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Era bem cedo quando Jungkook acordou com o seu celular tocando. Ele atendeu a ligação, sem verificar de quem era o número:
— Oi.
— Acordou? — sua mãe perguntou. — São dez horas e você ainda está dormindo?
— Mãe, hoje é sábado e não tem nada para fazer. Além disso, ontem dormi tarde, fiquei conversando com o Yugyeom — ele defendeu-se.
— Uhum... Como você está?
— Estou bem — se espreguiçou. — Eu já recebi as passagens e já estou despachando umas coisas maiores.
— Eu sei. Os seus videogames já chegaram aqui em casa.
— Cuide bem do meu filho mais velho e não deixe o Junghyun chegar perto!
— Tudo bem — Eunbin deu uma pausa, causando um pouco de tensão em seu filho. — Jungkook, eu quero conversar com o pai desta criança. Eu não deixarei você cuidar de um filho sozinho.
— Mãe, eu já conversei com ele ontem. Combinamos de conversar melhor hoje e... — ficou um tempo calado, pensando como colocar as palavras de um melhor jeito e não ouvir sua mãe dar um ataque do coração. — Não é sobre ele em si, porém eu gostaria de mantê-lo longe da minha gravidez. Eu desejo que esse momento seja calmo e sereno, e ele deixará tudo muito agitado, e nós meio que não nos dávamos muito bem.
— Ah, é? Não se davam bem e fizeram um filho? — Eunbin não acreditou nas palavras de seu caçula. — Se gostassem um do outro, teriam se casado em uma ilha paradisíaca no Caribe?
— É que para fazer um filho não precisa, necessariamente, que as duas pessoas tenham um envolvimento romântico — fez um barulho com a boca. — Ele vai conhecer o filho, sim... Quando nascer.
— Nossa, Jungkook, mas a vontade que tenho de te dar três tapas perto dessa orelha não é pouca!
— Mãe, lembre-se de que estou gerando o seu neto!
— Jungkook, eu estou indo trabalhar — ela falou, fugindo do assunto. — Vá fazer uns exercícios e coma coisas saudáveis, entendeu? Não adianta nada querer uma "gravidez tranquila" se você comer pizza todo dia!
Jungkook arregalou os olhos, ficando surpreso, e falou:
— Como sabe que comi pizza ontem?
— Sexto sentido parental. Você terá também.
— Ok — falou baixo. — Pode ter certeza que eu vou levantar e fazer uns exercícios.
— Dá uma caminhada pelo parque que tem aí perto — a mulher sugeriu. — É ótimo caminhar. Quando estiver aqui no Japão, você vai andar comigo todos os dias de manhã, entendeu?
— Nossa, eu estou cansado só de imaginar — demonstrou todo seu deboche. — Na verdade, eu não sei se estou menos preparado para você brigar comigo, ou me tratar como se fosse um bebê que não sabe das coisas.
— Um bebê, eu não sei. Não saber das coisas, sim. Você não sabe mesmo! Ou não teria deixado de se proteger em um sexo casual! — Eunbin deu, pela terceira vez, a mesma bronca no filho. — Você sabe que Betas não tem avisos de quando estão férteis, e você nunca fez um exame para descobrir se poderia, ou não, engravidar. Só por isso, Jungkook, deveria ter se cuidado melhor!
— Mãe, vou falar mais uma vez: eu usei camisinha! — Ele deu de ombros. — Agora eu vou desligar.
— Não esqueça de fazer o que eu mandei.
— Até o final da noite eu faço.
— Comece a tomar sol sem camisa — Eunbin aconselhou. — O sol da manhã faz bem para os mamilos e não doerá tanto na hora de amamentar.
— Quê? — Jungkook abriu o olho de vez. — Como assim amamentar dói? Mãe do Céu!
— É só no começo, depois passa.
— Ah... Eu não quero mais ter filhos! — O rapaz começou a ficar desesperado.
— Tarde demais. Tchau!
— T-tchau — Jungkook respirou fundo, tentando digerir aquele fim de conversa.
Como assim amamentar dói? — pensou, perdendo qualquer segundo de paz que poderia ter dali em diante.
Quando se levantou, tomou um banho, escovou seus dentes e sentou-se no sofá, ligando a TV para tomar seu café da manhã enquanto assistia; mas a paz que Jungkook sentia se esvaiu ao ver que, não era nem meio-dia, e Jimin já estava mandando mensagem.
Pimentinha: Eu posso te ligar?
Jungkook: Agora não
Pimentinha: Por quê?
Jungkook: Acabei de acordar e estou tomando café
Pimentinha: No final do mês eu estou voltando pra Coreia
Eu quero acompanhar a gravidez do meu filhote de perto
Jungkook: Não precisa
Pimentinha: É claro que precisa
É o meu filho
Jungkook suspirou, cansado, ao ler aquela frase, pensando no quão chato Jimin era. Ele precisava, a todo segundo, ficar lembrando que era o outro pai?
Jungkook: Eu sei, por isso você verá a criança quando ela nascer
Porém, agora não
Você pode respeitar a minha vontade?
Pimentinha: Se não fosse o meu filho, eu, com certeza, respeitaria
No entanto, esse bebê é meu também!
Jungkook: Eu não quero que você volte
Se voltar, eu nunca vou me perdoar por estragar um sonho seu
Não é como se nós dois fossemos morrer por estar longe de você
Também não é como você fosse me ver todos os dias
Ou poder dar palpites na minha vida de grávido
A gente só ia se estressar um com o outro
Já tem os meus pais, os médicos e o Yugyeom me enchendo
Você será apenas mais um
Pimentinha: Eu não estou entendo o motivo de não poder ver meu filho
Eu estou indo por ele, não por você
Jungkook: Eu deixarei você vê-lo o tanto que quiser quando ele tiver nascido, mas agora não
Se você gostasse mesmo do seu filho, você respeitaria a minha vontade
Só que você prefere fazer o pai do seu filho passar raiva
E consequentemente passar essa sensação para ele
E eu acho que você deveria agradecer ao Yugyeom que ficou SEMANAS me enchendo o saco para te contar
Pimentinha: Você não me contaria?
Tenho o mesmo direito que você, sabia?
Você não fez o filho sozinho
Jungkook: O meu plano era contar pra criança que eu o fiz de maneira independente
Ou que o pai não quis
Pimentinha: Você faria ela me odiar por isso?
Uma coisa é quando o outro não sabe da existência do filho
Outra é o abandono
Não pensou que quando ela descobrisse isso, poderia te odiar?
E ainda quando soubesse, ia querer procurar o outro pai
Jungkook, ao ler aquelas palavras, ficou bem sentido, porque ele não pensou naquela parte.
Jungkook: Tipo assim...
Eu não quero que volte, pois eu estou indo embora
Pimentinha: Embora? Como assim?
Jungkook: Isso mesmo
Quando chegar aqui, você poderá procurar na Coreia inteira e não vai me achar
Seria uma perda de tempo vir atrás de mim
Então é melhor ficar aí realizando seu sonho
E trabalhando para dar um bom futuro para a nossa criança
Pimentinha: Ai, Jungkook, você me tira do sério
Tanta pessoa grávida que é realmente largada e quer o pai ou mãe ao lado e você desdenhando na minha ajuda
Seu chato!
Jungkook: Obrigado pela parte que me toca
Ao menos, consigo te tirar do sério
Pimentinha: E com proeza, meu bem
Após a breve discussão com Jimin, Jungkook se arrumou para ir ao hospital. Era a segunda vez que ele estava indo ao médico sozinho por conta da gravidez. Mesmo com muito medo de voltar para Tóquio, ele até sentia-se mais feliz e tranquilo, pois sabia que sua mãe estaria com ele e poderia acompanhá-lo durante as consultas.
Após responder algumas perguntas um pouco constrangedoras, Jungkook deitou-se na maca, sentindo o gel gelado ser colocado sobre sua barriga. Era um tanto incômodo passar por aquilo, só não era mais incômodo do que ficar ouvindo o barulho de um coraçãozinho bater junto com o dele. Jungkook olhou para tela, vendo o seu bebê, porém não conseguia identificar onde ele estava de fato.
— Como está sendo para dormir? — o médico perguntou.
— Eu estou dormindo muito bem — Jungkook respondeu, sorrindo. — Na verdade, qualquer lugar onde paro, eu durmo — brincou. — Comer e dormir são as coisas que eu mais estou fazendo nessas semanas.
— Ótimo! — O médico sorriu. — Eu tenho uma surpresa para você.
— Surpresa? É o sexo do bebê? — perguntou, curioso. — Diz que é uma menina. Meus pais sempre quiseram ter uma filha, só que não conseguiram. Eu queria dar a eles uma neta, então o risco de morrer ficaria bem menor.
— O sexo eu ainda não consigo ver, mas... — o médico fez suspense. — São gêmeos!
— São o quê? — Jungkook deu um pulo, olhando para o monitor. — É brincadeira, né? Não tem como ser dois!
— São dois bebês — o homem confirmou. — Um está aqui e o outro aqui. — Apontou para a tela, mostrando exatamente onde estavam os bebês.
— Eu estou muito fo... — ele parou de falar. — Eu vou matar aquele Beta desgraçado!
— Quem é o Beta desgraçado?
— O outro pai dessas crianças! — Ficou nervoso.
— Vocês precisam comemorar, Jungkook. É um tanto difícil um Beta ter uma gravidez múltipla naturalmente.
— Eu vou matá-lo por fazer isso comigo!
— Por favor, não mate o seu namorado — o médico disse, levando tudo aquilo na brincadeira.
— Ele não é o meu namorado! — Jungkook olhou para o médico, limpando sua barriga do gel. — Ele é o meu colega da faculdade e nós acabamos...
— Certo, já entendi! — o médico cortou seu paciente. — O que importa é que agora você precisa ter mais cuidado com a sua gravidez. Sabemos que uma gravidez já é algo delicado, ainda mais quando se tem mais de um bebê.
— Eu terei muito cuidado com essa gravidez, doutor. — O Beta deu um sorriso cínico.
Quando saiu da consulta, Jungkook passou em uma cafeteria, pegou um pedaço de torta de limão para comer e ligou para Jimin. Ele nem sequer se importou em pensar em que horas seria onde o Park estava ou se estaria ocupado.
— Oi — Jimin atendeu.
— Então, Jimin, era para você me foder e não foder com a minha vida! — Jungkook nem pensou em cumprimentar o seu colega.
— O que eu fiz?
— O quê você fez? — Riu debochado. — Você não ficou feliz em me dar apenas um filho, mas me deu dois. São dois bebês!
— Dois?
— DOIS! — disse alto, que até uma pessoa que passava olhou para ele. — Eu não estava preparado para ter um filho, porém pensei que um eu daria conta. Só que dois? Eu tenho medo de ir no mês que vem e serem três!
— Calma, Jungkook. Eu estou voltando para Seul e vou te ajudar... — suspirou. — Eu não vou te deixar na mão.
— Eu não estarei mais aqui! Por que você não me escuta? — perguntou. — Eu voltarei a morar com meus pais.
— Onde? Eu vou atrás de você.
— Qual o motivo de não entender que eu não quero que você volte? — Jungkook ainda era resistente à vontade de Jimin. — Quero que você fique aí realizando o seu sonho.
— Qual o motivo de você não entender que eu quero acompanhar a gravidez de perto? É o meu filho! Quer dizer, os meus filhos! — Jimin sorriu. — Eu quero te ajudar e quero vê-los nascer. Pelo amor de Deus, você não pode negar a minha ajuda agora, uma vez que são dois bebês... — deu uma pausa. — Mano do Céu, eu vou ter dois filhos!
Jungkook nada respondeu, apenas ficou observando a garçonete que estava trazendo a sua torta, e esqueceu de responder o outro homem. Ele ouviu Jimin respirar fundo e continuar a conversa:
— Sei que somos relativamente jovens e que essa gravidez não foi planejada por nenhum dos dois. No entanto, não fique com raiva de mim, Jungkook. Eu trabalharei muito para ser o melhor pai para essas crianças e, quem sabe, poder chegar na mesma vida boa que você tem.
