Cada Vez Mais

By AMaySousa

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O mundo de Emilia Calton não acabou depois de descobrir a traição do namorado com uma de suas melhores amigas... More

Epígrafe
Um
Dois
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte & Um
Vinte & Dois
Vinte & Três
Vinte & Quatro
Vinte & Cinco
Vinte & Seis
Vinte & Sete
Vinte & Oito
Vinte & Nove
Trinta
Trinta & Um
Trinta & Dois
Trinta & Três
Trinta & Quatro
Trinta & Cinco
Trinta & Seis
Trinta & Sete
Trinta & Oito
Trinta & Nove
Quarenta
Epílogo
★Agradecimentos★

Três

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By AMaySousa

Flora coloca mais uma colher de açúcar em seu café. A lanchonete estava cheia da agitação das pessoas entrando e saindo a cada minuto. Tomo um pouco do suco de laranja e avalio minha amiga. Parece surreal o que ela está tentando me convencer a fazer.

— Isso é tão absurdo — reclamo com desgosto. — Não acredito que você quer que eu aceite uma palhaçada dessas.

— É só uma brincadeira, Lia. E é por uma boa causa. Por favor, faça isso por mim — Flora implora, juntando as duas mãos em frente ao rosto e me lançando uma cara de cachorrinho abandonado.

— Me explique exatamente o porquê de você querer tanto que eu entre nessa.

Ela respira fundo e começa a falar.

— Os meninos não vão ajudar com o dinheiro dos ônibus se você não deixar que usem a festa como atividade para o time. Sem os ônibus, terei que pagar a viagem, e eu já pesquisei os preços, não é barato. Não me importo com a competição, você sabe, mas essa é minha única chance de visitar a faculdade de Albertine.

Flora vem falando sobre mudar para Albertine desde o início do ano, quando começamos a nos focar de verdade para as admissões nas universidades. Ela não sonha tão alto como eu, só quer estudar na mesma faculdade em que a mãe estudou.

— Você vai entrar, Flora. Eu sei que vai — sorrio para ela, levando minha mão até seu rosto e ajustando seus óculos sobre o nariz.

— Espero. Eu preciso demonstrar interesse máximo, e Ivana disse que o reitor adorou o meu trabalho sobre os efeitos colaterais do desmatamento. Ela pode até me conseguir uma reunião. Por favor, diga que sim. Sim, sim, sim!

— Ai, amiga, não sei — suspiro. — Você não acha ridículo? Quer dizer, sério, um monte de garotos sem noção comprando encontros aleatórios.

— É ridículo, sim — concorda rindo. — Mas é só para descontrair. Bobagens de final de ano. E na verdade, acho que você está precisando de uma distração dessas.

Bufo, sem considerar suas palavras. Não é como se eu fosse participar de qualquer coisa relacionada a essa festa.

— Nada de bom pode vir disso. As festas do Colin são uma loucura. Se algo der errado vai ser culpa minha por ter autorizado. Vai manchar meu histórico, Flora!

— Não vai — Flora me tranquiliza. — Será fora do território da escola. Tudo o que você tem de fazer é escrever os nomes para os garotos recebem pontos extras.

— Eu vou pensar no assunto. Esse negócio de arrecadar dinheiro comprando encontros é o que não me parece muito legal.

Sério, quantos anos esses caras tinham? Não podiam chamar alguém para sair de um jeito comum?

— Não seja careta. Todo mundo sai ganhando aqui. Você coloca mais uma atividade na sua lista e os meninos ganham os pontos, os alunos vão assistir à competição e eu visito a minha futura escola. Será perfeito!

Rio com Flora, terminando de tomar o meu suco. Não digo para ela que irei topar, mas ela sabe que em algum momento irei ceder. Estaria fora de cogitação se fosse por algum motivo besta, porém, era para ajudá-la com a faculdade. Claro que eu faria.

Ela se despede de mim um tempo depois. Noite de cinema com Austin. Recusei seu convite de ir junto. Era um programa de casal, eu não queria ficar sobrando. Mesmo sabendo que nenhum dos dois ia me deixar de lado se eu também fosse.

