capítulo 8

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Era a quinta vez que seu celular tocava durante a noite. Cinco chamadas recusadas de Laila. Na sexta tentativa, Dalila teve a paciência roubada e começou a se despedir. Marcou um barzinho com Julia e os outros amigos e saiu limpando o resquício de batom vermelho que a outra mulher deixou. Passou perto de Benjamin, Péricles, Cibele e se despediu. Ao passar pela escada que levava até o andar debaixo, no caixa, viu Valéria recostada na parede, atracada com a psicóloga. A loira parou bem próxima delas e ficou observando por alguns longos segundos. Elas nem perceberam. Dalila não sabia se era melhor interromper e avisar que estava indo embora ou se era melhor garantir o beijo da amiga, já que no outro dia, ela já até podia ver, Valéria estaria se lamentando por isso. Optou pela felicidade alheia e desceu as escadas, não sei antes tirar uma foto nada discreta das duas. Era sempre bom manter conteúdo em anexo.

Responsável que era, deixou o carro no estacionamento e pegou um táxi até seu apartamento, enquanto mandava uma mensagem para Laila. Chegaram quase juntas no prédio de seu apartamento.

"Dalila! Tá tudo bem?" A morena perguntou, levantando-se da poltrona da recepção, enquanto esperava pela loira e viu seu rosto.

"Vamos subir." Dalila passou direto e Laila a seguiu.

Quando entraram no apartamento, Dalila deixou sua chave no balcão da cozinha, bebeu água na caneca pendurada em seu pescoço com resquícios de álcool como se a outra não estivesse ali.

"Dalila, porque você não falou mais comigo? Você saiu aquele dia sem nem se despedir direito, eu mandei mensagem e você não me respondeu, eu te liguei e você nem me atendeu..."

"Eu fico me perguntando do porquê você disse que eu era sua namorada pros seus pais, numa situação em que os dois estavam sensíveis, e sem ter nenhum fundamento isso."

"Não era sério, relaxa. Eu não tô assumindo nada, não. Sou iludida, mas nem tanto." Laila tentou uma piadinha, mas viu que não funcionou quando Dalila bufou.

"Então porque você falou?"

"É uma longa história."

A loira olhou para o smart watch em seu pulso. "Tô com tempo." Ela se sentou em seu sofá esperando uma resposta.

"Você ficou tão brava, qual é o problema?"

"O problema foi que você mentiu sobre uma coisa que foge da sua autoridade. E sem nem me perguntar."

"Eu não tava falando sério, Dalila! Porque isso tá te incomodando? Meus pais nem falaram nada!"

"E quem disse que isso é por você ou pelos seus pais? Eu fui lá pra te oferecer ajuda, por toda a situação, e você se aproveitou disso só pro seu bem-estar! Você queria se assumir e achou que se eu tivesse lá ia ser legal porque eles não iam poder fazer nada? Foda-se pro seu ritual de saída do armário!" A loira começou a ficar nervosa.

"Você não sabe do que você tá falando, Dalila."

Dalila riu nervosa.

"É incrível como no velório do seu irmão, você nem se presta ao papel de pensar nos outros. De pensar no seu irmão e nos seus pais. Nem em mim. Eu fui ser legal com você e você se aproveitou disso."

"Cala a boca." Laila avisou. Sua voz estava controlada, baixa, mas tão séria e fria que cortava o ar parado na sala do apartamento. "Cala a boca porque você não tem o direito de falar que não tô sofrendo por causa do meu irmão. Você não sabe de um terço da minha vida. Desculpa se eu te coloquei numa posição desconfortável, mas conhecendo você, não achei que isso fosse um problema, sendo que nós duas sabemos muito bem que não tem nada entre a gente. Mas não ouse falar que eu fui insensível."

She keeps me warmWhere stories live. Discover now