capítulo 6

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Valéria não dormiu muito bem durante a noite. Achou que iria ter uma noite tranquila, mas aquele sonho estranho apareceu diversas vezes em seu sono, remexeu-se na cama o tempo todo. Ela decidiu que iria se levantar antes de seu despertador acordar. Desligou o celular e foi ao quarto de Lorena. Arrumou o uniforme dela, deixou o tênis separado e sentou-se à beira de sua cama. Enquanto fazia um carinho pelos cabelos loiros da sua criança, apreciava cada detalhe de seu rosto. Ela não podia nem se deixar pensar que poderia perder a guarda dela, já era uma tortura a ideia. Agora, ela só queria saber o que fazer para que sua filha ficasse bem de novo.

Acordou-a com um beijo depois de um tempo admirando-a e ajudou Lorena a se trocar e arrumar os cabelos para a escola. Enquanto deixou a cafeteira na cozinha trabalhando, voltou ao seu quarto para se trocar. Desde a consulta com a psicóloga e do compromisso de melhorar sua rotina, Valéria se atrasava menos para seus compromissos diários. Pelo menos isso estava funcionando.

Já que ela estava adiantada, pode ver Dalila saindo do elevador quando ela chegou ao prédio da empresa. Ela estava de óculos escuros e seu famoso turbante preto, passou direto e foi para a sua sala. Valéria foi atrás. Bateu duas vezes na porta, bem fraquinho.

"Amiga? O que aconteceu?"

"Oi. Nada."

"Dalila, eu te conheço desde os seis anos. Quando você usa esse turbante-"

"Hijab."

"Esse hijab, quer dizer que você está muito brava e aconteceu alguma coisa."

"Se você sabe, então porque está perguntando?"

Valéria arregalou os olhos e deu meia-volta, indo para sua sala. Era melhor não mexer com ela por enquanto. Passou a manhã atendendo um cliente italiano, até a hora do almoço. Dalila apareceu em sua sala para saírem almoçar.

"Desculpa, eu fui grossa com você. Mas não quero falar sobre isso agora. Vamos almoçar?"

Antes que Valéria respondesse, a secretária apareceu acompanhada da diretora de publicidade e do diretor de vendas.

"Valéria, Dalila, a sra. Letícia e o sr. Caetano precisam falar com vocês. É urgente."

Dalila respirou fundo e fez menção para que eles entrassem na sala.

"Helena, vamos entrar em reunião, se alguma coisa acontecer, fale para esperar, por favor." Ela fechou a porta da sala da amiga.

"O que aconteceu?"

"O novo comercial foi liberado no sábado, aquele para o qual fizemos a reunião semana passada e fizemos os últimos ajustes. Foi liberado em todos os canais de comunicação: pontos de ônibus, TV, internet, rádio. Desde a liberação do comercial, houve uma queda muito brusca de clientes e muitas reclamações. Quase um colapso."

"O quê? Por quê isso, gente?" Valéria perguntou.

"A maioria das reclamações são... homofóbicas." A diretora de publicidade falou.

"Que comercial é esse?" Valéria perguntou porque percebeu que Dalila estava respirando para começar a surtar de raiva.

A loira tirou os óculos escuros e colocou-os da mesa de vidro.

"Aquele dia você deixou a reunião mais cedo e eu sugeri que o casal da publicidade fosse um casal homossexual. Com o logo da empresa com a bandeira LGBT. É o mês do orgulho LGBT e nada mais justo do que utilizar isso para oferecer nosso apoio mesmo enquanto vendemos nosso serviço. Sim, eu assinei isso e não tenho nenhum problema em assumir a culpa. Eu só não vejo porque a necessidade de uma reunião urgente pra nos dizer isso. Se os clientes que perdemos são homofóbicos, já vão tarde." Dalila se pronunciou.

She keeps me warmWhere stories live. Discover now