5inco | ✓

By nicolescreve

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(Sobre Amores e Amizades, #1) Quando o último ano do ensino médio começou, Maria Luísa Alves teve certeza que... More

Sobre amores e amizades:
Central de informação ao leitor:
Personagens:
Playlist:
Introdução:
1: Bem vindo ao Basso
2: Conversas estranhas
3: Saia justa
4: Retornos
5: Kia e Lia, Lia e Kia
6: Revanche
7: Blecaute
8: Flash, Mozart, Snow e Zeus
9: Conspiração
10: Espelho de classe
11: Quem não cola...
12: OTP
13: Metáfora
14: Qual é o time?
15: Choque de realidade
16: Escolhas
BÔNUS: RAFAEL CUNHA
17: Dia do chiclete
18: Anna em: o retorno maldito
19: Ariel
20: Carrossel
21: Augusto é o coelhinho
22: Ciúmes
BÔNUS: RAFAEL CUNHA
BÔNUS: AUGUSTO MARQUES
23: Surtando
BÔNUS: RODRIGO CASTRO
24: Olha a explosão
25: Maravilhosa confusão
26: Fim?
27: Bad blood
BÔNUS: THOMAS BASSO
28: Novas sensações, doces emoções
29: Só diga sim, sim, sim
30: Fofoqueiros
31: Sem chance
32: Descobertas
33: Perto
BÔNUS: RAFAEL CUNHA
BÔNUS ESPECIAL: DIA DO AMIGO
34: Compatibilidade
35: Raiva
36: Cartas na mesa
BÔNUS: FELIPE ALVES
THE ARTISTS AWARDS
37: Família
38: Adeus para a foto
39: Sobre vestibulares, faculdades e o futuro
40: Respiração cachorrinho
41: Surpresa? Surpresa!
42: 5inco
43: Sentimentos x distância
44: Até o fim...
Agradecimentos:

BÔNUS: RAFAEL CUNHA

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By nicolescreve

"É uma enorme droga estar nessa situação e ninguém, absolutamente ninguém, tentar entender o meu lado. Só por meio segundo eu gostaria com toda a minha força que alguém se colocasse na minha situação: a estúpida que foi largada pelo irmão e por um dos melhores amigos. Assim, sem mais nem menos. Ah, devo acrescentar que na época eu era apaixonada por esse melhor amigo? ── Maria Luísa."

Uma das certezas que eu tinha quando voltei para casa era de que as coisas não seriam como antes. Fala sério, nem por meio minuto pude ousar a pensar que as coisas estavam como há três anos atrás.

Mas isso não significava que um desejo esquisito de que tudo estivesse o mesmo não existisse em mim.

Desejo esse que não foi acatado ou realizado. Como eu já sabia.

Certo, sendo sincero: as coisas não mudaram drasticamente durante os três anos que fiquei longe do Rio de Janeiro. Mudança ocorreram sim, mas diferente do que eu pensava, muitas coisas mantiveram-se as mesmas.

Diferente do que eu esperava ─ e queria ─ as coisas que permaneceram as mesmas não me deixaram totalmente feliz.

Não posso negar que chegar em casa e ver que os cômodos continuavam os mesmos, os móveis e que meu quarto continuava sendo meu refúgio, foram coisas que me deixaram alegres; também poder ver com meus próprios olhos - e não através de uma câmera de computador ou celular - que minha mãe continuava feliz com sua vida e dedicada a ela mesma, me fez um bem gigante. Assim como ver a Cacau com alguns quilos a mais, porém fiel, me fez pensar que eu sou um sortudo do caramba.

Essas foram as não mudanças em casa que me deixaram feliz.

Quando encontrei com Thomas e Augusto me esperando no portão de desembarque, eu soube que mais três anos ou dez anos poderiam passar, mas que a amizade continuaria a mesma. O que nós tínhamos é muito forte e vinha de um longo tempo. Então ser recebido de braços abertos em casa pelos meus melhores amigos de infância me causou uma sensação de paz que não consigo colocar em palavras.

