Refém da Noite - Degustação

By escrevethais

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-= Primeira versão da história, não revisada. A versão tem alterações. =- Laura sabe exatamente qual é o se... More

Sinopse e Avisos
Agora
Antes
Capítulo Um - Parte 1
Capítulo Um - Parte 2
Capítulo Dois - Parte 1
Capítulo Dois - Parte 2
Capítulo Três - Parte 1
Capítulo Três - Parte 2
Capítulo Quatro - Parte 1
Capítulo Quatro - Parte 2
Capítulo Cinco - Parte 1
Capítulo Cinco - Parte 2
Capítulo Seis - Parte 1
Capítulo Seis - Parte 2
Capítulo Sete - Parte 1
Capítulo Sete - Parte 2
Agora
Capítulo Oito - Parte 2
Capítulo Nove
Capítulo Dez - Parte 1
Capítulo Dez - Parte 2
Capítulo Onze - Parte 1
Capítulo Onze - Parte 2
Capítulo Doze - Parte 1
Capítulo Doze - Parte 2
Final
Refém da Noite na Amazon + infos sobre físico

Capítulo Oito - Parte 1

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By escrevethais

Fico encarando a porta, sem ter certeza do que aconteceu. Bruxa. Como que uma coisa dessas pode ser possível? Como? Mas, da mesma forma... Como Paula conseguiu me segurar? E o que é esse brilho esverdeado que ainda consigo ver nas janelas? Não tem outra explicação.

Paula é uma bruxa.

Tá, alguém virar para mim e dizer que é uma bruxa não me surpreende tanto assim. Conheci umas tantas pessoas em BH que diziam que eram bruxos, o pessoal da Wicca e outras tradições pagãs. Mas isso é diferente daquilo. O que Paula fez... Isso não devia ser possível. Não tem como ser real.

Olho para as janelas de novo e engulo em seco. Eu ainda estou vendo o brilho verde, e sei que não tem nada ali. Não tem como ser um truque. Eu já mexi nas janelas de todas as formas para tentar sair para a sacada, não tem nada de diferente nelas. E mesmo que tivesse, isso não explicaria o que aconteceu lá embaixo.

Caio sentada na cadeira, ainda olhando para as janelas. Isso não pode estar acontecendo. Mas está. De alguma forma, está. Paula é uma bruxa. Ela me segurou com esse poderzinho verde que agora que está sumindo das janelas.

Balanço a cabeça de novo. Quero insistir e falar que isso não é possível, mas não posso. Meu Deus. Isso realmente aconteceu. Isso realmente está acontecendo.

Eu estou presa em uma casa com um bando de criminosos e uma bruxa. Se é que ela é a única aqui.

O que aconteceu ontem à noite na cozinha? Fecho os olhos, tentando me lembrar. Preciso me lembrar. Posso só ter impressões sobre o que aconteceu, mas tenho certeza de que isso tem alguma coisa a ver com Paula. Será que foi ela que apagou minha memória?

Viro a cadeira para a mesa, apoio os cotovelos nelas e escondo o rosto na mão. Preciso pensar, preciso me lembrar. Essa coisa toda é absurda e eu tenho a impressão de que tudo ao meu redor está girando, cada vez mais depressa, e que se eu não entender o que está acontecendo e me segurar, vou ser arremessada longe.

Isso não faz sentido. Mas nada faz sentido.

Noite passada. O que aconteceu? Não reparei em como é estranho que eu não me lembre de quase nada depois que saí do quarto com Lavínia, mas agora... Será que foi ela quem tentou apagar minha memória? Um arrepio me atravessa. Ela parecia tão normal, tão amigável apesar de tudo, não é possível...

Respiro fundo. Não. Eu não posso começar com isso, pensar que qualquer um aqui pode ser um bruxo também. Ou sabe-se lá o quê. Se fizer isso vou ficar louca.

Isso se eu já não estiver louca. Bruxa.

— Puta merda.

Não costumo falar palavrão, mas não tem outra coisa que eu possa falar agora.

Respiro fundo de novo e solto o ar lentamente, ainda sem levantar a cabeça. Foco. Foco. Preciso tentar me lembrar do que aconteceu. Alguém entrou na cozinha e eu fui empurrada. Nada de mais. Então por que eu estou tremendo?

Levanto a cabeça e me inclino para trás na cadeira, fechando os olhos. Eu estava na cozinha. Estava conversando com alguém... Acho que Rodrigo, o motorista, estava lá. Lavínia e mais alguém. Puxo o ar e o solto pela boca, lentamente. A cozinheira? Acho que alguém mencionou que ela era casada com outra pessoa que eu já tinha visto...

Não. Não é isso. Não preciso saber o que conversamos ou me lembrar nomes. Preciso saber o que aconteceu para eu voltar para o quarto. A pessoa entrando na cozinha...

Garras. Eu vi garras. Mas eu estava na cozinha...

Respiro fundo mais uma vez e conto até três, segurando o ar, antes de soltá-lo. O que aconteceu? Consigo ver claramente na minha mente: a porta da cozinha, que dá para o quintal, se abrindo e alguém entrando. Um homem. Eu ouvi ele falar alguma coisa, mas estava de costas, conversando com Lavínia. Me virei para ver quem era e ela me puxou. Garras avançando para mim, e então Rodrigo me empurrou. Eu tropecei em um tamborete e caí, mas Lavínia já estava na minha frente e...

Abro os olhos, tentando controlar minha respiração ofegante. Estou tremendo e gelada. Não quero me lembrar mais. Não preciso.

Engulo em seco e escondo o rosto nas mãos de novo. Um homem entrou na cozinha e então vi garras vindo na minha direção. Não é difícil imaginar o que aconteceu. Não depois de Paula dizer que é uma bruxa e de ter me segurado daquele jeito no saguão.

Porque se bruxas são reais, então por que um lobisomem não pode ser?

Eu estou louca. Só pode. É a única explicação. Eu leio livros de fantasia. Esse tipo de coisa não existe na vida real. Simplesmente não existe.

E nem Rodrigo nem Lavínia ficaram surpresos com isso. Não com as garras e o que mais eu não conseguia me lembrar. Eles sabiam. Sabiam e entraram na frente do lobisomem sem pensar duas vezes... Se eu visse um lobisomem avançando, não ia entrar na frente para defender ninguém a menos que tivesse certeza absoluta de que conseguiria fazer alguma coisa. E os dois entraram na minha frente. Isso só me deixa com uma opção: eles não são humanos. Nenhum dos dois.

— Puta merda.

Eu estava errada. Estava muito errada. Talvez eles até sejam um bando de criminosos, não sei. Mas não foi nada ilegal que meu pai viu quando entrou na mata. Ele falou que ouviu uivos, não falou? E viu alguém correndo... Provavelmente um lobisomem. Um de vários?

Meu pai viu alguma coisa que não tinha como disfarçarem. Viu um lobisomem se transformando, talvez? Não quero pensar no que mais poderia ser. Mas ele viu algo, ele sabe que são reais... E se ninguém acredita que lobisomens e bruxas sejam reais, não é à toa. Eles precisam manter o segredo a qualquer custo.

Alexandre. Ele é quem manda. O alfa? Ele é o dono do casarão, e todos vieram para cá junto com ele, pelo que sei. Todos também são lobisomens? Paula é a única bruxa? Não consigo nem imaginar como isso funciona. Não quero. E...

Eles nunca vão me deixar sair daqui. Me levanto e vou para a cama, me jogando em cima dela de bruços. Eu vou morrer aqui. Eu vi Paula usando magia. Eu vi um lobisomem, mesmo que tenham tentado apagar minha memória. Provavelmente vi mais que meu pai.

Eu sei demais.

— Laura?

Prendo a respiração quando escuto a voz de Lavínia. Agora que ela me chamou, tenho a impressão de que ouvi batidas na porta, mas...

— Laura, eu sei que você está aí.

Claro que sabe, ela está me farejando ou me sentindo com magia, porque ela também não é humana. Não tem como alguém aqui ser humano, além de mim. Mesmo assim, não respondo.

Lavínia não chama de novo, mas poucos segundos depois escuto o barulho da porta se abrindo.

— Vai embora — resmungo sem me virar.

Ela não responde. Sinto uma mão encostar no meu ombro e me sento depressa, virando o braço por puro instinto e acertando um tapa no braço de Lavínia.

— Não encosta em mim!

Lavínia me encara, de olhos arregalados e ainda com o braço estendido, enquanto eu pulo para o outro lado da cama. Estou tremendo, e com direito. Não faço ideia do que ela pode fazer comigo. Não tenho a menor noção do que pode acontecer, só tenho certeza de que ela não é humana. Nem ela nem ninguém nesse casarão.

— Laura... — Ela começa, abaixando a mão, e eu cruzo os braços.

— Vai me dizer que estou imaginando coisas? Que o que vi lá embaixo não aconteceu? — Pergunto, sem nem me preocupar se estou quase gritando.

Não sei se quero que ela fale isso. Tenho certeza do que vi, do que me lembro, mas... Isso não pode ser real. Às vezes posso estar tendo alucinações por causa da falta de comida. É mais fácil acreditar nisso do que em bruxas e lobisomens.

Lavínia suspira e balança a cabeça.

