Era 31 de dezembro, Jimin e Jungkook estavam em casa sozinhos, já que os pais do Jeon passariam a data em uma festa na empresa. A única coisa que tinha naquela casa, além dos bebês, era uma lasanha bem recheada que Jimin tinha feito e um bolo que foi comprado.
O Jeon olhava pela janela de seu quarto, vários grupos de amigos indo e vindo, provavelmente de festas e lembrou-se de quando era mais novo e fazia exatamente as mesmas coisas com seus amigos de escola ou com Yoongi. Todavia, estava tão frio que já não era mais um convite para ele sair de casa, principalmente com dois bebês.
Ele parou de prestar atenção na janela, virando para a cama, onde Jimin estava sentado dando mamadeira para Yeojoon, enquanto Sunhee estava deitada ao lado dele, quietinha, apenas mexendo seus pés e mãos como se estivesse brincando consigo. Ele deu um sorriso tímido e sequer chamou atenção de seu namorado que estava entretido em seu filho. Jungkook andou até a cama, e deitou-se ao lado de Sunhee. O Beta fechou os olhos, passando o nariz sobre a pele lisinha da filha, e sentindo o seu cheirinho e fez um barulho como se fosse um gatinho querendo atenção e realmente conseguiu a atenção de Jimin.
O Park sorriu ao ver a cena de seu namorado todo manhoso com a filha e Jungkook o encarou, e devolveu o sorriso largo. Jimin estava tão atraente com seus cabelos jogados para trás, enquanto usava uma camisa larga branca e uma calça moletom preta. Embora já tivesse passado o resguardo, Jungkook ainda não tinha sentido nenhuma vontade de transar, no entanto, só de ver aquele homem na sua frente, vestido daquela forma, ele até sentiu uma pontada de desejo para se descobrir "homem" de novo e não apenas pai.
— Está pensativo? — Jimin perguntou.
— Não — negou. — Quer dizer, um pouco.
— Um pouco?
— Estava pensando nesses dois meses que somos pais. De vez em quando eu fico vendo o quanto minha cabeça mudou e quanto meus planos também mudaram — suspirou. — Ano passado nessa mesma época, eu estava sozinho em Seul, passando o Ano Novo sozinho, e sendo cara de pau para te ligar e convidá-lo para ficar comigo — os dois deram risada. — E ainda ouvi um "não" quase que gritando.
— Claro, nem no Ano Novo você deixava de dar em cima de mim!
— Eu estava em casa, sozinho, no frio e só querendo alguém para dar um beijos. Por que não ligar para você, né? Você já estava separado mesmo, não tinha nenhum motivo para me negar nada.
— Tinha sim! — exclamou, e olhou para o seu namorado como se fosse algo óbvio. — Naquela época todos já me conheciam como "Jimin Pimentinha" por sua culpa.
— Ai meu Deus! — Jungkook começou a gargalhar.
— Não é engraçado!
— Talvez para você, mas para mim é — ele pôs a mão no rosto, porque achava errado sentir aquilo, porém não conseguia evitar. — Eu era um idiota, Chim, me desculpa. De vez em quando, eu fico pensando em tudo e acho que não mereço você. Eu fui estúpido, e você merece algo melhor do que eu sou.
— E por que acha isso?
— Eu deveria ter parado no primeiro "não", mas eu fiquei tentando até que perdesse a paciência. Eu te dei um apelido que foi usado para te fazer bullying, quando, na verdade, eu só queria usar para te dar mais raiva de mim. Eu fingia ficar com as pessoas apenas para não me sair por baixo e todas as coisas que eu falei.
— Seu plano deu certo. Mesmo que não estivesse aqui hoje, eu continuaria lembrando de você — mordeu os lábios. — Você realmente conseguiria marcar minha vida de um jeito ou de outro.
— Não sente nem um pingo de raiva de mim?
— Não — o Park balançou a cabeça de um lado para o outro. — Eu sentia na hora, só que hoje só consigo lembrar e começar a dar risada de todas as suas besteiras. E mesmo que eu ficasse com raiva, e você fosse um chato para caralho, no fundo, eu achava tão adorável o seu jeito — Jimin tirou a mamadeira da boca do filho, limpando-a com cuidado, antes de colocá-lo apoiado em seu braço para arrotar. — Nostalgia de final de ano, Guk?
— Sim — admitiu. — Ano passado, nesse mesmo dia, eu estava pensando em como te pegar de jeito e agora nós estamos juntos com dois filhos. É uma virada gigantesca na minha vida e que eu não imaginava nem nos meus sonhos mais loucos!
— Eu estava pensando nisso também. Ano passado, eu estava pensando em me formar e começar a ter um ótimo trabalho, e agora estou aqui com uma pessoa que eu brigava mais que tudo e sendo pai dos filhos dele.
— Ah, vai dizer que não gostou — o Jeon se apoiou em um dos braços para poder olhar para a cara da filha. — Olha que fofa essa princesa. Olha que fofo esse príncipe no seu colo. Nós somos uma família!
— Não estou reclamando, mas eu estou bem surpreso. Não que tenha sido ruim também — Jimin piscou para ele. — Pelo menos descobri coisas suas que eu amei conhecer e, sério, Guk, eu queria ter conhecido há muito tempo esse lado seu. Depois que conheci o seu lado fofo, eu entendi o motivo de Taehyung querer tanto que eu conhecesse você.
— Ele só queria que nós gostássemos um do outro, Chim... Já que você tinha ciúmes de mim — provocou.
— Claro que não! — exclamou.
— Claro que tinha — acusou mais uma vez. — O Taehyung postou uma foto comigo e você comentou super ácido, e pedi para te seguir na sua conta privada do Instagram e você só me rejeitou por puro ciúmes.
— Não nego — deu de ombros, como se não ligasse para nada do que tinha feito. — O Taehyung ficava falando de você toda vez que tinha oportunidade.
— Ele ficava falando de você a cada oportunidade também — o Beta mais novo rolou os olhos. — Ele não via a hora de você se transferir para Seul e nós sermos um grupo de amigos. Só que o importante é que ele conseguiu isso, agora podemos ser um grupo de amigos! — ele levantou as mãos, dando risada logo após ouvir Yeojoon arrotar.
— Agora os dois estão alimentados — Jimin colocou Yeojoon ao lado da irmã. — Cheirosos e lindos como o papai.
— Lindos mesmo — ele passou o nariz pela bochecha de Sunhee e passando a mão sobre ela, vendo a mesma abrir um sorriso. Agora ele sabia que era realmente um sorriso, já que os reflexos já começavam a partir de dois meses e eles tinham exatamente dois meses e duas semanas. — Eu não aguento com tanto amor na minha vida — falou rindo.
— Eu aguento — Jimin chamou a atenção do namorado.
— Chim, eles ficam tão parecidos com você enquanto crescem que eu fico com inveja — riu. — Só queria ter uma miniaturinha minha também.
— Olha aqui — apontou para o Yeojoon. — Nunca vi um ser tão parecido com você.
— Só no jeito — deu risada, pois Yeojoon era ele todinho e nem tinha como negar. — Só que queria uma cópia para mim também.
— Bebês mudam. Aí, do nada, eles ficam parecidos com você.
— Podem ficar, mas eles precisam continuar com a sua boca. Eu quero meus bebês com lábios grossos e gostosos — Jungkook se espreguiçou, olhando para Jimin. — Melhores coisas do meu ano inteirinho: meus três Park que são muito lindinhos
— Você que é lindo.
— Claro que não! — Jungkook ficou indignado ao ouvir aquilo. — Como você pode olhar para mim e ver uma coisa bonita? Eu estou com uma pança flácida — ele apertou a área. — Meus quadris e minhas coxas ainda estão enormes! Meu peitoral está grande por conta do leite e minha pele está com manchas pós gravidez. Por mais que tome banho, eu só consigo sentir cheiro de leite em mim. Como você pode me achar bonito ainda?
— É porque você é lindo mesmo — Jimin aproximou-se de Jungkook, pegando em seu queixo. — Não sei como você consegue dizer que não é lindo.
— Você está falando isso para me agradar, só que eu não estou mais assim. Eu sou apenas pai.
— Você é pai desses bebês aqui — Jimin apontou para os filhos, e logo após lambeu os lábios, encarando o seu namorado. — Mas para o Jimin aqui — apontou para si. — Você é o namorado dele, e vocês dois merecem ter um momento juntos como casal e elogios de casal.
— Ah... — mordeu os lábios, olhando para os bebês. — Você não tem vergonha de falar isso na frente deles?
— Eu não falei nada demais — o mais velho arregalou os olhos. — Ah... Eles nem entendem — brincou. — Faz quatro meses... Desde que voltamos para o Japão, nós não transamos, cada semana tem menos beijos, menos abraços, menos conversas e menos tudo. Deve ser a fase da anulação do "eu" para vestir a carapuça do "pai".
— Desculpa, Chim, mas eu não me vejo mais como uma pessoa erótica. Eu me vejo como um pai que só está aqui para dar leite para o bebê. O cansaço, a insegurança, o medo... Tudo isso me deixa um pouco deslocado — o Jeon falou de todos os seus sentimentos, sem filtro algum. — Era bem mais fácil quando eles estavam na barriga, pois eu sentia vontade de transar, agora não sinto também. Eu me sinto inseguro de deixá-lo me ver com esse corpo. Não ache que eu não me sinto mal por você também, pois eu me sinto e muito.
— Eu entendo — Jimin coçou a cabeça. — Eu não posso evitar ficar com saudades de nós como um casal. Estávamos pulando quase todos os clichês de uma gestação, e agora estamos vivendo todos eles quando os bebês saíram. Eu vou esperar seu tempo, só espero que não seja mais de um ano.
— Jimin — Jungkook se levantou da cama, dando a volta, até onde Jimin estava e o tirou da cama. — Eu não quero que você fique assim — ele pegou o rosto do menor entre suas mãos, olhando bem nos olhos deles. — Eu sei que estamos cansados e estressados, sei que eu fico muito irritado e desconto em você, sei que você sente falta, só que tente entender meu lado. Eu estou passando por coisas que você não está passando, compreende?
— Claro que eu entendo, porque eu também estou extremamente cansado com essa nova vida.
— É — Jungkook passou a mão pelo cabelo de seu hyung. — Amamentar é cansativo e é incômodo. Durante semanas, doía de verdade e agora que está começando a melhorar. Acha mesmo que eu ia querer ser tocado nessa área? Na verdade, eu nem me vejo sendo estimulado nessa área, sabe? É como se essa parte não fosse mais minha. Eu fiquei com uma cicatriz enorme, o meu corpo mudou, olha minha pele como está. Isso coloca minha autoestima lá no chão e olha que eu nunca fui uma pessoa que tinha complexo com isso. Tem a questão hormonal que me deixa meio confuso e a questão psicológica de que eu me tornei apenas pai e não mais Jungkook. Tudo é para eles e por eles! — suspirou, e apertou os ombros do mais baixo. — É algo como: eu tenho que pensar que essa coisa pode se misturar ao leite e dar gases neles. Tem que comer algo saudável, pois você está alimentando outro ser. De vez em quando, eu não sinto nada além de um corpo que produz leite e, de vez em quando também, eu olho para você e sinto saudades de ficar sozinho contigo, e de vê-lo como homem também e não apenas como o pai dos meus filhos. Só que o cansaço bate mais forte e eu acabo cedendo. Eu não consigo lidar com essas coisas, sabe?
— Ah — Jimin tirou as mãos de Jungkook de seus ombros. — Eu realmente não sei o que se passa com você, mas eu tento entender. Não quero que fique mal com o que disse, eu só queria um tempo com você sem que o assunto seja eles, leite, fralda, banho, choro, cólica, remédios e tudo que os envolva.
