She keeps me warm

By lotusfl0wer

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Valéria Monteiro é uma mulher poderosa, dona da maior rede de seguros do Brasil, mãe de Lorena, uma garotinha... More

capítulo 1
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5
capítulo 7
capítulo 8
capítulo 9
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 18
capítulo 19
capítulo 20
capítulo 21
AVISO
NEW YEAR'S RESOLUTION
capítulo 22

capítulo 6

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By lotusfl0wer

Valéria não dormiu muito bem durante a noite. Achou que iria ter uma noite tranquila, mas aquele sonho estranho apareceu diversas vezes em seu sono, remexeu-se na cama o tempo todo. Ela decidiu que iria se levantar antes de seu despertador acordar. Desligou o celular e foi ao quarto de Lorena. Arrumou o uniforme dela, deixou o tênis separado e sentou-se à beira de sua cama. Enquanto fazia um carinho pelos cabelos loiros da sua criança, apreciava cada detalhe de seu rosto. Ela não podia nem se deixar pensar que poderia perder a guarda dela, já era uma tortura a ideia. Agora, ela só queria saber o que fazer para que sua filha ficasse bem de novo.

Acordou-a com um beijo depois de um tempo admirando-a e ajudou Lorena a se trocar e arrumar os cabelos para a escola. Enquanto deixou a cafeteira na cozinha trabalhando, voltou ao seu quarto para se trocar. Desde a consulta com a psicóloga e do compromisso de melhorar sua rotina, Valéria se atrasava menos para seus compromissos diários. Pelo menos isso estava funcionando.

Já que ela estava adiantada, pode ver Dalila saindo do elevador quando ela chegou ao prédio da empresa. Ela estava de óculos escuros e seu famoso turbante preto, passou direto e foi para a sua sala. Valéria foi atrás. Bateu duas vezes na porta, bem fraquinho.

"Amiga? O que aconteceu?"

"Oi. Nada."

"Dalila, eu te conheço desde os seis anos. Quando você usa esse turbante-"

"Hijab."

"Esse hijab, quer dizer que você está muito brava e aconteceu alguma coisa."

"Se você sabe, então porque está perguntando?"

Valéria arregalou os olhos e deu meia-volta, indo para sua sala. Era melhor não mexer com ela por enquanto. Passou a manhã atendendo um cliente italiano, até a hora do almoço. Dalila apareceu em sua sala para saírem almoçar.

"Desculpa, eu fui grossa com você. Mas não quero falar sobre isso agora. Vamos almoçar?"

Antes que Valéria respondesse, a secretária apareceu acompanhada da diretora de publicidade e do diretor de vendas.

"Valéria, Dalila, a sra. Letícia e o sr. Caetano precisam falar com vocês. É urgente."

Dalila respirou fundo e fez menção para que eles entrassem na sala.

"Helena, vamos entrar em reunião, se alguma coisa acontecer, fale para esperar, por favor." Ela fechou a porta da sala da amiga.

"O que aconteceu?"

"O novo comercial foi liberado no sábado, aquele para o qual fizemos a reunião semana passada e fizemos os últimos ajustes. Foi liberado em todos os canais de comunicação: pontos de ônibus, TV, internet, rádio. Desde a liberação do comercial, houve uma queda muito brusca de clientes e muitas reclamações. Quase um colapso."

"O quê? Por quê isso, gente?" Valéria perguntou.

"A maioria das reclamações são... homofóbicas." A diretora de publicidade falou.

"Que comercial é esse?" Valéria perguntou porque percebeu que Dalila estava respirando para começar a surtar de raiva.

A loira tirou os óculos escuros e colocou-os da mesa de vidro.

"Aquele dia você deixou a reunião mais cedo e eu sugeri que o casal da publicidade fosse um casal homossexual. Com o logo da empresa com a bandeira LGBT. É o mês do orgulho LGBT e nada mais justo do que utilizar isso para oferecer nosso apoio mesmo enquanto vendemos nosso serviço. Sim, eu assinei isso e não tenho nenhum problema em assumir a culpa. Eu só não vejo porque a necessidade de uma reunião urgente pra nos dizer isso. Se os clientes que perdemos são homofóbicos, já vão tarde." Dalila se pronunciou.

"Dalila, nós entendemos, e somos completamente à favor dessa campanha publicitária, mas talvez seja legal reformularmos o comercial, deixar menos explícito... Os clientes que estão reclamando, que estão pedindo o fim do contrato são peixes grandes. Um deles é a Subaru."

"Amiga, a gente não pode perder um cliente assim. Não esse tipo de cliente pelo menos."

Dalila coçou a testa.

"Valéria, se a gente tem cliente homofóbico desse jeito, é melhor perder sim. Eu não quero minha empresa vinculada à um tipo de cliente que rejeita algo só pelo conservadorismo."

"Eu sei, amiga. Calma. Não estamos falando que ele está certo, só que... devemos pensar melhor e talvez não abordar nada de assuntos que causam divisão de ideias, pelo menos não agora."

"Não! Agora é a hora de nos posicionarmos, enquanto empresa e enquanto pessoas. Um nazista homofóbico racista ganhou as eleições, gente! Se a gente não fizer nada, se nós, como uma empresa grande de seguros, a primeira do país, não dissermos nada sobre isso, vamos concordar com ele. E concordar com ele é algo que eu não vou fazer e eu não aceito que a minha empresa faça isso também. Eu sou lésbica! Eu, a CEO da Insurazo, uma lésbica. Eu exijo que esse comercial continue em todos os meios, e que mais comerciais do mesmo jeito sejam publicados. Eu exijo que a gente se posicione! Qualquer funcionário ou cliente ou sei lá mais quem que não achar bom, a porta é a serventia da casa. Nós somos uma das empresas que mais giram capital no país, se a gente se mostrar à favor da causa, outras empresas podem fazer o mesmo e talvez um dia, eu e muitas outros LGBT possam sair de casa sem medo de morrer." Dalila falava com o tom de voz bastante alto, de maneira que seu rosto começou a ficar vermelho de nervosismo.

"Calma, amiga. Calma. Ok. Você tá certa. Eu concordo com você. Letícia, não mexa no comercial. Continua divulgando e elabora um texto posicionando a Insurazo. Eu quero esse texto pra Dalila aprovar. Caetano, por favor, faz um levantamento dos clientes que encerraram contrato e vocês dois, pensem juntos num jeito de bonificar as empresas e clientes que lutem por essa causa." Valéria pediu com serenidade, sendo a chefe boa e com os pés no chão.

"A Subaru marcou uma reunião hoje à tarde para terminar o contrato, o que eu faço?" Caetano perguntou.

"Eles não podem cancelar o contrato se ainda não venceu a data. É quebra altíssima e eles tem multa pra pagar. Pelo que eu me lembre o contrato deles foi renovado ano passado." Dalila reclamou.

"Eles alegam que houve infração de termo por danos morais."

"Não, não teve. Isso não é dano moral. Que horas é a reunião? EU vou com você." Dalila perguntou.

"Às três e meia." Ele respondeu meio nervoso. Sabia que sua chefe podia ser bem irritada.

"Ótimo. Reunião encerrada. Bom almoço pra vocês." Ela abriu a porta e expulsou formalmente seus funcionários de lá.

Valéria abraçou-a forte quando ficaram sozinhas.

"A Subaru que se foda." Dalila falou.

"A Subaru que se foda." Valéria repetiu e beijou sua testa. "Não quer conversar mesmo?"

"Não... Vamos almoçar."


Quinta-feira, 4:30pm – consultório

Em pleno inverno, um dia muito ensolarado e quente sob São Paulo. Valéria estava correndo o dia todo na empresa, resolvendo todos os problemas com a questão dos novos comerciais, as reclamações de clientes, havia até entrevista com a imprensa. Ela usava um vestido preto florido longo, uma sandália com salto de cortiça e o cabelo preso em coque. Nem o ar condicionado da sala de espera conseguia diminuir seu calor. Ela estava no celular, andando de um lado para o outro e sua filha estava na mesinha de pintar, entretida, mas ainda cabisbaixa como no resto da semana.