— Ah, não venha com sentimentalismo, cara! — respondeu, dando a primeira mordida na torta. — Eu só queria transar contigo. Se tivesse sido da forma que eu queria, com você sendo o passivo, eu não estaria com duas pessoinhas crescendo dentro de mim. Quando pensei em ter um filho, eu pensei que seria com outra pessoa, e não com o nerd de pau pequeno, da sala.
— O "pau pequeno" que te engravidou de dois!
— Isso é o pior. É tipo comer um pedaço de bolo e engordar dois quilos — ele rolou os olhos. — Você sabe que minha família tem condições, né? Posso cuidar dos dois sem problema algum, só que você não coopera! Eu acho que você tem que ficar aí nos Estados Unidos, temos que garantir um bom futuro para os meus filhos.
— Nossos filhos! — Jimin corrigiu.
— Agora eu voltarei para o Japão e vou ter que ver o meu primeiro amor da vida, e ele vai me ver grávido! Olha o que você fez comigo!
— Não aja como se eu tivesse te obrigado a algo! Quem implorou por uma noite comigo, foi você! — Jimin jogou a verdade na cara do outro homem. — E ainda queria mais do "pau pequeno".
— Ainda bem que não tinha tempo para a segunda — riu. — Ou eu estaria grávido de quatro.
— Eu quero que saiba que eu estou muito feliz com os bebês e vou comprar umas roupinhas para eles.
— Eu estou bem desesperado sabendo que vou ter dois filhos.
— Eu estou voltando para te ajudar a passar por essa fase.
— Eu não preciso de ajuda! — Jungkook começou a ficar irritado.
— Saiba que eu não estou fazendo isso por você, mas pelas minhas crianças. Depois que elas nascerem, pode pular de paraquedas, pois eu vou entrar na justiça para tirá-las de você.
— Você não é louco de fazer isso!
— Se você não tirar o meu direito de ver meus próprios filhos nascerem, não, eu não serei.
— Puta merda!
— Para qual cidade do Japão você vai? — Jimin falou, deixando Jungkook confuso por ele saber para qual país ele iria.
— Como você sabe que eu vou para o Japão? O Yugyeom te contou? Eu vou...
— Você que falou, Jungkook.
— Não te interessa! Depois a gente fala, tchau!
— Jung...
O rapaz desligou o seu telefone.
Jungkook terminou de comer a sua torta e saiu da cafeteria, olhando em volta. Após alguns minutos, ele parou na frente de uma vitrine de uma loja de bebês, que tinha perto de onde ele morava, e ficou olhando as roupinhas.
Pela primeira vez, ele começou a achar tudo a coisa mais fofa do mundo. Inconscientemente, ele levou sua mão até a barriga, se sentindo um pouco emocionado, e entrou na loja.
— Olá, senhor, eu posso ajudá-lo? — uma mulher perguntou.
— Eu queria dois sapatinhos — pediu. — Talvez um verde e um amarelo.
— Nós temos esses. — A funcionária guiou-o até a vitrine com os sapatinhos. — É para anúncio de gravidez? — Ela olhou para a leve saliência da barriga do rapaz.
— Não — negou. — Presentes para um amigo. — Ele passou a olhar os patinhos e pegou dois, entregando nas mãos da mulher. — Eu também quero uma caixinha bem bonitinha e um cartão.
— Por favor, me acompanhe.
Quando chegaram ao balcão, ela apontou para os cartões. Jungkook procurou o que achava mais lindo e pegou um com formato de coração e escrito "papai" no meio. Ele pediu uma caneta, escreveu algumas coisas e colocou sua assinatura, colocando como remetente: Park Jimin.
Ao sair da loja, ele voltou para sua casa e olhou para a sacola do presente que daria para Jimin, colocando-a em cima da mesa, e sentindo-se mais preocupado sobre como contaria para seus pais que ele ia voltar para Tóquio não só com um neto, mas com dois de uma vez e, talvez, o pai chato das crianças junto.