Capítulo Quatro - Parte 2

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Eu estava terminando de embalar dois livros que tinham sido encomendados por uma mulher do interior de Goiás quando Alexandre entrou na loja. Eu não precisava me virar para a porta para saber disso, era uma sensação estranha, quase um instinto, que fazia todos os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Estava me sentindo como se fosse uma presa encurralada.

Respirei fundo, colocando outro livro sobre o pacote e o rolo de fita transparente sobre ele antes de me virar. Alexandre estava parado a alguns passos da minha mesa, me encarando. Engoli em seco, tentando controlar aquela sensação inquietante que eu estava sentindo. Tinha pensado que depois de mostrar minhas ilustrações para ele e dos seus comentários eu não teria mais tanto medo, mas estava enganada. Não, medo não era a palavra certa... Mas eu não conseguia pensar em nenhuma outra.

— Vou ver se...

— Não precisa — ele me interrompeu, seco, e sua voz soava quase como uma ameaça.

Assenti, tentando não engolir em seco quando ele continuou a me encarar mesmo enquanto eu terminava de empacotar os livros. Em menos de um minuto, ouvi os passos apressados de Paula. Ela saiu do meio das estantes e olhou para mim, depressa, antes de encarar Alexandre. Não consegui evitar e engoli em seco. Nunca tinha visto Paula tão tensa antes. Sem dizer nada, ela se virou e Alexandre a seguiu.

Me deixei cair sentada na cadeira assim que ouvi a porta dos fundos se fechar. Primeiro Alexandre, depois Paula. O que estava acontecendo? Porque não tinha como pensar que tudo estava normal, não depois disso tudo. Alexandre tinha vindo na loja três dias seguidos. Isso nunca acontecera antes. E aquela tensão de Paula... Ela não estava assim mais cedo, quando falou comigo sobre Rick.

Suspirei e encarei o pacote meio fechado sobre a mesa. Não era da minha conta. Eu não sabia o que Paula e Alexandre tanto conversavam ali, ela já tinha me falado que com todas as letras que não era da minha conta, então não ia ficar especulando. Tinha trabalho a fazer.

Mas não consegui evitar a sensação de que alguma coisa estava prestes a dar errado.

Quase como se estivesse lendo meus pensamentos, meu celular apitou. O peguei e olho para a tela, erguendo as sobrancelhas quando vi a notificação dizendo que tinha uma mensagem do meu pai. Ele raramente usava o celular.

Pai: Preciso que você venha direto para casa hoje.

Respirei fundo e soltei o ar lentamente. Era óbvio que as histórias sobre a noite passada já tinham chegado no ouvido dele. Provavelmente eu chegaria em casa e daria de cara com ele e minha mãe me esperando para um sermão duplo. E não adiantava nem tentar evitar.

Laura: Ok.

Joguei o celular dentro da bolsa, irritada, e terminei de empacotar os livros. Peguei as etiquetas com os endereços e as colei nos seus lugares, antes de levar o pacote para a mesa nos fundos onde deixávamos as encomendas acumularem por uns dois dias antes de irmos no correio.

Quando voltei para a frente da loja, Rick estava lá. Será que eu não podia ter um pouco de sossego? Só um pouco, ao invés de tudo acontecer ao mesmo tempo. Não queria discutir mais, e a expressão fechada de Rick já deixava claro que qualquer conversa não ia ser amigável.

— Lau. — Ele sorriu de forma um pouco hesitante. — Já estava pensando que não estava aqui.

Fechei os olhos por um instante, me contendo para não dar a resposta que queria. Onde mais eu estaria? A única pessoa ali que entrava e saída do trabalho quando bem entendia não era eu.

— O que foi, Rick?

Puxei minha cadeira e me sentei, antes de abrir o sistema de controle da loja no computador. Não tinha mais nada para fazer, mas ia conferir se não havia aparecido nenhuma encomenda nos últimos quinze minutos. Qualquer coisa para eu não precisar dar atenção para Rick.

Refém da Noite - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora