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By nicolescreve

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(Sobre Amores e Amizades, #1) Quando o último ano do ensino médio começou, Maria Luísa Alves teve certeza que... More

Sobre amores e amizades:
Central de informação ao leitor:
Personagens:
Playlist:
Introdução:
1: Bem vindo ao Basso
2: Conversas estranhas
3: Saia justa
4: Retornos
BÔNUS: RAFAEL CUNHA
5: Kia e Lia, Lia e Kia
6: Revanche
7: Blecaute
8: Flash, Mozart, Snow e Zeus
9: Conspiração
10: Espelho de classe
11: Quem não cola...
12: OTP
13: Metáfora
14: Qual é o time?
15: Choque de realidade
16: Escolhas
BÔNUS: RAFAEL CUNHA
18: Anna em: o retorno maldito
19: Ariel
20: Carrossel
21: Augusto é o coelhinho
22: Ciúmes
BÔNUS: RAFAEL CUNHA
BÔNUS: AUGUSTO MARQUES
23: Surtando
BÔNUS: RODRIGO CASTRO
24: Olha a explosão
25: Maravilhosa confusão
26: Fim?
27: Bad blood
BÔNUS: THOMAS BASSO
28: Novas sensações, doces emoções
29: Só diga sim, sim, sim
30: Fofoqueiros
31: Sem chance
32: Descobertas
33: Perto
BÔNUS: RAFAEL CUNHA
BÔNUS ESPECIAL: DIA DO AMIGO
34: Compatibilidade
35: Raiva
36: Cartas na mesa
BÔNUS: FELIPE ALVES
THE ARTISTS AWARDS
37: Família
38: Adeus para a foto
39: Sobre vestibulares, faculdades e o futuro
40: Respiração cachorrinho
41: Surpresa? Surpresa!
42: 5inco
43: Sentimentos x distância
44: Até o fim...
Agradecimentos:

17: Dia do chiclete

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By nicolescreve

"Amigos, lembra? Apenas amigos. ── Maria Luísa. "

Um mês depois.

Rodrigo sempre tinha razão em quase todas as coisas em que ele me aconselhava. Não sei bem como ele fazia isso, ter esse poder de ler as pessoas dessa maneira, mas ele conseguia. E talvez por estar fora de tudo, não fazer parte dessa confusão toda, ele fosse à única pessoa que conseguia enxergar todos os pontos de vista. E mesmo não fazendo parte disso tudo tinha a sua opinião também.

Quando ele me falou aquelas coisas no hospital a minha reação pode não ter sido a melhor, na verdade ela foi a pior possível. Mas mesmo ela tendo sido a pior possível, Rodrigo não desistiu de mim ou me deu as costas.

Quando cheguei na sua casa já chorando ele apenas me acolheu em seus braços e me levou até o seu quarto. E então me deixou chorar. Desabar bem na frente dele. Foram duas longas horas de apenas choro sem nenhuma palavra. Apenas minhas lágrimas e o ele passando as mãos em meus cabelos, dessa forma me mostrando que ainda estava ali comigo.

E então eu comecei a me acalmar. Consegui controlar as lágrimas, mas as perguntas começaram a aparecer. Uma atrás da outra como em todas as vezes, e eu só queria alguma resposta. Algum motivo que me fizesse entender toda aquela situação.

Por que Felipe foi embora?

Por que Thomas me afastou?

Por que Rafael me deu as costas?

Tantos eram os porquês que surgiram no decorrer desses três anos e eles ainda não possuíam uma resposta.

E foi isso que comecei a cobrar de Rodrigo em certo momento.

Respostas.

Respostas essas que ele não tinha nada a ver, mas as sabia. Me fez entender algumas coisas simples que estiveram na minha frente por muito tempo, porém que acabei fechando os olhos perante toda aquela situação.

Naquela noite em que nós passamos em claro e eu chorando, tentando achar um motivo para todas aquelas coisas, Rodrigo me fez perceber que um motivo existia para tudo aquilo, mas ele não era mais necessário de se fazer entender agora. Era passado. E que ficar carregando tudo aquilo comigo para o futuro apenas iria me prejudicar e machucar. Foi como ele mesmo disse:

"Foi só um lance maluco da vida, Malu. Seu irmão conseguiu uma bolsa de estudos em outro país; Um dos seus melhores amigos de infância decidiu ter a oportunidade de conviver mais com o pai; Seu outro melhor amigo de infância decidiu dar um espaço na entre vocês, mas nem por isso passou a te evitar. Não procure motivos onde simplesmente à vida interferiu. Beleza que nos sabemos que eles erraram em alguma parte e que muitas coisas ainda precisam ser debatidas, mas para de tentar culpar alguém nisso tudo! Que achar um culpado? Quer realmente culpar alguém? Então comece a culpar a si mesma por estar se afundando dessa maneira. Você não o mal que está causando à você?"

E como se tudo isso não bastasse, todas essas maravilhosas palavraa sendo esfregadas na minha cara, Rodrigo ainda teve a coragem de fechar toda aquela conversa com uma magnífica chave de ouro.

"Não acha que já está na hora de parar de culpar alguém e começar a aproveitar as segundas chances que a vida está dando a todos vocês? Porque tanto eu como você sabemos: você perdoou eles sim, mas está com medo de tentar novamente. E isso é totalmente compreensível, sabe? Mas ainda acho que eles merecem uma segunda chance. Todo mundo merece uma. Ainda mais eles tendo o lugar que tiveram na sua vida. Eles são importantes para você. E muito."

Perdoar aquelas três pessoas de extrema importância na minha vida foi mil vezes mais fácil do que continuar as mantendo afastadas. Aquela barreira invisível que eu tinha construído ao longo do tempo, aos poucos e de maneira gradativa, não fazia mais questão de manter Felipe, Thomas e Rafael afastados de mim. O problema é que demorei para perceber isso.

Foi como se no lugar da barreira invisível um campo de força magnético tivesse sido colocado, os puxando para a minha vida mais uma vez.

E eu podia tentar fugir ou continuar naquele estado de negação, mas como continuar negando ou fugindo de algo quando eu queria inconscientemente aquilo mais que tudo? Não tinha lógica, nunca teria lógica.... Sendo sincera: acho nunca teve lógica nenhuma nessa situação toda.

Então joguei tudo para o alto. Me agarrei naquele campo - também invisível - magnético que fazia questão de ter os garotos novamente. Não seria de uma hora para a outra que tudo voltaria ao normal, infelizmente, não dava para passar uma borracha naqueles três anos, mas riscar aqueles três anos e começar tudo novamente, como se apenas um pause tivesse sido dado nas nossas vidas, isso poderia ser feito.

Dava para tentar de novo.

Porque a vida nada mais é do que daqueles jogos, no fim das contas. Podemos dar pauses, assim como podemos perder tudo de uma hora para a outra, dá para desistir de tudo, mas a melhor parte é que a gente pode não desistir e sempre começar novamente.

Um pause aqui, outro ali, um erro do outro lado e um recomeço sempre que necessário. É, acho que gosto de recomeços.

Foi uma das decisões mais certas que já tomei em tentar fazer as coisas recomeçarem novamente.

[...]

─ Já disse o quanto amo as roupas da Maria Luísa?

Bruna começou a rir e Júlia rodopiou pelo menos três no meio do meu quarto, fazendo com que o vestido que ela usava a acompanhasse. Levantei minha plaquinha com o número 10 gravado ali em sua direção, Bruna por sua vez levantou a de número 8.

Olhei intrigada para ela.

─ Prefiro esse vestido em mim do que nela. ─ deu de ombros.

Júlia revirou seus olhos, se dirigindo até a frente do meu espelho e se analisou durante quase dois minutos.

─ Ok, vou usar esse na festa. ─ juntei as mãos em um gesto de aleluia discreto. ─ Com certeza vou usar esse.

Tínhamos uma festa para ir daqui umas semanas e Júlia sempre foi a mais, hum, neurótica com o que deveríamos vestir. Por conta disso, ela sempre fazia com que escolhêssemos as nossas roupas semanas antes. Fazia mais de horas que estávamos trancadas as três no meu quarto, experimentando as roupas uma das outras e nos decidindo.

─ Graças a Deus, a minha bunda já estava ficando meio quadrada. ─ levantei da minha cama e olhei para a bagunça de roupas. ─ Olha, eu nunca usei esse vestido antes, mas acho que não dá pra colocar ele na máquina de lavar.

─ É, eu também acho. Mas pode deixar, vou cuidar super bem dele.

─ Digo o mesmo dos seus sapatos. ─ puxei Bruna pelas mãos, fazendo com que ela se levantasse. ─ Vamos comer alguma coisa? Depois eu arrumo essa bagunça toda.

Bruna assim que escutou a palavra comer saiu de dentro do meu quarto feito um míssil.

Júlia pediu para que eu descesse o zíper do vestido e começou a juntar suas roupas, as guardando e depois tirou o vestido. Ainda teve a coragem de olhar em dúvida para a peça que tinha acabado de retirar do corpo. Deus, por favor, não faça essa criatura com o cabelo rosa mudar de ideia.

─ Vou só colocar uma roupa e já encontro vocês na cozinha.

