Capítulo 6

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Enquanto Lara ainda falava sobre toda a sua tarde de amor com o meu melhor amigo eu fui esquentar o almoço, tentando prestar atenção em tudo que ela falava. Mas quando olhei na grande janela da cozinha vi o que eu menos queria ver naquela hora, o carro vermelho.

            – O que aquele carro faz ali?

            – Hã... do que você tá falando Helen?

            – Aquele carro – apontei.

            – É seu novo vizinho, ele comprou essa casa há alguns dias. Minha mãe disse que ele pediu transferência para a nossa escola, tem dezoito anos e mora sozinho. Não o vi ainda, mas minha mãe disse que é maravilhoso.

            – Ele vai mudar pra escola e ser meu vizinho? – estava perplexa.

            – Qual o problema, o que você tem?

            – Na-nada estou ótima. Pode continuar falando sobre o Bruno.

            Agora mesmo nada fazia sentido, eu esquentei a comida, coloquei a mesa, comi, lavei os pratos e voltei para sentar no sofá. Lara não parou de falar um segundo e eu só precisava lançar um olhar de interesse ou uma pergunta tola para impulsionar ainda mais sua prosa. Já estava anoitecendo quando ela decidiu ir embora, senti um alívio tão grande por saber que teria sossego para meus ouvidos.

            – Obrigado por me ouvir amiga, nos vemos segunda – disse me abraçando.

            – Nada Lara, até segunda.

            Não era um problema ouvir Lara, pelo contrário eu adorava suas histórias e até estava contente por ela e o Bruno. Mas hoje eu não estava bem, saber que aquele garoto seria meu vizinho e estudaria no mesmo colégio que eu, isso não poderia ser pior. Tentei esquecer isso e quando minha avó chegou essa tentativa foi por terra. Fingi que estava dormindo e quando ela abriu a porta pude ver que chovia forte lá fora, mas ela não estava só. Pensei em virar, mas desisti quando ouvi com quem ela falava.

            – Pode deixar aqui na porta mesmo meu filho, já fez muito me trazendo em casa.

            – Claro que não senhora, não fiz nada demais. E agora somos vizinhos, a senhora ainda vai me emprestar muito sal e açúcar – ele riu. Eu não podia acreditar que estava ali, do outro lado da sala. Eu estava deitada no sofá, de costas para a porta, ele não podia me ver e eu rezei para que minha avó não andasse e me encontrasse ali, escondida.

            – O que quiser, sempre que precisar pode me pedir.

            – Obrigada. Agora vou indo, fiquei meio encharcado nesse caminho.

            – Certo, não vá pegar um resfriado. Até outro dia.

            – Até mais Dona Agnes.

            Ouvi o carro saindo, era silencioso, mas pude ver pelo farol que iluminou a sala. Minha vó pegava as bolsas da porta e aí pude me revelar.

            – Você está aí Leni, pensei que estivesse no quarto.

            – Eu peguei no sono vó, nem te vi entrar.

            – Que pena, queria te apresentar a Sebastian.

            – Quem? – esse era o nome dele.

            – O conheci no mercado, ele parecia meio confuso para fazer compras e resolvi ajudá-lo – típico da minha avó – então quando saímos estava uma chuva horrível e ele me ofereceu uma carona, ele vai morar aqui ao lado e estudar na sua escola.

            – Hum interessante.

            – Vocês se dariam bem meu amor, ele parece bastante com você.

            – Parece? – tentei esconder o entusiasmos mas ela percebeu.

            – Sim, ele adora músicas calmas como você, não bebe ou fuma e também ama ler.

            – Ah vó, nem tão parecidos.

            – De qualquer maneira vocês vão ter a oportunidade de se conhecer melhor na escola.

            Eu não sabia se vibrava ou chorava de raiva, a promessa era nunca mais vê-lo e agora ele faria parte da minha rotina mesmo sem ter planejado isso. Eu não queria imaginar a loucura que seria aquele garoto na escola, a Lara teria uma síncope só de olhar para ele, a Karen já tinha planos de atacá-lo mesmo sem conhecê-lo e eu duvido que ele detestasse essas garotas em cima dele. Não me restava mais nada além de pegar um bom livro e tentar esquecer que a segunda se aproximava. 

            O domingo já estava chegando ao fim quando o telefone tocou e eu corri para atender.

            – Helen eu queria falar com você.

            – Bruno?

            – Sim, por que a surpresa?

            – Nada. Pode falar – sim, eu esperava por Sebastian. Ele poderia ligar e convidar minha avó para um chá, vai saber.

            – Então, você pode vir aqui em casa? Eu preciso de uma ajuda em português.

            – Ai Bruno, agora? Deixa pra amanhã.

            – É para a primeira aula, não vai dar tempo. Por favor.

            – Tudo bem, já vou.

            – Ótimo. 

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