SWEET DREAMS - LIVRO 1 ✓

By Ruthfreckles

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( LIVRO 1 DA TRILOGIA ) Charlotte Jones era apenas uma menina quando uma tragédia aconteceu e foi levada para... More

Informações.
este livro é para ti.
1 - d o g d a y s a r e o v e r
2 - m e m o r i e s
3 - v i c t i m s o f l o v e
4 - s h o t i n t h e d a r k
5 - d i e t m w t d e w
6 - s a y g o o d b y e
7 - s t a y
8 - c r i m i n a l
9 - a l l a b o u t u s
10 - s e c r e t s
11 - r u n
one-shot: a l l a b o u t u s ( scarlet & harry )
12 - s a c r i f i c e
13 - f r i e n d o r f o e
14 - w e s h o u t
15 - t o y s o l d i e r s
16 - all t h a t e a s y
17 - a p r o m i s e
18 - n o t g o n n a g e t u s
20 - m i r r o r
one-shot: c u t ( isaac & thea )
21 - l o s t c a u s e
22 - d e a r a g o n y
23 - 4 a m f o r e v e r
Beautiful Nightmare.
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19 - s a f e a n d s o u n d

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By Ruthfreckles

Para não ficarem confusas, o POV do Harry é a continuação da One-shot "All About Us." x

Capítulo 19

Just close your eyes
The sun is going down
You'll be alright
No one can hurt you now
Come morning light
You and I'll be safe and sound

Safe & Sound - Taylor Swift

Percorríamos uma estrada vazia há cerca de duas horas. Tudo o que via era apenas a luz dos faróis a incidir no asfalto. A noite caíra rapidamente e recostei a minha cabeça, olhando pela janela na esperança de conseguir ver algo mais do que a estrada. Pequenas gotas começavam a cair no para-brisas e isso rapidamente se tornou numa chuva intensa. O céu, cinzento e escuro não permitia que visse as estrelas esta noite, então esfreguei os olhos e coloquei a mão à frente dos lábios, bocejando depois. Fixei-me em Zayn que conduzia silenciosamente. O seu maxilar contraído indicava-me que se passava alguma coisa, porém ele não me diria nem que insistisse com ele. Um pequeno sorriso surgiu nos seus lábios, mas desvaneceu tão rápido quanto surgira.

- Estás bem? - Questionou. O cansaço era patente na sua voz.

- Uhum. - Murmurei apenas, sentindo a súbita necessidade de me espreguiçar.

- Penso que é melhor pararmos num motel ou assim para passarmos a noite. Ainda nos faltam três horas de viagem e começo a ficar cansado.

Concordei, apenas com um aceno e ele voltou a fixar-se na estrada vazia. O resto da viagem foi feito em silêncio e observei apenas a forma das árvores em contraste com o céu escuro, até que luzes brilhantes apareceram indicando um motel intitulado de Motel 6 e as luzes que coloridas destacavam-no. Zayn estacionou no exterior e saímos do jipe levando as malas connosco para o interior. O balcão encontrava-se vazio e não era de admirar visto ser uma e meia da manhã, porém quando Zayn tocou à pequena campainha que se encontrava ali, apareceu um homem. Tinha muito mau aspeto, os seus cabelos desgrenhados e compridos, cigarro no canto da boca e uma camisola cabeada coberta de sujidade. Ele olhou-me de cima abaixo e sorriu, porém Zayn apercebeu-se disso e puxou-me para ele.

- Tem quartos disponíveis?

O homem olhou-o com desdém e virou costas, pegando num porta-chaves vermelho com o número 10 escrito no mesmo e uma chave apenas, entregando-a. Ele pagou e depois voltamos a pegar nas malas, caminhando para as escadas que davam acesso aos quartos. Assim que vimos o nosso quarto, entramos e senti-me um tanto surpreendida com a limpeza do mesmo. Era um quarto um tanto acolhedor, apesar de não ter televisão, pelo menos tinha aquecimento o que nos garantiria uma boa noite de sono. Pelo menos assim o esperava.

