Capítulo 43 - O Primeiro Azul

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Marnie Narrando - Na mesma sexta de manhã.

Sem comer nada, depois de vagar por metade da escola com o bafo de quem acabou de acordar e um cabelo desgrenhado, eu parei em frente a porta do quarto e pus a mão na maçaneta. Música de rock alta tocava dentro do quarto.

Com as sobrancelhas unidas, eu me afastei da porta dando uns três passos para trás e assim encarar o número ali no alto. Estava certo, era o meu quarto mesmo. Girei a maçaneta e entrei. Mais uma vez minhas sobrancelhas se uniram.

London estava apenas com uma blusa de alça preta que mal tampava seu traseiro, como estava sem sutiã, seus peitos balançavam enquanto pulava ao entrar no ritmo da música.

Olhei em volta e vi que a sala ao qual dividiamos estava arrumada mas pelo que eu podia ver do seu quarto pela porta aberta, esse estava uma bagunça completa.

- O que está acontecendo aqui? - Perguntei alto.

Ela então me viu mas não parou o que fazia, apenas se aproximou ainda pulando e sorriu para mim.

- Marnie! - Disse toda animada pegando minhas mãos e me balançando. - Vem, vamos dançar!
- Posso saber antes o porquê de tanta alegria? - Gritei.

Ela abriu mais o seu sorriso.

- Olhe lá fora! - e esticou o braço para a direção da janela. - O dia está lindo! A vida é linda!

Ainda mais confusa do que estava quando entrei, me soltei com certa brutalidade e dei um passo para trás. Isso atraiu sua atenção. Ela parou diante de mim e uniu as sobrancelhas.

  Em silêncio, caminhei em direção ao aparelho de rádio e o desliguei.

- O que foi, Marnie? - London perguntou sem entender nada. - Por que desligou o som?

Eu pisquei os olhos algumas vezes e respirei fundo.

- London, eu tenho uma boa e uma má notícia para te dar. Qual você quer ouvir primeiro?

Foi a vez de London piscar os olhos algumas vezes.

- An.. a boa.

- Jun acordou.

- Que bom, que bom! - Gritou pegando minhas mãos novamente e dando pulos no ar.

- Não, London, não. - Falei mais uma vez largando suas mãos. Ela se calou e me encarou.

- Por que não seria bom?

- Porque essa peste sumiu. - Falei por fim.

- Como assim?

- Eu não sei direito. Eu.. quando eu acordei, ele já não estava mais lá. - Respondi nervosa.

- Marnie, fica calma, ok? - E pos as maos em meus ombros. - Aposto que ele deve estar no quarto dele dormindo fazendo jus a preguiça que tem.

- Ele não está. Eu já passei no quarto assim como já passei por cada canto dessa escola onde sei que ele costuma frequentar. - Sussurrei. - Esse filho da mãe sumiu e eu vou matar ele quando o encontrar!

London suspirou.

- Okay. Vamos fazer assim: eu vou por um short, você vai pentear esse cabelo, nós vamos descer pra pegar algo no refeitório e comer enquanto vamos atrás dele.

- Tudo bem. - Concordei.

London assentiu com a cabeça e se virou para entrar em seu quarto. Eu estava prestes a fazer o mesmo mas meus olhos captaram algo. A observei juntar seu cabelo no alto da cabeça e assim fazer um coque enquanto caminhava.

- London, espere. - Pedi. Ela parou na entrada do quarto, se virou e me encarou. - Eu me aproximei e a fiz se virar. Olhei para seu cabelo mais uma vez para ter certeza do que via.

- O que foi? - Perguntou. - Tem algum bicho? - E passou a mão na parte de trás do cabelo.

- Não, mas você tentou fazer alguma coisa no seu cabelo?

- Não, por quê?

Ainda estava em dúvida do que eu via claramente. Cheguei até a passar a mão na parte debaixo dali seguindo com o dedo uma mecha que se misturava ao resto no alto.

- Isso.. isso não é possível. - Sussurrei.

- O que não é possível, Marnie? - Perguntou se virando e passando a mão na parte de trás do cabelo. Tenho certeza que ela fez o mesmo caminho ali ao qual eu tinha feito segundos antes.

- Olha, ou eu estou com sérios problemas nos meus olhos, ou seu cabelo está azul escuro na parte de trás.

- O quê? - Perguntou com a voz falhando.

Sentindo a supresa e o pânico tomar meu corpo, peguei meu celular no bolso da calça com as mãos tremendo, liguei a tela e abri o aplicativo da câmera.

- Se vira. - Pedi. Assim que ela o fez, eu tirei a foto e lhe puxei pelo ombro para se por de frente a mim mais uma vez. - Aqui. - E lhe dei o celular com a foto na tela.

Seu cabelo preto tinha uma mecha azul escura não muito grossa que nascia na parte debaixo da cabeça se misturando as outras no coque.

Silêncio. London não dizia nada, não demonstrava nada, nenhuma expressão, nenhuma pista de como se sentia.

De repente ela me dá o aparelho, solta o coque e entra em seu quarto, se põe de frente a sua penteadeira e puxa a mecha para frente enquanto se aproxima do espelho.

- Isso não é real, é só um sonho. Isso não é real, é só um sonho.. - Sussurrou pra si mesma repetindo isso mais algumas vezes.

- Isso não é um sonho, London. - Falei a fazendo me encarar. - Sua mãe ou seu pai eram..

- Não, Marnie. Não. - Falou já prevendo o restante de minha frase. - Meus pais morreram quando eu tinha dez anos mas eu lembro claramente da cor do cabelo deles. Meus pais eram Senhores do Tempo.

- Então como..

- Eu não sei. - Sussurrou passando a mão na mecha. - Eu não sei.

Suspirei.

- Espera. - London disse do nada. - O que é isso? - Perguntou ao pegar um pequeno frasco da penteadeira.

Foi aí que eu me lembrei da última noite. Eu tinha o deixado ali junto com um envelope depois de mamãe finalmente me convencer de o fazer.

"Não posso responder suas perguntas por agora mas confie em mim, Marnie." E me entregou o frasco com o envelope. "Deixe isto onde London o possa ver facilmente na sexta. Isso vai mantê la a salvo."

Esfreguei um lábio no outro ao lembrar dessas palavras. O que era o líquido dentro daquele frasco?

- Não é seu? - Perguntei para ela dando uma de quem não sabia de nada.

- Não. - Dise baixo. - Não é seu também?

- Não. - Respondi. - O que tem no envelope?

London pos o frasco de volta à penteadeira e pegou o envelope. Ao abrir, ela tirou dali um bilhete e o leu em voz alta:

- "Isso vai resolver o seu problema por um tempo. Dois goles duram cinco dias. Tome cuidado, não deixe que ninguém que não conheça bem saiba."

- Você.. você acha que.. ? - Eu não consegui terminar.

- Acho. - Respondeu. - Acho não, tenho certeza. Mas estou seriamente pensando em como alguém poderia descobrir antes de mim e me mandar isso.

-É uma boa pergunta. - Sussurrei. - E.. você vai.. tomar isso?

A essa altura da conversa, minha mente já se enchia de mil e uma perguntas.

London encarou o frasco e depois o espelho, guardou então o objeto no bolso e arrumou o cabelo de modo que escondesse a mecha.

- Primeiro vamos procurar o Jun. Depois eu vejo o que faço.

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Joguei a bomba. Se preparem.

Os Senhores: O Segredo De AureatusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora