Para Karin foi impossível dormir bem aquela noite. Além de receber uma mensagem de Minji confirmando que não iria ao encontro do grupo, ainda estava perturbada pela ideia de Jungwoo ser aquele garotinho de dez anos atrás. Aquele que seu topete feito com gel se desfez assim que pulou na água. Haviam várias pessoas em volta, ele nadou contra a correnteza e a agarrou o pulso. Sentiu seu corpo flutuar e depois tudo ficou verde. Cristalinas partículas roxas brilhavam em seus olhos. Quente a luz do sol bateu em sua face e o garoto já não estava mais lá, somente a ambulância, os paramédicos e seu vestido amarelo encharcado.
A manhã inteira fora preenchida por Jungwoo tomando sua mente. Não falou muito nem conseguiu se focar direito nas aulas.
— Karin, oi...! — ele acenou, porém pela falta de atenção, fez uma careta abaixando a mão.
Caminhou desfocada pelos corredores e não notou Jaemin acenando, fato este que o fez se preocupar ao mesmo tempo que curioso a respeito do motivo para o semblante escurecido que se mantinha fixo na face da garota desde que ela chegara no colégio.
As amigas também se mantiveram preocupadas, a menina não dizia coisa com coisa, como se a cabeça estivesse nas nuvens. Minji fora a primeira a desistir de tentar descobrir o problema de Karin, a próxima fora Hyesoo que tentou como pôde, porém, não obteve sucesso algum. E assim se estendeu a manhã escolar. Após o sinal tocar, em meio àquela correria, Karin já estava no pátio pronta para partir.
— Karin, você está bem? — Yuna a abordou no corredor antes de voltarem para casa — Você está triste?
Com a falta de uma resposta, a garota tocou o ombro da amiga e a chacoalhou levemente.
— Karin, estou falando com você...!
— Ahn, o quê? — piscou em confusão e fitou a amiga. — Ah, é você Yuna.
— O que aconteceu?
— Sim, vou pra loja agora, amanhã até amanhã. — sorriu e acenou avoada.
— Não foi isso que eu perguntei, espera... Ei!
Mas Karin já havia corrido dali para o ponto de ônibus.
Com o pouco tempo que tinha restante para chegar em casa, decidiu visitar a biblioteca para ver se encontraria Jungwoo por lá. Ela gostaria de analisa-lo com mais calma. Mesmo com todos aqueles sentimentos transbordando desde o dia em que o viu da primeira vez, a adolescente precisava de uma certeza. Quem sabe tudo aquilo não era apenas uma grande coincidência.
Lá estava ela, a enorme biblioteca, aquela que era a mais usada no bairro. Ficava próxima de tudo e facilmente dava a pé para a doceria da família Min. Karin vasculhou com cautela cada canto de lá até que, ao entrar na sessão de matemática, encontrou Jungwoo ali próximo e sua bolsa de couro em uma das mesas rodeado de cadernos. Karin se escondeu detrás de uma das estantes e passou a observa-lo de longe por entre as aberturas dos livros que foram retirados.
Começou por seus fios de cabelo. A cor achocolatada cintilava com o toque das luzes e se tornavam quase como mel. Sua pele parecia mais macia que um *mochi e reverberava as páginas brancas a sua frente. Apreciou aquela visão como se ele fosse um quadro em exposição, cheio de mistério e sentimentos escondidos. Ele era o maior suspense que sua vida pôde lhe proporcionar.
Sempre que Karin perguntava do garoto que um dia a salvou, os pais evitavam o assunto, desconversavam e diziam que ela foi levada de volta pela própria correnteza, que não havia ninguém na água além dela. Karin nunca compreendeu o porquê de ter sido a única que enxergou o menino no lago, no entanto, agora encarando Jungwoo após a revelação que ele a lançou noite passada, poderiam eles ter mentido todo esse tempo?
Se aproximou um pouco mais. O olhar profundo que ele lançava sobre aquele livro, sobre as páginas e os números, tal olhar lhe dava calafrios e aquecia seu coração. Era como tomar uma bela caneca de chocolate quente com uma quantia significativa de chantili, assim como fizera no dia em que o conheceu. Como ele podia ser assim tão bonito? No instante que pensou em se aproximar mais um pouco, dedos finos em uma mão delicada tocou-lhe o ombro.
