Capítulo 10

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Ela levantou e foi em direção ao centro da sala, ele sentava no meio, todas as seis cadeiras em volta eram de meninas enlouquecidas e falantes. Lara sabia como interagir e foi só um pulo até dar dois beijinhos no rosto dele, rir de alguma piada ou seja lá o que for. Quando a professora chegou Lara voltou para nosso lugar, visivelmente empolgada.

            – Bom dia crianças, bom dia Sebastian – A professora Ana era bastante simpática e lembrava minha avó. Queria deixar o novato a vontade, como se fosse necessário. 

            – Bom dia Professora Ana – para as meninas ouvir aquela voz era quase como ouvir arcanjos com suas harpas. Aquilo já estava me irritando, sinceramente. A aula seguiu com diversas gracinhas, se Ana não fosse casada eu poderia jurar que ela estava dando em cima de Sebastian.

            A aula seguinte ficou vaga, para meu total desespero. Fomos para o pátio, Bruno tinha chegado para a segunda aula, como sempre. O dia estava agradável, uma temperatura que inspirava tranquilidade. Bruno chegou e tampou os olhos de Lara, bem ao estilo comédia romântica.

            – Quem é?

            – Meu lindinho! – gritou eufórica. Vendo isso eu quase conseguia acreditar que o encanto de Lara por Sebastian era apenas algo ilusório, o sentimento por Bruno era palpável, seguro, verdadeiro.

            – Oi Helen, Bom dia – ele estava seco, meio reservado, se não tivesse tão mexida eu iria me incomodar profundamente, mas preferi ser indiferente também.

            – Olá.

            A euforia no pátio não poderia ser maior, Sebastian foi arrastado até um banco e foi cercado de garotas. A mais articulada e decidida era Karen, era meio óbvio que ele também estava encantado por ela. Isso me irritava de uma maneira desconcertante, por que aquilo me afetava dessa maneira? Era algo que eu não conseguia entender. Decidi me afastar do casal de amigos, aquilo estava meloso demais, não sabia que Lara ficava tão melosa e enjoada quando estava apaixonada. Para minha sorte tinha um livro em mãos, poderia me encostar em um banco e esperar as longas duas horas vagas, e foi isso que eu fiz. Procurei um canto longe da confusão, sentei e abri o livro, era um suspense, conseguiria ler suas duzentas páginas em duas horas. Começou meio monótono, mas logo fiquei presa a leitura, quando vi o relógio uma hora já tinha passado, fiquei satisfeita. Estava envolta a história que nem percebi quando duas pessoas se aproximaram e sentaram-se numa árvore próxima onde eu estava. Era um casal, casais adoravam aquelas árvores que exalavam um cheiro gostoso, com flores abertas e com alguns passarinhos cantantes. Mas quando virei e olhei, vi que não era um casal qualquer, era Sebastian e Karen. Como assim? Menos de duas horas depois de se conhecerem eles já vão tentar alguma coisa, eu realmente sou ridiculamente antiquada. Bufei, fechei meu livro e sai andando, passando em frente aos dois, sem olhar, quase correndo. Quando já estava a uma distância saudável diminui o ritmo e, como uma melodia, pude ouvi-lo me chamar.

            – Helen espera – Era uma voz doce, ouvir meu nome daquela maneira me desconcertou de uma forma inenarrável, juro que senti as pernas tremerem, mas me controlei.

            – Sim, posso ajudar?

            – É... bem, aquele dia na estrada tudo ficou tão estranho. Pensei que não fossemos nos ver mais – O rosto dele estava na claridade e pude ver como seus olhos eram ainda mais lindos, seu sorriso era algo de outro mundo. Mas eu não seria patética como todas aquelas garotas, eu não seria sua fã.

            – Ficou sim, mas de qualquer forma estou viva e isso que importa.

            – Com certeza, mas por que você achou que morreria? Eu freei bem antes de chegar perto de você.

            – Não tive essa impressão.

            – Por que não tentou correr, se eu tivesse perdido o controle isso seria útil.

            – Costumo ficar paralisada quando me assusto, é um... defeito.

            – Deveria trabalhar nisso.

            – Antes que algum carro com freios menos potente me ache por aí – falei baixo.

            – Concordo – riu alto, numa gargalhada gostosa.

            – Bem, vou entrar, temos aula agora.

            – Vou ficar, tenho que terminar uma conversa.

            – Você e a Karen são um casal bem óbvio.

            – Por quê? – ele estava visivelmente interessado.

            – Estereótipos tolos, a loira com o fortão. Estilo Barbie e Ken sabe?

            – Entendi, talvez você devesse esquecer esse estereótipo por que no momento eu só estou tentando fazê-la entender que não quero absolutamente nada com ela – Sorte minha que meus cabelos estavam soltos e pude esconder meu sorriso.

            – Agora eu que não entendi, você não vai querer nada com ela?

            – Não, ela é muito... comum. Parecida com muitas garotas que eu já conheci, não vim de tão longe para me envolver com alguém tão normal.

            – Se por acaso eu encontrar alguma medusa ou fada te aviso.

            – Por favor, facilitaria minha busca – rimos. Eu queria falar mais, sei lá sobre o que, mas eu gostaria de ouvir suas besteiras e rebater algumas coisas. Infelizmente precisava entrar e voltar a vida escolar normal.

            – Então, até depois – sorri.

            – Por que você não fica, podemos matar essa aula. – ele me convidando para cabular aula, isso só poderia ser uma brincadeira.

            – Se no seu primeiro dia de aula você já está assim, nem quero imaginar na formatura.

            – Que nada, eu sou comportado só não quero aprender coisas inúteis.

            – Pois é, mas eu preciso dessas coisas inúteis para receber meu diploma. Nos vemos depois, boa conversa com a sua amiga.

            – Tudo bem Helen, até mais – ele sorriu e se virou para encontrar uma emburrada Karen, visivelmente irritada e com vontade de me desintegrar com o olhar. 

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