London
Admito que estava adorando Lumbras, o reino tinha o chão de metal, os prédios pareciam ser coisa de um futuro distante do mundo dos humanos, luzes brilhantes por toda parte, carros e outros meios de locomoção diferentes do que os que estava acostumada... Era simplesmente um lugar incrível.
Entramos em um prédio cuja largura impressionava, porém tinha apenas quatro andares. Acho que não fui a única a estranhar quando passamos por uma fila cheia de gente aguardando para entrar no espaço e Lyra disse algo no ouvido de um dos seguranças da porta que logo nos deixou entrar.
Houve momentos em que fiquei conversando apenas com Jun e Christian que me contavam mais sobre as quatro cidades pertencentes aos grandes quatro Impérios. Logo eu quis conhecer Valaurea, a cidade do Império Elementar, pois a riqueza que a mesma tinha quando o assunto era beleza da terra era outro nível segundo os comentários que os garotos faziam enquanto estávamos sentados em uma mesa em uma área cheia delas onde a música não agredia tanto aos ouvidos.
Agora não só Henry, Lyra e Carl estavam longe dançando, como Christian também estava indo se juntar a eles na pista de dança. Jun também parecia estar louco para dançar, mas eu percebia que ele não queria me deixar sozinha ali.
— Você pode ir com eles se quiser. — Falei. — Não estou afim de sair daqui agora.
— Não estou com tanta vontade assim no momento. — Respondeu, desviando os olhos dos meus. Típico ato de quem mente faz.
— Jun, sua perna não para de tremer e seus dedos da mão direita estão dançando sozinhos na mesa faz mais de vinte minutos. Vá logo. — Insisti.
Jun Kyung me encarou.
— Tudo bem mesmo? — Perguntou, seus olhos encontrando os meus, parecendo procurar algo ali.
Assenti com um pequeno sorriso.
Ele se levantou.
— coisa eu estarei em algum lugar do centro da pista. Não vá muito longe e não aceite bebida de estranhos sem ver ela sendo preparada no bar, entendeu? — Perguntou alto o suficiente para que eu ouvisse quando uma nova música se iniciou.
Ri e assenti com a cabeça.
— Pode deixar, pai. — Brinquei.
Ele sorriu e se misturou à multidão.
Finalmente pude suspirar. Em algum momento eu me encolhi naquela espécie de sofá que cercava a mesa onde estava e encarei a mesa vazia. Ela brilhava, sem nenhum risco no ferro, limpa ao ponto de refletir as luzes que tinham ali por perto.
Acabei por me perder em pensamentos, é claro. Sempre me perdia quando estava sozinha, não importava o que fazia, agora tinha em mente alguns velhos amigos que tive que abandonar para estar ali. Também sentia saudades de Liam, ele sempre estava comigo então era estranho não encontrá lo ao final de cada dia e reclamar sobre as coisas que tinham me acontecido.
— Está na hora de crescer, London. — Sussurrei para eu mesma. — De desapegar.
Respirei fundo e afastei qualquer pensamento que me fizesse lembrar de casa, e me levantei.
Jun tinha falado em bebidas então logo pensei em comprar uma.
Fui até o bar em um canto não muito distante da pista de dança e esperei o barman me atender. Admito que eu não esperava um barman de tão boa aparência como o que me veio. Esse tinha os cabelos vermelhos escuros levemente bagunçados e os olhos verdes como duas esmeraldas brilhando em seu belo rosto jovem além da barba rala bem feita. Um belo lumbriano, tenho que dizer.
— Boa noite, o que deseja? — Perguntou-me com a voz sexy.
Certeza que corei. Ainda bem que estávamos em um lugar com pouca luz naquela região.
— Alguma coisa que não seja amarga e que não tenha muito álcool também. — Respondi.
Só para deixar claro, eu só bebi duas vezes na vida e na primeira ainda tive problemas para saber como voltava para casa depois de descobrir que fui parar umas três cidades de distância da que morava. Liam me deixou de castigo por um mês depois de um sermão, reflexo de sua preocupação.
— Não é muito de beber, não é? — Deduziu, o tom simpático.
Assenti com a cabeça.
— Pode deixar, eu já volto.
— Tudo bem, obrigada.
E com isso, eu esperei me sentando em um banco dali e apoiando o tronco em meus cotovelos repousados sobre o balcão. Distraí-me com as variadas taças em um tipo de estante em prateleiras, garrafas estranhas com bebidas, algumas brilhavam, outras pareciam conter coisas nojentas parecidas com larvas se mexendo.
— Aqui está. — O barman disse, pondo um copo a minha frente me fazendo levar um pequeno susto com o ato repentino.
— Ah... obrigada. — Agradeço segundos depois.
— Qualquer coisa, só chamar. — Ele disse já indo para longe.
— Espere. — Pedi, o fazendo me encarar e voltar.
- Isso... - Falei, me referindo a bebida em meu copo. — Não tem coisas estranhas, né?
Ele riu.
— Depende do que você considera estranho. — Respondeu com um belo sorriso ao rosto.
Apontei com o queixo para as garrafas com aquelas coisas se mexendo. Ele virou-se por um momento e logo me encarou novamente.
— Não, não. Relaxa. Está na cara que você é uma iniciada e que não frequenta muito Aureatus... O que é normal, pois a maioria dos iniciados vêm de países do mundo humano para só morarem aqui depois que se formam na Academia.
Eu o encarei em silêncio enquanto processava suas palavras.
— Eu não sabia disso... — Sussurrei.
— Agora sabe. — E com isso deu um último sorriso e começou a se afastar novamente.
— Ei! — Chamei-o novamente. — Quanto isso é? — Perguntei já mexendo no bolso da minha calça onde tinha guardado algum dinheiro mais cedo enquanto me arrumava.
— Você veio junto com a turma do Henry, não foi? — Perguntou.
Uni as sobrancelhas, como ele sabia daquilo?
— Sim. - Respondi.
— Então esqueça o dinheiro. Fique à vontade para pedir o que quiser. — E então se afastou novamente.
Eu ainda estava com as sobrancelhas unidas mesmo alguns minutos depois daquilo. Agora eu cutucava a bebida laranja em meu copo com o canudo dali.
Logo experimentei e admito que gostei do drinque, tinha limão no meio algo mais ali. Só sei que estava muito bom e por isso eu tomei a metade em menos de um minuto. Controlei- me para não tomar tudo logo, pois não queria que o álcool subisse rápido, ainda mais em um lugar que eu não tivesse bom conhecimento.
Uma garota em algum momento chegou e se sentou ao meu lado, o barman veio a mesma e ela então pediu o mesmo que eu apontando para o meu copo.
De canto de olho para não parecer grossa ou sei lá o quê, eu observei a garota. Essa tinha a pele branca amarelada, algumas várias sardas nas bochechas e nariz, um cabelo curto no fim do pescoço vermelho com franja de frente, e usava um vestido preto justo que, provavelmente, tinha a intensão de atrair muitos olhares do sexo oposto quando considerado o espaço que estávamos.
O barman lhe deu a bebida rapidamente e logo em seguida, quando ele se afastou, ela se virou para mim e perguntou:
— Isso aqui é bom mesmo?
Sentindo meus olhos começarem a pesar como se eu estivesse com sono, assenti com a cabeça.
— Muito. — Completei respondendo baixo.
Ela cheirou a bebida.
— Está com um cheiro estranho... — Disse.
— É limão. — Falei. — Não sei se você conhece...
— Limão
— É. — E bebi mais um pouco. — Uma fruta pequena verde.- É muito boa para evitar certas doenças.
— Hm... — A garota disse antes de pôr o canudo na boca e tomar um pouco da bebida. - Nossa, realmente é bom. - E sorriu pra mim.
Sorri também.
Ficamos em silêncio até que eu terminasse minha bebida primeiro e afastasse o copo de mim.
— Isso é do mundo dos humanos, não é? — Ela questionou no momento em que o barman rapidamente se aproximou e pegou o copo.
— Sim. — Respondi.
— Deseja algo mais? — Perguntou o barman com suas orbes verdes me encarando.
— Não, não, obrigada. Acho que já deu minha cota por hoje.
— Sua... cota? — Perguntou, parecendo não entender o que eu falava.
Foi fácil perceber que aquela gíria não era comum por ali.
— Já me foi o suficiente. - Falei me corrigindo.
— Ah, sim. Qualquer coisa já sabe. — E com isso, ele me deu mais uma piscadela e se afastou.
"Aquilo foi uma cantada?" Perguntei a mim mesma.
Negando em pensamento o próprio questionamento, me levantei depressa e logo me senti tonta. Ótimo, aquela bebida tinha mais álcool do que parecia.
— Você está bem? — A garota que estava sentada ao meu lado perguntou-me.
Tinha esquecido dela ali.
— Ah, sim. Eu vou só... — E um branco de um segundo me ocorreu antes de terminar a frase. — ao banheiro lavar o rosto.
E com isso me afastei.
Eu tinha visto as portas dos banheiros em algum lugar enquanto estava a caminho do bar então eu não demorei a achá-lo.
Fiquei surpresa ao perceber que o espaço parecia bem limpo, não tinha odores desagradáveis e as portas não estavam pichadas.
Fui até uma das torneiras que ali haviam e a abri. Não estava muito tonta, conseguia andar normalmente se fosse devagar, mas já sentia algo parecido com sono pesar meus olhos e sabia que isso era o álcool, sorte ter parado antes, pois se continuasse tomando, quando o efeito fosse ativo, iria ter sérios problemas.
Joguei água no rosto e olhei para o espelho. Minhas pernas começaram a tremer, estavam fracas.
Uni as sobrancelhas.
De repente ouvi vozes vindas do lado de fora em meio a música que às vezes parava e voltava.
Saí para ver o que estava acontecendo e percebi que as luzes piscavam com mais intensidade que o normal, a música continuava a falhar e muitos se perguntavam o que estava acontecendo.
Minhas pernas continuavam a tremer e eu estava com medo. Só o que pensava era o que tinha naquela bebida além de limão e álcool.
Mas mal sabia eu que o que estava sentindo, na verdade, não era consequência do álcool.
O que pareceu um excesso de energia tomou conta das luzes ali as fazendo mais fortes até o momento que não aguentaram a sobrecarga. Algumas explodiram, outras soltaram faíscas e teve as que apenas se apagaram. Vidro se espalhou pela pista e houve alguns gritos assustados.
Algo estava estranho acontecendo.
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