— O que está fazendo? — a voz feminina se pronunciou.
Pelo susto, Karin se virou rapidamente em conjunto de um pulo. Agora sua surpresa fora pior no momento em que reconheceu Yerim a encarando.
— Você é algum tipo de stalker?
— O quê, não...! — as mãos se balançavam em negação.
— Então porque está olhando pra ele escondida desse jeito? Dessa forma suspeita e esquisita...?
Karin umedeceu a garganta antes de responder a loira garota com olhar afiado para não gaguejar. Ela a lembrava da doce, porém azeda, calda de morango que vendia na sorveteria da rua ao lado.
— Eu só estava esperando a hora certa de ir falar com ele... Parece muito ocupado, não queria atrapalhar, muito menos parecer um perseguidora.
Antes de Yerim poder responder, Jungwoo repentinamente marcou sua presença ao lado das duas garotas com um sorriso meigo e adorável.
— Ei, olá. — cumprimentou Karin — O que está acontecendo? — fitou Yerim brevemente.
— Vocês se conhecem? — a garota de cabelos descoloridos perguntou.
— Sim, somos amigos. — o sorriso permanecia nos lábios do universitário — Não somos Karin?
No exato momento em que seu nome fora dito, Karin sentiu a eletricidade negativa transbordando dos olhos de Yerim que pareciam metralha-la agora. Aquilo era ciúmes? Karin engoliu em seco se sentindo em perigo, entretanto, seu coração batia forte para que ela se mantivesse sem medo.
— Sim. — concordou com a cabeça e o lançou um sorriso.
Karin apertou as alças de sua mochila tentando não transparecer a timidez e se perdeu nos lumes castanhos e cristalizados de Jungwoo. Seriam esses os mesmos que a enxergaram no lago? Era ele? Não se lembrava dela? Eram muitas perguntas sem resposta, mas Karin estava mais do que disposta a descobrir.
— Desculpe aparecer assim, vocês devem estar estudando.
— Estávamos, mas já terminamos. — Yerim concluiu.
— É, está escurecendo.
— Ah, tudo bem então... Eu queria te perguntar uma coisa. — Karin por fim falou.
— Tudo bem, só vou devolver os livros. — Jungwoo então fitou Yerim — Sua carona já chegou?
— Sim, eu recebi a mensagem quando estava voltando agora do banheiro — mostrou o celular que ainda segurava — Então, eu... Eu já vou.
Ela se despediu de ambos, um tanto receosa em deixá-los sozinhos, contudo, fora obrigada.
Jungwoo por outro lado agradeceu a ajuda de Karin em guardar todos àqueles livros de volta nas estantes para seguirem caminho para casa.
— Então, o que queria me perguntar? — quatro livros estavam sobre seus braços enquanto ele caminhava por aquele corredor.
— Eu e meus amigos ganhamos ingressos pra ir domingo no parque de diversões.
Jungwoo guardou os últimos livros e parou no lugar para encarar a adolescente.
— Temos um ingresso sobrando... Você, você quer ir com a gente?
Karin nunca imaginou o quão difícil era fazer aquilo. Seu coração parecia querer pular pela boca e a ponta de seus dedos passaram a formigar. A menina não sabia se Jaemin gostaria disso, contudo parou para pensar a respeito somente depois de convidar o universitário.
— Hm, ok eu vou. — tirou o celular do bolso sorridente — Vou te dar meu número, então você me manda o endereço, tudo bem?
Se aquilo acabaria bem ou não, Karin não tinha certeza. Todavia ela precisava desvendar o mistério por trás de seus pesadelos e do que aconteceu dez anos atrás. O sorriso soturno de Jungwoo também lhe escondia algo e ela sabia que isso também se ligava ao lago, ao seu herói do verão e a nostalgia presente em seu coração.
Quem é você, Kim Jungwoo?
Ela não desistiria até descobrir.
Capítulo 7 ➜
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GLOSSÁRIO
• Mochi - é um bolinho feito de arroz glutinoso moído em pasta e depois moldado.