Capítulo Quatro - Parte 1

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— Laura, me conta isso direito!

Levantei a cabeça e dei de cara com Bruna entrando na loja. Baixa, com menos de um metro e sessenta, mesmo que ela jurasse medir um e sessenta e dois, cabelo loiro escuro e liso na altura dos ombros e uma franja que a deixava parecendo uns bons cinco anos mais nova, tinha o um rosto de traços delicados que fazia todo mundo pensar que era uma boa garota. Ela até podia ser, mas na adolescência era minha companhia para fazer qualquer coisa que não fosse exatamente certinha.

Deveria ter imaginado que não demoraria muito para uma das minhas amigas aparecer ali. Àquela altura a cidade inteira já estava sabendo do que acontecera na noite anterior. Quer dizer, pelo menos as pessoas que conviviam conosco. A fofoca ia ter se espalhado depressa, mesmo que ainda não fossem nem onze horas da manhã. Não queria nem imaginar o que ia acontecer quando eu chegasse em casa de noite.

— O que você quer saber? — Suspirei, colocando meu lápis de lado e um livro sobre a folha onde estava desenhando.

— Tudo! — Ela puxou a cadeira e se sentou, apoiando os cotovelos na mesa e se inclinando na minha direção. — Laura Ribeiro indo para o bar, bebendo e brigando com Rick? Como assim?

Suspirei, só então percebendo que Bruna estava usando a blusa verde com a logo da papelaria da sua família.

— Não deveria estar trabalhando?

Ela balançou uma mão, deixando claro que aquilo não importava.

— Cris falou que não tinha problema ficar sozinha por um tempo, especialmente se eu voltasse com fofocas direto da fonte. Então. O que aconteceu?

Claro que sua irmã mais velha não ia achar ruim ficar sozinha na papelaria em troca de fofocas. Revirei os olhos.

— Eu estava de bom humor e queria ir no bar, só para variar um pouco. — Dei de ombros. — O que tem de mais nisso?

— Pra Laura que conheci no colégio? Nada. — Bruna ergueu uma sobrancelha. — Pra Laura que voltou de BH, toda comportada e concordando com tudo?

Suspirei e balancei a cabeça. Ela estava certa. Certíssima. Se o bar estivesse aberto na época que terminamos o ensino médio, teríamos ido lá, com certeza. Eu teria enfrentado todo mundo e batido o pé porque era o que eu queria e não estava fazendo nada de errado. Como eu tinha me permitido ser apagada daquele jeito?

Balancei a cabeça de novo, sem responder a pergunta não muito escondida no seu comentário.

— Rick resolveu que ia pedir por mim, e adivinha? Ia pedir um refri. Não aceitei, fui pedir uma cerveja. Ele falou que cerveja não era coisa de mulher. Eu pedi um drink. Ele não gostou muito quando pedi o segundo e falou que mulher dele não dava aquele vexame.

Bruna fez uma careta quando terminei de falar.

— Até parece que ele não te conhece.

Assenti, olhando para o livro em cima do meu desenho. Rick me conhecia quase a vida toda, mas às vezes eu pensava que realmente não me conhecia de verdade. Que nunca tinha me conhecido, na verdade, se eu parasse para pensar bem. Mas... Ele gostava de mim, se importava comigo. Ou será que todos os momentos fofos foram só formas mais discretas de falar o "minha mulher não dá esse tipo de vexame"?

Eu nunca mais ia conseguir ver nada que ele fizesse do mesmo jeito, por causa de umas poucas palavras. Aquele tipo de comentário sempre tinha me incomodado, desde bem nova. Eu não era propriedade de ninguém.

Dei de ombros.

— Aí eu falei que não era mulher dele e nem namorada mais.

— Ouch. — Bruna sorriu. — E foi aí que vocês brigaram e você colocou os esquisitos no meio.

Refém da Noite - DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora