SWEET DREAMS - LIVRO 1 ✓

By Ruthfreckles

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( LIVRO 1 DA TRILOGIA ) Charlotte Jones era apenas uma menina quando uma tragédia aconteceu e foi levada para... More

Informações.
este livro é para ti.
1 - d o g d a y s a r e o v e r
2 - m e m o r i e s
3 - v i c t i m s o f l o v e
4 - s h o t i n t h e d a r k
5 - d i e t m w t d e w
6 - s a y g o o d b y e
7 - s t a y
8 - c r i m i n a l
9 - a l l a b o u t u s
10 - s e c r e t s
11 - r u n
one-shot: a l l a b o u t u s ( scarlet & harry )
12 - s a c r i f i c e
13 - f r i e n d o r f o e
14 - w e s h o u t
15 - t o y s o l d i e r s
16 - all t h a t e a s y
17 - a p r o m i s e
18 - n o t g o n n a g e t u s
19 - s a f e a n d s o u n d
20 - m i r r o r
21 - l o s t c a u s e
22 - d e a r a g o n y
23 - 4 a m f o r e v e r
Beautiful Nightmare.
Obrigada.
AVISO IMPORTANTE.
patreon & ko-fi.

one-shot: c u t ( isaac & thea )

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By Ruthfreckles

Esta One-Shot é uma das várias que vão aparecer ao longo do percurso da Sweet Dreams. Todas têm uma ligação com a história, servem apenas para falar das vidas das outras personagens.

CUT

I'm not a stranger
No, I am yours
With crippled anger
And tears that still drip sore
A fragile flame aged
Is misery
And when our hearts meet
I know you see

Plumb - Cut

Ultimamente, nós agíamos como se fôssemos dois estranhos, como se nunca tivéssemos vivido momentos, que eu nunca poderia esquecer. Como se não tivéssemos partilhado as inseguranças, os medos, os desabafos, até a pouca felicidade que nos restava.

Olhar para ele magoava-me. Ver o seu rosto coberto com as nódoas negras era como se arrancassem o coração do meu peito sem piedade. O seu olhar refletia ódio e ele contraiu o maxilar quando sentiu o meu olhar preso em si. Engoli em seco, desviando-o agora para o exterior novamente. O céu encontrava-se revestido de nuvens cinzentas e revoltadas, que ameaçavam que iria chover em breve. Isso não me incomodava. Eu gostava da chuva pois podia chorar sem ninguém se aperceber do mesmo. Não trocávamos uma palavra que fosse desde que nos fizemos à estrada. Ele não me olhava como de antes, ele não me olhava de todo e todas as minhas feridas que sararam, voltaram a abrir. Por vezes via-o a olhar quando estava distraída, porém ele fixava-se em qualquer outra coisa que não fosse eu. Ele não entendia como magoa ver a pessoa que se ama a sofrer e não poder fazer nada em relação a isso.

Em silêncio, estacionou numa área de serviço. Olhei automaticamente para o relógio que marcava as quatro da manhã em ponto e comecei a sentir-me cansada. Isaac espreguiçou-se e depois encostou a cabeça para trás, olhando-me serenamente.

- Estás bem? - Surpreendi-me por ele falar comigo e olhei-o.

- Sim. - Murmurei quase inaudivelmente.

- Queres comer alguma coisa? - Questionou enquanto se inclinava para trás para chegar a um saco grande. No interior continha todos os mantimentos necessários que trouxéramos de casa.

- Não estou com fome. - Ele pegou num sumo e num bolo, retirando o plástico que o conservava e colocou-o dentro do saco novamente.

Ele apenas assentiu e tragou o bolo, recostando-se no banco novamente. Ele parecia calmo e desejava poder sentir-me assim. Suspirei e abri a porta do carro, sentindo o frio a enregelar os meus ossos assim que saí do mesmo. Caminhei um pouco e depois retirei o maço de tabaco que Isaac que me dera para guardar, retirei um cigarro e acendi-o depois. Levei o cigarro aos lábios e deixei que o prazer do mesmo me consumisse. O único som era o do vento a abanar os ramos das árvores que começavam a perder as folhas, devido a já estarmos a meio de Outubro. Ouvi a porta do carro a bater e senti as mãos de Isaac na minha cintura, enquanto ele se colocava atrás de mim, repousando o seu queixo no meu ombro.

