Narrador - 27 de abril, sexta feira
Henry fechou os olhos por um momento e os abriu novamente. Um suspiro.
O céu de Lumbras, escuro como de costume, chorava ainda. Agora um pouco menos. Era muito cedo, mal passava das sete da manhã.
Ele olhou a sua volta, os olhos castanhos dourados agora estavam negros como a noite, e o mesmo a olhava ali pela janela da torre mais alta do palácio. Ao respirar fundo, sentiu o cheiro de terra molhada.
As chamas das velas que iluminavam o local, falhavam com o vento, como sempre, tornando a noite mais sombria.
- Devia ir comer com seus irmãos. - Uma voz feminina disse ali na porta do local.
- Estou sem fome. - O jovem príncipe disse sem nem sequer encarar a garota.
Lyra mordeu o lábio inferior e suspirou. Adentrou no cômodo e se pôs ao lado do garoto. Seus olhos correram pela noite a fora, por cada prédio bem iluminado do centro de Lumbras.
- Eu só consigo pensar no que pode vir daqui para frente. - Henry disse baixinho. - Meu irmão ainda não chegou aos vinte. Isso quer dizer que Lumbras ficaria um ano ainda sem um rei, governada pelos anciões e o casal de Grão duques.
- E Lumbras precisa de um rei. Um rei a sua altura. - Lembrou a jovem.
O garoto a olhou pelo canto dos olhos.
- O que não é nem o meu caso, sejamos sinceros. - Seu tom de voz era firme.
- Mas é o que mais se aproxima dos três irmãos. - Lyra o lembrou. - Ou você espera que sua pequena irmã, Sophia, saiba dar ordens que vão além de querer doces e um bom livro antes de dormir? Hoje mais cedo, eu fui ajudar ela a se sentar na privada, devo fazer o mesmo a ajudando a se sentar no trono? - Às vezes Lyra se mostrava bem debochada, mas suas palavras em momentos assim, geralmente também eram carregadas de verdades.
Henry bufou não gostando das palavras que havia ouvido, mas sabendo do peso de cada uma delas. Ele era o mais velho, o mais preparado para assumir o trono.
Os olhos escuros de Henry encontraram os olhos verdes vibrantes de Lyra.
- Sabe que eu tenho razão, não sabe? - Ela perguntou erguendo uma de suas largas sobrancelhas vermelhas. - Eu sempre tenho.
Henry nada disse, preferiu mostrar o dedo do meio a ela que deu um meio sorriso e voltou seus olhos para Lumbras.
O vento soprou mais forte. Houve outro falhar de chamas atrás dos dois.
- Você está certa. - O príncipe sussurrou atraindo a atenção da garota novamente. - Lumbras precisa de um rei. Eu jurei ao meu pai cuidar daqueles que me importo. - Ele a encarou de volta. - E eu me importo com o reino. Eu irei ascender ao trono.
- E quanto a London? Eu sei que vocês gostam um do outro. Depois que se tornar rei, terá que manter o relacionamento de vocês em segredo. Lembre se que os reis só revelam seus casos quando entram em noivado. - Lyra o lembrou.
Henry pareceu hesitar por um momento antes de responder.
- London e eu temos assuntos muito pendentes antes desse. - Sussurrou com a mente perdida em pensamentos.
- Como o quê? - Lyra perguntou.
Henry mordeu o lábio inferior. Chegou a abrir a boca para responder mas parou ali mesmo quando notou uma movimentação lá embaixo, nos portões do castelo.
- Parece que temos notícias. - Lyra disse observando o mesmo que ele. Um mensageiro correu pela bela ponte entre o centro de Lumbras e o castelo.
- E parecem muito interessantes. - Henry disse subindo e ficando de pé logo em seguida na grande janela.
- Você pode parar de ser preguiçoso e descer as escadas como todos os outros fazem? - Lyra pôs as mãos na cintura e o fuzilou com os olhos.
Henry riu.
- Você tem é inveja porquê eu sou demais. - E com isso, sua forma mudou tornando se uma sombra que correu pela extensão da torre descendo rapidamente.
O mesmo parou no hall, pois se em sua forma original e esperou o mensageiro que entrou apressadamente.
- Meu jovem príncipe. - Disse o homem respirando acelerado depois de parar em frente ao garoto.
Henry encarou aqueles olhos azuis arregalados de ansiedade.
- O que nos traz esta noite, meu caro mensageiro?
O homem engoliu em seco e respirou fundo. Chegou a passar a mão em seu cabelo curto vermelho escuro que, assim como suas vestes negras, estava encharcado.
- Trago notícias grandes, muito grandes. - Disse respirando rapidamente. - Trata se de Luminas, meu príncipe. - E antes que o homem continuasse, Henry já sabia do que se tratava. - Uma luminiana foi vista na escola que o senhor frequenta.
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Era preciso esse cap pra não ficar um vácuo em relação ao Henry e vcs saberem que a notícia da London já corre por Aureatus.