O Cavaleiro de Bronze Livro I

By natbarros_

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A Segunda Guerra Mundial ainda não havia alcançado a cidade de Leningrado, onde as duas irmãs Tatiana e Dasha... More

O Campo de Marte
Capítulo 2
Capítulo 3
Caminhos Desconhecidos
Capitulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Fumaça e Trovão
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Espetada no espaço
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Atormentados e Sitiados
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
A Noite Desmoronou...
Capítulo 33
Capítulo 34
A sombria cidade de Pedro
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Pedaços de Fortalezas
Capítulo 40
Através daquele formidável mar
Capítulo 42
Fim da parte 1!

Capítulo 28

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By natbarros_

  No dia seguinte, 8 de setembro, havia agitação na cidade desde manhã cedo. O rádio anunciava: "Ataque aéreo, ataque aéreo!"No hospital, Vera pegou a mão de Tatiana e exclamou:– Você ouviu esse barulho?Foram juntas para a entrada do hospital na Avenida Ligovsky, eTatiana ouviu pesados e distantes estrondos que não vinham para mais perto, só cresciam em frequência.– Verochka – Tatiana disse calmamente –, são os morteiros. Fazem esse som quando eles soltam as bombas.– Bombas?– Sim. Eles colocam essa máquina no chão, não sei bem como funciona, mas ela dispara bombas grandes, bombas pequenas, bombas explosivas, de pavio curto, pavio longo. As piores são as bombas de fragmentação – disse Tatiana. – Eles têm também essas pequenas bombas antipessoais. Disparam cem de uma vez. São letais.Vera olhou a Tatiana, que deu de ombros.– Luga. Eu não devia ter ido lá. Mas... ouça, você pode cortar fora a minha perna?Voltaram para dentro.– E se eu tirar agora o seu gesso? – Vera disse. – Acho um pouco drástico cortar fora sua perna.Era a primeira vez que Tatiana via sua perna ao longo de seis semanas. Ela quisera ter mais tempo para contemplar seu membro estranho, murcho, sem o gesso. Mas enquanto mancava ao redor, ouviu uma comoção no final do corredor, no setor de enfermagem. Todas as enfermeiras subiam as escadas, Tatiana foi mancando atrás delas. Doía-lhe a perna quando nela punha seu peso.Do telhado, viu duas formações de oito aviões voando sobre sua cabeça. Uma explosão, seguida de fogo e fumaça negra, atingira metade da cidade, bem ao longe.Está realmente acontecendo, ela pensou. Os alemães bombardeiam Leningrado. Pensei que tinha deixado tudo isso para trás, lá em Luga.Pensei que lá havia visto o pior que jamais veria. Pelo menos, pude deixar Luga e voltar à paz. Aonde posso ir agora?Tatiana sentiu um cheiro pungente de ácido e pensou: o que é isso?– Vou para casa – Tatiana disse para Vera – ficar com minha família. –Mas ela só pensava naquele cheiro.À tarde, eles souberam que os armazéns de depósito de Badayev,que supriam Leningrado de alimentos, haviam sido bombardeados pelos alemães e agora eram ruínas flamejantes.O cheiro pungente era de açúcar queimado.– Papai – perguntou Tatiana, enquanto sentavam, solenes, à mesa do jantar. – O que vai acontecer a Leningrado?Papai não tinha resposta.– O que aconteceu ao Pasha, eu suspeito.Mamãe começou a chorar.– Não fale assim! – ela exclamou. – Você assusta as crianças .Dasha, Tatiana e Marina se olharam.O bombardeio continuou até o fim da tarde. Anton chamou Tatiana e os dois subiram ao telhado. Podia parecer estranho andar sem o gesso, mas não havia nada mais estranho que a visão dos fragmentos negros e esfumaçados no céu de Leningrado. Alexander tinha razão, ela pensou. Ele tinha razão a respeito de tudo.Tudo o que ele me disse que aconteceria, está acontecendo.O coração de Tatiana encheu-se de respeito e afeto e ela fez uma anotação mental, prometendo ouvir cada palavra que ele dissesse de agora em diante, mas então sentiu-se atravessada por uma ponta de medo. Não lhe dissera Alexander que haveria uma batalha mortal nas ruas da cidade?Dimitri com sua arma, Alexander com sua granada e Tatiana com sua pedra. Não lhe dissera Alexander que comprasse comida como se ela nunca mais fosse disponível? Talvez ele exagerasse um pouco , ela pensou, algo aliviada. Não havia ele insistido que saísse da cidade, quando ele vinha ao seu encontro em Kirov?Enquanto a fumaça negra pairava como um monumento celestial sobre Leningrado, Tatiana tinha um pressentimento, como uma leve e penosa escuridão, ao pensar sobre o futuro da família .Anton, olhos expectantes, examinava o céu.– Tania! – ele exclamou. – Eu já consegui. Uma bomba caiu, uma incendiária, e eu a desarmei com isto! – ele apontou para o pedaço d epau em sua mão, cuja extremidade final estava ligada a um meio círculo de concreto que parecia um capacete de soldado. Pulando para cima e para baixo e acenando ao céu com o seu punho, Anton gritava:

– Estou pronto pra vocês, venham, venham outra vez!– Anton – disse Tatiana rindo –, você é tão louco quanto o Slavin.– Oh, muito mais louco – disse Anton, todo contente. – Ele não está no telhado, está?Tatiana podia ver incêndios na direção de Nevsky, na direção do rio.De repente, a cabeça de Mamãe surgiu na porta da escadaria, ela não se atrevia sair de corpo inteiro ao telhado. Ela gritava:– Tatiana Giorgievna! Você está louca? Desça já!– Não posso, Mamãe, estou de plantão.– Eu disse, venha! Venha já!– Eu desço em mais uma hora, Mamochka. Vá, desça.Mamãe, brava, resmungou e desceu, mas voltou dez minutos depois,com Alexander e Dimitri.Tatiana, bem no alto do telhado, sacudiu a cabeça.– O que você está fazendo, Mamãe? Trazendo reforços?– Tatiana – Alexander disse, indo em sua direção –, desça conosco.Dimitri permaneceu perto da plataforma com Mamãe.Como Tatiana não se mexeu, Alexander, franzindo o rosto, disse:– Imediatamente, Tania.– Não posso deixar o Anton sozinho aqui, não é? – ela disse suspirando.– Vou estar bem, Tania – Anton gritou, brandindo aos céus o pedaço de pau. – Estou pronto para eles.– Soldado, ponha o capacete na cabeça. – Alexander disse para Anton ao sair de lá.Lá embaixo, no quarto, Dimitri disse:– Tania, querida, você não devia ir ao telhado durante um ataque aéreo.– Bem, não faz muito sentido subir no telhado em outras ocasiões –ela respondeu levemente. – A não ser que você queira pegar um bronzeado. – Ela se afastou dele.– Você mora na cidade errada para pegar um bronzeado – fulminou Alexander. – Mas honestamente, Tania, o que você está pensando?Dimitri tem razão, sua mãe tem razão, você quer que sua família perca dois dos seus três filhos? Nem todas as bombas são incendiárias; elas não aterrissam aos seus pés sem fazer estragos, como pombas abatidas. Você se esqueceu de Luga? O que acha que acontece quando uma bomba explode no ar? A onda explosiva destroça vidro, madeira, plástico. Porque tapamos todas as janelas na cidade? O que acha que aconteceria se essa onda atingisse você?– Talvez – Tatiana disse secamente – vocês possam me tapar, talvez com uma pequena palmeira.– Deixe de brincadeiras bobas! – disse Dasha

. – Não arrume mais confusão. Não quero que os nossos bravos rapazes desenterrem você outra vez. – Ela apertou Alexander.– Nessa eu não levo nenhum crédito – disse Dimitri, olhos flamejantes. – Ou levo, Alexander?– Tania, sabe de uma coisa? – disse Mamãe. – Por que não vai fazer o jantar e nos deixa, os adultos, conversar um pouco? Marina, ajude Tania com o jantar.Tatiana fez batatas, com um toque de manteiga, e um pouco de feijão e cenouras. Isso não é comida suficiente para todos, ela pensou;então fritou presunto de lata do estoque de Deda, prato de que ninguém gostou.– Tania, seus pais ainda não gostam de falar na sua frente, não é? –disse Marina.– Não, de fato não.– Os soldados protegem muito você, especialmente o Alexander –Marina afirmou.– Ele protege a todos – disse Tatiana. – Você pode me trazer um pouco mais de manteiga? Acho que esta aqui não é suficiente.Foi um jantar sombrio naquela noite. Alexander e Dimitri estavam de saída para o front, e todos tinham medo de mencionar o indizível –alemães no meio de sua cidade e Alexander e Dimitri indo para o front.Tatiana sabia que, ao contrário de Dimitri, Alexander não ia para a batalha na linha de frente, mas isso pouco a consolava, imaginando-o no comando de sua companhia de artilharia.Ainda assim foi ela que conseguiu perguntar animada:– Bem, e agora? – Todos bebiam chá preto.– Todos vocês usem o abrigo de bombas lá embaixo – Alexander disse. – Vocês têm a sorte de contar com um desses. Muitos edifícios não têm. Usem-no todos os dias. E você, Dasha, assegure-se de que a sua irmã não suba ao telhado. Diga a ela que deixe os rapazes cuidarem das bombas. Você me ouviu, Dasha?– Ouvi, querido.Tatiana o ouviu alto e claro.– Alexander, havia muito alimento nos armazéns queimados? – ela perguntou.Alexander deu de ombros.– Havia açúcar, um pouco de farinha de trigo. Suprimentos para dois dias, talvez. Mas não devemos nos preocupar com os armazéns Badayev. Nossa preocupação deve ser com os alemães, agora sitiando a cidade.– Oh, Alexander, não posso acreditar que estejam aqui em Leningrado! – Dasha disse. – Durante todo o verão, eles pareciam tão longe.– Agora estão aqui. O círculo ao redor de Leningrado está quase completo.– Quase um círculo – resmungou Tatiana.– Quem diabos é você para discutir com um Tenente do Exército? –gritou o seu pai, embriagado.Alexander levantou a mão e disse calmamente:– Seu pai está certo, Tania. Não discuta comigo. Mesmo que você tenha razão.Tatiana conteve um sorriso.Alexander continuou, tampouco sorrindo.– Infelizmente, os alemães têm a geografia do seu lado. Temos muita água ao redor da cidade. – Ele então sorriu. – Eu retifico o que disse.Com o golfo, o lago Ladoga, o rio Neva e os finlandeses ao norte, o círculo ao redor de Leningrado está quase completo. – Ele olhou para Tatiana e perguntou – Fica melhor assim?Ela resmungou alguma coisa ininteligível e acidentalmente pegou o olhar de Marina.Dimitri sentava bem junto de Tatiana, seu braço ao redor dela,afagando-lhe os cabelos.– Seu cabelo está crescendo, Tanechka – ele disse.

 – Deixe-o crescer por inteiro, sim? Eu gostava dele longo.Seja lá o que Alexander estiver fazendo, Tatiana pensou, não é suficiente. Seja lá o que estivermos fazendo, não é suficiente. Por quanto tempo podemos continuar? Precisamos parar de conversar na frente do Dima, da Dasha e do resto da minha família. Ou logo haverá problemas.Como se lesse a mente de Tatiana, Alexander colocou sua cadeira mais perto de Dasha.– Alexander – perguntou Dasha – Os alemães ainda não ocuparam o Neva inteiro, não é mesmo?– Ao redor da cidade, sim. Rio acima até o lago Ladoga, para Shlisselburg. Shlisselburg era uma pequena cidade construída na ponta do lago Ladoga, onde o Neva saía do lago e serpenteava setenta quilômetros rumo a Leningrado, desaguando no golfo da Finlândia.– Shlisselburg está sob controle alemão? – Dasha perguntou.– Não – Alexander disse, suspirando. – Mas amanhã estará.– E aí então?– Então lutamos para manter os alemães fora de Leningrado.– Agora que os armazéns queimaram, como os alimentos vão chegar à cidade? – a mãe de Tatiana perguntou.– Não só alimentos, mas querosene, gasolina, munições – Dimitri disse.– Primeiro – Alexander argumentou –, impedimos os alemães de entrar na cidade, depois nos preocupamos com o resto.Dimitri riu de um jeito desagradável.– Eles podem entrar se quiserem. Cada grande edifício de Leningrado está minado. Cada fábrica, cada museu, cada catedral, cada ponte. Se o Hitler entrar na cidade, ele vai morrer em suas ruínas. Não deteremos Hitler, a não ser com a sua morte.– Não, Dimitri, vamos deter o Hitler – disse Alexander –, antes que os alemães entrem na cidade.– Leningrado agora então é terra arrasada, também? – perguntou Tatiana. – E nós?Ninguém respondeu.Alexander balançou a cabeça e finalmente disse:– O Dimitri e eu vamos para Dubrovka amanhã. Vamos deter os alemães – se pudermos.– Mas por que eu e você devemos ficar entre os alemães e esta cidade? – Dimitri exclamou. – Por que não podemos simplesmente entregar Leningrado? Minsky cedeu. Kiev cedeu, STallinn cedeu, depois de incendiada. A Crimeia inteira cedeu. A Ucrânia entregou-se toda contente! – Ele caía numa terrível agitação. – Que diabos estamos fazendo, matando todos nossos homens para impedir que o Hitler venha aqui? Que venha.– Mas, Dimochka – disse Mamãe –, sua Tania está aqui. E o Alexander da Dasha também.– Oh, não se esqueçam de mim – disse Marina. – Embora eu não pertença a ninguém, estou aqui também.– É isso mesmo, Dima – disse Alexander. – Você quer sair do caminho do Hitler para que assim ele chegue até sua namorada?– Sim, Dima! – exclamou Dasha – Você não ouviu falar sobre o que os alemães fazem com todas aquelas mulheres ucranianas?– Não ouvi falar. O que eles fazem? – perguntou Tatiana.

 – Nada, Tania – Alexander disse amavelmente. – Posso, por favor,tomar mais um pouco de chá?Tatiana levantou-se.Dimitri olhou sua xícara vazia.– Eu pego mais chá para você também, Dima – disse Tatiana.– Meu pobre Papai não pôde detê-los. – Marina disse, olhando sua xícara vazia. – Eles parecem invencíveis, vocês não acham?Alexander nada disse.– Eles são invencíveis. – Dimitri exclamou. – Nós temos três patéticas divisões de Exército. Não será suficiente, mesmo que morra o último homem e o último tanque seja destruído!Alexander levantou-se da mesa e cumprimentou a todos.– Dito isso – ele falou –, devemos ir, esqueça o meu chá, Tania. –Virou-se para Dimitri e ordenou: – Em pé, Soldado, vamos embora. Sua vida está entre os Metanovs e o Hitler. – Ele não olhou para Tatiana.– É exatamente disso que eu tenho medo – balbuciou Dimitri.Quando saíam, Dasha gritou, agarrando-se a Alexander:– Me promete que vai voltar vivo?– Farei o possível. – E aí então ele olhou para Tatiana.Tatiana não chorou e nem arrancou a mesma promessa de Dimitri.Depois que eles foram embora, ela comeu um pedaço de biscoito doce,dele cuidando como a um ferimento.– Eu gosto de verdade do seu Dima, Tania – Marina disse. – Ele é mais honesto que alguém que conheço. Gosto de ver isso num soldado.Intrigada, Tatiana olhou para sua prima.– Que tipo de soldado não quer ir à guerra e lutar? Pode ficar com ele, Marina. 

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