- Que é que estás a fazer, Thea?

- A fumar um cigarro. Pensei que fosse óbvio.

- Não entendo porque é que o estás a fazer. - Acusou rispidamente. - Ambos sabemos muito bem, que tu não fumas.

- Serve para aliviar a tensão. - Expeli o fumo lentamente e Isaac afastou-se, contornando-me agora. Ele posicionou-se à minha frente e tirou-me o cigarro dos lábios, tirando uma passa e expelindo depois o fumo delicadamente, na direção oposta ao meu rosto.

- Isto faz-te mal. - Atirou-o para o chão e apagou-o com o pé.

- Como se tu te importasses. - Ripostei. Quando me virei para voltar para o carro, ele voltou a meter-se no caminho.

- Falas como se eu não quisesse saber de ti.

- Queres? - Franzi a testa enquanto aguardava por uma resposta. Como ele permaneceu em silêncio, eu assenti, comprimindo os lábios. - Já devia estar à espera.

Soltei-me da sua mão que me apertava o braço e entrei para o carro novamente, fechando a porta com força. Ele seguiu o meu exemplo e após entrar, ligou o motor e arrancou.

Não ia chorar à frente dele, porque não era fraca. Nunca fui. Mantive-as para mim, enquanto observava a estrada vazia e me apercebia, que era assim que eu me sentia. Vazia.

***

Abri os olhos lentamente e a claridade incidiu, obrigando-me a fechá-los novamente. Olhei em volta e apercebi-me que me encontrava deitada numa cama, não propriamente confortável, mas não era o banco do carro onde adormecera. Olhei em volta e apercebi-me que estávamos numa cabana pequena e um tanto acolhedora. Isaac apareceu e esboçou meio sorriso.

- Como te sentes? - Questionou.

- Melhor... - A cabeça já não me doía como ontem e a má indisposição desvanecera. - Estás a fazer o pequeno-almoço?

- Porquê o ar cético? - Ele sorriu. Já não o via a sorrir há algumas semanas e muito sinceramente, sabia bem.

- Nunca me fizeste o pequeno-almoço.

- Estou a fazer agora. - Voltou para a cozinha pequena onde cabia apenas ele.

- Então e o que é isto? - Questionei olhando em volta.

- Isto é onde nós vamos ficar. Os seus olhos azuis fitaram-me por segundos. - Bem, pelo menos até sabermos se estamos seguros.

Retomou a tarefa do pequeno-almoço e sentei-me na cadeira, cruzando as pernas seguidamente. O silêncio instalou-se novamente. Pelo menos até sabermos se estamos seguros. Eu sabia o que isso queria dizer. E apesar de não gostar da situação em que nos encontrávamos, eu sabia que bem lá no seu interior, permanecia a pessoa pela qual me apaixonei. Por esse mesmo motivo, eu acompanhava-o para todo o lado. Ele aproximou-se e colocou o tabuleiro em cima da mesa, exibindo um sorriso orgulhoso depois.

- Que tal? - As covinhas formaram-se nas suas bochechas quando o seu sorriso se esgaçou. Admirei tudo.

- Está fantástico, Isaac. Obrigada.

Sorri-lhe e ele apenas assentiu. O azul dos seus olhos tornou-se mais intenso. Bebi um pouco do sumo de laranja e depois traguei um pouco das tostas com bacon. Sabia maravilhosamente. Isaac apenas me fitava um tanto hesitante, o seu olhar agora sério. Assim que terminei, passei o guardanapo pelos lábios limpando-os e cruzei as mãos em cima da mesa.

- Estava bom?

- Estava maravilhoso. - Ele fitou as minhas mãos e sorriu.

- Thea... - Aguardei pelo que viria. Achei que já estava a ser uma manhã demasiado perfeita. - Eu só te queria pedir desculpa pelo que aconteceu ontem. Eu... Preocupo-me contigo. Embora não o demonstre como devia. Ou não o demonstre de todo. - As suas mãos suaves afagaram os meus braços e senti-me arrepiada com o seu toque.

- Eu sei que tu te preocupas. - Fiz uma pausa para fitar os seus dedos grossos. - Mas não o demonstrares, por vezes faz-me pensar que sou um fardo para ti. - As suas sobrancelhas uniram-se em desaprovação.

- Pensas mesmo isso?

- É como me sinto quando me tratas com frieza. - Os nossos dedos entrelaçaram-se, porém o seu olhar permanecia fixo em mim. Continuei a observar as nossas mãos, afagando suavemente a palma da sua mão com o meu polegar. Ele permaneceu em silêncio e ergui o meu olhar, para ver os seus olhos azuis agora cobertos de culpa.

- Não fazia ideia que te sentias assim. - O seu tom de voz saiu grave.

- Sinto e magoa-me imenso quando tu te afastas de mim sem motivo. Estamos juntos e embora eu saiba que não é fácil, isto pelo que estamos a passar, o objetivo é apoiarmo-nos.

Ele levantou-se e aproximou-se de mim, puxando-me agora pelas mãos. Os nossos corpos colidiram em necessidade e Isaac encostou-me à parede, fitando-me intensamente. Passou o polegar pelos meus lábios e depois beijou-os fugazmente. Entrelacei os meus braços no seu pescoço enquanto aprofundava o nosso beijo. As nossas línguas brincavam e soltei uma risada quando ele colocou as mãos nas minhas coxas, elevando-me. Entrelacei as pernas na sua cintura e ele suportou o meu peso, até à cama de solteiro onde ambos cabíamos, apesar de apertados. Ele deitou-se por cima de mim e beijou o meu pescoço, tirando a minha camisola rápida e desajeitadamente. Beijou o meu corpo necessitadamente enquanto arranhava as suas costas suavemente, incentivando-o a continuar. Quando nos livramos de todas as roupas, Isaac beijou-me e sussurrou-me ao ouvido: Eu amo-te.

***

Passaram-se dois meses e o Inverno já se encontrava aqui. As chuvas e os ventos fortes presenciavam-nos praticamente todos os dias, porém maioritariamente nevava. Gostava de ver a neve a cair. Existia uma certa serenidade que me confortava e era capaz de permanecer sentada à janela por longas horas, apenas a observar os pequenos flocos de neve a cair. Subitamente bateram à porta estrondosamente. Olhei para a mesma assustada, temendo o pior. O meu olhar assustado, encontrou-se com o cauteloso de Isaac enquanto ele caminhava para a porta. Ele gesticulou-me o silêncio e disse para me esconder. Olhei em volta e corri rapidamente para debaixo da cama, aguardando que nada de mal acontecesse a Isaac. Sabia que não valeria a pena ripostar ou dizer-lhe que não valia a pena esconder-me, por isso fiz apenas o que ele me pediu. Conseguia apenas observar o seu par de sapatilhas Nike pretas a caminharem lentamente em direção à porta.

- Isaac abre a porta! - Engoli em seco quando a voz grave soou do exterior da cabana, porém vi-o a abrir a porta. Permaneci debaixo da cama, tentando controlar a minha respiração até que ouvi a sua voz.

- Thea? Está tudo bem, podes sair. - Quando me levantei presenciei uma cara familiar e que já não via há imenso tempo.

- Brandon. - O meu sorriso cresceu e caminhei na sua direção, apertando-o num abraço. Os seus braços fortes envolveram o meu corpo esguio e sorri, encostando a cabeça ao seu peito. Ele deu um abraço a Isaac e umas palmadas nas costas.

- Onde estiveste até agora? - Ele questionou. Brandon fitou-nos com os seus olhos verdes. Estava diferente. O cabelo negro estava maior e podia também jurar que se encontrava mais entroncado. Deixara a barba crescer também. Porém o seu sorriso continuava genuíno.

- A tentar encontra-vos. - Ele entrou dentro da cabana e retirou o seu casaco de cabedal preto. Pendurou-o no bengaleiro e depois fitou-nos. - A questão é onde é que vocês estiveram? Procurei em todos os lugares que me disseste para procurar.

- Então vieste em sentido contrário. - Isaac cruzou os braços. - Decidimos optar por esta cabana. Não deve ter sido fácil, encontrá-la.

- Não foi. A vossa sorte é que eu sou demasiado bom nisto. - Murmurou um tanto presunçoso. Ri-me. - Estás diferente, Thea.