— Não. O que você viu é real. Foi por isso que vim ver como vo...

— E você é o quê? Outra bruxa ou um lobisomem ou seja lá o que for que estava na cozinha ontem à noite? — Interrompo, sentindo meu corpo gelar.

Acho que queria que ela dissesse que era coisa da minha cabeça, no fim das contas. Ouvir uma confirmação de que isto realmente está acontecendo é... Engulo em seco. Não sei nem como descrever.

— Laura...

— Você é o quê? — Repito e dou um passo atrás quando minha voz quebra.

Ela respira fundo e se endireita.

— Nem bruxa, nem lobisomem — ela fala e eu engulo em seco de novo. Se ela não é nenhum dos dois, mas confirmou que não é humana... — Nos chamam de fey ou povos das fadas. Paula é a única bruxa aqui. E o que você viu não foi um lobisomem, foi um metamorfo.

Fey. Dou mais um passo atrás, tentando me afastar, mas bato no criado-mudo. E como é que falam mesmo? Que não se pode correr de predadores? Algo assim. Eu leio mais que o suficiente para saber exatamente o que ela quer dizer com "fey". Cresci lendo contos de fadas, tive a curiosidade de ir atrás das versões originais e de procurar algumas histórias menos conhecidas. E mesmo que não tivesse feito isso... Eu leio muita fantasia. Meu Deus, uns dias atrás eu estava lendo Artemis Fowl. Se bem que, aparentemente, esse livro não tem muito a ver com a realidade, já que Lavínia é fey.

E não consigo acreditar que estou realmente comparando um livro de fantasia com a realidade. Isso é loucura.

— Não é loucura.

Respiro fundo e dou mais um passo atrás, parando ao lado do criado-mudo, antes de perceber que falei a última frase em voz alta. Lavínia não está lendo minha mente. Tem algum tipo de fey que consiga ler mentes? Não que eu me lembre, mas não faço a menor ideia de quanto posso confiar no que li por aí... Provavelmente bem pouco.

— Não era para você descobrir assim — ela continua, sem sair do lugar. — Todos nós sabíamos que não ia adiantar tentar manter o segredo com você aqui... Estamos acostumados demais a não nos preocupar em esconder o que somos quando estamos aqui.

Porque para eles é normal esconder isso. Eu passei dois anos trabalhando para Paula, a chamando de amiga, sem fazer a menor ideia de que não era humana. E ali estava Lavínia. E Alexandre. E todo mundo que mora no casarão, que não faço ideia de quantas pessoas são. E todo mundo que estava no bar quinta-feira? E todos eles não são o que parecem. Eu nunca nem imaginaria...

Quantas pessoas que eu conheço estão escondendo alguma coisa desse tipo? E o pior é que não consigo nem pensar em alguma coisa para me ajudar a tentar descobrir se alguém não é humano, porque não faço a menor ideia de se o que li tem alguma relação com a realidade... E, de qualquer forma, o que li sobre os fey foi que a maior parte deles consegue se passar por humano até que seja tarde demais. Bruxas... Jogar sal? Não, mas sal serve para quebrar magia, se uma bruxa não estiver fazendo nada acho que não vai ter efeito. E lobisomens... Metamorfos, como ela falou. Eu nem sei a diferença. Metamorfos podem se transformar em outras coisas?

Bato as costas na parede e só então percebo que estava recuando. E estou tremendo. Como é possível que isso seja verdade? Como?

­­— Laura, respira!

Balanço a cabeça quando Lavínia dá um passo na minha direção e me encolho. Eu estou respirando. Sei que estou. Só... É demais. Não consigo acreditar nisso, mesmo que não tenha como duvidar. E nem eu consigo mais entender meus pensamentos.

— Laura, eu sei que Alexandre te garantiu que ninguém aqui ia fazer nada contra você. Isso continua sendo verdade.

Mas fizeram, não fizeram? Aquela coisa na cozinha, que eu ainda não consigo me lembrar direito, nem quero. E Paula me segurando mais cedo. Eles podem até tentar não fazer nada. Se esforçar para serem civilizados. Mas não são nem mesmo humanos.

— Sai daqui — murmuro.

Lavínia suspira e se endireita antes de assentir. Fico onde estou, encolhida contra a parede, enquanto ela vai até a porta e para. Prendo a respiração, esperando ela sair. Aí as coisas vão voltar ao normal. Não. Nada vai voltar ao normal, mas eu posso pelo menos fingir que aqui dentro tudo é como sempre foi.

— Coma alguma coisa — ela fala antes de abrir a porta e sair.

Fico encarando a porta fechada por um instante antes de escorregar para o chão e passar os braços ao redor dos joelhos. Como é possível que isso esteja acontecendo?

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