— É — riu, bastante agradecido de tê-lo ao seu lado naquele momento tão conturbado em sua vida. — Admito que até quando eu estou quase dormindo, eu só penso nessas coisas também. Principalmente na fralda.
Jimin abriu um singelo sorriso, aproximando-se mais de Jungkook, abraçando-o com força. Ouvindo o outro reclamar um pouco.
— Não tenha medo de ser o "pai dos gêmeos" para o resto da sua vida, pois todos sabem que eles também sempre serão "os filhos do Jungkook" para o resto da vida deles também — o Park falou algo que Jungkook nunca tinha parado para pensar. No entanto, era sempre as pessoas pessimistas ao seu lado, colocando-o muito pilha nele por ser pai, que nunca sequer cogitou que a vida dele tinha se tornado uma via de várias mãos.
Naquele momento, Jungkook percebeu que ele sempre seria "os pais dos gêmeos", "o artista de tal quadro", "o namorado/marido de Park Jimin", para os colegas de seu pai, ele sempre foi conhecido como o "filho de Bonhwa e Eunbin", "o irmão de Junghyun", então porque tinha deixado pessoas colocar em sua cabeça que ele perderia sua identidade somente por ser pai, quando ele só teria mais uma faceta em várias que sempre teve?
— Você está certo — respondeu, enquanto olhava para o lindo rosto do namorado.
— Ótimo! — Jimin sorriu. — Vamos colocá-los para dormir? Eu estou com fome e eu quero comer com sua presença no dia de hoje — Jimin deu um selinho em Jungkook. — Eu mereço isso no último dia do ano?
— Você merece isso todos os dias do ano — devolveu o selinho. — Não quer ir lá embaixo preparar o resto das coisas? Eu os coloco para dormir e já desço para ficar com você.
— Hum... — Jimin fez um barulho manhoso. — Tá bom, minha paixão — os dois se separaram.
Jungkook foi até a cama, deitando-se no lugar que Jimin estava e passou o olhar entre os pequenos que realmente estavam com a cara de sono, mas depois de tomarem um banho e mamarem, nada melhor do que dormir em um berço quentinho. Na verdade, era a coisa que Jungkook mais queria fazer também. Comer e deitar naquela cama e dormir até colocar todo seu sono em dia.
Após colocar os dois no berço já dormindo, o Jeon desceu para a cozinha, onde já estava com um cheiro bom de comida quente e com o ambiente também bem quente por causa do forno. Jungkook viu a mesa montada para duas pessoas e achou adorável aquilo, pois Jimin tinha perdido um tempo para deixar tudo bonitinho e por mais que fosse simples, Jungkook ficava tocado com todo aquele cuidado do namorado.
Ele ficou quieto vendo o outro de costas preparando um suco para os dois e, como já tinha reparado, Jimin estava realmente bem atraente com aquela roupa e nem era nada fora do comum do que ele já usava no dia a dia. A única coisa que havia mudado era que ele tinha cortado o cabelo e isso deu um ar mais fresco ao seu rosto e também deixava mais à mostra sua nuca.
— Essa cozinha está com um cheiro delicioso — elogiou, dando um beijo no rosto de Jimin. — Igual à pessoa que está aqui.
— Eu sei — deu risada, terminando de pôr o suco em uma jarra para levar para a mesa. — As crianças dormiram rápido, né?
— Olha, se fosse eu, eu também dormiria muito. Está frio, está tudo quentinho, eles tomaram um banho quente e vestiram uma roupinha confortável, comeram e ainda tiveram o pai deles fazendo cafuné até fecharem os olhinhos. Se fosse comigo, eu já estaria na Nárnia do sonho — ele olhou para o relógio que estava marcando quase 22:00. Naquela hora, no ano passado, ele estava deitado na cama, comendo frango empanado.
— Bom, que bom que você não dormiu, né? — Jimin deu uma risada. — Eu não queria ficar sozinho.
— É nossa noite — Jungkook sentou-se à mesa. — Está tudo tão fofinho.
— Ah... Em casa, eu sempre arrumei a mesa, me deu uma saudade e fiz aqui também.
— Lindo! — elogiou. — Acho tão amoroso quando faz isso, mesmo que seja só para nós dois as coisas. Além de eu adorar a sua comida, você fez minha lasanha preferida de novo.
— É meio a meio, pois eu prefiro lasanha de carne.
— A de quatro queijos é muito melhor.
— E eu como as duas, pois eu era pobre e não tinha isso de ficar escolhendo. Sempre que comia lasanha era "do que tinha ou fica com fome" — Jimin brincou, e sentou-se, ficando a frente de Jungkook como se eles estivessem num encontro.
— Embora a lasanha de quatro queijos seja a minha preferida, lasanha é lasanha e é sempre gostosa.
— Concordo, meu amor — Jimin pediu o prato de Jungkook para servi-lo. — Como sempre, o primeiro pedaço é sempre seu.
— Ainda bem que sabe, meu lindo — ele bateu as palmas que nem criança e pegou o prato já servido. — Que gostoso! — os olhos brilharam quando viram o queijo derretendo.
Jimin se serviu também e até se surpreendeu ao ver Jungkook o esperando para comer, pois o namorado sempre comia assim que via a comida pronta para ele. Jungkook ficou admirando Jimin terminar de se servir, antes de pegar o garfo para começar a comer.
— Delicioso, delicioso, delicioso! — elogiou, ainda mastigando. — Gostoso, suculento, tudo de bom igualzinho a pessoa que fez.
— Obrigado! — Jimin sorriu com os elogios, pois adorava recebê-los quando fazia algo bom. — Eu fiz com muito amor e carinho... Como sempre.
— Feito pelo senhor perfeito e ainda com amor e carinho, ia sair a coisa mais deliciosa do mundo!
— Senhor perfeito é você, eu sou senhor esforçado.
— Vai tomar no seu cu! — xingou, comendo mais um pedaço. — Você é o MEU senhor perfeito e não tem como negar isso, porque eu sempre ganho, Jimin.
— Nem sempre.
— Sempre, sim! — esbravejou, porque não gostava de ser questionado. — Até quando eu perco, eu ganho, pois eu tiro a vitória da derrota de algum jeito.
— Eu sou humilhado pelo meu próprio namorado, mas isso vai ter volta.
— Ah... Isso é o que se recebe depois de todos os nãos que me deu nos anos passados — Jungkook serviu suco para os dois. — O carma volta, meu bem.
— Não é porque eu fiquei legal com você, que você pode fazer essas coisas, viu? Eu volto a ser chato!
— Sim, senhor "me obedeça" — zoou. — Pode ter certeza que eu vou obedecer, logo agora que eu tenho dois filhos seus e tudo que eu peço, você faz correndo.
— Eu falei que tudo que fosse para eles, eu faria com o maior bom grado, porque são os meus dois universos.
— Ah, parece a desculpa que usei quando quis dormir com você pela primeira vez — Jungkook gargalhou.
— Acha que não percebi, seu safado? — o Park bufou, pois seu namorado era muito previsível para ele.
— Acha que eu não sei que você faz as coisas porque quer me ver bem e feliz.
— Claro, você é um porre de pessoa quando está irritado. Melhor deixá-lo feliz mesmo — Jimin deu de ombros.
— Nunca fui chato!
— Desculpe, mas isso é um fato incontestável.
— Jimin...
— Oi, meu amor — falou com a maior calma do mundo, como se não estivessem tendo uma espécie de discussão.
— Eu vou ficar quieto, vai que você não faz mais comida para mim — o Beta calou-se.
— Jungkook, você não consegue me responder já que sabe que é verdade — Jimin olhou com cara de deboche para Jungkook. — Eu deixo você achar que está no controle, porém quem está sou eu e você sabe muito bem disso.
— Depois eu que sou o "bratzinho".
— E não é?
— Se eu sou safado, a culpa é do Yoongi.