Pego minha bicicleta e vou pedalando sem pressa para a praça que tem ali por perto. Andar de bicicleta era o único hobbie que eu ainda mantinha. Quer dizer, eu também lia bastante, mas como membro do clube do livro, às vezes as leituras não eram bem minhas favoritas, então se transformavam mais em obrigação.

Estudar na Cesare consumia muito do meu tempo, com todo o estudo puxado e tudo mais. E meu instinto caseiro não me deixava sair muito quando me sobrava um tempinho. Kaila vivia dizendo que eu era sua avó, não irmã mais nova.

Então eu dei voltas e voltas pela praça, aproveitando o final de tarde, o vento frio batendo no meu rosto, bagunçando meus cabelos. E afirmei mais uma vez para mim mesma que essa tranquilidade me bastava.


Desligo o despertador barulhento do celular antes que Kaila acorde. O quarto é uma escuridão total e espero minha visão enevoada de sono tomar foco. Resisto a vontade de voltar a deitar e dormir por mais cinco minutos. Se eu não levantar agora, vou chegar atrasada. E se há algo nesta vida que eu odeio, é chegar atrasada nos lugares.

A água fria do chuveiro faz seu trabalho de me despertar por completo. Tremo dos pés à cabeça por uns cinco minutos até me secar e vestir meus jeans escuros e uma camiseta cinza com estampas pequenininhas de coala. Minha favorita no momento.

Felizmente consigo me vestir sem acidentes. Detesto trocar de roupa no banheiro, pois não tem muito espaço, mas Kaila reclama de qualquer fresta de luz no quarto quando está dormido, e eu tento começar o dia sem ouvir reclamações logo cedo.

Deixo o cabelo solto para secar naturalmente, depois vou para a cozinha, onde mamãe já está tomando café. Sorrio para os desenhos rabiscados presos por imãs na porta da geladeira. São todos dos alunos da minha mãe. Me lembram de quando eu era que fazia desenhos para pôr ali.

— Papai não vai trabalhar hoje? — pergunto, sentindo sua falta. Meus pais sempre tomam café juntos.

— Lucian saiu bem cedo, meu bem. Foi buscar algumas peças fora da cidade.

— Ah, então a senhora vai de ônibus?

Mamãe me lança um sorriso brincalhão, notando a preocupação na minha voz. Ela não gosta do transporte público por já ter presenciado — e infelizmente sido vítima — alguns assaltos.

— Eu é que deveria me preocupar com você apanhando o ônibus todo dia, Lia — ela frisa.

— Os meus nervos são melhores que os seus, dona Sibele.

— Você está me chamado de velha? — mamãe finge ultraje e me aponta um dedo acusador.

Sopro um beijo para ela, apressando-me para pegar minha bolsa e ir esperar o ônibus. A parada fica à dois quarteirões da minha casa. A rua está pouco movimentada agora, há poucas pessoas esperando quando chego. Meu celular apita na bolsa, e estou indo ver a notificação, mas meu ônibus aparece, e deixo para depois. Me sinto satisfeita por conseguir um lugar para sentar.

Meia hora depois estou passando pelos portões da escola. Há alguns carros no estacionamento, mas a maioria dos estudantes está fora do prédio principal. Ainda temos vinte minutos antes da primeira aula.

Penso em ir me sentar em um dos bancos na sombra, esperar por Flora e Austin, quando os primeiros acordes de Yellow tocam, vindo da minha bolsa. Eu pego o celular e vejo o número desconhecido. Franzo a testa. Arrasto o ícone verde antes da chamada encerrar.

— Está na escola? — A voz soa grave, até um pouco rouca. E juro por Deus que sinto um arrepio correr por minha espinha. Me é um pouco familiar, a voz, mas não consigo associar a um rosto no momento.

— Quem quer saber? — consigo encontrar minha voz e forçar as palavras a saírem.

— Venha para a quadra de natação — a pessoa ordena, e logo em seguida a ligação é encerrada.

Encaro o celular extremamente confusa. Que diabos foi isso? Não raciocino. É automático. Seleciono o número para retornar à ligação. Acho que é a coisa mais ousada que já fiz na vida; ligar de volta para um possível maníaco escolar.

Ele atende no segundo toque. Não espero que fale primeiro desta vez.

— Desculpe, mas não costumo atender a pedidos de psicopatas. Sabe como é, pretendo chegar aos noventa.

O cara ri do outro lado da linha.

— Muito emocionante — ele comenta. — Não se preocupe, não sou o louco da machadinha.

— É louco do quê, então?

Austin aparece na entrada, vindo na minha direção ao me ver. Minha mão aperta com um pouco mais de força o celular, e me sinto automaticamente na defensiva. O que é ridículo, pois não estou fazendo nada demais. Falar ao telefone não é crime, certo?

— Você está presumindo que eu seja louco de alguma coisa? — o cara da ligação me acusa. — Sinto-me ofendido.

Austin se aproxima e me dá um beijo na bochecha antes de desejar bom dia. Eu desligo a chamada sem responder. Há uma notificação de mensagem na tela que só agora percebo. É de mais cedo, o mesmo número me pedindo para ir encontrá-lo na quadra. Imediatamente outra mensagem surge.

Número desconhecido:
10 minutos. Não se atrase.

Bloqueio o celular.

— Está tudo bem? — Austin questiona, estranhando meu silêncio.

Esfrego a mão no alto da sua cabeça, bagunçando seu penteado certinho. Ele afasta meu braço com um safanão, fingindo estar chateado, e ajeita o cabelo loiro escuro.

— Detesto quando você faz isso — diz numa revirada de olhos.

— É mais forte que eu. Lamento.

— Sei. Já resolveu se vai pôr a festa do Colin na grade de atividades? Flora não fala de outra coisa — Austin pergunta enquanto seguimos para o prédio das aulas.

— Em outras circunstâncias, eu nem cogitaria. Mas vou fazer por ela. Pode colocar. — autorizo. Austin me lança um sorriso feliz e me dá um aperto no ombro.

Hesito antes de entrar, então decido dar ouvidos a parte ilógica do meu cérebro. Aviso que tenho algo para fazer, deixando que Austin siga sem mim.

Não é nada demais, tento me convencer, o nervosismo contorcendo meu estômago. A Cesare é muito segura, não devo correr risco nenhum em ir para a quadra. Com certeza há mais gente por lá. Acho que consigo gritar para chamar atenção de alguém caso algo saia errado. Pelo menos, é o que espero poder fazer.

Caminho decidida, a curiosidade falando mais alto, e ignoro minhas paranoias. Logo o toque da primeira aula vai soar, então preciso ser rápida.

As quadras ficam atrás do prédio principal. São duas: uma para educação física — ou competições e eventos que precisem de espaço maior —, e outra para os treinos de natação. Sigo para essa. Uma parte da porta está aberta, então entro sem encontrar obstáculos. Primeiro noto as longas fileiras das arquibancadas. Faixas vermelhas e brancas, as cores da escola, e o brasão da equipe estão espalhados por toda parte.

Uma movimentação na piscina enorme chama a minha atenção, e me aproximo da beirada para ver quem está lá. Quem quer que seja, deve sentir que está sendo observado, pois nada até onde estou, emergindo da água e apoiando os braços na borda da piscina.

O cabelo castanho claro dele fica num tom mais escuro estando molhado. Ele passa a mão no rosto para afastar alguns fios e a água dos olhos. Fixo os olhos no maxilar quadrado dele, para não precisar encarar seus olhos zombadores. Há alguns sinais na linha do seu maxilar que acho que nunca notei antes. O garoto sorri para mim, todo dentes brancos.

Parte de mim não consegue acreditar no que estou vendo. Mas então a voz dele se encaixa perfeitamente com o rosto. Claro que se encaixa. Me estapeio mentalmente. Não acredito que ele conseguiu ser foco da minha curiosidade. Não acredito que senti arrepios ouvindo a voz de Antony Ramone.

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📍ʀɪᴏ ᴅᴇ ᴊᴀɴᴇɪʀᴏ, ᴄᴏᴍᴘʟᴇxᴏ ᴅᴏ ᴀʟᴇᴍᴀᴏ "dois corações unidos num sentimento, novinha e guerreiro em um só fundamento..."