"Oi, Lorena. Tudo bem?" A dra. Camila apareceu. "Vamos lá?"

Valéria ouviu a voz da doutora e colocou a ligação em espera.

"Dra. Camila. Oi, tudo bem? Eu preciso sair para resolver um probleminha, mas queria conversar com você depois... É rápido. Pode ser?"

Camila engoliu em seco e fez um grande esforço para sorrir.

"Claro. Pode ser sim."

"Obrigada. Tchau, meu anjinho." Ela deu um beijo na cabeça de Lorena e pegou o elevador novamente.

A ruiva tinha que ir ao banco liberar o pagamento dos funcionários e fazer uma curta reunião por vídeo conferência com o departamento de recursos humanos. Tudo aquilo lhe custou o tempo da consulta de Lorena. Quando ela voltou ao consultório, sua filha já estava na sala de espera, de novo na mesinha de pintar, mas dessa vez com a psicóloga pintando junto.

"Oi, Lolô. Demorei muito?"

"Oi, mãe. A gente acabou de sair."

"Lorena, você pode ficar aqui com a Cibele enquanto eu converso com a sua mãe?" Camila perguntou. "A Cibele sabe desenhar o Rei Leão."

"Sério? Tá bom. Desenha o Rei Leão pra mim, tia?" Cibele já tinha dado a volta no balcão e estava se sentando no chão ao lado de Lorena. Enquanto isso, Valéria acompanhou Camila até a sala.

"Então, doutora. Eu sei que ainda é muito cedo pra ver algum resultado, mas essa semana eu fiquei muito preocupada com Lorena. Ela ficou calada a semana inteira, e ela não é assim, sabe? Ela fala bastante, me conta das coisas, mas desde segunda-feira ela está muito quieta e, quando ela chegou da escola, na segunda mesmo, ela não quis nem jantar. Foi dormir direto. Eu aproveitei e olhei o caderno e agenda dela, como eu sempre faço. Estava tudo em branco. Só com os carimbos vermelhos da professora dela. Eu não sei o que eu faço! Além disso, a entrevista dela com a juíza pra decidir sobre a guarda vai ser em algum dia na próxima semana... Eu tô com medo de que ela fale alguma coisa que a juíza possa achar que, sei lá, ela não está bem comigo. Entende?" Valéria desatou à falar e quando mencionou o processo da custódia de sua filha, sua voz embargou e ela sentiu seus olhos marejarem. Camila também viu e entregou-lhe uma caixinha de lencinhos que tinha ao lado de seu computador, colocando a mão no ombro desnudo de Valéria e apertando gentilmente em consolação.

"Realmente, ainda é muito cedo pra te mostrar algum resultado muito grande, mas eu garanto que ela já melhorou. Essa semana foi difícil pra ela. Você teve a audiência sobre o divórcio, não foi?"

"Sim, mas ela não sabia. Eu não quis contar porque eu sabia que ela ia ficar chateada."

"Ela sabia, sim. E ela sabe da audiência com a juíza daqui alguns dias. Ela sabe tudo isso. Ela ouviu. Sua filha está muito triste com o divórcio e está com alguns sintomas de crise de ansiedade, por isso às vezes é difícil fazer a tarefa de casa ou se concentrar na escola e fazer a lição. Mas eu garanto que ela vai melhorar, ela já tem apresentado melhoras, em duas consultas! Isso é ótimo. Mas obrigada por ter me falado melhor sobre a questão da audiência com a juíza sobre a custódia. Eu vou trabalhar isso com ela semana que vem. Fique tranquila. Vocês vão ficar bem." Camila sorriu.

"Obrigada, dra." A ruiva abraçou a médica. Estava procurando algum conforto após ter tocado naquele assunto sensível e a médica abraçou-a de volta, um pouco desconcertada.

"De nada. Se tiver mais alguma dúvida, pode falar comigo."

"Obrigada." Valéria sorriu, pegou sua bolsa e saiu.

Ao ficar sozinha na sala, Camila massageou as têmporas.

"Eu preciso de álcool." Ela admitiu para si mesma e pegou o celular para marcar alguma coisa com Paul.

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