- Sei que não é o melhor, mas serve apenas por hoje. - Assenti e Zayn pousou as malas perto da mesa-de-cabeceira, fechando a porta à chave. Colocou o porta-chaves no bolso do seu casaco e dobrou-o em cima das malas.

- Vou trocar de roupa.

Remexi nas malas e retirei o único pijama que trouxera dirigindo-me à casa de banho. Era pequena e mal havia espaço para o chuveiro que se encontrava ali. Fechei a porta e olhei-me ao espelho durante alguns segundos. Depois retirei as roupas sentindo o súbito frio que provinha das brechas da pequena janela preta. Apressei-me a vestir o pijama, amarrei o cabelo e saí. Zayn encontrava-se em tronco nu e de boxers negros. Estaquei à porta e ele olhou para trás, vestindo uns calções cinzentos largos com naturalidade.

- Vais ficar aí? - Questionou agora virando-se para mim. Engoli em seco e vê-lo assim, afetava-me sempre. As suas cicatrizes distribuídas por todo o seu corpo eram maioritariamente cobertas pelas suas tatuagens, porém não eram as suficientes para as tapar a todas.

- Não... Vou deitar-me. - Ele permaneceu aos pés da cama e puxei os lençóis para trás, deitando-me e cobrindo-me. Zayn afastou os lençóis dele e deitou-se ao meu lado.

- Eu compreendo que estejas magoada. - A sua voz soou e desejei que ele fechasse apenas os olhos e dormisse.

- Foi tudo muito repentino... - Murmurei. - Eu não queria vir embora.

- Eu sei. - O silêncio voltou a instalar-se e virei-me para ele. Encontrava-se de barriga para cima a fitar o teto, enquanto os seus pensamentos vagueavam.

- Zayn? - Ele olhou para mim, chegando-se para baixo na cama. - Podes abraçar-me? - O seu ar compreensivo surgiu e ele aproximou-se de mim, deitando-se de barriga para cima novamente enquanto me puxava ligeiramente. Descansei a minha cabeça no seu peito enquanto ouvia o seu batimento cardíaco. - O teu coração está a bater muito rápido. - Ele deu uma risada.

- É por estar contigo.

Ergui a minha cabeça para o olhar e puxei o meu corpo para cima, chegando ao seu rosto. Ele virou o seu e encostou os seus lábios aos meus, beijando-me após alguns segundos. Ergueu o seu corpo e elevou as minhas mãos para cima, depositando o peso do seu corpo sobre o meu. Encaixou-se no meio das minhas pernas e entrelacei-as em torno da sua cintura enquanto ele me beijava delicadamente, permitindo que as nossas línguas brincassem. Elevou as minhas mãos para cima da minha cabeça, prendendo-as apenas com uma das dele, enquanto a outra percorria o meu corpo lentamente. Ele parou de me beijar os lábios e passou para o pescoço, causando pequenos arrepios em todo o meu corpo. Ele mordia suavemente e depois a sua língua passava por lá, o que fez com que soltasse um pequeno suspiro. Sentia-me um tanto envergonhada e confusa com tudo, porém estava a gostar de estar assim com ele. Ele foi descendo ligeiramente, soltando agora as minhas mãos e distribuiu beijos pelo meu maxilar. Depois subiu beijando os meus lábios suavemente. Ele soltou um pequeno suspiro porém quando colocou as mãos por dentro da minha camisola, parei de o beijar.

- Zayn, eu...

- Desculpa. - Pediu imediatamente, afastando-se.

- Não tens de pedir desculpa. - Sentei-me na cama, vendo-o a levantar-se e a permanecer ao fundo da mesma.

- Não estás preparada e eu estou a pressionar-te. - Levou as mãos aos cabelos e puxou-os para trás. Levantei-me e caminhei até ao seu lado, segurando o seu rosto nas minhas mãos.

- Não me pressionaste a fazer nada. - Senti a minhas bochechas a arderem. - Eu gostei... - Ele olhou-me como se tivesse cometido o pior crime do Mundo e depositei um beijo suave nos seus lábios. - Prometo.

Entrelacei os nossos dedos e puxei-o até ambos nos deitarmos na cama desconfortável e baixa. Repousei a cabeça no seu peito e cerrei os olhos, esperando que o sono amenizasse os meus pensamentos.

***

Os fracos raios de sol penetraram pelos espaços que a cortina castanha não tapara, o que me fez abrir os olhos lentamente. O outro lado da cama estava vazio e isso fez-me sobressaltar na mesma, olhando em volta. Levantei-me rapidamente e verifiquei que as malas e as roupas de Zayn continuavam no mesmo local de ontem, o que me permitiu voltar a respirar. O som da água a correr proveio da casa de banho e o alívio substituiu a preocupação que se formara no meu peito. Zayn saiu de lá de dentro, segundos depois com a escova de dentes na mão e um pequeno sorriso formou-se nos seus lábios.

- Bom dia. - Falou com normalidade.

- Bom dia. - Estiquei os braços num ato de preguiça.

- Estás bem? Estás pálida. - A sua mão livre afagou o meu rosto e as minhas pernas tremeram.

- Sim, estou. - Menti. - Estou apenas com fome.

- Já vamos tratar disso. - Ele entrou na pequena divisão, mas depois saiu. - Veste-te e arruma as tuas coisas na mala. Mal acabemos de comer alguma coisa, vamos continuar.

Assenti apenas e ele fechou a porta, dando-me assim a privacidade que necessitava para trocar de roupa. Ao olhar para o exterior apreciei a paisagem que ontem eram apenas umas meras sombras e escuridão. Os ramos das árvores quase despidas abanavam com o som do vento e o mesmo anunciava a sua presença. O céu era rasgado pelas montanhas no fundo do plano e como as mesmas eram belas. Parecia que iria nevar em breve e isso apenas dificultaria a nossa chegada à Escócia. E pensar nisso, relembrou-me do Evan e da nossa despedida. Virei costas para a janela e vesti uma camisola cabeada, e uma de lã por cima. Despi as calças de pijama, atirando-as para cima da cama e trocando-as por um par de jeans. Após calçar as meias e as botas, vesti um casaco e dobrei a roupa. Zayn abriu a porta lentamente e espreitou, o que me fez sorrir.

- Já podes sair.

Ele encontrava-se com o cabelo molhado agora porém já saíra de lá vestido. Arrumou o que pousara em cima da mesa-de-cabeceira dentro da sua mala e depois pegou nas mesmas, levando-as em direção à saída. Olhei para trás, apenas verificando se não nos esquecêramos de nada e fechei a porta, colocando o porta-chaves no bolso do meu casaco. Acompanhei-o até à saída, ficando na porta enquanto o via a guardar as malas na bagageira do jipe e depois trancou-o, voltando para dentro seguidamente. Caminhamos em direção ao bar onde se encontravam apenas dois casais e nem pareciam ser muito afetuosos. Comiam em silêncio e com olhares opostos. Zayn pediu para nós e sentei-me ao lado de uma janela grande que oferecia uma vista fantástica para o exterior.

Ele aproximou-se e colocou o tabuleiro à minha frente com dois croissants, dois pacotes pequenos de manteiga e um sumo de laranja. Senti-me grata.

Quando terminamos, deixamos ali os tabuleiros e depois Zayn estacou completamente. Embarrei contra ele, olhando na direção em que o seu olhar se direcionava. Uma rapariga com estatura mediana, cabelos castanhos formados num ondulado bonito, olhos verdes brilhantes e lábios revestidos por um lip-gloss brilhante caminhava na nossa direção, porém o seu olhar fitava o chão e não Zayn. Quando ela olhou para cima, o pequeno sorriso que portava nos seus lábios, foi substituído apenas pelo choque e fitei ambos, tentando perceber o que estava a acontecer ou quem era aquela rapariga. Ela parou no meio do corredor, como se tivesse receio de continuar a andar porém não fugiu. Permaneceu ali até que reagiu. As suas mãos cobriram os seus lábios e quando as removeu, ela estava a sorrir. Caminhou rapidamente e no momento seguinte ela e o Zayn estavam abraçados. Afastei-me ligeiramente, ainda confusa com o que acabara de acontecer e a sua voz delicada soou.

- Não posso acreditar no que vejo! Zayn Malik?

- Alexis. - Ele sorriu e ela cruzou os braços, visivelmente aborrecida. - Está bem, Lexi. O que é que estás aqui a fazer? - O seu sorriso voltou e os seus olhos verdes brilhavam mais que nunca.

- Eu... Estou com uma amiga. - Lexi passou a mão pelo cabelo e olhou em volta. - Mas a questão é o que tu estás aqui a fazer? - Como se tivesse apercebido da minha presença, ela olhou-me de cima abaixo e limitei-me a baixar o olhar. Senti a mão de Zayn no meu ombro e olhei-o. - Oh... Estou a ver. - Ela sorriu sugestivamente.

- Lexi, ela é a Charlotte. Nós... Vamos passar uns tempos à Escócia. - Apressou-se a cumprimentar-me com dois beijos e depois sorriu maravilhada.

- Olá, sou a Lexi. Prima do Zayn. A melhor e única. - O que ela disse fez-me sorrir. Assenti apenas, murmurando o meu nome apesar de ela já o saber.

- Claro. - Denotei um tanto de ironia no seu tom de voz e Lexi empurrou-o ligeiramente. - Então e a tua amiga? - O seu ar tornou-se sério e ela deu um passo para trás.

- Ela está no quarto ainda... É difícil acordar a Anne.

- Anne, hum? - Ele ponderou.

- Sim, andei com ela na escola lá em Nottingham. O que saberias se tu não tivesses passado três anos sem me vires ver. - Zayn suspirou.

- Lexi, nós precisamos de falar.

O seu olhar ficou sério e ela olhou em volta apercebendo-se que agora começavam a chegar mais pessoas e talvez não fosse o local mais apropriado. Dirigimo-nos para a saída e pousei o porta-chaves no balcão da receção que se encontrava vazia. Eles já se encontravam lá fora um tanto distanciados do jipe. Aproximei-me lentamente, encostando-me ao mesmo e o tom de voz de Lexi elevou-se.

- Já devias saber que não adianta mentir-me, Lexi.

- Tu não ias perceber, nem mesmo que eu te explicasse!

- Já chega dessas merdas. - Ele tentou manter a calma porém apercebi-me que isso estava a ser uma tarefa complicada para ele.

- Nunca posso fazer nada porque tu, senhor sabichão acabas sempre por saber de tudo. De tudo!

- Só o vou repetir mais uma vez e tu vais ouvir-me. Volta para Bradford, avisa o Harry e a Scarlet para irem para Blackpool para a beira da Naomi e da Bri. Diz-lhes para eles ficarem lá.

- Porque não lhes dizes...

- Não me faças falar de novo, Lexi. Faz as tuas malas e vai. - Interrompeu-a.

- Mas eu...

- Agora.

Perturbada e com as lágrimas a revestirem os seus olhos, caminhou apressadamente para o interior e observei-a com pena. Ele respirou fundo, exalando um fumo branco devido ao frio, dos seus lábios e depois caminhou em direção ao jipe. Não disse uma palavra, apenas abriu a porta do mesmo, sentou-se no lugar do condutor e voltou a fechá-la. Repeti o ato e após colocar o cinto, ele ligou o motor e fez marcha atrás, observando a estrada pelo retrovisor.

Permanecemos em silêncio e sabia que nos faltavam muitas horas para chegarmos ao destino.

***

Começara a chover e o silêncio era o que dominava no interior do jipe. Virei-me de costas para Zayn pensando no que Lexi deveria estar a sentir, enquanto ia para Bradford. Certamente não podia conduzir, talvez quem estivesse realmente com ela a levasse até lá. Zayn fora tão impulsivo e lembrar-me de olhar destroçado dela causou-me um aperto no peito. As gotas batiam fortemente contra o para-brisas enquanto as escovas as afastavam, permitindo assim a visão da estrada vazia. Não existia civilização por ali, nada onde pudéssemos recorrer para o caso... Interrompi os meus pensamentos e olhei para as gotas que eram empurradas com o vento, forçando-as numa pequena corrida até darem lugar a outras. E a chuva cada vez caía com mais força. Eu gostava de ver e de a ouvir. Proporcionava-me conforto e o cheiro da terra molhada era agradável. Após mais alguns minutos de viagem, Zayn abrandou o carro e sentei-me corretamente para observar uma cabana isolada. Fitei-a e o súbito fascínio fez com que um pequeno sorriso crescesse nos meus lábios. Zayn, por sua vez, continuou com a expressão dura no seu rosto e entendia o motivo. Ele não gostou do que fez a Lexi, mas deveria ter razões maiores, pelo menos assim o pensava. Estacionamos à frente da cabana que parecia um tanto acolhedora com um pequeno alpendre, uma mesa e cadeiras em redor da mesma a levarem com a chuva em cima. Era grande, pelo menos o exterior assim o demonstrava. Zayn abriu a porta do carro e dirigiu-se à bagageira para retirar as nossas malas. Ajudei-o e corri para o alpendre, abrigando-me da chuva. Por algum motivo ver Zayn a correr para se abrigar ao meu lado com as malas fez-me rir e um sorriso esboçou-se nos seus lábios.

- Vamos entrar?

Ele colocou uma mão no fundo das minhas costas, enquanto rodava a chave na fechadura com a outra. O interior era acolhedor apesar de estar um pouco frio. Olhei em volta apercebendo-me do quão grande era e pousei as malas no chão, perto do bengaleiro que se encontrava à entrada da porta. Zayn repetiu o acto e depois aproximou-se de mim, puxando-me pela cintura.

- Este lugar é especial.

- Porquê? - Questionei enquanto ele me fitava com os seus olhos castanhos intensos.

- Porque pertencia à tua mãe.

{Harry}

Ao ver o carro a desaparecer na estrada praticamente vazia, corri em direção a Scarlet que se encontrava estendida no chão. Ela não se mexia, não parecia respirar. Virei-a de barriga para cima e deitei a sua cabeça no meu colo, segurando o seu rosto desajeitadamente.

- Não me podes fazer isto, Scar. Não podes. Acorda!

O desespero fez-me olhar e volta e perceber que estávamos completamente sozinhos no meio do nada. Tinha de agir. Apressei-me a tomar o seu corpo inanimado nos meus braços, e vi poça de sangue que já se formara no chão, assim como a sua camisola manchada de vermelho vivo. O cheiro não me repugnou, só me importava a o bem-estar dela. Só me importava que ela não morresse nos meus braços. Deitei-a rapidamente no banco de trás e corri para o da frente, carregando a fundo no acelerador. A única solução seria voltar para Bradford, porém receei que ela não resistisse até lá. Olhei pelo espelho retrovisor e tentei controlar as lágrimas que salpicavam os meus olhos. O velocímetro marcava os cento e cinquenta quilómetros e só quis acelerar mais.

- Tu vais ficar bem, Scar. Eu prometo.

***

A placa a indicar que me encontrava apenas a cem quilómetros de Bradford surgiu e voltei a olhar para Scar. O rosto começava a perder a cor e comprimi os lábios. O misto de emoções só me fez acelerar mais e enveredei rapidamente pelas ruas que me levariam ao hospital mais próximo.

- Scar. Amor. - Chamei por ela, porém não houve qualquer reação da sua parte. - Por favor, não me faças isto. Tu tens de resistir. Eu sei que és forte o suficiente. Merda!

Parei mesmo em frente às Urgências e apressei-me a carregar o peso do seu corpo pelas escadas acima. As portas abriram-se automaticamente e gritei por ajuda. As enfermeiras que se encontravam ali apressaram-se a arranjar uma maca e retiraram-na dos meus braços, deitando-a ali.

- Senhor, o que aconteceu?

Ouvi a voz de uma das enfermeiras que se encontrava ali, porém a visão dela ali deitada, inanimada e completamente indefesa fizera-me estacar no tempo. Parei ali enquanto os via, a levarem-na para longe de mim.

Esperei horas. Caminhei impacientemente de um lado para o outro, aguardando por alguma notícia que fosse. A cada enfermeira ou médico que passasse eu perguntava por ela, porém ninguém me dizia nada. Quis entrar por lá dentro e garantir com os meus próprios olhos que ela estava bem. Ou que pelo menos iria ficar. Passaram três horas e ninguém me sabia dar uma informação sobre ela. Caminhei até à casa de banho e puxei os cabelos para trás num acto de desespero. Os meus olhos raiados pelo vermelho faziam com que o verde se destacasse e fitei o meu reflexo com ódio. Lavei o rosto violentamente e depois sequei-o com uma toalha de papel, deitando-a para o chão seguidamente. As minhas roupas estavam cheias de sangue. Sangue dela. E tudo isto fora devido a mim, porque eu não a conseguira proteger como disse que o ia fazer. Cruzei os braços e voltei a andar para a frente e para trás nos corredores, desesperando por qualquer informação sobre ela. Um médico caminhou na minha direção e aproximei-me rapidamente dele depositando uma mão no seu ombro, também o impedindo de sair de onde estava.

- O senhor está bem? - Ele questionou apoiando uma das suas mãos no meu ombro.

- Eu preciso de saber da Scarlet. - Afirmei determinado e os seus olhos castanhos examinaram-me.

- Acho que é melhor sentar-se, eu vou...

- Não quero sentar-me. - Olhei-o enfurecido. - Quero saber da Scar. Eu preciso de saber.

- Eu acho que é melhor...

- Merda, eu já disse o que quero! - Empurrei-o contra a parede e ele estendeu as suas mãos no ar, o pânico instalara-se no seu rosto. - Eu quero vê-la. Agora.

- Qual é o nome da paciente? - Ele balbuciou nervoso.

- Scarlet Marie James. Ela... Ela foi baleada, eu trouxe-a de carro mas não sei nada dela... Por favor, eu só preciso de saber como é que ela está. - Ao olhar para o lado, apercebi-me que os seguranças se aproximavam rapidamente e o médico apenas gesticulou com as mãos, impedindo que ambos avançassem.

- Você não pode ir ver ninguém nesse estado. - Ele falou e a vontade que crescia em mim de entrar pelas Urgências dentro surgiu. Porém se fizesse isso, não a encontraria como arranjaríamos ainda mais problemas. E eu estava cansado.

- Eu estou calmo. - Afastei-me com ambas as mãos no ar e um sorriso sarcástico. - Só quero ver a minha... Só a quero ver.

- Aguarde aqui.

Ele afastou-se lentamente, acelerando depois quando já se encontrava ao pé dos seguranças que se apressaram a aproximar-se e a prender as minhas mãos por trás das costas. Se eles não me deixassem ir ver a Scar, não iria parar até a encontrar. Continuei a olhar para o corredor na direção de onde o médico tinha ido, aguardando que ele voltasse e me desse a permissão para a ir ver. As pessoas que se encontravam ali olhavam-me com desdém e medo, pude reconhecer isso.

Alguns minutos depois ele passou pelas portas e caminhou na minha direção.

- A paciente já foi operada. - Aguardei hesitante e sentia o meu coração a bater tão fortemente contra o meu peito que estremeci ligeiramente. - Correu tudo bem. A bala foi removida e encontra-se fora de perigo.- Um alívio percorreu o meu corpo, foi como se conseguisse respirar normalmente de novo. - Eu não devia permitir que a visse...

