Capítulo Treze
The promises
Hollow concessions
and innocent show of affection
I touch your hand
a hologram
Are you still there?
T.a.T.u - Friend or Foe
O diário estava pousado em cima da mesa-de-cabeceira do quarto do Zayn. Por mais que andasse para a frente e para trás, não sabia o que fazer. O que iria encontrar ali que iria comprometer toda a minha vida? Ou pelo menos a ideia do que eu tive da vida, visto que praticamente a passara num orfanato. Eles encontravam-se ali no quarto comigo. Harry e Scarlet estavam à porta, ambos com os braços cruzados sobre o peito como se tomassem decisões. E Zayn estava sentado na ponta da cama, com os cotovelos nos joelhos e os polegares na testa. As suas pernas abanavam constantemente e isso deixava-me nervosa. Mais do que já estava.
- Não o vais ler? - Harry falou finamente após longos minutos de silêncio. Scarlet olhou-o. - O que foi? O diário está ali para alguma coisa. - Ele falou, dirigindo-se à mesa-de-cabeceira para pegar nele, mas a sua mão voou contra o seu próprio peito. Apercebera-me que Zayn o segurava contra a parede agora.
- O diário é dela. Não lhe tocas.
- Ok meu! Acalma-te. - Harry soltou-se do da mão de Zayn que o encostava à parede e depois ajeitou a camisola. Zayn voltou a sentar-se na cama sem trocar um único olhar comigo e voltou à posição anterior. Fitei o diário e comprimi os lábios.
- Não tens de ter pressa Charlotte, lês o diário quando te sentires preparada. - Scarlet falou. - Foram demasiados acontecimentos recentes, tens o direito a sentar-te e pensar um pouco.
- Obrigada Scar...
- Vocês deviam parar de lhe dizer o que é que ela tem de fazer. - Zayn falou com um tom de voz tão grave que me arrepiou.
- Zayn está tudo bem...
- Não está tudo bem, Charlotte! - Ele levantou-se e olhou-me da mesma maneira quando nos vimos pela primeira vez; como se eu estivesse prestes a pisar campo minado e ele me avisasse para me manter afastada. - Desculpa.
Saí do quarto esbarrando contra o ombro de Harry e desci as escadas em direção à porta da entrada, porém Zayn foi mais rápido e impediu-me a saída.
- Deixa-me sair, Zayn. - Pedi irritada.
- Onde pensas que vais, Charlotte? Está a escurecer, não vais andar sozinha lá fora a estas horas.
- Deixa-me sair! - Ripostei mas ele pegou-me ao colo e levou-me para o piso superior novamente e entrando no seu quarto. Harry e Scarlet ficaram do lado de fora e pude ver as suas expressões de desentendimento antes de Zayn fechar a porta à chave e me pousar, fitando-me intensamente. - Não me podes manter prisioneira dentro da casa. - Zayn apenas exibiu um sorriso de esgueira e depois a sua expressão dura voltou.
- Querias respostas. - Remexeu no bolso das suas calças e depois entregou-me um papel amarrotado. - Aqui as tens.
Desdobrei-o cuidadosamente para não rasgar e depois troquei novamente um olhar com ele. Por momentos receei olhar para o papel amachucado e desvendar o que estaria ali.
- Deixaste-o cair na noite do aniversário da Scarlet, quando vieste pousar o teu blazer aqui. - Fitou-me intensamente. - Abre-o.
Engoli em seco e observei o papel sujo, ponderando se o abriria ou não. Mirei-o e os seus olhos encontravam-se negros, como nunca os vira antes. Foi então que me apercebi que eu me encontrava em problemas. Respirei fundo e terminei de desdobrar o papel, onde vi pedaços recortados de revistas colados desorganizadamente e ao ler, estremeci.
Foi um erro, teres ido buscá-la ao orfanato.
Vais pagar por isso.
Engoli em seco, sem saber o que realmente fazer após ler aquela mensagem. Zayn não me olhava agora e senti um grande vazio dentro de mim, seguido por uma súbita raiva que fez com que o meu sangue fervesse. As minhas mãos começaram a tremer e ele levantou-se para caminhar na minha direção, retirando o bilhete das minhas mãos trémulas e abraçou-me. Afastei-me instintivamente dele e olhei-o magoada.
- Não. - Murmurei afastando-me cada vez mais dele.
- Charlotte...
- Não Zayn afasta-te de mim. Que tipo de brincadeira doentia é esta? - Ele olhou-me perplexo sem realmente saber o que dizer e tentou aproximar-se novamente.
- Não é nenhuma brincadeira.
O seu tom de voz grave era praticamente inaudível, o que fez com que um nó se formasse no meu estômago. Olhei-o magoada e saí do quarto, barrando a sua saída do mesmo ao fechar a porta. Porém isso não o impediu de vir atrás de mim. Só queria que ele me deixasse em paz, ter tempo para processar tudo o que estava a acontecer e o mais importante: porquê? Zayn agarrou a minha mão e sacudi-a, olhando-o. Os meus lábios tremiam enquanto eu tentava controlar o choro, não iria ser fraca à frente dele. Deparei-me com Harry e Scarlet estupefactos, no corredor da entrada a olharem para mim e apressei-me a sair, sentindo o súbito frio a enregelar-me os ossos, mas isso não me impediria de me afastar dali. Corri sozinha rua abaixo, conseguia ouvir a voz de Zayn clamar pelo meu nome, mas nada me fez parar, eu precisava de distância e de tempo. Precisava de espaço para poder respirar.
Após alguns minutos cansei-me e parei de correr, olhando para trás e verificando que Zayn não me seguia. Deparei-me com um pequeno lago e olhei em volta, certificando-me novamente que me encontrava sozinha. Desci pelo caminho de pedra que dava até ao lago e sentei-me na berma do mesmo, cruzando as pernas depois. Levei as mãos aos cabelos e puxei-os para trás suspirando. A minha vida sempre se resumiu a acordar, tomar o pequeno-almoço, educação, tempo livre, lanche, tarefas, jantar e dormir. E agora? O meu melhor amigo foi-se embora, deixou-me com uma história mal contada e ainda por resolver e eu sentia-me perdida pois não sabia em quem poderia confiar. Observei o lago tranquilo e como o céu se encontrava cinzento; assim como eu me sentia por dentro.
- Então foi aqui te escondeste? - A sua voz familiar soou mais perto do que desejava que estivesse e levantei-me num ápice. Zayn abriu os braços inofensivamente e exibiu um sorriso um tanto magoado.
- Charlotte... Eu não te vou magoar.
- O que é que tu sabes sobre isto? - Olhei-o magoada exibindo-lhe o papel. Os seus lábios entreabriram-se para falar, mas o silêncio permaneceu. - Eu estou cansada dos segredos. Não quero andar na rua e ter medo que alguém me possa dar um tiro ou magoar as pessoas com quem eu me preocupo.
- Eu nunca deixaria que alguém te magoasse. - Os seus olhos encontravam-se completamente escuros. Ele aproximou-se e posicionou as suas mãos nos meus braços. - Nunca.
- Eu preciso de respostas. - Afastei-me ligeiramente dele até não sentir mais o seu toque que me reconfortava.
- Eu dou-tas. - O seu tom de voz era firme e determinado. Zayn comprimiu os lábios, aguardando pelas minhas perguntas, mas a realidade é que eu tinha tantas que não sabia por onde começar.
- Quem é que matou a Phoebe? - Os seus lábios abriram-se e fecharam-se seguidamente, enquanto ele me virava as costas, suspirando audivelmente.
- Eu não sei. - Um murmúrio foi tudo o que ouvi. Ele virou-se novamente para me encarar e contraiu o maxilar. - Eu sei que não é a resposta que queres ouvir. Mas é tudo o que te posso dar agora.
- Tudo bem. - Cruzei os braços. - Antes da explosão, ligaste-me dez minutos antes a dizer que querias falar comigo. Zayn, eu preciso de saber. Tu sabias que aquilo ia acontecer? - A sua expressão manteve-se calma.
- Sim. - Ele suspirou. Os meus olhos esbugalharam-se. Ele aproximou-se e voltou a repousar as suas mãos nos meus braços. - A tua tia ligou-me. Ela disse que estava a ser seguida por alguém num carro preto que não tinha matrícula e com vidros fumados. Ela pediu-me para te tirar da casa mas não te dizer o que se estava a passar.
- O quê? - Tentei associar tudo o que ele me estava a contar, mas era demasiado.
- Se tu soubesses o verdadeiro motivo pelo qual eu te estava a tentar afastar da casa, tu nunca sairias. Poderias ter morrido lá dentro.
- A Lyn quase morreu! A Rachel morreu! Não achas que isso é uma injustiça? Só pensares em mim quando elas tiveram as vidas delas em risco? - Bradei e afastei-me novamente dele para andar agora de um lado para o outro no pequeno trilho de pedra.
- Charlotte...
- Não venhas com desculpas por favor.
- A Lyn pediu-me para te tirar da casa para a tua proteção! Compreende isso. - Os seus olhos demonstravam o perigo agora e estremeci. - Eu não vou deixar que ninguém te magoe. Isso é uma promessa que estou a fazer aqui e agora.
Senti-me a desmoronar e deixei que uma lágrima escapasse dos meus olhos, permitindo que ele assistisse à minha vulnerabilidade, novamente. Ele aproximou-se e permiti o seu abraço, deixei que o conforto do mesmo me protegesse dos perigos e enterrei o meu rosto no seu peito. Zayn silenciou-me, enquanto soluçava. Ele afastou-se e depois, posicionou ambas as mãos no meu rosto, sorrindo docilmente. Limpou as lágrimas que agora teimavam em cair e depositou-me um beijo na testa, encostando a sua à minha depois.
- Não vou deixar que ninguém te magoe. - Afastou-se para me olhar. - Vamos para casa agora.
Ele entrelaçou os seus dedos nos meus e puxou-me ligeiramente pelo caminho de pedra, de volta à estrada. Vi que o seu carro se encontrava com os quatro piscas ligados e entrei para o lugar de pendura, enquanto Zayn tomava conta do volante. Ele ligou o carro e conduziu na direção oposta à que realmente, nós deveríamos ir. Permaneci em silêncio e ele ligou o rádio. Apesar da música animada soar, o meu estado e espírito permaneceu o mesmo e pela expressão de Zayn, a mesma não o estava a animar.
Sentia que andávamos às voltas há cerca de meia hora e olhei para Zayn. A sua expressão, agora vaga, arrepiou-me. Tinha um ligeiro pressentimento que um acontecimento mau se aproximava e temia o que poderia ser. Zayn virou numa curva que dava para um bairro e o aspeto do mesmo não era dos mais convidativos. Ele estacionou o carro e depois olhou-me.
- Não saias daqui.
Assenti, engolindo em seco sem realmente entender o motivo pelo qual não poderia sair do carro, mas obedeci. Ele saiu e caminhou alguns metros, olhou para os lados e enveredou por um beco. Todos os meus músculos ficaram tensos quando senti os olhares postos no carro e apressei-me a trancar as portas todas. Olhei para as janelas e algumas pessoas estavam penduradas nas mesmas, observando cada movimento que eu fizesse. Voltei a ligar o rádio e remexi-me no assento, tentando encontrar uma posição que fosse minimamente confortável, mas a tensão era palpável no ar e depois vi uma rapariga através da janela. Ela usava um gorro preto e o mesmo tapava uma porção dos seus cabelos castanhos compridos. Ela correu para o beco para onde Zayn fora há alguns minutos. Senti a necessidade de ir atrás dela mas o mau pressentimento começava a crescer dentro do meu peito e talvez fosse este o momento. Temi sair do carro, mas quando ouvi gritos, apressei-me a fazê-lo. Fechei a porta com força e corri para lá. Os gritos femininos ecoavam por todo o beco e tentei conter o espanto, porém foi impossível.
- Admite que foste tu e eu não te estouro os miolos. - A sua voz saiu com tanto ódio que o meu estômago se revirou. Ao olhar para a rapariga, apercebi-me que era a Thea e que os seus olhos azuis se encontravam repletos de lágrimas. As suas mãos tapavam os seus lábios, mas ela não conseguia abafar os gritos.
- Por favor, não faças isso! Vais matá-lo! - A sua voz trémula fez-me olhar para Zayn. Quando ele se apercebeu da minha presença, esbugalhou os olhos mais como um aviso para me afastar e não devido à consequência do seu ato. Os seus olhos tornaram-se escuros novamente, como na noite da festa em que ele me ajudou. Sem remorsos.
- Podemos fazer isto da maneira fácil, ou da difícil que eu por acaso prefiro. - A sua voz cheia de veneno soou e ponderei onde estava o Zayn que eu conhecia.
- Zayn! Para com isso!
Thea gritou novamente enquanto se mantinha ali, sem realmente saber o que poderia fazer para ajudar. Foi então que quando olhei para baixo me apercebi que quem ele esmurrara, era o Isaac. O seu rosto coberto de sangue era quase irreconhecível porém a sua respiração encontrava-se errática. O choro e o pânico de Thea fizeram com que me sentisse mal por ela.
- Não fui eu, Malik. - Isaac cuspiu o sangue que escorria para a sua boca e depois um pequeno sorriso de escárnio nasceu nos seus lábios. - Porque não disparas? - Ele provocou abanando a cabeça ligeiramente, com a arma apontada à sua testa. Toda a cor do meu rosto desvaneceu e senti tonturas, quando Zayn me olhou novamente, avisando-me para sair dali.
- Teria todo o gosto em fazê-lo. Depois de me dizeres quem é que rebentou com a casa da Charlotte. - Isaac riu-se, como se Zayn tivesse dito uma idiotice.
- Mas tu estás doido? - A sua voz saiu quase num murmúrio. Notei o cansaço na mesma e o seu estado, implicava que Zayn já o cansara.
- Agora que perguntas... Estou. Doido para saber quem foi o cabrão que fez isto, para lhe poder enfiar uma bala nos miolos.
- Não fui eu! - Isaac ergueu o seu corpo que estava encostado à parede e apesar de ele estar sentado, tentou afastar-se da arma.
- Porque tens tanto medo de me dizer quem foi então? - A voz de Zayn soou como nunca a ouvira antes. Como se ele estivesse a gostar de ter o poder, de o torturar.
- Malik, eu não sei quem é que explodiu com a casa, eu não sei! - Ele lamuriou-se, levando a mão à barriga, pressionando-a contra a mesma.
- Zayn. - Quando murmurei o seu nome, ele olhou automaticamente para mim e o olhar assustado de Isaac prendeu-se no meu. Os seus olhos azuis trémulos invadiram-me e pensei que talvez ele poderia estar a dizer a verdade.
- Pedi-te para não saíres do carro. - A raiva era patente no seu tom e estremeci. - Deixa-me tratar disto.
- Ele não fez nada, não consegues ver isso? - Questionei. Isaac assentiu e fechou os olhos cansados, esbugalhando-os depois quando Zayn o puxou pelos colarinhos e encostou o seu corpo à parede. Thea guinchou com medo do que pudesse acontecer e na realidade, até eu sentia.
- Charlotte, volta para o carro! - Bradou e senti a tentação de voltar a correr e aguardar que ele viesse.
- Não. - Cruzei os braços. Apesar de sentir que aquela fora a pior decisão que tomara naquele dia, se eu o deixasse ali... Não queria pensar no que poderia acontecer. - Não vou voltar para o carro enquanto não vieres comigo.
- Charlotte! - Ele bradou e estremeci. - Volta para o carro. Agora.
Permaneci no mesmo sítio de braços cruzados e ele apercebeu-se que não sairia dali. Ele voltou a fixar o seu olhar em Isaac e depois aproximou-se dele, ainda o segurando pelos colarinhos.
- Isto não fica por aqui.
Deixou que o seu corpo já cansado caísse no chão como uma marioneta e depois caminhou furiosamente na minha direção. E pela primeira vez eu senti medo dele. Passou por mim sem me dirigir a palavra e quando me virei, vi-o a caminhar para o carro em passo acelerado. Olhei para Thea que agora se encontrava ajoelhada ao lado de Isaac, limpando o sangue do seu rosto enquanto chorava. Não iria dizer que não sentia pena dela, porque sentia. Ela não tinha nada a ver com o assunto e Zayn não devia ter feito o que fez à frente dela. Não o devia ter feito de qualquer das maneiras, não sem certezas que ele sabia quem explodiu com o que costumava ser o meu lar. Saí dali e corri um pouco até chegar ao carro onde ele já se encontrava. Mal bati com a porta, ele arrancou sem me dar tempo para apertar o cinto. Fizemos o trajeto de volta a casa em pleno silêncio e sabia que mais cedo ou mais tarde ele descarregaria toda a sua frustração.
- Zayn... - Ele não virou o seu rosto para o meu, concentrou-se apenas na estrada. - O que fizeste não foi correto. Viste o olhar aterrorizado da Thea? Não podias ter esperado para resolver o que tens a resolver com o Isaac quando ambos estivessem sozinhos? - Ele continuou sem falar. Contraiu o maxilar e engoliu em seco, causando-me um nó no estômago. - Ouve...
- Eu ia matá-lo. - Falou sem uma ponta de piedade. Permaneci em silêncio, enquanto a sua expressão se tornava cada vez mais obscura. - Eu ia matá-lo e possivelmente mataria a Thea também, afinal, para que é que ela serve? Para andar atrás do Isaac como se fosse um animal de estimação? - Ele sorriu sarcasticamente e depois olhou-me. - Tens noção disto? Eu ia matá-los hoje.
- Era isso que querias fazer? - Engoli em seco, enquanto aguardei pela sua resposta. Ele exibiu um ar pensativo e depois abanou a cabeça negativamente.
- Tu impediste-me. Portanto, não sei se era isso que queria fazer. - Tentei esconder o choque. Estava a lidar com uma nova faceta do Zayn, uma completamente desconhecida. Um passo em falso e as minas explodiriam.
- Eu não te impedi. - Fiz uma breve pausa quando os seus olhos encontraram os meus. - Tu saíste dali porque viste que eu não voltaria para o carro sem ti.
- O meu dever é proteger-te. Nunca tomaria uma decisão que te magoasse. - As suas mãos apertaram-se no volante.
- Existem outras maneiras de resolver os assuntos, sem envolver sangue e ameaças de morte. - Estremeci com a memória do rosto de Isaac coberto de sangue e a arma de Zayn encostada à sua testa.
- Como já referiste, podias ter morrido. A tua tia quase teve o mesmo destino e infelizmente para a Rachel, ela não teve a vossa sorte. A morte de uma pessoa inocente. Não acredito que haja outra maneira de resolver isto, Charlotte.
Zayn estacionou o carro no lugar habitual e reparei que o carro de Harry já se encontrava lá. Possivelmente com a Scar. Apressou-se a sair do carro e saí do mesmo também. Ele deu a volta ao carro e veio ao meu encontro, encostando-me ao carro. As suas mãos repousaram-se nos meus braços e o seu corpo selou o espaço que restava entre nós. Senti um calafrio a percorrer todo o meu corpo, quando os seus lábios se aproximaram do meu ouvido.
- Eu nunca te faria nada para te magoar. Entendes isso, Charlotte? Assim como seria capaz de matar qualquer pessoa que te magoasse, ou quem tu amas. Eu não me importo quem é ou se conheço as pessoas que eles conhecem. Tu és a minha prioridade agora e eu faço tudo para te manter segura.
Os seus lábios aproximaram-se dos meus beijando-os suavemente. As minhas mãos envolveram-se no seu pescoço e acariciei a sua nuca, enquanto as de Zayn por sua vez se encontravam na minha cintura, juntando os nossos corpos cada vez mais. Ele afastou-se lentamente e depois afagou-me o rosto com o polegar enquanto eu o olhava. Entrelaçou os seus dedos nos meus e depois puxou-me para o interior.
- Estás bem? - Scar aproximou-se, preocupada assim que entramos em casa. Segurei as suas mãos e sorri.
- Sim, obrigada. - Ela retribuiu o sorriso.
- O que é que te aconteceu? - Harry questionou olhando para a camisola de Zayn repleta de manchas de sangue.
- Ajuste de contas com o Isaac. - Ele falou retornando ao seu tom de voz sem preocupações, sem remorsos. O meu estômago revirou-se novamente e tentei entender como é que ele podia ser tão protetor comigo e tão frio em relação às outras pessoas. Isaac não era uma pessoa qualquer, definitivamente, porém não conseguia entender a fonte do seu ódio por ele.
- Tu viste o que aconteceu? - Harry esbugalhou os seus olhos verdes e fitei o chão, comprimindo os lábios depois. - Charlotte. - Assenti apenas e o seu olhar passou do choque ao perigoso. - O que é que eu te disse? - Questionou a Zayn, caminhando na direção dele. - Estás mal, meu? Falas comigo! - Scar afagou-me os ombros afastando-me de ambos.
- Charlotte vem comigo. - Ela pediu.
- Charlotte vai lá para cima com a Scarlet. Tenho uns assuntos a resolver com o Zayn. - Ele falou sem me olhar, mas conseguia sentir o olhar de Harry a fulminá-lo.
Scarlet puxou-me pela mão em direção às escadas e subimo-las. Olhei-o e vi-o a assentir, garantindo que ficaria bem. Entramos para o quarto de Harry e depois de me encaminhar para a cama e me sentar na mesma, Scar fechou a porta e sentou-se ao meu lado cruzando as pernas depois.
- O que é que aconteceu? - Os seus olhos azuis brilhavam com a curiosidade.
- Ele... Foi atrás de mim e depois de me encontrar, fomos para um bairro com muito mau aspeto. Ele parou lá e disse para esperar no carro, mas depois vi a Thea e soube que haveria problemas. Então saí do carro e fui para o beco para onde ele tinha ido. O Zayn espancou o Isaac brutalmente, Scar... - Dei por mim a desabafar mas ela ouvia e não julgava. - Quando eu o vi foi tão...
- Assustador? - Apesar de ela me ter avisado já há algum tempo sobre eles, ela compreendia. Ela estava com o Harry, ela sabia como é que eles funcionavam.
- Muito. - Suspirei estremecendo. - Eu nunca pensei ver esta faceta do Zayn. Ele parecia uma pessoa completamente diferente. Sem remorsos, sem pena, sem piedade. Ele ia matá-los, Scar. Ele disse-me isso. Prometi que não iria chorar e não o vou fazer, mas por muito que ele me diga que me quer proteger eu não consigo deixar de ter receio dele.
- O Harry vai falar com ele, não te preocupes está bem?
As suas mãos suaves afagaram as minhas e depois sorriu, reconfortantemente. Apenas consegui assentir e engolir em seco depois mas quando me sentia a acalmar, ouvi gritos do piso inferior e senti o meu coração a acelerar de novo. Scarlet levantou-se e agarrou a minha mão antes de puder sair do quarto, pedindo para não ir. Soltei-me e corri pelas escadas abaixo, mas o meu sangue congelou quando vi Zayn com a arma apontada a Harry. O sangue encontrava-se no seu rosto e o de Zayn igual, mas ele sorria novamente, como fizera quando estivera com o Isaac. Estremeci e depois senti os braços de Scarlet nos meus afastando-me deles.
- Estás tão cego pela tua sede de vingança que nem consegues ver quem são os teus verdadeiros amigos! - Harry bradou, tentando recuperar o seu fôlego. Zayn deu uma gargalhada abafada e depois abanou a cabeça. A sua mão tremia e receei o pior.
- Eu sei quem eles são. - Ele murmurou. - Mas se a magoam a ela, também me magoam.
- Zayn pousa a arma. - Harry quase suplicou num murmúrio
- Por favor. - Cheguei-me à frente e ele olhou-me. Os seus olhos revestidos de lágrimas, deixaram que algumas escapassem e corressem pelo seu rosto abaixo.
- Eu vou acabar o que comecei.
E dito isto, ele virou costas e saiu de casa arrancando no seu carro o mais depressa possível.