Refém da Noite - Degustação

By escrevethais

275K 15K 3.7K

-= Primeira versão da história, não revisada. A versão tem alterações. =- Laura sabe exatamente qual é o se... More

Sinopse e Avisos
Agora
Antes
Capítulo Um - Parte 1
Capítulo Um - Parte 2
Capítulo Dois - Parte 1
Capítulo Dois - Parte 2
Capítulo Três - Parte 1
Capítulo Três - Parte 2
Capítulo Quatro - Parte 1
Capítulo Quatro - Parte 2
Capítulo Cinco - Parte 1
Capítulo Cinco - Parte 2
Capítulo Seis - Parte 1
Capítulo Sete - Parte 1
Capítulo Sete - Parte 2
Agora
Capítulo Oito - Parte 1
Capítulo Oito - Parte 2
Capítulo Nove
Capítulo Dez - Parte 1
Capítulo Dez - Parte 2
Capítulo Onze - Parte 1
Capítulo Onze - Parte 2
Capítulo Doze - Parte 1
Capítulo Doze - Parte 2
Final
Refém da Noite na Amazon + infos sobre físico

Capítulo Seis - Parte 2

4.6K 532 112
By escrevethais

Não sei porque me surpreendi quando vi que o motorista do carro era um dos caras que tinha bebido comigo na quinta à noite. Mais baixo que eu – notei quando ele saiu para abrir o porta-malas –, com cabelo castanho escuro curto um pouco bagunçado, barba curta e bem feita, vestindo calça jeans e uma camiseta preta com o que parecia ser o nome de uma banda de heavy metal, ele parecia ter uns vinte e poucos anos, também. E eu não conseguia deixar de imaginar como alguém que parecia ser tão... Tão normal, podia aceitar levar alguém como uma refém. Não importava se ele fosse normal, se eu tinha achado ele bonito quando o vi no bar ou qualquer outra coisa. Ele estava com Alexandre. Era cúmplice, no mínimo. Provavelmente um criminoso também.

Não falei nada em todo o trajeto até o casarão de Alexandre, mesmo que o cara – Rodrigo – não parasse de comentar sobre uma coisa ou outra. Nem fazendo esforço conseguiria me concentrar no que ele estava falando. Só conseguia ver as casas passando, pela janela. As lojas, a pracinha, a praça da Matriz, a Matriz, mais lojas e casas... Como se fosse minha vida passando por mim aos poucos e desaparecendo.

Não demorou quase nada para sairmos da cidade e, pouco tempo depois, eu via a cerca alta que eu sabia que marcava a propriedade de Alexandre. Os mesmos postes de madeiras com arame entre eles de qualquer cerca de fazenda, mas esta era alta o bastante para me lembrar de Parque dos Dinossauros todas as vezes que passava por ela quando era mais nova. Aquela cena, não lembro em qual dos filmes, que os personagens escalam uma cerca elétrica ou algo assim. Já fazia anos que eu não me lembrava daquilo, mas agora a cerca me passava a mesma impressão: algo que deveria estar mantendo os monstros do lado de lá, mas que não tinha conseguido.

Pouco depois, viramos em uma estradinha de terra. Rodrigo parou o carro para sair e abrir a porteira, antes de voltar, passar para o outro lado da cerca, e parar para fechar a porteira. Eu queria fechar os olhos e fingir que nada daquilo estava acontecendo, mas não podia. Respirei fundo e tentei prestar atenção no caminho até o casarão. Era melhor ter o máximo de informações possíveis sobre onde eu estava, para o caso de ser possível escapar depois.

Não que houvesse muito para ver: árvores, mais árvores, e adivinha só, mais árvores. Eu não fazia ideia de que aquele lugar fosse quase uma mata. As árvores eram espaçadas, quase como se tivessem sido plantadas ali, não que aquilo fizesse sentido. Quer dizer, não era uma plantação de nada, e eu só tinha visto tantas árvores assim naquelas áreas de plantação de eucalipto.

Uns poucos minutos depois, as árvores deram lugar para a grama bem cuidada e depois um daqueles jardins perfeitamente organizados. Jardim francês, eu acho, com canteiros em forma regulares e todas as plantas sob controle. E eu estava tão fora do ar que mal conseguia prestar atenção no jardim, só conseguia notar que ele tinha vários tipos de rosas. O casarão estava logo depois do jardim, e eu o encarei enquanto Rodrigo manobrava o carro para estacionar.

Quando estava no segundo ano no colégio, precisei fazer uma pesquisa sobre o casarão. Ele tinha um nome, que nem essas mansões e palacetes históricos, mas eu não conseguia me lembrar de qual era. Mas me lembrava do que tinha aprendido na época dessa pesquisa. O casarão colonial estava ali desde antes de Monte das Pedras ser uma cidade propriamente dita. Talvez desde antes de ser uma vila. Antes, ele era a sede de uma fazenda importante, que vendia... Alguma coisa. Não me lembrava mais. Até que quando a cidade começou a crescer – se é que eu posso dizer que Monte das Pedras "cresceu" – boa parte das terras foi vendida e só ficou o casarão e a área ao seu redor. A família que era dona da fazenda se mudou de Monte das Pedras na mesma época, e ninguém morava ali até Alexandre aparecer. Alguém tinha cuidado da propriedade e do casarão, certo, mas ninguém entrava lá.

