She keeps me warm

De lotusfl0wer

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Valéria Monteiro é uma mulher poderosa, dona da maior rede de seguros do Brasil, mãe de Lorena, uma garotinha... Mais

capítulo 1
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5
capítulo 6
capítulo 7
capítulo 8
capítulo 9
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 19
capítulo 20
capítulo 21
AVISO
NEW YEAR'S RESOLUTION
capítulo 22

capítulo 18

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De lotusfl0wer


"Oi, mamãe." Lorena apareceu cabisbaixa quando saiu da casa de Bruno enquanto Valéria esperava sua filha na calçada, encostada em seu carro, pronta para ajuda-la à subir no assento elevado.

"Que cara é essa?"

"Nada."

A ruiva estranhou. Geralmente, Lorena gostava muito da casa de seu pai, porém ela decidiu não insistir, apenas entrou no carro e seguiu para sua casa.

"Mamãe, a gente pode ir na casa da tia Dalila hoje? Eu tenho uma coisa pra ela."

"Lolô, você nem acredita... Eu passei a noite toda no hospital com a tia Dalila. Um caminhão passou em cima do carro dela. Ela tá machucada, mas tá bem. Não dá pra ir na casa dela hoje, mas quando ela voltar e estiver melhor, nós vamos."

"É sério? Mas como um caminhão passou em cima dela?"

"Tava desgovernado, aí subiu em cima do Uber dela."

"Eu quero falar com ela, eu posso?"

"A gente liga pra ela mais tarde, tá bom?"

"Tá."

"Ei, Lolô. Preciso conversar com você. É bem importante. Tá prestando atenção?"

"Tô."

"São várias coisas... A primeira delas é: a tia Camila indicou outro médico pra você, um amigo dela. Ela garantiu que ele é bem legal."

"Eu não posso mais ir no consultório dela?"

"É melhor não... Você não fez nada. É que isso leva à segunda coisa que eu queria te contar." Valéria chegou em sua casa e estacionou o carro na garagem. Sem descer, ela soltou seu cinto de segurança e olhou para trás. Sua filha estava olhando-a com uma cara de expectativa, esperando o que vinha a seguir.

"Eu e a Camila estamos saindo, sabe? Eu gosto dela."

"Tipo namorada?"

"Tipo namorada."

"Mas então se ela é a sua namorada, porque ela não pode me atender? Nem precisa pagar mais, nem ir lá. Eu gosto dela... E a tia Cibele disse que ia fazer um slime comigo."

Valéria riu.

"Não é por isso! O trabalho dela não deixa ela atender você mais, entendeu?"

"Só porque eu sou filha da namorada dela? Não tem nada a ver. Eu cheguei no consultório dela antes de você."

"É verdade. Bom, terceira coisa: Você não pode contar isso pra ninguém."

"É segredo?"

"É."

"Nem pro papi?"

"Nem pro papi."

"Porquê?"

"Porque... Porque sim. Por favor, tá bom? Nosso segredinho."

Lorena deu de ombros e soltou o seu cinto também, descendo do carro atrás de sua mãe, que agora carregava sua bolsa e a mochila de sua filha.

"Você foi assim na festa?" A menina olhou bem para sua mãe quando ambas entravam em casa.

"Fui... o que é que tem?"

"O vestido é bonito, sabe... Mas a sua maquiagem tá horrível. Tá toda borrada!"

A ruiva riu.

"É claro, eu tava lá com a tia Dalila... aquela maluca me deu um sustão."

"Ela sempre dá um sustão. Não sei porque você se surpreende." Lorena passou e entrou primeiro na casa, indo direto para o seu quarto. Apesar da conversa tranquila, Valéria notou que a sua criança estava quieta demais. Ela estava diferente, como se estivesse algo entre cansada, triste e nervosa.

"Você tá bem, meu amor?" Valéria se deitou na cama da menina de bruços, apoiando-se em seus cotovelos, olhando sua filha que estava de barriga para cima, brincando com um slime em cima da cama.

"Tô."

"Você tá tão tristinha... Aconteceu alguma coisa?"

"Não."

"Se você quiser conversar comigo, você sabe que pode, não sabe? Eu sei guardar segredo e não vou ficar brava."

"Eu sei."

"Tudo bem, se você não quiser."

"Não... eu tô com dor de cabeça."

"Muita ou pouca?"

"Médio."

"Quer tomar remédio?" Valéria perguntou, passando a mão na cabeça de sua filha, aproveitando para verificar se a mesma estava com febre ou algum outro sintoma.

"Quer falar com a tia Dalila então?" Ao receber uma resposta positiva, Valéria clicou no primeiro contato de discagem rápida do facetime e entregou o celular para a filha, se posicionando ao seu lado para ambas aparecerem no vídeo.

"Por Allah, que susto! Que isso? Ah, oi Lolô."

"Sabe, tia, a gente tenta ser legal, tenta ter piedade com as pessoas, telefona aos doentes, mas agora eu tô desejando que o caminhão tivesse realmente passado em cima de você."

Dalila gargalhou do outro lado.

"Você já me amou mais, sabia?"

"Antes você me dava mais dinheiro e me respeitava um pouco. Como você tá?"

"Eu quase morri, sabia?"

"Mentira, minha mãe disse que você ficou grave, só. Mas não ia morrer."

"Que saco, Valéria! Ninguém me deixa fazer drama! Sapatão vive de drama, é minha energia vital! Que saco!"

Quando Valéria ia responder, a campainha tocou e ela apenas mandou um beijo para a amiga, saindo do quarto e indo atender a porta, enquanto Lorena ficava no telefone com a tia. Camila já havia tomado um banho e vestia uma roupa mais casual.

"Quer colocar seu carro pra dentro?" Valéria abriu a porta e recebeu um sorrisinho apaixonado da morena.

"Depois eu coloco. Você ainda tá com esse vestido?" Camila zombou e entrou, assim que Valéria deu passagem. A ruiva estava descalça e com a barra do vestido amarrada em um nó, o cabelo solto, todo marcado pelos grampos e elásticos que estavam prendendo o penteado da mesma na festa.

"É, não deu tempo ainda. Mas eu vou tomar um banho, já entendi o recado." Ela se enroscou na cintura de Camila, aproximando seus rostos. Camila ficou meio insegura, ela já sabia que Lorena estava em casa, mesmo que talvez estivesse tomando banho ou dormindo.

"Eu contei pra Lorena já." Valéria pareceu ler os pensamentos da outra.

"Contou? O que você contou?" Tanto por desafio, em memória da brincadeira no carro horas antes quanto por querer realmente saber a resposta, Camila perguntou, enroscando seus dedos na base do pescoço de Valéria. A ruiva arqueou uma sobrancelha e lhe deu um beijo demorado. Não um beijo indecente, mas um beijo cheio de afeto, significado, que não precisava de definição literal. Um beijo avulso, de repente, sem promessa de sexo, ou seja, um beijo em pé.

Lorena apareceu na mesma hora atrás das duas, fazendo um som de exclamação alto ao ver a cena, assustando as duas. Camila sentiu suas bochechas ardendo de vergonha. Cinco anos da faculdade, 125 horas de estágio mais 1 ano de extensão à noite para não saber com aquela situação. Tudo bem, ela também não sabia lidar com o fato de que tinha feito tudo o que o conselho de ética dizia para NÃO fazer, mas ter que se explicar para uma criança, sua paciente, que estava beijando sua mãe no meio de sua casa era bastante... inusitado e incômodo.

"Você disse que tinha contado pra ela..." Camila cochichou nervosa para Valéria.

"Tá tudo bem, tia. Tava brincando." Lorena deu um sorrisinho de lado. Apesar da brincadeira, Camila percebeu que havia sido um sorriso triste. "Mamãe, a tia Dalila pediu pra avisar que ela já tava saindo do hospital. A tia Soraia foi buscar ela e a Laila e elas iam pra casa."

"Ah, que bom. Obrigada." Ela pegou o celular das mãos de sua filha, que após entregar o telefone, saiu de novo em direção ao seu quarto novamente. Valéria olhou para Camila e riu enquanto dava as costas, saindo em direção ao seu quarto. "Vou tomar um banho, fica à vontade. Se quiser me fazer uma companhia..." Ela olhou para trás e deu um sorriso travesso, aproveitando que Camila estava ainda nervosa com a brincadeira de sua filha e desapareceu no corredor.

"Tia Camila, abre pra mim, por favor?" Lorena pareceu de novo na sala com um pacote colorido, um pote sem tampa e um slime azul. Ela entregou o pacote para Camila e sentou-se do lado dela no sofá, esperando. A morena até achou que Lorena tinha aparecido por lá com uma desculpa, só para averiguar a situação, mas não. Após tentar duas vezes, percebeu que o pacote realmente estava bem difícil de abrir. Conseguiu na terceira vez, com muita força, e entregou para a menina. Lorena se ajoelhou no chão, em frente à mesa de centro onde tinha apoiado seu slime e adicionou o produto do pacote: bolinhas minúsculas de isopor e glitter. O lado psicólogo de Camila não conseguiu se conter mesmo.

"Lorena, que foi?"

"Nada. Só tô cansada."

"Ah, então foi legal passar a semana na casa do seu pai... Você se divertiu bastante."

"É." A resposta curta indicou o que Camila já estava percebendo; a menina não estava mais empolgada em ir à casa do pai.

"O que vocês fizeram?"

"A gente foi pro parque, pro cinema, andar de bicicleta na Paulista, a tia Zu foi em casa várias vezes, foi isso. E ele me deu esse foam."

"Que gostoso."

"Tia, posso te- Eu posso te chamar de tia ainda, né? Mesmo que você me mande pra outro médico." Lorena olhou para Camila com os olhos grandes e pidões.

"Claro que pode."

"Tá. Então eu posso te perguntar uma coisa?"

"Pode."

"O papi fica falando mal da mamãe. Acho que ele não gosta mais dela e ele me enganou, ele não quer que eu vá lá pra ela ir também. Acho que eles só vão ficar brigando pra sempre. E eu não quero que eles fiquem tristes um com o outro. Ele não pode falar assim da mamãe e nem a mamãe do papi. O que você acha?"

"O que ele falou pra você, Lô?"

"Ah, sei lá... Falou que a mamãe nunca quer ficar comigo, só que eu sei que é mentira. E que ela só me coloca de castigo. Essa parte é verdade, mas eu entendo. Às vezes, eu tiro as pessoas do sério mesmo."

"E o que você respondeu pra ele?"

"Nada, eu não posso responder o papi."

Camila teve certeza de algumas coisas: Ela não ia mesmo poder parar de atender Lorena, a menina confiava nela à ponto de, mesmo em sua casa, numa situação casual, ela chegar até ela e pedir ajuda. O pai de Lorena era tóxico, ele realmente estava tentando uma manobra de alienação com sua filha, à troco de nada, e ainda tinha um comportamento hierárquico bastante forte, não deixava a menina rebater suas falas. E que Lorena estava cansada, não fisica, mas emocionalmente, ela não estava nem há dois meses naquele regime de passar uma semana com cada um dos pais e já estava se sentindo exausta, com as energias sugadas.

"Sabe o que eu acho?"

"O que?"

"Que você não pode ouvir nenhum dos dois agora, porque você já decidiu alguma coisa, já sabe o que quer, não sabe? Mas, não tem problema, não importa o que você decidiu, Lô, você não vai ficar sem eles, eles sempre vão ser seu papi e sua mamãe e eles sempre vão amar você."

Lorena deu de ombros, ainda com as mãos mergulhadas no pote com slime, misturando as bolinhas e o brilho na mistura. Elas ouviram os passos de Valéria se aproximando e logo a ruiva apareceu na sala secando o cabelo molhado numa toalha, usando um vestido curto, solto e chinelos.

"O que a gente vai almoçar?" Valéria perguntou se sentando no sofá. "Um foam slime! Ei, me dá um pedacinho?" A ruiva colocou a mão no potinho com que a filha brincava e pegou um pedaço, apertando-o com as mãos.

"Eu já almocei."

"Almoçar agora, Valéria? Tá doida? São quase quatro da tarde." Camila se lembrava muito bem da dica sobre rotina que havia dado para Valéria e Lorena seguirem, numa das primeiras sessões. Acabaram se distraindo com um filme na tv, um filme de animação da Disney, mas bastante interessante, até para adultos. Lorena, que estava no colo de Valéria, acabou dormindo antes do final e a ruiva esperou até os créditos para finalmente levar a criança até o quarto e deixa-la descansar até a hora do jantar.

"Isso é muito relaxante." Camila comentou ao ver que a ruiva voltava para a sala. Ela estava com o slime nas mãos.

"Demais! Eu achava que era só um jeito de extorquir dinheiro dos pais, mas é realmente bem relaxante."