Obrigado, muito obrigado.

Alcancei Bruna no fim das escadas e pulei nas suas costas. Ela deve ter me xingado de várias coisas, mas eu realmente não tinha entendido nada que ela havia dito. Apenas joguei meus braços em torno do seu pescoço e deixei minhas pernas bem firmes ao redor da sua cintura.

Cavalinho, iupi iupi. ─ debochei da sua cara. ─ Vamos cavalinho, iupi iupi.

─ Se falar iupi iupi mais uma vez juro que saio correndo com você nas costas. - ela murmurou. ─ E deixo você cair.

Mesmo sabendo que Bruna não tinha como me ver, sorri e aceitei o desafio.

Iupi. ─ segurei o riso. ─ Iupi.

Minha melhor amiga fez jus as suas palavras e saiu em disparada pela casa, comigo em suas costas gritando feito uma maluca. E rindo. Realmente não sabia de onde Bruna tinha tirado forças para correr comigo em suas costas, mas ela tirou e até aquele momento não tinha me deixado cair.

Ela fez o contorno no maior sofá da sala, quase perdendo o equilíbrio e fazendo com que nós duas fossemos ao chão. Mas no último segundo, conseguiu se recuperar e manter-se de pé.

─ Bruna, p-p-para. ─ óbvio que ela não de meu ouvidos. ─ JÚLIA, ME SOCORRE!

E aquela maluca continuou correndo comigo pela sala pelo que pareceu uma eternidade.

Bruna começou a correr para o começo do corredor aonde a porta de entrada ficava. Diminuiu o ritmo já que teria que fazer uma curva bem apertada, mas nós não contávamos com a porta abrindo e pessoas vindo na nossa direção.

Nem em sonhos ela iria conseguir frear antes de fazer um strike em quem estava entrando.

Puta merda!

Só senti meu corpo caindo em cima do corpo de Bruna, outro corpo caindo em cima de mim e alguma coisa caindo próxima as minhas pernas.

Comecei a escutar murmúrios e lamentos. Quem tinha caído em cima de mim pesava uma tonelada.

─ Alguém tira esse elefante de cima da minha barriga. ─ consegui dizer.

─ Obrigado pela parte que me toca, Maria Luísa.

Identifiquei a voz de Augusto. Então era ele que estava quase me matando.

Levantei um pouco a cabeça e também consegui identificar Felipe sendo a coisa que caiu próxima as minhas pernas. Ele também resmungava sem parar, mas quem realmente deveria estar sofrendo naquela situação era a Bruna.

Deitei minha cabeça em cima dela novamente e notei dois pares de pernas ainda em pés, observando a tudo de cima. Segui com meu olhar para cima e encontrei Thomas e Rafael olhando aquela situação com expressões confusas.

Ah, eram os garotos.

Até tentei lançar um sorriso para eles, mas deve ter saído mais como uma careta.

Augusto realmente pesava uma tonelada naquele momento.

- Meu Deus! - capturei a Júlia parada na sala. - O que vocês estão fazendo no chão?

Júlia largou a mochila dela e a bolsa de Bruna com tudo no chão e veio ao nosso encontro. Pensei mesmo que minha amiga fosse me ajudar a levantar do chão, esticar a mão dela ou qualquer coisa parecida, mas a Júlia se atirou em cima de Thomas. Ignorando totalmente Bruna, Augusto, Felipe e eu ali no chão, quase morrendo.

- Caramba, não fazem mais amigos como antes. - com dificuldade sai de baixo de Augusto, rolando no chão até ficar próxima das pernas do Rafael. - Rafael, me ajuda aqui, por favor.

Levantei meus braços para que ele me erguesse, mas ele fez totalmente o contrário.

Rafael se abaixou ao meu lado e passou um dos seus braços pela minha cintura e o outro atrás dos meus joelhos, me erguendo como se eu fosse leve feito uma folha A4. Tive que prender a respiração quando nossos rostos ficaram no mesmo nível, as respirações misturadas e as bocas tão próximas.

Acho que um movimento da minha parte e tudo ia por água abaixo.

Pode ter sido extremamente desnecessário Rafael me carregar no colo até o sofá, mas não reclamo da sensação. A sensação de ter a total atenção deles, seus braços em minha volta e todo aquele calor. Tudo bem, acho que bati a cabeça com força contra o chão.

- Aposto que o Digo não ia gostar nada dessa cena.

Rafael e eu movemos nossos rostos no mesmo segundo em que aquela frase foi pronunciada. Eu ainda estava nos seus braços, que conste na ficha e não estava nada incomodada com aquela situação. Esquivei uma sobrancelha devido aquele comentário super inapropriado de Júlia, não entendendo o porquê de ela citar Rodrigo naquele momento.

- O namorado dela nem precisa se preocupar com isso, Ju. - Rafael deixou meu corpo no sofá e sentou-se no chão. - Somos amigos.

Troquei um olhar confuso com Bruna e depois com Júlia. Era a segunda vez que Rafael se referia Rodrigo a palavra namorado e eu não estava entendendo nada.

- Quem disse isso? - tentei conter minha risada, mas era algo impossível. Levei uma de minhas mãos até a boca, a tapando e observando Bruna quase cair da poltrona de tanto que ria.

- Qual é a graça?

Desde quando Rodrigo tinha me pedido em namoro, eu havia aceitado e éramos um casal de namorados? Não acredito que perdi algo como isso.

- Rodrigo não é meu namorado. - atirei meu corpo contra o sofá, repousando minha atenção somente em Augusto naquele momento. - Sério que falou isso para ele?

- Disse que vocês estavam juntos fazia uns dois anos. - ele deu de ombros.

- Se isso não é namorar, eu não sei o que é.

- Claro que não. - respondi óbvia. - Ele não é meu namorado, mas a gente, sei lá, se dá bem pra caramba. E estamos juntos.

Júlia ainda deixou as coisas mais esclarecidas.

- Se beijam nas horas vagas, andam de mãos dadas, dormem na casa um do outro... Eles apenas não são namorados.

E ela tinha razão. Dei de ombros voltando a prestar atenção ao programa que passava na televisão. Augusto ao meu lado batucava em suas pernas, um sinal de que ele estava inquieto e precisava falar alguma coisa. Achei aquilo meio estranho, mas decidi ignorar naquele momento.

Mais cedo ou mais tarde ele iria acabar falando o que tanto o afligia.

- Falando nos Castro, sabem quem parece que vai voltar? - murmurei um hum para que Thomas continuasse a falar. - Anna.

- O QUE? - encostei minha cabeça no ombro de Augusto, fechando os olhos e preparando meus ouvidos para a bomba que estava prestes a explodir no meio da sala da minha casa. - Quer dizer, como assim?

Foi exatamente por isso que não trouxe esse assunto à tona antes. Aquilo tudo era apenas uma especulação sobre a volta dr Anna. Nem Rodrigo tinha certeza se aquilo de fato iria acontecer.

Nem precisava olhar a Bruna para saber que ela estava em choque. E um pouco histérica também levando em conta o grito que deu agora.

Só porque hoje estava sendo um dia super bacana alguém tinha que soltar uma coisa dessas. Aquilo com certeza não era verdade. Anna não podia voltar para o Basso porque ela foi convidada a se retirar do colégio.

Traduzindo: ela foi expulsa.

- Rodrigo estava falando com uns caras do time sobre ela hoje e escutamos algo como: ela está querendo voltar e acho que vai deixar tudo uma confusão novamente. - Thomas resolveu explicar. - Por que estão me olhando desse jeito?

Arqueei uma sobrancelha sugestiva para Thomas, como se apenas com aquele gesto, o fizesse lembrar de tudo.

- Ele acha isso? - Júlia perguntou debochada. Ela pegou um dos braços de Thomas e passou pelo seu ombro, logo após começou a brincar com os dedos do namorado. - Aquela garota só estraga as coisas quando está por perto.

- Júlia. - Bruna a repreendeu.

- Desculpa, B. Foi sem querer é mais forte que eu.

- A gente pode, por favor, não falar sobre isso? - decidi colocar um ponto final naquele assunto.

Afundei meu corpo ainda mais no sofá querendo ser sugada para dentro dele.

A sala caiu naquele silêncio de antes das conversas paralelas começarem, todos focados no programa que passava na televisão. Pelo canto do olho notava Thomas e Júlia em uma conversa calorosa; Felipe tentando não prestar atenção no casal e Bruna remexendo-se a cada segundo que passava, procurando alguma posição confortável. Augusto ao meu lado fazia o mesmo que ela.

Por fim quando foquei minha atenção em Rafael fiquei surpresa por já ser o foco de sua atenção. Sorri sem graça em sua direção e voltei meu olhar para a televisão. Era estranha a sensação de ter os olhos de Rafael me observando. Era sempre como se ele enxergasse mais do que os outros, que via além de mim.... Estranho, eu sei, mas era assim que me sentia.

Uns dez minutos passaram até que B quebrou o silêncio novamente.

- Bom, já deu a minha hora. - Bruna levantou do sofá. - Minha avó pediu pra não chegar tarde em casa hoje. Tenho que ir.

- Vou com você. - Júlia também se levantou. - Até a metade do caminho.

Começou aquela sessão de beijos e abraços rápidos de despedida. No caso de Júlia e Thomas com um direito a troca de DNA e línguas. Sacudia a cabeça em negação, desviando o olhar deles, mas preferia ter ficado olhando para aquela cena toda do que ter me deparado com a cara de Felipe.

- Levo vocês em casa. - Augusto se levantou, pegando seu boné na mesa de centro e o colocando. - Posso pegar alguma bicicleta na garagem, Malu? Levo a Júlia na carona já que a B tá de bike também.

- Pega a do Marco. - respondi. - Ele mandou calibrar os pneus tem tipo uns dois dias.

Dei um meio abraço em Júlia - escutando suas juras de que cuidaria do meu vestido como se ele fosse um filho -, e lancei apenas um beijo em direção a Bruna que sorriu e já abriu a porta principal da minha casa. Acho que alguém precisava de alguns minutos a sós e pensar sobre as últimas noticiais...

- Tchau, gente.

- Avisem quando chegar! - não sei se alguma delas escutou, mas tive a leve impressão de ver Júlia fazendo um gesto positivo com seus polegares antes da porta bater.

Eu já havia comentado que Felipe era uma pessoa curiosa. Ok, todas as pessoas na minha família são, mas Felipe possui um nível elevado de curiosidade que supera o da nossa prima, Aline. E, olha, ela era realmente muito curiosa.

Então não foi novidade nenhuma a curiosidade de Felipe sobre o assunto Anna Castro.

E também não foi novidade ele nem esperar dez minutos para perguntar.

A porta fechou e a boca de Felipe jorrou toda sua curiosidade sobre aquilo. Que ótimo jeito de passar o tempo esperando Augusto voltar para casa.

- Pode explicar quem é essa Anna? - ele disse. - Aquele dia da briga vocês falaram nela também.

- É uma história bem longa e não é minha. - Felipe me lançou um olhar cético e aquilo me irritou profundamente. - Qual é! Thomas, diz pra eles que não estou mentindo.

Uma almofada voou em minha direção.

Olhei bem séria para o meu irmão e, ao invés de devolver o carinho usando a almofada, joguei meu chinelo em sua direção. A intenção era que pegasse no braço dele, não na barriga, mas eu sempre fui péssima de mira. Pedi umas desculpas baixinho e Rafael riu do drama desnecessário que Felipe fazia naquele momento.

Nem deveria ter doído tanto assim.

- A história não é dela mesmo, cara.

- E daí? - Felipe chutou levemente meus pés e eu apenas lancei um olhar indignado para ele. Por acaso ele queria guerra? - Conta logo, Maria Luísa.

Dei de ombros e deixei que Thomas começasse a falar sobre aquilo.

Em partes, Anna era um assunto meu também - e de praticamente todo o Basso de Souza -, mas ela era mais assunto de Bruna do que de qualquer pessoa. Não me sentia a vontade contando sobre o que aconteceu. Por isso deixei que Thomas começasse a resumir tudo aquilo.

De qualquer jeito mesmo não sendo um assunto nosso, Felipe e Rafael, mais cedo ou mais tarde, tomariam ciência sobre toda essa história.

- Anna Castro é um baita problema na vida da Bruna. E do Augusto também, de certa forma. - Thomas tomou afrente do assunto.

- Ah entendi. - Felipe respondeu óbvio. - Augusto traiu a B com essa menina e agora ela tá voltando... Entendi toda a tensão.

Troquei outro olhar com Thomas e era visível que ele também estava se segurando para não começar a rir das deduções nada corretas de Felipe. Ele não dava uma dentro.

- Nem chegou perto. E, cada, preciso dizer que essa sua naturalidade pra falar sobre traição é muito sinistra. Ainda benm que sou seu amigo, hein? - eu tive que rir, mas não porque achei engraçado, mas sim porque fiquei nervosa. Muito. Felipe apenas lançou um sorriso amarelo para Thomas. - Vamos dizer que a Anna joga no time da Malu e não no nosso.

- Tá de brincadeira, né? - Thomas negou com a sua cabeça. - Puta que pariu!

- Bruna não traiu Augusto com ela, antes que você presuma isso. - tratei de começar a explicar a situação. - Quando eles terminaram por um motivo não aparente, Anna se aproximou e elas se envolveram de uma maneira bem intensa. - a cara de surpresa de ambos foi até que engraçadinha. - Chegaram até a assumir um relacionamento.

Thomas voltou a acenar com a sua cabeça de maneira positiva.

Algumas lembranças de Anna quiseram se fazer presentes naquele momento, mas tratei de empurrar todas para qualquer canto do meu cérebro. Falar sobre Anna não era o meu assunto preferido.

Era complicado.

- Só que ela fez uma merda gigante com pra cima da B e elas terminaram. - resumi toda a história. - Agora Anna está, aparentemente, de volta e não sabemos o que vai acontecer já que né... É a Anna.

Apoiei minha cabeça na guarda do sofá e grudei meu olhar no teto de casa. Se apenas em falar sobre Anna eu estava daquela maneira, como Bruna e Augusto estavam reagindo a tudo aquilo? Não parecia muito justo ela voltar bem agora que eles estão se acertando novamente.

- Mas Bruna e Augusto estão tipo juntos de novo. - Rafael disse o óbvio. - Ela vai se dar conta que é sem noção ela se meter entre eles.

Quem dera fosse fácil assim, Rafael

Quem dera.

- Doce ilusão, caras.

- Vocês não conhecem Anna Castro. - continuei fitando o teto enquanto absorvia tudo aquilo mais uma vez. - Ela não para até conseguir o que quer.

Anna voltando não era algo bom.

Depois de aprontar tudo que estava no seu alcance, ela foi convidada educadamente por Clara a dar um tempo do Basso. Não sei se ela foi expulsa, não sei o que aconteceu dentro daquela sala, mas pelo que Rodrigo me contou, os pais deles ficaram horrorizados com as barbaridades que a filha cometeu e decidiram a afastar do colégio; Eu não conhecia os pais de Rodrigo tão bem, mas já os amava por ter feito aquilo.

Só que ao que tudo indicava - na verdade pela fofoca que Thomas espalhou -, Anna poderia sim estar voltando para o Basso. E, bom, levando em conta o recado que Diego carinhosamente me deu naquele estacionamento, poderia ser verdade. Mas eu torcia em segredo que fosse um mal-entendido.

Augusto voltou depois de ter largado Bruna e Júlia em suas respectivas residências. Alguma coisa na expressão pensativa no seu rosto me dizia que aquele assunto todo sobre a volta repentina de Anna Castro tinha mexido com seus pensamentos. E com certeza com todo o resto.

Dei um meio sorriso para Augusto quando o mesmo se sentou ao meu lado no sofá.

Augusto sabia que eu não iria tocar naquele assunto, assim como ele também não iria tocar. Falar sobre Anna era falar sobre a ex-namorada que ele tinha e que, provavelmente, não fosse mais ex-namorada no momento. Se ele quisesse falar sobre aquele assunto comigo, tudo bem, mas como eu conhecia Augusto Marques melhor do que ninguém, ele só tocaria no assunto Anna Castro se ela voltasse.

Ele também torcia em segredo para que tudo fosse um mal-entendido.

- Cara, quase nos esquecemos de falar uma coisa com você! - Thomas cortou meus pensamentos e também o silêncio que tinha se instalado na sala.

- Hum, assunto sério, intermediário ou bobagem como sempre?

Augusto ao meu lado arrumou sua postura, Felipe largou seu celular e Rafael parou de prestar atenção ao que passava na televisão. Os quatro trocaram um breve olhar antes de focarem a atenção em mim. Ok, isso era realmente meio esquisito.

Foi Augusto que resolveu quebrar o silêncio daquela vez e o escolhido a largar a bomba.

- Dia do chiclete.

Levantei ambas as sobrancelhas tamanha foi a minha surpresa naquela hora.

O dia do chiclete nada mais era do que... O dia do chiclete. Não tinha melhor maneira de descrever isso que criamos quando ainda éramos crianças do que o próprio nome que colocamos nisso. Dia do agarradinho, dia do grude, dia de ficar juntinho.

Explicando melhor: cada um de nós correspondia a um dia da semana e, quando fosse o dia X da semana, pessoa X seria companhia de pessoa y.

Criamos o dia do chiclete quando as divergências entre nós começaram a surgir. Tinha dias que Thomas queria ficar apenas correndo ou que Felipe queria passar o dia assistindo filmes; Havia dias que Augusto queria jogar futebol ou Rafael só queria desenhar ou eu queria passar o dia observando formigas. E então nós brigavamos demais.

Chegou um ponto que aquilo ficou insuportável e decidimos fazer alguma coisa.

Foi daí que o dia do chiclete surgiu.

Mas isso era uma coisa que fazíamos quando ainda éramos crianças. E achei naquele momento que Augusto estava tirando uma com a minha cara. Por conta disso, comecei a gargalhar no meio da sala da minha casa como uma abobada. Foi um ataque de risos e tanto, algo memorável.

- Isso é sério? - quando vi que nenhum deles me acompanhava no momento risadas, parei subitamente de rir e os encarei séria. - Vocês realmente estão falando sério? Caramba, não acredito.

- É, estamos falando sério. - foi a vez de Rafael reforçar a ideia.

- Olha, sério - comecei com as minhas explicações. - É impossível fazer isso agora, desculpa.

- Por quê?

Por quê?

É óbvio o porquê do dia do chiclete ser inviável agora.

Nós crescemos! Todos nós. Não passamos mais os dias nos preocupando apenas com os trabalhos de tinta guache ou massinha de modelar; Ou qual fantasia iriamos usar no dia da fantasia e se nossas mães iriam deixar que fossemos a pracinha brincar juntos. Quem dera ter essas mesmas preocupações agora.

Antes passar o dia do chiclete juntos era algo fácil e nada complicado.

Agora sendo esse o ano do vestibular, fazer algo como o dia de chiclete seria complicado. Muito complicado.

- Antes eu não tinha tantos compromissos como eu tenho agora e vocês também não. - disse. - Eu tenho a equipe de natação, o negócio de organização da formatura, o colégio em si, minhas amigas, vocês, minha família e - olhei rapidamente para Rafael e soltei. Fui super sincera naquele momento. - O Rodrigo. Não dá para me dividir durante a semana entre vocês! Parece egoísmo com as outras pessoas...

- Qual é, Malu! - foi à vez de Thomas intervir. - Sempre fomos nós cinco. Se a gente tentar, consegue...

- Segundas e sextas são dias de natação. Duas vezes ao mês, as terças e quintas, são destinadas a organização da formatura. - o cortei rapidamente e comecei a ditar meu mantra tão conhecido. - Todos os dias eu tenho que estudar e ficar com as gêmeas. Gente é sério, não estou arranjando alguma desculpa para não ficar com vocês. É ano de vestibular!

E tudo ficou quieto.

Eu não estava arranjando alguma desculpa para não ficar com os garotos, qual é, não estava mesmo! Só que levando em conta todas as minhas atividades, todos meus compromissos e tudo que eu tinha com o colégio, ficaria impossível conciliar tudo.

Ou talvez, se eu fizesse um esforcinho...

Não, não, não e não. Já tenho coisas demais para me preocupar - e ocupar -, acrescentar a semana do chiclete, dia do chiclete, só iria atrapalhar com tudo. Além do mais, não preciso ser exclusiva de um deles a cada dia da semana, dá tranquilamente para dividir meu tempo com os quatro e com todas as outras pessoas da maneira que estava.

O dia do chiclete era divertido quando éramos mais novos, agora parecia meio egoísta.

- Podíamos fazer um teste... - Augusto arriscou. - E se não der certo, paramos.

- Como assim?

Os quatro voltaram a trocar olhares rápidos e... Espera! Eles tinham realmente planejado aquilo? Como eu não percebi antes?

Felipe se ajeitou na poltrona, apoiando os cotovelos nos joelhos e curvando minimamente o corpo para frente. Trocou mais um breve olhar com os garotos antes de começar a explicar o seu esquema. Plano, tática, seja lá o que tenha sido aquilo.

- Se segundas e sextas são dias de natação, Augusto pode ser o da segunda e o Thomas da sexta, por exemplo. Eles têm projeto também. - Felipe indicou os dois garotos com as mãos. - Eu posso ser o da terça-feira e, quando tiver alguma coisa para ajudar com a organização da formatura, posso ajudar. - deu de ombros rapidamente. - E o Rafael pode ser o da quarta.

- Júlia, Bruna, as gêmeas, mamãe e Marco entram nisso aonde? - perguntei.

- Todos os dias, gênio. - Augusto ao meu lado, deu um tapa na minha testa. - A ideia é passar uma hora só juntos, sabe? E usar essa uma hora falando sobre o tempo que ficamos afastados. Trabalhar nos nossos laços.

- Não vou precisar ter um dia com o Augusto, então. Ele não foi babaca comigo em nenhum momento e se nós estreitarmos ainda mais a nossa amizade vamos acabar virando um só. - Augusto riu da minha escolha de palavras. - Desculpa pela parte do babaca. Saiu sem querer.

Por mais flexíveis que as coisas poderiam ser, eu tinha certeza que aquilo tudo não iria funcionar.

- Uma hora do dia para fazer o dia do chiclete talvez aconteça... - Augusto demonstrou seu apoio sobre aquela situação também. - Uma hora é um bom tempo.

- Vocês acham que isso vai dar certo? Porque, sendo sincera, eu acho que as probabilidades disso se transformar em um caos são gigantes.

- Esse é ponto: não fazemos ideia, mas é válido tentar, né?