— Jungkook, eu não sou besta — o Park colocou um pedaço enorme de lasanha em sua boca.
— Eu sei, por isso mesmo eu estou te contando. Se sou safado, foi culpa do Yoongi — contibuou batendo na mesma tecla, e pegou a jarra de suco. — Ele que arrumou meu primeiro namoradinho também.
— Acho que ele pensava: Que menino chato, será se ele beijar alguém, ele me esquece um pouco?
— Pode ter sido também — o Jeon voltou a rir, terminando de colocar suco em seu copo. — Ainda bem que ele tem um namoradinho agora, ou ele estaria aqui o tempo todo, querendo saber como eu cuido dos bebês e querendo dar palpite.
— A sua amizade com ele é tipo eu e o Taehyung, né?
— Não — negou rapidamente. — É uma amizade mais "irmão mais velho e irmão mais novo". Eu tenho uma amizade tipo a sua, com Se o Yugyeom, porque conheço ele desde que me mudei de Busan para Seul quando eu tinha uns sete ou oito anos, como já disse. O Yoongi, eu conheço desde o momento que vim morar aqui, tinha quase treze anos, se não me engano. Ele me ajudou com o japonês, pois morava aqui há três anos... E ele foi meu primeiro amorzinho da vida!
— Jungkook, todo mundo que já passou na sua vida você quis pegar?
— Hyung, não tem como você querer pegar uma pessoa sem ela passar pela sua vida de alguma forma.
— Não é dessa forma que quis dizer — o Park deu risada da patada que tinha levado.
— Tá, eu entendi — Jungkook ficou com as bochechas queimando de vergonha por ter dado uma patada em Jimin. — Na verdade, dos mais próximos, eu só quis pegar você e o Yoongi — admitiu. — Mas o Yoongi foi meu amorzinho platônico que sabia que não ia ter nada. Eu sempre soube que ele gostava de homens Alfas, e quando eu era mais novo, eu era magrelo, e ele me via como o "irmãozinho" dele. Nunca esperei que eu, sendo um Beta, fosse ganhar atenção de um Alfa. Você acha que ele olharia para mim?
— Sim? — disse, incerto.
— Só nos sonhos das pessoas mais iludidas — o Jeon nunca acreditou naquela possibilidade.
— Se tivesse perseguido ele...
— É... Você pode estar certo — ele ficou pensativo. — Só que nesse tempo, não sabia do meu poder de perseguição. Eu descobri isso com você.
— Quanto mais falo com você, mais eu descubro sobre você — eles riram juntos. — Até que enfim um momento para descobrirmos os podres um do outro.
— Só os meus, pois você é tão certinho que a pior coisa que fez foi quase matar a família inteira com sua prima.
— Nós não sabíamos das coisas — Jimin gargalhou, ficando vermelho. — Você me faz lembrar das coisas que eu quero esquecer.
— Digo a mesma coisa sobre você.
Jimin abaixou o rosto, sentindo suas bochechas queimarem por lembrar-se daquilo.
— Vamos voltar a comer. É melhor!
— Ótimo — Jungkook concordou.
+ + +
Depois de terem comido e deixado tudo arrumado no andar de baixo, eles subiram apagando as luzes e ao passar por seu quarto antigo, Jungkook parou na frente dele, puxando Jimin para lá.
— Vamos ficar aqui — falou, ligando as luzes. — É do lado, se eles chorarem, nós vamos ouvir. Não é você que queria ter um momento de casal comigo?
— Eu gosto daqui — Jimin admitiu. — Foi onde me pediu em namoro, é onde nos beijamos muito e eu ficava te vendo dormir, onde eu te acalmava por causa da Sunhee. Esse quarto me traz boas sensações.
— Digo o mesmo — o mais novo abriu um sorriso, abraçando Jimin, como se estivessem dançando uma música romântica. — Mas tem uma coisa que fizemos aqui que eu não esqueço até hoje.
— O quê?
