meu pai. O marido estava doente, precisaria passar a noite no hospital. Nada muito grave, disseram, mas não tinham com quem deixar os filhos. Mamãe queria ir sozinha, mas papai não a deixaria dirigir sozinha a noite, já que a casa da prima Joane ficava um pouco longe. Então os dois se preparavam para ir juntos.

Seria apenas Kaila e eu.

- Prometa que não vai sair - mamãe pede, parando no vão da porta do nosso quarto, segurando uma mala pequena. O suficiente para ela e papai passarem a noite.

Kaila está andando pelo quarto em busca de suas coisas para ir tomar banho.

- Eu não vou sair - ela diz, revirando os olhos. - Você não é meio grandinha para ter medo de dormir sozinha, Lia?

A alfinetada machuca. Sim, eu sou meio grandinha, mas ficar sozinha me apavora, ainda mais a noite. Não que eu precise dormir com alguém, isso nem seria possível mesmo, porque Kaila dorme fora o tempo todo. Mas só de imaginar passar a noite toda sozinha em casa meu coração acelera. Isso surgiu assim como minha insônia, lá por volta dos meus treze, catorze anos. Entretanto, a insônia passou, o medo, não.

Minha mãe não diz isso porque sabe que eu tenho pavor. Ela sabe apenas que eu não gosto. Não estava aqui quando eu surtei no meio da madrugada achando que estava sozinha - meus pais tinham ido viajar na época -, quando na verdade Kaila só estava na sala assistindo a algum programa na TV. Ela nunca contou isso à eles.

Mamãe pede para que ela me faça companhia apenas porque ando irritada esses dias, e, claro, porque acha que sou nova demais para ficar sozinha, mesmo eu tendo mais juízo que Kaila.

Minha irmã entra no banheiro e eu acompanho meus pais até lá fora. Papai beija minha cabeça antes de entrar no carro. Eu aceno para eles antes de irem.

Kaila resmunga durante todo o jantar sobre ser sexta a noite e ter que ficar em casa. Bom, ela pode ir se quiser. Não quero ser responsável por fazer da sua noite uma ruína completa e infeliz. Tanto faz. Quase digo isso a ela, mas não tenho coragem o suficiente. Então permaneço quieta e vou me deitar. Ela demora para vir também, fazendo barulho desnecessário quando aparece, o que significa que está irritada comigo agora. Somos duas, então. Quero lembrá-la de que ela é a adulta aqui e devia se comportar como tal, porém, isso geraria uma briga. Estou cansada demais.

Só dou as costas a ela e tento dormir.

Acordo sem ar. A escuridão do quarto aumenta a pressão no meu peito. Levanto-me aos tropeços indo até o interruptor e ligando a luz. A cama de Kaila está vazia, a não ser pelos cobertores bagunçados. Será que ela foi ao banheiro?

Deixo o quarto, a casa inteira está um breu. Ligo as luzes da cozinha e da sala na tentativa de acalmar meus nervos. Tomo um pouco de água para aliviar a garganta seca. Para aonde será que Kaila foi?

Volto rápido para o quarto só para pegar meu celular. São 01h15. Há uma mensagem de texto da minha irmã:

Kaila:
NÃO SURTE! O gatinho do Tyler me chamou pra uma festa e não pude dizer não. Volto antes de você acordar. Te amo ❤

A mensagem é de meia hora atrás. O histórico de Kai de festas é de voltar só no dia seguinte. Vou passar o resto da noite sozinha. É um fato. Algum cachorro na rua late e tomo um susto. Verifico a fechadura da porta da frente e volto para a cama. Tranco a porta do quarto também. Mantenho as luzes acesas. Fecho os olhos. O que é inútil. Sinto a pressão no meu corpo todo.

Pego o celular e ligo para minha irmã. Talvez ela volte se eu pedir. Afinal, ela tinha prometido não me deixar sozinha. Mas ela não atende. Nenhuma das cinco vezes. Meu nervosismo piora e fica cada vez mais difícil respirar. Eu afasto as cobertas do corpo e me sento na cama. Um suor frio gruda na pele do meu pescoço e meus olhos lacrimejam.

E se alguém invadir a casa? É possível, não é?! Nunca se sabe quando algo do tipo pode acontecer. Coisas ruins acontecem o tempo todo! Olho aturdida ao redor, meus olhos fora de foco. Como vou me defender se alguém entrar aqui? Ai, meu Deus, eu deveria ligar para a polícia.

Quer dizer, não. Não. Balanço a cabeça para afastar a ideia. Eu não posso ligar para a polícia. Vou dizer o quê? Que estou com medo da possibilidade de um maníaco invadir a casa?

Limpo as lágrimas dos olhos e faço um esforço para encarar a tela do celular. Está tarde, mas preciso de ajuda, tenho que chamar alguém. Quem? Passo os olhos pela lista de contatos e tento Austin. Vai direto para a caixa postal. O celular de Flora chama, mas ela não atende.

Levo uma das mão ao pescoço e a sensação grudenta me deixa enjoada. Acho que vou vomitar. Ou desmaiar. Tusso, sentindo a garganta apertada.

Não consigo respirar. Não consigo respirar.

Meu peito dói. Meu coração está a um passo de pular para fora. É isso, vou morrer, penso, escorregando da cama para o chão.

Então, de modo automático, seleciono um contato e levo o celular à orelha. Nem penso no que estou fazendo. Eu só preciso... fazer alguma coisa. Falar com alguém.

Antony atende no segundo toque.

- Ei - ele fala, a voz meio grogue. Acho que o acordei.

Não consigo responder. Tento respirar. Mas parece não haver ar o suficiente.

- Emilia? - Antony chama. - Você está bem?

- Não - falo em meio a tosse. - Não consigo...

A frase se perde quando meu corpo se impulsiona para frente. A garganta retraída por um vômito que não vem.

- O que aconteceu? Está tudo bem?

- Não tem ar.

Puxo a respiração pela boca, mas isso só me deixa mais nervosa e começo a chorar de verdade.

- Certo - A voz dele soa agitada agora. - Eu preciso que você me diga aonde está.

- Em casa.

- Está sozinha?

- Aham - respondo em um fio de voz. Acho que ele escuta.

- Okay. Ótimo. Agora quero que você vá ao banheiro, ou a cozinha, onde for mais perto para você.

- Não consigo me levantar - digo, entre soluços. Levo a mão ao peito, sentido as batidas. Fecho os olhos com força.

- Consegue sim. Apenas tente.

- Acho que morrer, Antony. Meu coração... Vou infartar.

- Você não vai. Só precisa se acalmar. O ar ainda está aí. Se você puder molhar o rosto, vai melhorar. Eu estou indo para aí, tudo bem? Respira fundo e solta devagar.

Faço o que ele diz. No começo é ruim, ainda me sinto engasgar. Mas aos poucos o ar começa a voltar. Saio do chão meio tonta e caminho até o banheiro.

Abro a torneira e jogo água fria no rosto e no pescoço. Antony pede que eu vá para sala, onde o espaço é maior. Eu me sento encostada na porta, com receio de alguém tentar entrar.

Antony passa o tempo todo me instruindo a respirar. As lágrimas complicam um pouco, porque não paro de chorar, porém, continuo a respirar fundo. Sinto meu coração desacelerar, as batidas ficando mais estáveis.

- Eu... não queria dar trabalho para você. Desculpa - peço, limpando as lágrimas do rosto.

- Não é trabalho nenhum - ele garante. - Não peça desculpas por isso.

- Estou com medo. De alguém entrar aqui - admito.

- Seu bairro tem histórico de invasão?

- Não.

- Então não se preocupe. Não vão começar justo pela sua casa. Você está segura aí. Só continue respirando, tudo bem? Estou quase chegando.

Assinto, mesmo que ele não possa ver. Eu encosto a cabeça na porta e espero.

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