Capítulo Doze - Parte 1

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Já são quase cinco horas da tarde quando desço para a cozinha – e isso só porque meus lanches acabaram e minha barriga está roncando. Arrancada da frente do computador por causa da fome. Sorrio. Acho que nunca consegui passar o dia todo assim, sem precisar me preocupar com nada, só trabalhando em alguma ilustração. É bom, mesmo que eu sinta falta de Marina aparecendo e dando palpites enquanto eu faço algum detalhe.

Do corredor consigo ouvir várias vozes. Dessa vez parece que desci em um horário de cozinha cheia, mesmo que ainda esteja cedo para o jantar. Eu só espero que tenha algum resto do almoço em algum lugar.

Rodrigo, Daiane, Lavínia, André, Aline e mais dois caras que não conheço, mas me lembro vagamente de ver no bar, estão sentados em uma das mesas. Eles se viram para mim assim que entro e paro na porta. Não preciso ter medo. Certo. Vamos repetir isso até eu me acostumar.

— Por que eu tenho a impressão de que estavam falando de mim? — Pergunto.

— Porque estavam, menina — Amara responde, aparecendo do outro lado do balcão.

E ela não precisava confirmar. Suspiro e atravesso a área do refeitório, tentando ignorar como todos ainda estão me encarando. Qual é o problema? Nunca viram uma humana?

Coloco a bandeja no balcão e olho para a área da cozinha. Amara está mexendo em alguma coisa no fogão que está cheirando muito bem, mas ainda está cedo...

— Metamorfos comem demais — ela fala quando me vê parada. — Deixe essa bandeja aí e pegue alguma coisa para forrar o estômago enquanto a comida não fica pronta.

Não discuto com ela, só vou até o armário e pego um pacote de bolacha Maria. Pego requeijão na geladeira, uma faca no balcão, e volto para a mesa. Se é para "forrar o estômago", vou aproveitar.

Olho ao redor assim que me sento. Quando desci, estavam conversando tão alto que eu estava ouvindo do corredor. E agora mal e mal estão falando alguma coisa. Mesmo se Amara não tivesse confirmado, eu ia saber que estavam falando de mim. Estou me sentindo de volta no colégio, e essa não é uma boa comparação. Ignoro os comentários em voz baixa e começo a passar requeijão nas bolachas.

— E então? — Rodrigo pergunta.

— E então o quê? Não sou adivinha — resmungo.

— O que você fez com Alexandre? — Lavínia explica.

Paro e coloco a bolacha que estou segurando em cima da mesa. O que eu fiz com Alexandre? Só falei o que estava pensando. Isto é, se estiverem falando sobre o que aconteceu quando ele foi no meu quarto.

— Hein? Do que vocês estão falando?

Eles se entreolham e Rodrigo apoia os dois braços na mesa, se inclinando para a frente.

— Sabemos que Alexandre foi conversar com você. E vimos quando ele saiu do casarão e foi direto para a mata...

— Para perto do terreno da construtora — André interrompe.

Rodrigo assente.

— Isso. E alguém ouviu ele falar alguma coisa sobre "aproveitar para conferir as defesas".

Respiro fundo e dou uma mordida na minha bolacha. Por que estão me contando isso?

Lavínia suspira e dá um tapa no ombro de Rodrigo.

— O que esses fofoqueiros estão tentando dizer é que Alexandre saiu daqui depressa, mal olhando no rosto de quem estava em casa, bem incomodado com alguma coisa. Se bem que não sei se incomodado seria a palavra certa — ela conta e olha ao redor da mesa.

Refém da Noite - DegustaçãoWhere stories live. Discover now