A mesma coisa aconteceu quando coloquei meus olhos em Felipe depois de toda aquela distância que nos impedia de conviver como antes. Mesmo que mantivéssemos contato, Felipe não era como Augusto e Thomas que estavam no mesmo país e apenas em uma cidade diferente; Eu podia ir de Porto Alegre até o Rio de Janeiro de ônibus se quisesse, mas eu não podia pegar um ônibus e aparecer do nada no Canadá.

Só que mesmo estando em países diferentes e anos afastados não fizeram nenhuma diferença na nossa amizade.

Me reunir com aqueles três depois de tanto tempo me fazia sentir como se nunca tivesse me mandando do Rio de Janeiro por motivos que praticamente todo mundo julga como covardes, mas ninguém tenta nem por um segundo se enxergar na minha pele. Ver pelos meus olhos ou sentir absolutamente tudo que eu senti. Na época, me pareceu uma ótima pedida fugir de tudo e me enfiar na cidade mais distante que eu tinha parentes. Parando para analisar hoje em dia...

Não foi a ideia mais inteligente que eu já tive na minha vida.

Digo, ok, uma pessoa pode tomar a decisão de se mudar, não é? Ir morar com meu pai no Rio Grande do Sul não era uma decisão tão errada assim parando para analisar toda a situação. Eu só tinha que conversar com as pessoas que amava, arrumar a minha mudança e aí sim ir morar com ele. Mas é claro que não foi que eu fiz. Porque eu surtei. Pirei. Fiquei fora da casinha.

Não pensei nas minhas ações ─ certo, eu pensei, só não pensei da maneira correta. Fiquei tão desesperado com a situação toda que nem com a minha mãe eu conseguia falar. Aquela quarta-feira de três anos atrás foi passada toda dentro do meu quarto, trancado lá dentro e tentando não saber de nada que acontecia do lado de fora. Até que meu pai me ligou e a ideia de ir morar com ele simplesmente surgiu e eu achei que ali estava a solução de todos os meus pseudo problemas.

Por que, veja bem, não tem nenhum problema se descobrir apaixonado pela melhor amiga de infância. Claro que não. Mas fala isso para o Rafael de três anos atrás, faz aquele imbecil entender isso e aceitar as coisas de uma maneira diferente das quais ele aceitou.

A verdade foi que eu lidei bem até certo ponto com toda aquela paixão reprimida.

Alguma coisa em Maria Luísa sempre me fazia ficar.... Diferente. Sempre fomos muito colados um no outro e, algumas vezes, parecíamos ser a mesma pessoa. As nossas mães gostavam de brincar com a ideia de que éramos um feito de dois.

Desde que éramos crianças, mas apenas fui descobrir do que se tratava aquilo quando fiz oito anos. E, mesmo naquela época, já era difícil admitir algumas coisas. Era difícil admitir para os meus amigos que preferia mil vezes a companhia de Maria Luísa ou quando ela era inclusa nas brincadeiras. Nenhum deles entendia isso por que, naquele tempo, garotas deveriam ser mantidas distantes.

E mesmo a Malu sendo a nossa melhor amiga existiam algumas regras sobre isso. Até mesmo naquela época ela achava garotos meio ─ muito ─ nojentos e começou a brincar apenas com as garotas do Basso, criando uma espécie de barreira idiota entre todos nós.

Crianças são complicadas mesmo.

Foi essa a única vez que nos afastamos e não durou nem dois meses. Depois disso fizemos a nossa promessa de nunca mais deixar que algo nos afastasse. A nossa amizade assim como nós acabou crescendo com o tempo. Assim como meus sentimentos definidos, mas sem nome, por Maria Luísa foram crescendo também.