- Por favor, Malu. - Thomas passou um dos braços pelos meus ombros, me sacudindo e falando com uma voz extremamente irritante. - Por favorzinho.

Não posso mentir: eu estava pronta para negar mais uma vez com tudo aquilo. Pronta mesma, até abri a boca e preparei minha voz para sair um belo não, mas não tive coragem. Não depois que encarei o rosto de cada um daqueles garotos.

Sabe quando a gente volta no tempo ou simplesmente viaja de olhos abertos? Foi o que aconteceu ali na sala da minha casa.

Simplesmente fui tomada de todas as lembranças dos anos de amizades, de todos os segredos, todas as risadas, todas as promessas, até mesmo dos maus momentos, e não tinha como dizer um não. Aquilo podia dar errado? Com certeza. Aquilo iria dar errado? Com certeza duas vezes. Mas eu não via motivos para não tentar.

Era a nossa segunda chance, não era? Se a vida estava tentando ser minha melhor amiga nesse momento, eu iria aceitar de bom grado todo aquele bom humor.

- Tenho quase certeza que isso não vai funcionar, mas - murmurei enquanto afastava o braço de Augusto e suspirava. - vamos fazer um teste. Que a sorte esteja do nosso lado?

Depois de mais uma hora debatendo, ajeitando detalhes e, claro, discutindo, conseguimos chegar a um consenso. Ou pelo menos em algo que não atrapalhasse ninguém. Regras foram impostas e a única coisa que se manteve igual desde sempre foi à troca de dias. Coisa sem relevância. É bem como o nome diz: se um de nós precisar trocar um dia por algum compromisso, troca com quem puder e assim segue.

Discussões à parte e almofadas voando pela sala, ficou decidido que:

Thomas Basso era a minha uma hora na segunda-feira. Levando em conta que Thomas é a pessoa mais chata do mundo e nunca quer fazer nada, a uma hora de todas as segundas seria gasta em conversas. Ele é o melhor dos garotos para conversar, sério, é o melhor ouvinte. Tenho que admitir.

Felipe Alves era a minha uma hora de terça-feira. Meu irmão com certeza iria gastar seu tempo comigo tentando assistir a filmes; mas é claro que eu iria usar daquele tempo para entender o que se passava na cabeça dele. Também gastaria o tempo com ele tentando fazer ele entender que Júlia e ele era algo que nunca iria acontecer.

Rafael Cunha era a minha uma hora da quinta-feira. E isso me assustava por motivos bem claros, certo? Nem preciso ressaltar. Passar esse tempo na companhia de Rafael Cunha era algo tão animador para os meus sentimentos mal resolvidos sobre ele. Ironia pura tudo, ok?

Augusto Marques era a minha uma hora da sexta-feira. Isso seria igual a comida e fofocas. Bem coisa de Augusto Marques e Maria Luísa Alves.

Sábado e domingo dia de sábado e domingo.

Preciso confessar que fiquei feliz pela iniciativa dos garotos. Seria complicado continuar com os dias do chiclete justamente no último ano do colégio, mas eu fiquei feliz. Não imaginava que eles ainda se lembravam dessa pequena coisa na nossa amizade, mas quando eles falaram que queriam retomar, posso ter ficando negando, mas não nego que fiquei feliz demais.

Mostrava que eles realmente queriam fazer tudo dar certo novamente entre a gente.

Sempre fomos nós cinco e seria justo, por todos os anos de amizade, recomeçar novamente e fazer o clube voltar.

Então, sim, iria ser complicado e - tenho que admitir - estranho no começo administrar os dias da semana conforme o combinado, mas eu estava feliz. É como se tudo tivesse voltando, aos poucos, a ser como era antes. O pause tinha acabado e agora estávamos na partida novamente.

Os cinco, como sempre deveria ser.

Declaro como oficial o dia do chiclete a partir de agora.

#

Oi, migas, tudo bom?

A N/A de hoje é bem rápida por motivos de: preciso dormir HAUHAAU O que posso dizer desse capítulo é: o próximo é UM TIRO bem no meio da testa. Real mesmo. Eu gosto bastante do 16 por ele ser um capítulo de transição, mas que mostra esse primeiro passo na aproximação deles.

Me digam o que acharam, ok? Acredito que eu consiga liberar o 17 no meio da próxima semana porque falta um parágrafo pra terminar ele e preciso dividir ele com todo mundo HUAHAU Não quero tomar o tiro sozinha #maligna

Obrigado pelos comentários e votinhos de vocês 💜💜💜 Eles significam muito pra mim e nem tenho palavras pra agradecer todos eles!

Se alguém quiser bater papo no twitter > shhhnic

Um beijão

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