— Quando pintou minha barriga pela primeira vez. Foi tão fofo, Chim. Dois dinossaurinhos dentro de um ovo — suspirou, sentindo uma nostalgia boa com aquela lembrança. — Eu mandei para todo mundo que conhecia, falando como o pai dos meus filhos era talentoso.
— Você sempre me elogiando.
— Você sempre me elogia também — Jungkook agarrou a cintura de Jimin e o mais baixo colocou as mãos no pescoço do maior. — Não deveria ter feito, só que, sem querer querendo, eu li sua agenda e vi suas anotações.
— Ah... — Jimin ficou tímido, olhando para o lado rapidamente, antes de voltar a focar no olhar de seu namorado. — Na verdade, não era nada que eu queria esconder mesmo. Todo mundo já leu aquilo algum dia.
— Então o que é que eu não posso ver?
— Um dia verá e talvez seja no dia que vai deixar-me ver o que tanto esconde no sótão. É um mistério para mim também.
— Um dia vai saber — respondeu calmo. — Só que eu amei saber que sempre torcia por mim. É tão bom saber que alguém torcia e era orgulhoso de mim, mesmo que fosse silencioso com isso.
— Você torcia por mim também, pelos menos, nós éramos recíprocos aí.
— Numa coisa tínhamos que nos dar bem.
— É verdade — Jimin levou os dedos até os fios longos da nuca de Jungkook, fazendo carinho ali. — Você era realmente talentoso e nem que eu te odiasse, eu poderia negar esse fato.
— O único fato que não podemos negar é o de que nós somos feitos um para o outro e é nosso destino ficarmos juntos. Nosso akai ito é ligado um com o outro... E nosso akai ito não é vermelho, ele é amarelo e com vários girassóis em volta.
— Porra, Jungkook! — Jimin arregalou os olhos. — Eu criei uma imagem linda na minha cabeça com isso.
Jimin puxou o rosto de Jungkook para mais perto, pois os corpos já estavam colados, e o beijou. Um beijo calmo, porém sedento já que não se beijavam há tanto tempo daquela forma. Sentir o calor do corpo do outro, as mãos, os corações batendo bem próximos, o gosto e tudo mais, eram coisas que eles nunca perderam o prazer, mesmo que em pouco tempo, já tivessem passado por vários estágios e fases da relação.
— Eu amo você — Jimin sussurrou, quando se separam um pouco e deu um selinho em Jungkook que sorria.
— E você é o meu amor — o Beta mais novo abraçou o namorado bem forte, ainda com as testas coladas. — Me sinto como um adolescente que tem encontros escondidos em casa com o namorado — mordeu os próprios lábios, passando seus dedos pelos lábios de Jimin. — Só que agora eu sei os horários dos meus pais, e não vou fazer nenhuma burrada.
— Não duvide da sua capacidade — o mais velho continuou fazendo carinho nos fios de cabelo de Jungkook, sentindo-os se emaranharem entre seus dedos. — Feliz Ano Novo, meu lindo namorado.
— Feliz Ano Novo meu lindo sr. Perfeito — desejou com um grande sorriso no rosto. — Espero que este ano seja tão bom quanto esse que passou e que tenhamos muita felicidade.
— Vai ser — falou, olhando para cada parte do rosto de Jungkook. — Onde você está tem felicidade e alegria.
— Isso, Jimin, me faça acreditar nessas coisas — as bochechas do beta mais novo ficaram bem rosadinhas de vergonha. — Você é um príncipe encantado que apareceu na minha vida e eu nunca vou cansar de falar isso. Você é meu príncipe da vida real.
Eles ouviram umas pessoas comemorando do lado de fora e sorriram um para o outro.
— Acho que a gente falou muito cedo, né? — Jimin perguntou.
— Vamos fazer de novo, então — Jungkook falou, zoando os dois. — Feliz Ano Novo, meu amor.
— Feliz Ano Novo, meu pequeno girassol — Jimin respondeu. — Que esse ano seja muito bom para nós dois.