Na época da pesquisa, eu tinha conseguido achar algumas fotos antigas, e o que eu via agora era o mesmo das fotos, mas em cores: uma casa enorme, quadrada, com quatro andares, janelas grandes e sacadas espalhadas pelas paredes. Que, aliás, eram de um tom amarelo desbotado com detalhes brancos ao redor das janelas e nas sacadas – e eu não fazia ideia de como conseguiriam manter aquilo limpo. As janelas eram de madeira escura e a maioria estava aberta, mesmo que eu não conseguisse ver nada lá dentro. Na frente da casa, a parte onde ficava a porta também de madeira escura fazia uma reentrância pequena, e contei cinco degraus para chegar até lá. Nada de anormal. Eu ainda achava que aquele lugar deveria ser chamado de solar, palacete, qualquer coisa menos casarão, mas tinha visto várias construções no mesmo estilo enquanto estava em BH e nas viagens que fiz com amigos.

Nada de anormal... A não ser o fato de que o casarão estava num lugar que, na época em que foi construído, era literalmente o meio do nada.

Soltei um suspiro resignado enquanto abria a porta do carro e saía, fazendo uma careta quando coloquei minha mochila nas costas. Estava pesada. Rodrigo já estava dando a volta no carro e gesticulou na direção da porta do casarão quando me virei para o porta-malas.

— Vamos levar as malas para o seu quarto, não precisa se preocupar com elas.

Abri a boca para insistir em subir com elas, mas ele levantou uma sobrancelha e indicou a porta do casarão com a cabeça. Suspirando de novo, me virei para lá. A porta estava aberta e outro homem estava parado na porta. Acho que eu estava esperando Alexandre, mas era óbvio que o chefão da coisa toda não ia estar me esperando.

Mesmo que o tal chefão tivesse elogiado minhas ilustrações e me acompanhado até em casa para Rick não fazer nada. Soltei o ar pela boca, de forma audível. Ele provavelmente tinha me acompanhado só para ter certeza de que teria sua refém. Eu não podia confiar em nada nem ninguém ali. Não fazia ideia do que estavam fazendo, do que meu pai tinha visto, do que poderia piorar minha situação...

E Rick. Eu não tinha nem lembrado dele. Não que precisasse, mas... Também não tinha lembrado das meninas. Bruna, Gisele, Samara, Cris... Não tinha nem pensado em falar alguma coisa com elas. Pelo menos tinham me deixado ficar com meu celular, ia poder dar sinal de vida.

— Laura?

Balancei a cabeça, só para Rodrigo saber que eu tinha ouvido, e apertei as alças da minha mochila. Não queria dar nem um passo na direção da porta. Depois que eu entrasse ali, ia ter acabado. Não ia ter mais volta. Eu ia ser uma prisioneira de um bando de traficantes.

Com o canto dos olhos, vi quando Rodrigo cruzou os braços e se apoiou no carro. Eu quase queria agradecer por ele não estar falando nada, nem me mandando entrar logo. Não que aquilo merecesse um agradecimento.

A tal cerca estilo Parque dos Dinossauros com certeza não manteve os monstros aqui dentro, mas eu sabia que ia me manter aqui. Não adiantava me iludir achando que fazia alguma diferença estar dentro do casarão ou não. Não tinha mais volta, desde que entramos na propriedade de Alexandre.

Eu tinha aceitado isso. Tinha concordado em ser uma refém aqui para que não matassem toda a família. Não adiantava mais tentar fugir. Pelo menos, não agora, sem saber exatamente com o que eu estava mexendo. Ia sair dali. Mas primeiro precisava ter certeza de que ninguém ia ser morto por causa do que meu pai viu.

Respirei fundo e subi os cinco degraus, ainda apertando as alças da minha mochila. O homem que estava na porta se afastou para me deixar passar, antes de gesticular para Rodrigo. Dei mais alguns passos para dentro do casarão, sentindo como se algo estivesse me sufocando lentamente. Precisei parar e fechar os olhos para a sensação desaparecer, e só então consegui olhar ao redor.

Estava em um saguão comprido e iluminado. Era estranho que não tivesse conseguido ver nada quando estava do lado de fora, porque as janelas estavam abertas e a luz do sol batia no chão claro e polido. O saguão estava vazio, sem nenhuma mobília, e bem na minha frente estava uma escadaria de madeira, alguns tons mais escura que tabaco. Ela se abria para os dois lados, subindo para o andar de cima. De cada lado da escadaria saía um corredor, e eu podia ver várias portas, a maioria fechadas.

— Alexandre está esperando por você.

Dei um pulo quando ouvi a voz do homem. Tinha me esquecido completamente que ele estava ali. Foco, Laura. Eu não podia ficar distraída assim se quisesse achar um jeito de resolver isso. Assenti, me virando para ele e apertando as alças da mochila com mais força ainda.

O homem me levou pelo corredor à nossa direita, passando por três portas fechadas e uma aberta, mas andando tão depressa que não consegui ver o que estava ali. Encarei suas costas, tentando não pensar no que ia acontecer comigo. Ele era muito alto e largo, mas eu não conseguia dizer se era gordo, musculoso, ou uma combinação dos dois. Ele estava usando calça jeans e uma blusa marrom-claro com linhas horizontais finas verde escuro. De relance, ele tinha parecido ser pouco mais velho que eu, mas pela blusa eu jogaria sua idade um tanto para cima – era o tipo de blusa que meu pai costumava comprar, apesar de eu nunca ter visto uma daquelas cores antes.

Ele parou na frente da porta seguinte, também fechada, e bateu. Esperei algum tipo de resposta, enquanto mexia em um buraquinho no tecido da alça da minha mochila, mas não ouvi nada antes do homem abrir a porta e gesticular para que eu entrasse.

A sala era um escritório, obviamente, mas mal consegui olhar ao redor. Alexandre estava sentado atrás de uma mesa antiga, feita da mesma madeira escura das portas. Dei dois passos para dentro e parei, olhando para a parede atrás dele, sem conseguir sustentar o seu olhar. Era o mesmo olhar da noite passada, de quando ele me deixou em casa. Eu podia ter pensado que tinha começado a relaxar na sua presença, mas aquela expressão e a forma como eu não queria dar nem mais um passo deixavam claro que não tinha. Ou, se tivesse, tinha aprendido que aquilo era uma má ideia.

Dei um pulo quando a porta se fechou com um ruído seco. Estava trancada ali com Alexandre, o chefão dos traficantes – ou fosse lá o que fossem. Ele podia fazer literalmente qualquer coisa comigo e ninguém ia me ajudar, não ali. Engoli em seco, querendo olhar ao redor mas sem conseguir desviar minha atenção. Alexandre podia me matar ali – eu tinha me colocado nas mãos dele por vontade própria – e ninguém ia fazer nada. Eu não ia conseguir fazer nada. E eu preferia ver a morte vindo, se era isso que ia acontecer.

— Se eu quisesse alguém para torturar, matar, ou qualquer outra coisa que você esteja pensando, teria usado seu pai mesmo — Alexandre falou e precisei fazer um esforço para não dar um passo atrás. Nunca sua voz tinha parecido tanto uma ameaça.

Engoli em seco de novo quando senti o seu olhar em mim. E o estranho era que eu realmente podia sentir aquilo. Uma parte de mim, algum instinto, entendia que um predador estava me encarando, eu era a presa, e não tinha boas opções. Se fugisse, ele me caçaria. Se ficasse...

Soltei uma respiração trêmula, tentando me acalmar. A música do Ney Matogrosso que tinha grudado na minha cabeça também não ajudava, especialmente porque só ficava repetindo aqueles dois versos. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Respirei fundo mais uma vez, ainda olhando para algum lugar atrás de Alexandre para não precisar sustentar seu olhar.

— Então o que quer comigo? — Minha voz saiu fraca.

Alexandre se inclinou para trás na cadeira, fazendo meu olhar parar no seu rosto. Desviei os olhos depressa, encarando um ponto um pouco para o lado na parede.

— Você vai ser a primeira a morrer se seu pai contar sobre o que viu de alguma forma. E se você revelar qualquer coisa sobre onde está e por quê, você e toda a sua família vão morrer, também. Fora isso... — Ele deu de ombros, e o movimento casual me fez lembrar do dia que ele viu minhas ilustrações. Ele tinha parecido casual... Ou pelo menos uma pessoa normal. — Você está livre aqui dentro. Não vamos fiscalizar seu celular ou seu notebook, só se lembre do que vai acontecer se nos entregar. E, quando tivermos algum assunto a tratar que você não possa saber, alguém vai avisar para que fique no seu quarto.

Eu balancei a cabeça, sem ter certeza de que estava entendendo o que estava ouvindo. Ele não ia fazer nada comigo? Eu só precisava ficar ali? Soltei um suspiro aliviado ao mesmo tempo em que sentia minhas pernas bambearem. Alexandre estreitou os olhos e de alguma forma eu consegui continuar de pé. Ele começou a se levantar, mas me virei para sair, com a visão embaçada, tateando a porta até conseguir achar a maçaneta.

Continue Reading

You'll Also Like

1K 387 13
Após nove anos de um incidente pouco comentado pelos moradores de uma cidade no interior nordestino, um grupo de adolescentes se veem em um círculo d...
113K 12.9K 45
Trilogia Entre Reinos Em um mundo separado em dois continentes, um de feéricos e outro de humanos, há apenas um frágil tratado entre eles. Tate é o...
2.5K 372 19
"Quando vi Daisy Song pela primeira vez, o dia pareceu sorrir para mim. Mas desde então, tenho convivido com um céu de lágrimas constantes. É uma mal...
139K 8.6K 18
_Livro 3 da Série Chasing Queens_ Logan Batch precisava de uma saída. Para continuar sendo o baixista da Chasing Queens, ele precisava resolver - e r...