"Eu tô chocada." A empresária tirou gentilmente o slime das mãos de Camila, jogou-o na mesa de centro e se aproximou dela.

"Eu sei uma coisa bem mais relaxante." Camila puxou-a para um beijo.

--

Aziz estava deixando o plantão ao mesmo tempo que sua filha estava recebendo alta e, mesmo mantendo a pose de arrogante, o médico carregou a filha da cadeira de rodas para dentro de seu carro. Laila estava acompanhando a namorada, mantendo uma distância segura da moça e de seu pai, e segurava suas coisas e as coisas de Dalila. Ficou em pé do lado de fora, imaginando que teria que pegar um Uber para ir até a casa de sua namorada.

"Não vai entrar?" Aziz perguntou, dando a volta no veículo e abrindo a porta do motorista. A mãe de Dalila estava no banco da frente, no lugar do passageiro.

"Eu posso pegar um táxi."

"Estamos indo pro mesmo lugar e tem espaço no carro." Aziz se limitou a dizer aquilo e entrou no carro. Laila arqueou a sobrancelha em dúvida, mas entrou e sentou-se ao lado de Dalila.

Ao chegarem no apartamento de Dalila, o pai da loira ajudou-a a sair do carro e acompanhou-a até o seu andar, junto com sua esposa e a namorada de sua filha. Ele evitava tirar o seu olhar do chão, sentia que aquele era um passo maior que suas próprias pernas para se dar, mas estava se esforçando.

"Obrigada, baba, obrigada, mama." Dalila agradeceu e abriu a porta do apartamento. "Vão entrar?"

"Não, vamos deixar você descansar. Quer que eu mande janta pra você? EU vou mandar, vou fazer o kebab vegano que você gosta e vou mandar o Youssef trazer pra vocês. Laila, min fadlik, se precisarem de alguma coisa, me liguem. Eu vou ficar com o celular na mão." Soraia deu um beijo demorado na testa de sua filha.

"Boa noite, bint." Aziz se limitou a dizer e apertou o botão do elevador, que abriu prontamente as portas metálicas e logo o casal sumiu.

"Que parte eu perdi?" Laila perguntou, apoiando Dalila em seu ombro e ajudando-a à chegar no sofá. Depois, voltou para fechar a porta.

"Uma longa história. Mas basicamente ele se desculpou e tá tentando aceitar a filha gay dele. Muntaz!" Dalila bateu palmas com a exclamação em árabe, numa brincadeira, e riu.

"Quer que eu pegue uma almofada pro seu pé?" Laila sentou-se ao lado de Dalila.

"Não. Eu quero que você fique aqui pertinho de mim, porque eu quase morri, sim, eu quase morri e não adianta dizer o contrário, nada vai me fazer mudar de ideia, e eu só quero um abracinho da minha namorada."

Laila riu, beijando-a. Trocaram alguns beijos, até ela perceber que as mãos de Dalila estavam bastante ousadas para que tinha acabado de sair toda estropeada do hospital.

"Dalila, eu não vou transar com você de pé e costela quebrados!"

"Ah, por favor, vai."

"Nem toda fodida você apaga esse fogo, que horror."

"Foram os remédios. Eles são afrodisíacos."

"Inventou..." Laila riu e deu-lhe um beijinho singelo. "Não, senhora. Você vai ficar boa primeiro e depois eu penso na sua hipótese."

"Poxa, não custa nada..."

"Custa sim, sua saúde. Aceita ou surta."

"Vou surtar."

"Você já é surtada." Laila riu. "Te amo." Ela falou e viu as pupilas de Dalila dilatarem alguns milímetros. "É sério. Melhor falar logo antes que você resolva, sei lá, ficar embaixo dos escombros de um prédio caído."

"Que horror." Dalila riu e puxou Laila pra perto. "Eu te amo também. É sério."



Sexta-feira, 9am – prédio da Insurazo.

"E O PARABÉNS! PARABÉNS PRA VOCÊ, NESTA DATA QUERIDA!" Dalila invadiu a sala de sua amiga, ainda meio manca por conta da bota ortopédica que utilizava, mas isso não a impediu de carregar sua caixinha de som nas mãos, tocando uma versão funk da música de parabéns para sua amiga.

Valéria riu e dançou com a amiga.

"35 anos de Valéria Monteiro!"

"35 seu cuzinho."

Dalila riu.

"Parabéns, mozão. Insira aqui textão de parabéns porque não sou obrigada a repetir a mesma coisa todo ano. Te amo demais, é isso. Toma, não espero que você goste porque eu sei que você vai gostar." Dalila abraçou a amiga e beijou sue rosto bem apertado, entregando-lhe em seguida uma sacolinha preta bem refinada. Encontrou uma caixinha de veludo dentro.

"Ai, meu deus! Você tá me pedindo em casamento? Sim! É claro que eu aceito!" Valéria brincou.

"Você aceita? Mesmo? É o dia mais feliz da minha vida!" Dalila fingiu emoção, entrando na brincadeira e as duas riram. Quando Valéria abriu a caixinha encontrou três berloques da Pandora, um da Ariel, um de coração mãe e filha e um da Torre Eiffel, como sinal de que em breve, abriram sua já confirmada filial em Paris.

"Dalila, você não existe! Puta merda, perfeito!" Valéria abriu o maior sorriso que podia dar e abraçou a amiga de novo. "Eu te amo muito! Obrigada, eu amei!"

"É, eu sabia... Eu sou muito boa com presentes. Te amo também, bebê. Vamos sair hoje à noite, né?"

"Com certeza." Ela respondeu enquanto tirava a pulseira de seu braço e adicionava os novos berloques.

"Beleza, me mantenha informada. EU preciso ir ao banheiro." Dalila deixou a sala com pressa e a ruiva resolveu abrir o pacote em cima de sua mesa e começar logo os trabalhos do dia.

"Valéria? Tem uma entrega pra você aqui no saguão." Helena bateu à porta da sala de sua chefe com um sorrisinho no rosto, não muito tempo depois.

"Entrega? EU não pedi nada..." A ruiva se levantou, deixando a papelada do banco suíço em cima da mesa e saiu. Do lado de fora, um entregador segurava uma mesa de café da manhã enorme, com um buquê de girassóis maravilhoso junto.

"Dona Valéria é a senhora?"

"Sim."

"Feliz aniversário." Ele entregou a enorme cesta, sorriu e saiu. Valéria caminhou de volta para a sua sala com a cesta, com um sorriso nos lábios. Abriu o pacote enorme e tirou a ovelhinha de pelúcia, o buquê e encontrou um envelope.

"Eu sou do tipo que manda flores. E que faz cantadas ruinas, você sabe, então, lá vai: Uma flor para uma flor. Feliz aniversário, namorada. Eu amo você. Ass: Camila."

Valéria abriu um sorriso bobo e pegou seu celular para conversar com Camila. Enviou várias fotos suas com a cesta, com a ovelha, com o cartão e comendo as coisas da cesta e agradeceu, terminando com um eu te amo também. Camila provavelmente estava atendendo porque não respondeu de pronto, mas ela entendeu que deveria fazer seu serviço também e depois se falavam.

O dia foi cheio de mensagens, ligações e comemorações no escritório, coisas que provavam o quanto Valéria era querida tanto como pessoa, quanto como chefe. Após o almoço, um pouco por insistência de sua amiga e um pouco por vontade própria, a ruiva deixou os deveres de lado e tirou a parte da tarde de folga, aproveitando para ir buscar sua filha da escola.

Lorena entrou no carro cabisbaixa, com os olhos já marejados.

"Que foi, meu amor? O que aconteceu?" Valéria se preocupou no mesmo instante.

Como a garota não respondeu, Valéria deu a partida no carro e foi para sua casa, as duas em silêncio. Valéria largou tudo em cima da mesa da sala de jantar, sua bolsa, sua pasta, seus presentes e a mochila de Lorena.

"Não vai me contar porque você tá brava assim?" Ela pegou a garota no colo e deu-lhe um beijo.

"Porque é o seu aniversário e eu não te dei parabéns."

"Ué? Claro que deu, você foi a primeira, esqueceu?"

"Aquilo não conta. Eu não te dei um presente. O papi sempre comprava comigo, mas esse ano eu não comprei nada. Só fiz um desenho e ficou horrível."

"Primeiro que você é o maior e melhor presentinho da minha vida inteira e eu não preciso de mais nada, além de você. Segundo que todo mundo sabe que nem eu nem você temos dons para as artes, então..." Valéria brincou com a filha e deu um monte de beijos em seu rosto, colocando-a no chão em seguida. "Ufa, você tá pesada..."

"Quem te deu essa cestona?" Lorena olhou para o maior presente da mesa.

"A Camila." Qualquer um poderia notar que o sorriso que Valéria abriu ao falar de Camila era diferente, tinha um brilho à mais. Ela remexeu na cesta e pegou uma amêndoa com chocolate, colocando na boca. "Quer um?" Ofereceu à pequena que abriu a mão pedindo um e lhe entregou alguns bombons. "O que acha da gente ir dar uma volta de patins no Ibira?"

"Agora? Você não vai trabalhar?"

"Agora, já, nesse instante. Vamos trocar de roupa." Mãe e filha correram até seus quartos e colocaram roupas mais leves e bonés. Valéria passou protetor em si e depois em sua filha, o sol não estava dando folga naquele verão. Arrumou uma mochila para si, colocando os patins dentro e foram para o carro. Durante o trajeto, Valéria ligou para Camila.

"Oi, aniversariante."

"Oi. Você viu minha mensagem?"

"Vi. Que bom que você gostou. Não deu tempo de te responder direito."

"Imaginei. Você vai trabalhar agora à tarde?"

"Eu ia, mas desmarquei meus dois pacientes e tô indo aí ficar com você."

"Me encontra no Ibirapuera então! Tô indo pra lá."

"Nesse sol?"

"Camila Nasser, sem sedentarismo. Vamos, o dia tá lindo!"

"Porque é seu aniversário, eu vou fazer esse esforço."

"Perfeito. Me liga quando chegar. Beijo, te amo."

"Beijo. Também te amo."

"Vou me lembrar disso quando a tia Camila disser que eu tenho que fazer exercício físico." Lorena comentou e fez a mãe cair na gargalhada. Não demorou muito para chegarem e encontrarem o parque não tão cheio quanto num final de semana, mas com mais fluxo do que num meio de semana. Antes de descer do carro, Valéria colocou seus patins e os de Lorena e pendurou sua bolsa no ombro. Camila também não demorou tanto para chegar e encontra-las no pavilhão, patinando. A morena, que não tinha muito equilíbrio, decidiu ficar sentada, apreciando a vista apenas e depois, brincando de pega-pega com a filha de sua namorada. Por fim, sentaram-se na grama, embaixo de uma sombra enorme para comer e respirar um pouco, pedindo descanso do sol que havia deixado tanto mãe quanto filha com as bochechas vermelhas. Era a típica cena de família feliz, as três conversando, rindo, aproveitando o dia e Valéria não poderia ser mais grata. Puxou sua namorada para mais perto e a beijou.

"Sabe, tem certas coisas que nós, crianças, não precisamos ver. Eca." Lorena fez as duas rirem.

Nada ia estragar o dia de Valéria, com exceção do homem que estava escondido por entre as árvores, atrás de troncos e folhagens, há alguns metros de distância fotografando tudo, caso ela tivesse conhecimento da ação dele ali, claro. Mas ela nem fazia ideia.

--

"Dr. Gabriel. Meu detetive particular conseguiu mais imagens." Bruno contou por telefone e ouvia atentamente as instruções. "Sim, estou na frente do fórum. Procurar por Eduardo? Ok. Eu direi. Obrigado." Bruno arrumou a gola de sua camisa e entrou segurando um envelope ainda morno com as fotos de Valéria, a psicóloga e sua filha recém-impressas. Ia entrega-las à Eduardo, assim que dissesse que era da parte do Dr. Gabriel. Pelo visto, seu advogado já tinha todo um esquema montado.

--

"Dr. Norberto? Eu sou a oficial de justiça Sandra Góes. Desculpe incomodar, mas tenho uma procuração com o seu nome. O senhor está sendo citado e convocado à uma audiência de urgência, referente ao caso de custódia de Lorena Monteiro Araújo, na quinta-feira, às 13 horas. Assine aqui, por favor." A mulher entregou um papel e uma caneta para o senhor na porta, que a olhava com cara de dúvida, sem entender nada. Como ele havia citado em um caso para o qual nem sequer fazia parte, nem tinha nenhuma relação. Decidiu que, já que sua sessão de sauna já havia sido interrompida, ligaria para sua ex-aluna Camila. Ela ia saber lhe informar o que estava acontecendo. 

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