— O meu já vai ser maravilhoso por ter você por perto. Um dos meus desejos de Ano Novo já se tornou real, por isso já vai ser ótimo.
— Você fazia desejos de "tomara que ano que vem eu transe com o Jimin"?
— É.
— Por isso nunca aconteceu, tinha que falar "tomara que esse ano, eu transe com o Jimin" — o Park caiu na risada, tomando um beliscão de Jungkook. — Ai! — reclamou.
— Não me zoe! — o outro ficou bravo, pois não gostava que implicassem com ele. — Se soubesse que seria tão desrespeitado assim, eu nem desejaria! Você não me desejava?
— Para que perguntar se você sabe que a única coisa que eu tentava fazer era fugir de você?
— Ah, sei lá... Vai ver eu espere que você abra a boca, e fale que sim ou tire alguma coisa do fundo do baú — Jungkook fingiu raiva.
— Tudo que eu realmente sentia por você já foi falado, Jungkook. Não tem mais nada! Você que sai desenterrando coisas do passado para trazer à tona.
— Pode ser verdade, porém eu queria muito você, então é de se imaginar que eu tenha desejado sua presença o tempo todo. As minhas metas eram literalmente: seduzir o Jimin e passar nas matérias.
— E agora?
— Pegar mais o Jimin e não fazer mais filhos — o Jeon brincou.
— Maravilhoso! — falou em tom de comemoração. — Sem filhos.
— É — balançou a cabeça. — Eu estava pensando... Você está certo. Nós precisamos voltar a ter nossos momentos de casais, e isso inclui transar. Claro, acho que a gravidez e tudo o que aconteceu me fizeram ficar mais quieto quanto a isso, porém, uma hora nós teríamos que voltar, né? Principalmente por eu ter um namorado tão gostoso e eu tenho que aproveitar.
— Então vamos começar a te destravar.
— Vamos sim... — falou, cheirando o pescoço do rapaz. — Olha... Entre a primeira e segunda semana no começo do ano, meus pais irão para Nagoya para um evento de arte, então vamos ficar sozinhos com os bebês e também com mais privacidade. Como estou meio travado para essas coisas, será que deveríamos tentar ir esquentando as coisas até lá? Me fazer ficar mais confortável com a minha parte sexual de novo?
— Você sabe que eu odeio me sentir, mas, sim, eu tenho quase certeza que eu posso fazer isso.
— Eu não duvido nem um pouco de você — Jungkook mordeu os lábios, olhando para a boca de seu namorado. — Acho que vai ser como minha primeira vez de novo. Por isso, não desconte todo seu tesão em mim.
— Prometo ser cuidadoso.
— E não encosta nos meus peitos e, muito menos, nos mamilos. Eles estão sensíveis de uma maneira não muito legal, entendeu?
— Uhum.
— Então, ótimo — Jungkook afastou-se um pouco, para poder ver a cara de Jimin. — Então, já pode sair para comprar camisinhas e lubrificante, porque mesmo que seja mais difícil uma gravidez nessa fase, isso pode acontecer, tá? E eu não tenho mais estrutura física e mental para ser pai de novo por agora... Ou pelo resto da vida. Mas já pensou a gente transa e daqui dois meses eu descubro que está crescendo uma coisinha na minha barriga? Ou talvez duas... Três...
— Acho que chegamos ao ponto chave da relação, pois pensamos igual nessa coisa. Sem mais filhos por agora... Ou para sempre.
Eles ficaram quietos, ouvindo resmungos vindos do outro quarto e riram, encostando as testas.
— Vida de pais que se diz, né? — Jimin perguntou.
— Eu acho que é — respondeu, arrastado. — Me diz que tem leite nas mamadeiras lá embaixo para eu poder dar sossego para minhas tetas.
— Eu vou lá ver — o Park falou, separando-se.
— Obrigado — Jungkook falou, colocando as mãos nas costas antes de ir para o quarto ao lado.
Ao menos, uma coisa que nunca poderia mudar de ano para ano, era que ele tinha dois filhos para cuidar.