Capítulo 18 - Tinta

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Lyra Narrando

- Tinha me esquecido do quanto esse lugar fica longe da parte urbana. - Falei alto o suficiente para todos ouvirem.

- Já estamos caminhando faz uns dez minutos.. - Marnie disse. - Falta muito ainda?

- Não, está logo ali. Consegue vê lo? - Perguntei apontando para frente.

- Não.. os galhos das árvores estão impedindo boa parte da vista, sem contar que os poucos postes que se têm aqui estão quase todos apagados..

- Não se preocupe. Já estamos quase lá. - Henry disse.

  Estávamos caminhando sobre matos altos, quase chegavam a altura do quadril em maioria e uns poucos a cintura. Era preciso afastar alguns desses com as mãos para poder ver aonde se pisava.

- Eu não tenho certeza mas acho que pisei em merda. - Kyung disse parando e afastando os matos a sua volta. Todos pararam e riram. - Que nojo. Acho que é de cavalo..

- Vamos andando. Quando chegarmos lá você limpa isso. - Henry lhe disse.

Cinco minutos mais tarde e já estávamos de frente a velha construção.

- Por que está tudo escuro? - London perguntou.

- Porque hoje não é dia do trem passar. - Lembrei a.

- Aí fica difícil usar o espaço.. - Disse mais baixo.

- Relaxa. - Henry disse caminhando em direção a entrada.

- O que ele está fazendo? - Ela perguntou com os olhos nele.

- Dentro do túnel tem uma caixa com dijuntores. - Falei.

- Por que diachos teria uma dessas dentro de um túnel? - Lily perguntou dando mais alguns passos para frente e assim ficando ao nosso lado.

- O túnel é extremamente antigo, na época que foi construído alguns moradores passavam por ele o usando como caminho mais curto até a cidade, então as luzes eram acesas manualmente uma hora antes do trem passar todas as noites assim evitaria acidentes.

- Diz isso como se não pudesse se perceber quando um trem se aproxima.. quer dizer, o som é um pouco difícil de não ser ouvido.. - Kyung falou em tom de sarcasmo enquanto limpava seu tênis na grama mais baixa por ali entre umas pedras agrupadas.

- Existe surdo, sabia? - Lembrei o.

Ele me encarou.

- É, mas aí eles usam os olhos. - Devolveu.

- Pode vir a ser um cego e surdo.. nunca se sabe - E dei de ombros.

- Que discussão desnecessária a de vocês, em? - Marnie disse revirando os olhos.

Um clarão então tomou conta de tudo. Eram as luzes do túnel sendo acesas.

London apenas ignorou o que acontecia ali e caminhou em direção a construção. Lily e Marnie a seguiram segundos mais tarde e com isso, o coreano e eu resolvemos fazer o mesmo.

- E então, o que vamos fazer, senhorita? - Escutei Henry perguntar a London quando nos aproximarmos.

- Primeiro vejam algum canto que não esteja desenhado ou escrito algo. - Disse tirando a mochila e se abaixando.

- Ali tem um. - Lily apontou para uma parede a uns cinco metros a nossa esquerda.

- Estamos em seis, não é? - London perguntou abrindo sua mochila. - Acho que tenho para todos.

- Não me diga que.. - Falei finalmente entendendo suas intenções.

Ela então me jogou uma lata de spray prateada.

- Isso mesmo. Vamos desenhar um pouco. - E então jogou outra para Marnie, Henry e assim por diante.

- Vamos pichar ? - Kyung perguntou ainda em dúvida.

Revirei os olhos.

- Não, seu lerdo. - Respondi. - Essas tintas são pra te pintar para o carnaval, globeleza!

  Houve uma crise de riso no grupo.

- Que cor é? - Lily perguntou a London.

- Ah, então.. - uma pausa de um segundo - olhem na parte debaixo das latas, vai estar escrito a cor. - E então se levantou com a sua lata na mão deixando a mochila no chão. Ela caminhou até a parede e a encarou. - O que vamos fazer aqui? Alguém tem alguma frase legal?

  Vi Kyung dar de ombros sem saber o que responder, Henry ficar em silêncio, Lily apenas encarar o espaço a sua volta e Marnie passar a mão no cabelo pensativa.

- Por que não desenha algo? - sugeriu ela. - Vi que desenha muito bem..

  London uniu suas sobrancelhas.

- Viu? - E então a ficha caiu. - Você mexeu nas minhas coisas?

- Fui ver se você tinha algum xampu. O meu tinha acabado.. - E deu de ombros.

London não pôde deixar de rir com a resposta. Quando seus olhos encantraram a parede novamente, ela respondeu:

- Não acho que um desenho faria grande efeito em um lugar tão escondido quanto este..

- Que tal: "o que é bom se vê, o que é melhor se sente". - Sugeri.

Todos me encararam.

  Henry levantou uma sobrancelha.

- Nossa. - Disse baixo.

- Gostei. - London disse com um sorriso para mim que não pude deixar de retribuir com outro.

- Muito bom, Lyra. - Henry disse baixo.

  Dei lhe um sorriso como resposta.

  Ele então se afastou se juntando mais com os outros a London. Preferi me manter mais perto da entrada, afinal, eu sentia que não estávamos sozinhos.

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Os Senhores: O Segredo De AureatusDove le storie prendono vita. Scoprilo ora