capítulo 17

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Valéria foi chamada no meio da festa porque sua melhor amiga estava no meio das ferragens do carro, após um caminhão perder a direção e entrar no estacionamento do local onde a festa se realizava. Ela se levantou da cadeira de sua mesa, deixando Camila e quem mais fosse para trás, por sorte correr usando saltos não era uma tarefa difícil à ela. Ela empurrou as pessoas que formavam uma aglomeração de convidados em roupas de gala curiosos e preocupados, para conseguir se aproximar.

"Alguém já chamou a ambulância?" Ela perguntou séria. Ouviu alguém responder que sim e que o veículo estaria ali em vinte minutos. Ela avistou Laila inerte, próxima ao carro e se aproximou.

"O que aconteceu? Você viu?"

"Eu disse pra ela esperar no carro, esqueci meu celular com você e voltei buscar. Aí eu escutei o barulho. O que a gente faz agora?" Ela perguntou de volta, sentindo as mãos de Valéria em seu braço.

"Agora a gente reza."

"Meninas... Usem cinto de segurança." Elas e agora Camila, Helena, e o grupo de convidados ali em volta ouviram uma voz de dentro do carro. A voz conhecida de Dalila.

"Dalila? Dalila, você tá conseguindo respirar? Tá vendo sangue? Sua visão tá escura?" Valéria soltou Laila e se aproximou, deixando Laila aos cuidados de Camila.

"Eu- Eu tô bem, eu acho. Tô enxergando esse bando de curioso aí em volta, tô conseguindo respirar, mas tô presa. Não consigo sair. E eu acho que quebrei a perna."

"Puta merda, Dalila, não se mexe. Amiga, não se mexe mesmo, espera o resgate chegar, tá bom? E não fecha os olhos. Fica aqui, conversando comigo. Por favor." Valéria tinha um pouco de noção de primeiros socorros.

"Amiga, somos donas de uma seguradora, eu sei o que não fazer..."

"Como é que você consegue fazer gracinha numa hora dessas?"

"É um dom... Mas eu acho que o motorista bateu a cabeça..."

"Não mexe nele, não se mexa, espera o resgate. Ele vai ficar bem e você também."

Ouvir a voz consciente de Dalila acalmou as pessoas, apesar de isso mais tarde poder ter complicações, num primeiro momento podia dar a impressão de que não havia sido nada muito grave. A ambulância e o resgate chegaram rapidamente, conforme o prometido e a operação de retirar Dalila e o motorista de dentro do carro prensado pelo caminhão durou cerca de meia hora. Realmente, Dalila estava bem presa. O motorista do caminhão chorava. Não parecia ter mais do que 23 anos, com cara de moleque, apenas com um corte na testa e sangue escorrido pelo rosto, pedia desculpas o tempo todo, assumindo que estava há um bom tempo sem dormir e pegou no sono no volante porque sua entrega estava atrasada. O motorista do Uber estava desacordado, com alguns cortes pelos vidros estilhaçados e foi levado pelo corpo de bombeiros ao hospital público. Dalila ainda estava consciente, agradeceu o serviço tanto dos bombeiros quanto dos paramédicos, não parecia ter mais do que a perna quebrada, que possuía inclusive hematomas indicando a lesão. Ela foi levada ao hospital de seu pai. Valéria acompanhou-a na ambulância enquanto Camila e Laila foram num táxi até a casa de Valéria para pegarem seu carro e voltarem ao hospital.

Durante todo o trajeto, Dalila reclamou de dor. Sem gracinhas, ela pedia para a ambulância ir mais devagar para que sua perna não mexesse tanto. O paramédico tentou imobilizar mais sua perna, porém ela não deixou. Quando desceram a maca do veículo, Dalila apagou. Os paramédicos passaram a paciente para a equipe de plantão na emergência e Valéria foi impedida de acompanhar a sua amiga. Ela nem sabia rezar direito, mas começou a fazê-lo, porque sabia que era importante para Dalila e porque viu que as coisas não estavam tão bem quanto ela achou que estariam.

She keeps me warmDonde viven las historias. Descúbrelo ahora