Capítulo 98

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Finalmente Euro voltou a me encarar e pude ver a tristeza e frieza em seus olhos negros.

– Como?

– Tentei lidar com isso mas cansei. Passei um dia terrível, tentando imaginar o que fizeram, o que ele te disse, nas promessas e juras que trocaram. Quando chegou pensei que fosse vir até o meu quarto, chorar ou apenas conversar, mas estava feliz demais para lembrar da minha existência. Quando você entrou por essa porta meu coração palpitou, pensei que quisesse dormir mais uma vez comigo, que estivesse com medo. Então encarei seus olhos cor de mel com um brilho que nunca tinha visto, totalmente eufórica pela tarde com ele. Eu não posso mais lidar com isso.

– Euro eu... Nunca quis te magoar e por isso fui sincera: amo Sebastian.

– E aquele beijo? Simplesmente esqueceu depois desse dia de amor? Acha mesmo que ele está te esperando sozinho? Aquela loira parecia bastante envolvida.

– Cala a boca! Você não sabe o que está falando! – gritei o fazendo mudar de expressão. Ele caminhou até a porta e a abriu, seu olhar totalmente vazio.

– Saia do meu quarto – disse fixando o olhar na janela, totalmente indiferente.

– Euro...

– Adeus.

– Eu posso muito bem seguir sem você! – gritei.

Respirei fundo e sai com uma expressão fechada, tentando controlar as lágrimas que logo começariam a descer. Corri até meu quarto e bati a porta ferozmente. Era pra ser um dia feliz! Por que Euro estava fazendo aquilo? Qual era o problema dele? Encostei na porta e me deixei cair lentamente até o chão, um choro baixo mas forte. Ali no chão tentava encontrar o motivo daquilo, ele era só um amigo, por que me importava tanto? Reuni forçar para chegar até a cama, o cansaço pelo choro e pelo dia me fizeram adormecer mais rápido do que eu esperava.

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Antes do sol despontar eu já estava arrumada e pronta, esperei na grande sala de jantar até que um funcionário, estranho e sinistro como todos os outros, chegasse. O segui até a pedra mas elevada, o ponto de embarque e desembarque do castelo. A superfície com rodas logo foi conduzida até nós dois e por um segundo pensei que Euro apareceria, nem que fosse para se despedir. Mas não aconteceu. Minas também não foi, me perguntei qual era o problema com todos, por que tamanha indiferença? Antes que meu drama psicológico aumentasse subi na superfície amparada pelo empregado e logo seguimos caminho.

Haviam poucas nuvens no céu, uma imensidão de claridade e calor denunciavam o nascer do sol. Era divino. Mesmo com toda confusão e tristeza era impossível ignorar tamanha perfeição. Admirei aquele quadro vivo por todo o caminho, deixei meus pensamentos fluírem com o vento, meus problemas serem levados aos quatro cantos, apenas aproveitei aquele momento mágico. Antes que eu percebesse estava num lugar bastante conhecido. De longe pude ver uma queda d'água de um ângulo até então desconhecido, forçando a vista pude ver a enorme cachoeira, a minha Cachoeira da Pedra. Perdemos velocidade aos poucos e então alcançamos terra firme. Recebi um aceno tímido e vi o funcionário voar para longe novamente, agora era só eu.

Aquele lugar me fez sentir uma felicidade tão incrível, lembrar do meu primeiro beijo, dos momentos de amor, das conversas, da minha infância. Aquela era a minha cachoeira, meu pedaço paraíso na terra, meu porto seguro. Caminhei até minha pedra, era a mais arredondada, lembrava uma grande poltrona desajeitada. Sentei calmamente e comecei a admirar a queda da água, brilhantes pelos raios de sol, quase mágica. Lembrei do primeiro encontro com Sebastian, quando me disse que era melhor que qualquer garota, quando tive a certeza de que ele mudaria minha vida. Na minha cabeça também veio a imagem do nosso último encontro, pra onde corri quando ouvi a suposta visão do assassinato do nosso filho, do adeus a Sebastian.

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