Ele interrompeu-se e acenou para os seguranças que me empurraram, seguindo o médico pelos corredores fora. Todos os olhares se cruzavam com o meu e desejei apenas voltar a ver o brilho dos seus olhos azuis e a vida contida nos mesmos. Ele abrandou o passo e depois permaneceu em frente a uma das portas, irrequieto. Abriu-a lentamente e os seguranças soltaram-me, porém ficaram ali observando cada movimento que eu fazia. Ao vê-la deitada na cama com os olhos fechados e a tranquilidade no seu rosto, criou um misto de emoções. Caminhei lentamente até à sua beira e permaneci ao seu lado, observando o seu peito a subir e a descer consoante a sua respiração. Queria tocar-lhe, falar com ela, dar-lhe a entender que eu estava aqui. Mas e se isso fizesse mais estragos do que já tinha causado?

- Ela vai ficar bem não vai? - Troquei um olhar longo e desesperado com o homem de bata branca. Ele deu um passo em frente cuidadosamente, com uma distância de segurança.

- Ela e a... - Ouvi-a gemer baixinho. Os meus olhos encheram-se de esperança quando os seus dedos finos se mexeram devagar e os seus lábios se contorceram. Os tubos impediam com que ela se mexesse e segurei a sua mão delicadamente.

- Scar... - Ela forçou os seus olhos para se abrirem e quando o fez saltou na cama, afastando os lençóis e as seringas nos seus braços saíam bruscamente.

- Não me magoes por favor!

-Scarlet! Sou eu, o Harry. - Quando ouviu a minha voz ela acalmou-se e olhou-me com mais clareza agora. O médico aproximou-se rapidamente porém ela encolheu-se dele.

- Harry. Estás aqui. - Ela apertou as minhas mãos com força e quando ia esticar os braços na minha direção, um queixume de dor proveio dela e o médico apressou-se a deitá-la com calma.

- Tem de ficar calma, foi operada há pouco tempo e tem de ter cuidado. - Ele advertiu pressionando os seus ombros contra a cama, colocando agora todos os tubos e as seringas onde estavam antes. Os seus olhos agora indicavam a calma apesar de ela ainda estar um tanto confusa.

- Harry... - Entrelacei os meus dedos nos dela e depois afaguei o seu rosto. - O que é...

- Scar, tu levaste um tiro e perdeste imenso sangue. Foste operada mas felizmente, tu estás bem. E eu estou aqui contigo, não vou a lado nenhum. - Ela soltou a mão da minha e acariciou a sua barriga. Olhou para o médico com uma expressão assustada e fitei ambos. - O que se passa? Dói-te alguma coisa? - Scarlet não me respondeu, apenas me fitou com os seus grandes olhos azuis assustados e fitei o médico que se encontrava a metros de distância de nós. - Faça alguma coisa!

- Eu acho...

- Não. - Ela pediu. - Não. - Acenando negativamente com a cabeça, ele apenas assentiu.

- Vou dar-vos alguma privacidade. Os seguranças vão ficar aqui à porta, se fizer mais alguma não entra aqui dentro até ela sair. Espero que estejamos entendidos. - Assenti e vi-o a fechar a porta.

- Estás bem? - Aproximei-me dela e afaguei o seu rosto. Não conseguia descrever o que sentia agora que via que ela estava bem, agora que ela estava a falar comigo.

- Eu tenho de te contar uma coisa... - Falou lentamente como se ainda estivesse a processar tudo o que acontecera.

- Não, eu tenho de falar contigo primeiro. Scar, ouve... - Tomei o seu rosto nas minhas mãos e apercebi-me que apesar de ela dar a entender que era forte, era tão frágil e delicada. - Não sei como me podes perdoar por isto. O meu dever é proteger-te e tudo o que fiz até agora foi enterrar-te nas minhas merdas. Tu não mereces isso, muito pelo contrário. Mereces quem te faça feliz, quem te faça sorrir e quem saiba cuidar de ti. - Acabara de reparar que a sua cor começava a retornar ao normal e ela suspirou.

- Harry...

- Não vou deixar que nada te aconteça.

- Harry... Eu preciso de te contar uma coisa. - Ela hesitou por alguns momentos e depois de respirar fundo, olhou-me. - Eu estou grávida.

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