Capítulo 6

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  Na reunião matinal em Kirov, no dia seguinte, Tatiana foi informada deque o expediente, em honra dos esforços de guerra, se estenderia agoraaté as sete da noite, até outro aviso. Até outro aviso, Tatiana intuía, eraaté o fim da guerra. Krasenko informou aos trabalhadores que ele e osecretário do Partido de Moscou decidiram acelerar a produção do KV-1,tanque pesado para a defesa de Leningrado. Krasenko disse queLeningrado seria defendida com tanques, munição, artilharia quepudessem ser fabricados em Kirov. Stálin não transferiria armas do frontsul para o front de Leningrado para proteger a cidade.O que Leningrado podia produzir em sua própria defesa – armamentoe comida – teria que ser suficiente.Depois daquela reunião, tantos trabalhadores foram como voluntáriosao front que Tatiana achou que a fábrica seria fechada. Mas a sorte nãofoi tanta. Ela e outra trabalhadora, uma mulher de meia-idade, exaurida,chamada Zina, voltaram aos seus postos na linha de montagem. No finaldo dia, quebrou a pistola de pregos, e Tatiana teve que fechar as caixascom um martelo. Ao redor das sete horas, doíam suas costas e braço.Tatiana e Zina caminharam ao longo do muro de Kirov e, antes dechegar ao ponto de ônibus, ela viu a cabeça de cabelos negros deAlexander por cima da onda de gente.– Preciso ir – Tatiana disse, perdendo fôlego e acelerando. – Nosvemos amanhã.Zina resmungou alguma coisa de volta.– Oi – ela o cumprimentou, o coração disparado, a voz firme. – O quevocê está fazendo aqui? – Ela estava muito cansada para fingirdesinteresse. Sorriu.– Vim para levá-la para casa. Passou bem o seu aniversário? Falou comseus pais?– Não – Tatiana respondeu.– Com nenhum dos dois?– Não falei com eles, Alexander – Tatiana disse, evitando o assuntoaniversário. – Talvez Dasha possa falar com eles? Ela é muito mais corajosado que eu.– É mesmo?– Oh, muito – disse Tatiana. – Eu sou muito medrosa.– Tentei falar com ela sobre o Pasha. Ela está ainda menospreocupada que você. – Ele deu de ombros. – Não é problema meu.Estou só fazendo o que posso. – Ele olhou a fila de gente. – Nuncavamos subir neste ônibus, quer andar?– Só se for seguindo o ritmo do bonde – ela disse. Não posso memexer hoje, estou muito cansada. – Ela parou, ajeitando o rabo decavalo. – Faz tempo que você espera?– Duas horas – ele respondeu.Tatiana, de repente, sentiu-se menos cansada. Com surpresa, fixouos olhos em Alexander.– Faz duas horas que você espera? – O que ela não dissera foi: "vocêespera por mim há duas horas?" – Meu expediente agora vai até as sete.Sinto muito que tenha esperado tanto – ela disse suavemente a ele.Afastaram-se da multidão, atravessaram a rua e foram rumo à ruaGovorova.– Por que você carrega isso? – Tatiana perguntou, apontando para orifle de Alexander. Você está em serviço?– Estou liberado até as dez, mas recebi ordens de portar minha armao tempo todo.– Eles ainda não estão aqui, estão? – Tatiana perguntou, tentandoser jovial.– Ainda não – foi sua curta resposta.– O rifle é pesado?– Não. – Ele fez uma pausa e sorriu. – Você quer pegá-lo?– Sim – ela disse. – Vamos ver, nunca segurei um rifle antes.Ao pegar a arma, surpreendeu-se com o peso e como era difícilsegurá-la com ambas as mãos. Carregou um pouco o rifle e depois odevolveu a Alexander.

 – Não sei como você faz – ela disse. – Carregar a sua arma e tambémtodas as outras coisas.– Não é só carregar a arma, Tania, mas disparar com ela. E correr, ejogar-se ao chão, e levantar com ela em minhas mãos, com todas asoutras coisas nas minhas costas.– Não sei como você faz isso.Ela gostaria de ser fisicamente forte assim. Pasha nunca mais ganhariadela uma guerra.O bonde veio, e eles subiram. Estava lotado. Tatiana cedeu seu lugara uma senhora mais velha, enquanto Alexander dava a impressão de nãoquerer sentar. Com uma mão, segurou-se numa correia marrom na partede cima, com a outra segurou seu rifle. Tatiana apoiou-se no cabometálico, já meio enferrujado. De vez em quando o bonde dava umafreada brusca e ela batia nele. E a cada vez se desculpava. O corpo deAlexander era sólido como o muro de Kirov.Tatiana queria sentar-se a sós com ele em algum lugar e perguntarlhesobre os seus pais. Claro que não podia fazer isso no bonde. E seriauma boa coisa saber mais de seus pais? Afinal, saber mais sobre a sua vidaa faria mais próxima dele, quando o que precisava era distanciar-se dele omáximo possível.Tatiana permaneceu calada enquanto o bonde os levava à avenidaVosnesensky, onde pegaram o bonde número 2 para o Museu Russo.– Bem, vou indo – Tatiana disse, extremamente relutante, depoisque desceram.– Você quer descansar um minuto? – Alexander perguntou derepente. – Podemos sentar num dos bancos nos Jardins Italianos. Quer?– Tudo bem – Tatiana disse, tentando não explodir de alegria,enquanto andava em curtos passos ao lado dele.Sentados, Tatiana sentia que algo pesava na cabeça de Alexander.Algo que ele queria dizer e não podia. Ela esperava que não fosse sobreDasha. Ela pensou, mas já não superamos isso? Ela não superara. Mas eleera mais velho, devia haver superado.– Alexander, que edifício é aquele? – ela perguntou, apontando parao outro lado da rua.– Oh, é o Hotel Europeu – Alexander respondeu. – Esse e o Astoriasão os melhores hotéis em Leningrado.– Parece um palácio. Quem pode se hospedar lá?– Estrangeiros.Tatiana disse: 

O Cavaleiro de Bronze Livro IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora