– Já estou perdendo a paciência garota! – gritou vindo em minha direção, mas não recuei, continuei parada o encarando. Se ele pensou que seria mais uma garotinha tola, estava bem enganado. Todo aquele sofrimento, meses num abismo, uma tristeza sem fim, tinham me fortalecido. Eu era alguém mais forte, era alguém mais segura.
– Você pode ser o deus dos mortos, do inferno ou do raio que for. Acontece que não tenho medo de você, de suas ameaças ou tolices. Imagino que queira me usar para algum plano contra Zeus, o problema é: Sebastian e o pai não me querem por perto, não fazem a menor questão de me encontrar ou me trocar por alguma coisa. Eles me largaram, me deixaram para traz. Não sou moeda de troca, se quer serviria como escudo.
– Você não namora o metido a deus?
– Namorávamos, na verdade estávamos noivos.
– E? – disse impaciente.
– E terminamos por uma visão estúpida de uma louca, que viu Sebastian matando nosso filho. Foi isso que aconteceu.
– Tudo bem até aí meu plano está certo.
– Como?
– Tânia era uma velha amiga minha, me devia uns favores então foi fácil convencê-la a assustar o príncipe do Olimpo. Zeus sempre acreditou veemente em suas visões, pobre coitado – gargalhou maleficamente enquanto senti meu sangue ferver.
– Era mentira?
– Completa e absolutamente, queridinha – lançou-me um sorriso tão sarcástico e zombeteiro que minha vontade era pular no pescoço e acabar de vez com aquele imbecil.
– Por quê? Por que acabar com minha vida, com minha felicidade? O que eu te fiz?
– Você? Nada, tola. Agora Sebastian e Zeus sempre foram prepotentes, mereciam um susto.
– E você brinca com a minha vida para afetar os dois?
– Quem é você? Uma mortal, uma inútil. Você realmente acha que ele te ama? Você mesma disse que se passaram meses e nada dele te procurar, isso é amor? Não queridinha, não é!
– Posso ser uma inútil mas nunca fui peça de xadrez e nunca vou ser. Isso que você sente por Zeus é sentimento bem humano, se chama inveja. Você nunca terá o amor e a felicidade que o cerca, nunca terá a certeza de que alguém realmente te ama.
Os olhos de Hades se fecharam numa expressão fria, seu corpo parecia petrificado diante de nossos olhos. Euro ainda estava lá, quieto, prendendo a respiração e prestes a me segurar caso eu partisse pra cima dele. Então Hades deu uma gargalhada tão forte e forçada que senti como se meus tímpanos fossem voar.
– Você me deu uma ideia genial garota!
– Dei?
– Sim! Sabe, pensei em marcar um encontro com Zeus e exigir algo pela sua vida. Mas de fato você tem razão, provavelmente eles não vão se preocupar com isso. Agora, se eu te assumir como minha namorada ou esposa aí sim o pequeno deus irá sentir no peito. Isso seria genial!
– E o que me faria fingir ser sua esposa? Você me mataria se eu me negasse? Pois bem, pode seguir em frente.
Hades se assustou com aquilo, aparentemente não era um comportamento tão rotineiro. Mas vi seu olhar mudar, uma faísca surgiu seguida de um grande sorriso sádico.
– Bem querida Helen, você não teme por sua vida, já percebi isso. No entanto não estava pensando em te castigar, mas sim punir Euro, esse empregado patético e incompetente.
Senti um golpe no estômago, como ele podia ser tão baixo? Depois de prometer recuperar sua vida, depois de dar sua palavra, como ele pode ser tão absurdo? Euro tinha me usado, me doía saber disso, mas não a ponto de odiá-lo. Tinha sido amável, educado, gentil. Tinha me dado abrigo, proteção. Não poderia simplesmente virar as costas e fingir que nunca o conheci, não era tão suja como Hades.
– Você venceu.
– Como, queridinha?
– Vou fingir ser sua namorada até que realmente consiga a atenção de Zeus, mas até lá quero Euro o tempo todo ao meu lado. Um tipo de guardião.
– Parece razoável – disse pensativo, colocando a mão no queixo.
– Acordo feito. Assim que conseguir bater de frente com Zeus você me liberta e liberta Euro comigo.
– Se eu conseguir o que quero, sim. Se não, não.
– Então pode matá-lo – fingi um desdém tão real, pude ver a expressão de medo brotando naqueles olhos negros e tive que conter o riso.
– Tudo bem garota, você é bem chata! Assim que Zeus ficar realmente irado libero vocês dois. Acordo feito?
– Agora sim. Perfeito!
Sorrimos triunfantes, ele teria sua namorada fictícia, Euro teria sua vida poupada e eu... bem eu poderia rever Sebastian. Tremi só de pensar nisso, como ele reagiria ao saber que Hades era meu namorado, como ele entenderia essa situação. Será que ainda se lembrava de mim, será que ao menos se interessaria em me ver? Será que ainda sentia o coração bater mais forte ao me ver?