Uma criança de oito anos não tem noção do que é ser apaixonada pela melhor amiga e um pré-adolescente de onze anos também não tem essa clareza da vida, mas um garoto de quatorze anos já tem noção das coisas que estão acontecendo com ele. Ainda mais se certos sentimentos viessem se solidificando ainda mais com o passar dos anos. É, foi com quinze anos que eu percebi que os meus sentimentos lá de oito anos pela Malu iam além de uma amizade forte.

Eu amava aquela garota desde moleque, mas só entendi isso na adolescência.

E quando fui capaz de entender o que acontecia dentro de mim quase surtei. Ok, eu surtei levemente, porém nada que cause uma grande comoção. Ainda enxergava a Malu como a minha melhor amiga desde criança, claro que enxergava e sempre iria ver ela daquela maneira, só que.... Não era dessa maneira que eu a enxergava. E ter que lidar com isso sem poder contar para os meus melhores amigos foi bem estressante.

Não podia contar para o Felipe por que ele era o irmão da Maria Luísa; Não podia contar para o Augusto por que ele não conseguia esconder nada da Malu; Não podia contar para a Malu por que ─ surpresa ─ era por ela que eu estava apaixonado. Por fim, não podia contar para o Thomas por que... Era complicado.

Eu não sabia o real significado de complicado até que a situação começou a sair do meu controle.

Chegou em um momento que ficar perto dela sem tocar era impossível. Qualquer coisa era desculpa para ficar abraçando ela, andando de mãos dadas e beijos na bochecha eram dados por qualquer besteirinha. Tipo, qualquer besteirinha mesmo. Não tinha mais controle dos meus sentimentos por ela e fiquei com medo de Maria Luísa começar a entender aquilo tudo errado, por isso, comecei a me afastar.

Durante uma semana meu plano funcionou perfeitamente. Ainda continuava apaixonado pela minha melhor amiga, mas conseguia lidar com essa situação com um pouco mais de clareza. Só que... Claro que alguma coisa aconteceu e foi aí que eu fiquei fora da casinha. Foi bem aí que eu resolvi tomar aquela maravilhosa decisão de ir embora sem avisar ninguém.

Maria Luísa notou o meu afastamento e quis ─ óbvio ─ entender o que estava acontecendo comigo. Por conta disso ela marcou comigo no Caís em uma tarde de terça-feira para que pudéssemos conversar. Sozinhos. Só eu e ela. Ela e eu. E meus sentimentos que pediam para serem expostos a todo segundo de cada dia.

Aceitei ao convite por que já sabia o que iria dizer para a Malu quando ela me questionasse o motivo do meu afastamento. Sabia que ia estar mentindo, mas uma mentirinha às vezes é melhor do que despejar a verdade; No meu caso, a mentira era mais que bem-vinda.

Aconteceu como eu imaginava assim que Maria Luísa chegou ao Caís. Ela sentou-se ao meu lado, questionou o porquê do meu afastamento e perguntou se tinha feito alguma coisa. Eu, como o bom mentiroso de fachada que me tornei naquela tarde, expliquei para ela que estava um pouco sobrecarregado por conta do colégio e que ninguém tinha feito nada para me afastar. Muito menos ela.

Maria Luísa me confidenciou que ficou aliviada em escutar aquilo e passamos mais algum tempo no Caís apenas conversando as banalidades do nosso dia-a-dia. E assim boa parte da tarde passou.

Porém outra coisa aconteceu naquele dia. Coisa essa que eu não estava nenhum pouco preparado ou imaginava que pudesse vir a acontecer em algum momento da minha existência. Malu disse que havia me chamado até o Caís naquela tarde porque queria me contar uma coisa muito séria e que poderia me deixar surpreso, mas que ela precisava me contar porque me envolvia também.

Ela respirou fundo uma, duas, três e mais vezes antes de começar a falar um monte de coisas que me cérebro não era capaz de capturar. Maria Luísa falava demasiado rápido e gesticulava muito com as mãos naquele momento, como se tentasse retratar tudo, porém nada me fazia entender do que ela estava falando. Mas aí ela respirou fundo uma última vez, abaixou seus braços e fixou seu olhar no meu.

E mesmo antes dela pronunciar qualquer coisa, eu já sabia que estava ferrado.

Eu sabia que isso poderia acontecer, só não esperava que fosse acontecer comigo. ela inclinou seu corpo na direção do meu, como se fosse sussurrar um segredo bem na minha direção. E foi exatamente isso que ela fez. Mas diferente do que eu esperava não era um segredo, mas sim uma bomba. Surpresa, acho que estou apaixonada por você.

Foi depois de escutar essas palavras que eu travei totalmente e surtei de verdade.

Não sei como cheguei em casa, não lembro do que disse para Maria Luísa e nem faço ideia das palavras que minha mãe gritou assim que atravessei a sala correndo. Nada, eu não lembrava de nada que não fossem aquelas palavras.

Foi por isso que a minha ideia de ir morar com meu pai surgiu.

Porque quando escutei a minha melhor amiga pronunciando as palavras apaixonada por você, eu sabia que a culpa de tudo aquilo era minha e ela nem fazia ideia. Na minha cabeça eu forcei aquilo. Ela não estava realmente apaixonada por mim, mas achava que estava por conta de toda a minha falta de controle.

Pois é, fugi feito um cachorro assustado por conta dos meus sentimentos mal resolvidos pela minha melhor amiga e por que tinha certeza que havia influenciado ela de alguma maneira a sentir o mesmo por mim. Fui embora da minha cidade sem avisar ninguém, sem me despedir de ninguém e, pior ainda, sem deixar nenhum bilhete qualquer. Apenas deixei tudo para trás como se eu não me importasse com nada.

O que era uma grande mentira.

E essa é a história por de trás da história toda; O tal motivo que muita gente não compreende e, sinceramente, nem tenta entender; A partir dessa ideia que toda a história começou a acontecer para valer.

Meu plano inicial seria de ficar apenas um ano afastado e depois voltar para casa, mas aí aconteceu a coisa mais inesperada de todas: acabei me apegando a Porto Alegre de tal maneira que não conseguia dizer tchau para a cidade. E, bem, teve outra coisa também que me fez permanecer afastado por três anos.... Enfim, estendi a minha estadia na cidade por mais dois anos.

Mas então em um dia qualquer Augusto acabou me ligando e ficamos uns quinze minutos jogando conversa fora como fazíamos uma vez por semana. Ele me manteve atualizado sobre como as coisas estavam no Rio de Janeiro e eu falava sobre a minha vida no sul. Foi uma ligação normal. Porém quando me despedi de Augusto, ele me fez lembrar de algo que eu havia prometido há muito tempo e eu sabia que não poderia quebrar mais essa promessa.

Foi essa promessa que me fez voltar para o Rio de Janeiro e me fez voltar a estudar no Basso.

Eu tinha essa bendita mania de não pensar antes de agir desde guri e achei que com o tempo isso iria passar, mas depois da cena que sucedia nesse momento na minha frente.... Como sabemos com o decorrer dos anos isso apenas piorou.

Sabia que no momento em que voltasse algum tipo de guerra seria declarada entre Maria Luísa e eu, sabia muito bem que as coisas teriam mudado por aqui, mas nunca esperei ver ódio e mágoa estampados no seu rosto. Nunca.

Não queria que o nosso primeiro encontro fosse daquela maneira.

Ela continuou imóvel próxima a porta, me olhando daquela maneira, mas deixando que outra emoção também surgisse no seu rosto. A tão famosa confusão.

─ Maria Luísa, sente-se. ─ o professor pediu distraído e quando viu que sua ordem não foi acatada, transportou seu olhar até ela e a olhou em dúvida. ─ Aconteceu alguma coisa?

Ela abriu a boca algumas vezes, mas nada saiu da mesma.

Gesticulou com ambas as mãos em direção à porta, mas por fim deixou que elas caíssem ao lado do seu corpo. Apenas continuou imóvel no meio da sala, me olhando daquela maneira e assustada demais com tudo aquilo.

Eu tinha que ter a procurado ao invés de aparecer aqui no Basso do nada.

─ Acho que preciso ir até a sala da diretora e falar sobre o meu horário. ─ ela respondeu voltando sua atenção ao professor. ─ Desculpa, não posso ficar mais nenhum minuto aqui.

─ Malu! ─ Júlia meio que gritou, mas aquilo não adiantou em muita coisa. ─ Isso é culpa sua, Rafael.

É, eu com certeza tinha que ter a procurado antes.

Toda a sala de aula caiu em um silêncio profundo. Quase ninguém deve ter entendido o que acabou de acontecer ali, nem mesmo o professor, mas tanto Júlia, quanto eu sabíamos o que tinha acabado de acontecer ali.

E Júlia fez questão de expor para a sala toda o que havia acabado de acontecer bem ali.

─ Isso foi culpa sua, seu idiota! ─ Júlia mais uma vez fez questão de enfatizar a minha culpa. Depois se virou para o professor e começou a despejar suas palavras em cima dele. ─ Ou eu vou atrás dela ou você vai, mas alguém precisa ir.... Posso?

Não esperei por nenhuma confirmação vinda do professor liberando a Júlia de ir atrás de Maria Luísa. Por que, bem, eu meio que impedi ela de sair da sala. E, não, não a impedi com palavras, mas sim saindo correndo daquela sala atrás da Maria Luísa. Tive a leve impressão de escutar duas pessoas gritando o meu nome.

Ao contrário do que eu pensava ─ e esperava ─ não encontrei com a Malu correndo por um dos corredores do colégio ou escondida em algum lugar. Ela estava encostada em uma parede olhando fixamente para os seus pés, alheia a tudo que a cercava naquele instante e apenas perdida em pensamentos.

Tudo bem, eu consigo fazer isso. Consigo ficar frente a frente com a garota que um dia foi a minha melhor amiga de infância e olhar no fundo dos olhos dela depois de ter ido embora sem avisar. Eu consigo, claro que consigo. Consigo sim. Consigo porcaria nenhuma! É óbvio que não consigo fazer isso.

Mas mesmo tendo certeza que não ia conseguir fazer uma coisa como aquela, me peguei dando passos cautelosos em direção a Maria Luísa. Sabia que ela já tinha percebido que alguém estava ali com ela, mas torcia secretamente que ela apenas descobrisse que fosse eu quando ela olhasse de verdade para mim. Só que para isso acontecer ela teria que desfitar o olhar dela do chão e cravar ele no meu rosto.

─ Não quero falar com você. ─ sussurrou. - Na verdade, eu nem quero te ver.

Descobri que, na verdade, ela não tinha que dignar o olhar para mim já que sabia quem exatamente estava ali com ela. E aquilo me deixou surpreso. Isso quer dizer que ela ainda reconhecia a minha presença e que não tinha fugido de mim pela segunda vez no dia.

Isso deveria significar alguma coisa, né?

─ Precisamos mesmo conversar. Não vai poder ficar fugindo disso para sempre, sabe disso.

Maria Luísa ainda não tinha levantado o seu olhar do chão, mas bastou aquelas minhas simples e inocentes palavras para elevar seu olhar do piso e me encarar com um fogo nos olhos. E aquilo queimou demais, porém não queimou por conta da raiva que havia ali.

Queimou por que era o olhar dela e ele sempre me causava essa sensação.

Sempre causou e tenho a leve impressão que sempre vai causar.

─ Acha que eu estou fugindo? Não sou eu que fujo feito um cão assustado, Rafael. ─ ela rebateu. ─ Não tenho nada para falar com vocês dois.

Não tive tempo de olhar para Maria Luísa dentro da sala de aula por conta dela sair correndo, mas agora parado aqui nesse corredor, com uma curta distância entre nós e apenas nós dois aqui, eu podia admirar a garota a minha frente.

E, pode apostar, tinha muita coisa para contemplar e admirar em Maria Luísa Alves.

Ainda mais depois de três anos sem ver ela. Nem por fotos eu possuía o direito já que todas as redes sociais dela eram privadas e apenas amigos podiam ter acesso aos seus perfis. Não era surpresa nenhuma que eu não estivesse incluso nessa lista.

Mas agora eu podia ver com os meus olhos todas as mudanças em Maria Luísa e admirar cada detalhezinho do seu rosto que mudou com o decorrer dos anos. Podia contemplar cada parte dela mesmo que não tivesse o direito naquele corredor vazio. Por um segundo ou mais, eu pude verdadeiramente olhar para aquela garota que era minha melhor amiga de infância e enxergar todas as mudanças desde a última vez que a vi.

─ Seu cabelo... ─ levantei uma das mãos com a intenção de tocar em uma das mechas, mas detive o movimento.

Ela desceu o olhar para o cabelo que caia em um dos ombros até próximo a sua cintura e o analisou por meio segundo. Alguma coisa brilhou no seu olhar quando ela entendeu o que eu queria dizer. Passou a mão pelo cabelo, recolhendo uma ou duas mechas azuis e depois deixou que elas caíssem e se misturassem com as outras. O cabelo dela era tão castanho que só forçando bastante a visão você notaria aquelas mechas azuis perdidas por ali.

─ Não que seja dá sua conta, mas isso foi uma experiência das férias que deu errado. ─ ela sorriu com a lembrança e por um momento esqueceu que era comigo que ela estava naquele corredor. ─ A Júlia e a Bruna também estão com algumas mechas coloridas e... Não acredito que estou me explicando para você. Isso não faz sentido nenhum!

Girou sobre seus pés e me deu as costas. Maria Luísa deu acho que uns cinco passos até que eu acordasse do meu transe momentâneo e fizesse alguma coisa para impedi-la de sair do corredor. E a única maneira que encontrei de fazer isso foi segurando seu pulso entre os meus dedos.

Um lembrete que vai ser útil daqui para frente: nada de toques, eles ainda causam a mesma sensação de três anos atrás.

─ Malu, é sério. ─ falei. ─ Preciso explicar algumas coisas.

─ Precisa explicar ou quer explicar? Veja bem, são duas coisas bem diferentes. ─ ela olhou para a minha mão que segurava seu pulso. ─ Me solta.

─ Não vou soltar.

Ela me olhou indignada e, que conste nos autos, ela tinha o direito de me olhar daquela maneira. Qual é, qual moral eu tinha de cobrar alguma coisa dela depois de tanto tempo que fiquei distante? Zero, nenhuma.

─ Vocês combinaram isso, não foi?

─ Combinamos o que?

Fiquei confuso por meio segundo, mas então Maria Luísa fez questão de explicar a situação toda.

Ah, quer dizer que ela já sabia que Felipe tinha voltado também...

─ Voltarem juntos. ─ respondeu desesperada. ─ Por que voltaram?

─ Senti falta de casa e prometi que voltava no último ano. ─ respondi.

─ Ah claro, isso deixa tudo melhor ─ ela puxou seu pulso da minha mão, abrindo os braços e soltando uma risada desesperada. ─ Mas não vamos esquecer o fato de ter ido embora sem avisar. Como acha que eu fiquei quando a sua mãe veio falar comigo? Realmente acha que pode voltar e pedir para conversar comigo depois de três anos fora?

─ Tecnicamente estamos conversando nesse momento... ─ deixei a minha frase incompleta e Maria Luísa na mesma hora se calou também.

A garota a minha frente levantou sua cabeça e me lançou um mortal. Engoli em seco diante daquela intensidade e por causa de alguma coisa que resolveu se mexer no meu estomago. Não era hora nem lugar para as borboletas aparecerem.

─ Vou deixar isso mais fácil para nós dois, tudo bem? ─ disse. ─ Não quero ouvir suas explicações ou desculpas esfarrapadas. Vou parar de fugir, como você mesmo disse, é claro que vamos ter aulas juntos nesse último ano. Ao contrário de você, sei enfrentar meus problemas e não fugir deles. Não fiquei feliz com a sua volta e nem vou dizer que senti sua falta, porque eu não senti nada em relação a tudo isso. ─ ela ajeitou ainda mais a sua postura e, por fim, finalizou seu pequeno discurso. ─ Você voltou, bacana, mas não somos mais amigos. Não somos mais nada um do outro.

Meu cérebro parecia que fazia questão de duas coisas naquele momento: rebobinar cada palavra dela e não compreender tudo aquilo. Ela não havia falado tudo aquilo, certo? Não tinha falado tudo aquilo daquela maneira. Com certeza eu devo ter imaginado e...

─ Entendeu ou quer que eu explique tudo novamente?

Perdi as contas de quantos tapas na cara aquele curto ─ ou nem tanto ─ monólogo havia me proporcionado. Por que foi exatamente o que senti com cada palavra dela: um tapa bem dado na minha cara.

Tinha tanta mágoa naquelas palavras. Tanta raiva, tanto ressentimento, tanta coisa ali... E o único culpado dessa situação toda sou eu.

Mas é claro que eu iria ferrar com as coisas só um pouquinho mais. Claro. Pensar antes de falar? Por favor, eu realmente não sei o que é isso, porém preciso descobrir antes que acabe perdendo minha dignidade ─ ou uns dentes ─ por não saber manter a minha boca fechada.

Maria Luísa mais uma vez me deu as costas, disposta a me deixar sozinho naquele corredor, só que, pelo visto, eu não estava disposto em ficar com a boca fechada e com todos os dentes na boca.

─ Não, entendi. Só tenho uma pergunta: ─ apontei em sua direção e deixei que a ironia saísse nas minhas palavras. ─ Cadê a Maria Luísa que conheci?

Maria Luísa parou de andar no mesmo momento em que terminei a minha frase. Aquela situação toda era o oposto do que eu queria para o nosso primeiro reencontro, não queria um tipo de briga ou algo tão frio assim; Maria Luísa não era dessa maneira, pelo menos não a Maria Luísa que eu sempre conheci.

Ela girou seu corpo em minha direção novamente e eu não sei quanto tempo ficamos analisando um ao outro. A batalha que ela travava em silêncio com ela mesma era nítida, eu conseguia ver cada dúvida através dos olhos de Maria Luísa enquanto a mesma buscava por uma resposta a minha pergunta. Mas eu não precisava de uma resposta para aquilo, eu já sabia simplesmente o que tinha acontecido com ela. E tenho culpa em partes sobre isso.

Maria Luísa simplesmente não era mais a garotinha indefesa que eu tinha conhecido.

─ Está parada na sua frente. ─ um sorriso sem humor algum estava em seus lábios. ─ A diferença é que ela cansou de ficar sofrendo por babacas que a abandonam sem nenhum motivo aparente.

Apenas quando ela me deu as costas definitivamente é que eu me dei conta de tudo que eu havia perdido. Perdido não, estragado. Seria esse estrago temporário?

Todas aquelas coisas que eu passei com a Maria Luísa ficaram no passado e eu não sabia se tinha chances de elas voltarem a acontecer em algum futuro próximo.... Ou em um futuro distante.

Eu apenas sabia que sem ela eu não seria o mesmo que eu era quando tinha ela.

Porque, de fato, agora nós não éramos mais um feito de dois.

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