- Isso é bom?

- É. Pareces feliz.

- Eu estou feliz. - Troquei um olhar hesitante com Isaac, mas quando meio sorriso se formou nos seus lábios, permiti-me a sorrir também.

- Brandon.

Isaac chamou e ambos seguiram em direção ao quarto. Sei que eles tinham muito para falar, por isso mantive-me apenas em silêncio. Caminhei outra vez até à janela, sentando-me no banco de madeira, apreciando o céu. Os pequenos flocos de neve continuavam a cair. Por algum motivo, lembrei-me do meu pai. Lembro-me da dor no seu olhar quando lhe disse que teria de partir e que talvez nunca o voltaria a ver. Lembro-me das lágrimas que ele contivera e das suas últimas palavras, antes de sair pela porta fora, com as malas atrás de mim. "Se saíres por aquela porta, podes esquecer que tens um pai."

E assim o fiz. Apesar de ter doído como se me arrancassem o coração do peito, eu segui em frente. Nunca poderia esquecer todas as memórias, nem que ele me criara quando a minha mãe faleceu, após o meu parto. Porém talvez fosse este o meu destino. Conhecer Isaac, abandonar o meu pai por ele, tentar ter uma vida diferente da que realmente teria em MaryPort. Abanei a cabeça, deixando que o pensamento de o abandonar ficasse fechado a sete chaves no meu subconsciente.

Ao olhar para a porta, apercebi-me que a mesma não se encontrava fechada e ambos falavam um tanto alto. Aproximei-me lentamente, tentando não fazer nenhum ruído. Espreitei pela brecha da porta e o ar preocupado de Brandon, deu-me a entender que ele não tinha andado apenas à nossa procura. Algo o preocupava.

- Estivemos tanto tempo à tua espera, onde raio te meteste? - Isaac parecia furioso.

- Já te disse.

- Tretas. - Isaac vociferou, apontando-lhe o dedo. - Estiveste com aquela gaja, não foi?

- Ela tem nome. - Brandon ripostou. - É Carrie-Anne.

- Quero ver quando eles descobrirem sobre ela, o que lhe vai acontecer.

- Não lhe vai acontecer nada. Eu sou cuidadoso, ao contrário de ti. - Isaac olhou-o novamente, com a raiva expressada no seu rosto. Poderia reconhecer aquele olhar em qualquer altura. Já o vira demasiadas vezes.

- Vai à merda, Brandon! - Quando Isaac estava prestes a virar-lhe as costas, Brandon falou novamente.

- Não gostas de o ouvir? - Ele parou e respirou fundo, controlando-se. - Sabes que é a verdade! Mas como ninguém to diz, achas que podes fazer tudo o que quiseres com ela.

Sem pensar duas vezes, Isaac virou-se e esmurrou-o no rosto. Brandon perdeu o equilíbrio, recompondo-se rapidamente e ripostando. Ambos caíram no chão, esmurrando-se e entrei dentro do quarto apressadamente.

- Parem! Parem com isso! Os dois, já! - Apesar dos esforços eles não me ouviram. - Isaac!

O seu olhar encontrou o meu por segundos e ele empurrou Brandon de cima dele, utilizando todas as suas forças. Dirigiu-se a mim com o olhar repleto de ódio e murmurou:

- Não devias estar aqui.

- Eu ouvia-vos lá fora, o que querias que fizesse? Ignorasse? É suposto nos mantermos unidos! Já não basta o inferno pelo qual estamos a passar? - Olhei para ambos, porém nenhum dos dois falou. - Brandon, tu podes dar-nos um minuto? Preciso de falar com o Isaac.

- Não temos nada para falar.

Saiu da minha beira bruscamente e suspirei. Sabia que toda esta doçura estava a ser demasiado boa para ser verdade. Permaneci ali quieta e ouvi a porta da rua a bater com força. Fechei os olhos com o embate.

- Thea... - Brandon murmurou após alguns segundos em silêncio.

- Não. - Virei-me para ele e o seu lábio encontrava-se ensanguentado. O seu sobrolho também tinha um lanho. - Vamos desinfetar isso antes que fique pior.

Dirigi-me à casa de banho, abri a farmácia e tirei de lá água oxigenada e algodão. Brandon seguiu-me e ficou à porta, com os braços cruzados. Não pude deixar de reparar nas cicatrizes que revestiam os mesmos, assim como as marcas deformadas na sua pele. Embebi o algodão com o líquido transparente e apontei-lhe o tampo da sanita.

- Senta-te.

- Estás a gozar, certo? - Ele arqueou o sobrolho. - Consigo fazer isto sozinho. - Bastou apenas olhá-lo. Ele suspirou e sentou-se seguidamente.

- Estou habituada a tratar das feridas do Isaac. Acho que é bom variar um pouco, visto que tu não ficas furioso quando toco no sítio errado. - Pressionei o algodão contra o seu sobrolho e ele uniu as sobrancelhas em desaprovação.

- Thea...

- Não tens de dizer nada, Brandon. Eu estou habituada a lidar com o Isaac.

- Porque é que ainda estás com ele? - Aquela questão foi tão súbita que me apanhou completamente desprevenida. Fitei-o durante alguns segundos, esperando que ele reformulasse a frase.

- Porque o amo.

Respondi simplesmente. O silêncio instalou-se entre nós e assim que terminei, coloquei-lhe um penso no sobrolho, deitando o resto ao lixo. Dirigi-me até à pequena sala, onde cabia apenas um sofá velho e uma televisão antiga. Senti o peso ao meu lado e olhei-o.

- Eu ouvi a vossa conversa.

- Eu sei. - Voltei a fitá-lo, mas ele não me olhou de volta. - E sabes que o que eu disse é verdade. Ele não te valoriza. Ele é meu primo Thea, mas mereces melhor. O Isaac sempre foi assim.

- Eu deixei tudo por ele. - Balbuciei. - Os estudos, os poucos amigos que tinha, o meu pai. Abandonei tudo para poder ficar com ele. - Entrelacei os meus dedos finos e observei as minhas unhas mal cuidadas. - Achas... Que algum dia ele me vai deixar?

Brandon não me respondeu. O seu silêncio era a resposta que eu precisava. Assentindo com a cabeça, puxei as pernas para cima e repousei o queixo nos joelhos. Virei a cabeça para o lado, apoiando agora a bochecha nos joelhos e deixei que uma lágrima caísse.

*

- Eu vou à procura dele. - Afirmou, vestindo o casaco.

- Deixa-me ir contigo, Brandon. Não quero ficar aqui sozinha. - Admiti quando ele ia sair pela porta fora. Ele voltou a fechá-la e aproximou-se.

- Thea, não te vou levar comigo, ele ia passar-se. Eu levo o meu telemóvel. Qualquer coisa, tu podes ligar-me e eu venho o mais rápido que puder. Aqui estamos seguros.

- Brandon? - Ele voltou a olhar-me. - Trá-lo de volta. Por favor.

Ele assentiu e fechou a porta. Senti a temperatura a descer e atirei-me para cima da cama, enroscando-me com o cobertor. Sentia tanta falta do Isaac. A verdade é que não nos conhecíamos apenas há dois dias. Tinham sido quatro anos intensos, mas eu amava-o acima de tudo. E apesar de não ter a certeza, se ele sentia o mesmo por mim, não conseguia acostumar-me à ideia de o ter longe de mim. Passou-se uma semana desde que ele saiu daqui e sentia-me a desfalecer aos poucos. Restavam apenas as memórias, mas eu vivia de momentos. De que serviam as memórias, senão para nos causar mais dor?

Ouvi passos no exterior. Os passos na neve, alguém a tossir. Levantei-me apressadamente, sentindo a esperança a voltar. Apesar de Brandon ter saído daqui apenas há cerca de vinte minutos, o Isaac poderia ter voltado. Talvez sentisse tanto a minha falta como eu sinto a dele.

Caminhei até à porta, pronta para a abrir, quando vi a sombra que vagueava no exterior. Se fosse o Isaac ele bateria à porta. Abri um pouco a cortina e observei. Alguém coberto por um casaco negro com um carapuço a tapar a cabeça rondava a casa e comecei a sentir o medo a tomar lugar. Baixei-me e gatinhei até ao quarto, abrindo a gaveta desajeitadamente e tirando do interior a arma de Isaac. A minha respiração tornou-se mais acelerada, quando a maçaneta da porta soou. Estavam a tentar abrir a porta e eu estava aqui, sozinha. Completamente sozinha.

Gatinhei rapidamente para dentro do armário da cozinha e a porta da rua abriu-se.

Tapei a boca com a mão, impedindo que a minha respiração me denunciasse e tentei acalmar-me.

Eles vieram à nossa procura. Como prometeram que ia acontecer quando fugimos. "Vamos encontrar-vos. E quando o fizermos, vão arrepender-se de não me terem dado o que eu queria."

O meu telemóvel começou a tocar. Merda! Esquecera-me dele no bolso do meu casaco e amaldiçoei-me a mim própria. Abri uma brecha da porta do armário e a pessoa entrou no quarto. Isso deu-me oportunidade de sair dali e se queria fugir, era agora ou nunca. Ao sair do interior do armário, bati com o pé contra o mesmo o que fez um pequeno baque.

Tinha a certeza que tinha sido o suficiente para me denunciar.

- Oh Thea. - A voz masculina que soou enregelou-me até aos ossos. Reconheceria a qualquer altura e apanhou-me de surpresa. De todas as pessoas, nunca pensei nesta. - Eu sei que estás aqui. E sozinha. Que descuido do Isaac. - O sarcasmo era notável e continuei a gatinhar, escondendo-me atrás dos móveis. Estava apenas a dez metros da porta e se o apanhasse desprevenido, poderia correr para a floresta até chegar à auto-estrada. - Ou será que finalmente se apercebeu que és um fardo para ele e te deixou ficar, hum? - O som de algo metálico soou e estremeci. - Podes aparecer. Eu não te vou fazer mal. Só quero saber onde é que ele está.

Era agora ou nunca. Levantei-me rapidamente e corri até à porta. Ainda ouvi um tiro, mas como não me atingiu continuei a correr desalmadamente. Quando chegasse àfloresta, pelo menos as árvores dar-me-iam cobertura.

Mais dois tiros soaram. Corri o mais rápido que pude, afastando ramos e calcando a neve gelada. Os meus pés descalços enterravam-se na neve e isso dificultava a minha corrida, mas não podia parar. Caí de joelhos mas levantei-me rapidamente sem me importar com o facto de estar toda molhada. O frio era cortante e o meu corpo tremia involuntariamente, porém a corrida fazia o meu sangue borbulhar assim como o desespero. Não ouvia passos atrás de mim mas não iria verificar. Sentia-me com demasiado medo sequer para parar, ou pensar. Neste momento desejei estar em minha casa, com a lareira acesa a beber chocolate quente. Era o que fazíamos todos os Natais. Apesar de o meu pai não ser das melhores pessoas do Mundo, ele era meu pai.

As minhas pernas começavam a ficar cansadas, o meu coração batia a mal à hora e o meu corpo começava a falhar. Deixei-me cair de joelhos novamente, mas desta vez não me levantei. Tinha de mentalizar que a última vez que vira Isaac, ele me olhara com ódio. E talvez fosse assim que ele me tivesse visto desde sempre. Que me tenha usado apenas para se satisfazer e nunca me amou.

Quando achei que a esperança tinha desvanecido, ao longe vi uma cabana. As luzes encontravam-se acesas, e por momentos pensei ser um devaneio. Esfreguei os olhos à medida que me levantava e apercebi-me que era a pura realidade. Os meus pés tornaram-se roxos devido ao frio e comecei a andar rapidamente, apesar de mal os sentir.

Justamente quando estava a chegar senti algo a perfurar a minha pele e soltei um grito. A dor foi dilacerante e o meu corpo foi de encontro direto contra a neve gelada. Tentei levantar-me, porém desta vez não tinha força para isso. A minha visão tornou-se turva e virei-me, observando o céu entre as árvores despidas. Vi os flocos de neve a caírem calmamente em cima de mim, e fechei os olhos por um pouco. A dor começava a desvanecer e quando abri os olhos novamente, foi o rosto de Isaac que surgiu.

- Isaac... Eu... Eu...

- Bons sonhos, boneca.

A voz não era a de Isaac e a visão desfocada não me permitia ver mais. Foi quando senti o último tiro a penetrar na minha testa e a vida a abandonar o meu corpo.

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