– Bem, a Lara e eu estamos...bem, juntos sabe. Começamos a nos entender ontem na casa dela, foi bem legal. Estamos nos entendendo.
– Ora e você acha que eu não sei? Minha melhor amiga é tão detalhista que sou até capaz de narrar como foi esse dia, de trás pra frente, em latim ou aramaico.
– Nossa, isso me deixou sem graça – riu alto.
– Qual o problema então, eu fiquei muito feliz quando soube que vocês se entenderam finalmente.
– Como assim finalmente?
– Vocês cresceram juntos, desde a barriga da mãe de vocês. Era meio óbvio que era uma questão de tempo até que vocês se apaixonassem.
– Ah sim... mas você também estava na barriga da sua mãe, e as nossas mães eram muito amigas – Essas recordações me incomodavam um pouco, mas eu já tinha começado a falar mesmo.
– É diferente, ainda bebê eu saí daqui e vocês ficaram.
– Deixa de tolices, com oito anos você voltou e nós três nos tornamos inseparáveis desde então.
– Aonde você quer chegar com essa conversa Bruno? – aquilo estava me irritando, mais do que o normal.
– Quero dizer que estou sim com a Lara, ela me faz bem, me sinto feliz com ela. Contudo ela não é você Helen, ela não é a garota que me faz rir de tolices, tem um senso de humor mórbido, não imagina o quanto é bonita, tenta parecer sem graça e nunca consegue, que come o sorvete do mesmo sabor, tem medo de escuro mas não confessa, que adora as mesmas bandas que eu. Ela não é a garota que mexe comigo desde quando me entendo por homem, desde criança, desde sempre. Ela não é a garota por quem sou apaixonado Helen.
– Bruno, eu... eu não sei o que dizer – Eu senti como se uma rachadura se abrisse sob meus pés e que eu cairia ali numa questão de segundos. Nos conhecíamos tão bem e eu nunca percebi nada, esse sentimento todo que ele dizia ter por mim era algo completamente absurdo. Desde os dez anos a Lara era apaixonada por ele, desde sempre ela sonhava com ele e tinha ciúmes. Não era justo, ela merecia esse amor e não eu. Até por que, para mim, ele era um amigo que me fazia rir e era uma companhia agradável, nada além isso.
– Não precisa falar nada Helen, só quero que você tenha isso bem claro na sua cabeça. No dia que você entender o que sinto por você e acreditar que pode ser recíproco me procura, a qualquer hora.
– Bruno eu...
– É melhor você ir, sua avó pode ficar preocupada.
– Tudo bem, até amanhã então.
Fui andando meio tonta para casa, tudo parecia tão estranho. Aquilo foi uma declaração de amor, a única que alguém fez pra mim. Pena que foi a pessoa errada. Senti como se fosse uma despedida, o Bruno certamente planejava levar a sério o romance com a Lara e isso incluía menos tempo comigo, menos tempo com o meu melhor amigo. De qualquer forma eu estava feliz, minha grande amiga finalmente seria feliz com o príncipe dela e era questão de tempo até o Bruno esquecer essa loucura e se render aos encantos dela.
Cheguei em casa e subi para o quarto, minha avó já estava dormindo então resolvi deitar sem jantar, a ansiedade pelo dia seguinte já estava me consumindo de uma maneira chata e incômoda. Fui até o armário separar minha roupa para o dia seguinte, coisa que eu nunca fazia por pura preguiça. Peguei uma calça meio justa e uma camiseta estampada. Deitei e tentei pegar no sono, porém parecia algo impossível de acontecer. Eu o encontraria no dia seguinte, ele falaria comigo? Me reconheceria ou apenas me ignoraria? Essas dúvidas estavam me deixando aflita e sem sono, então levantei, peguei um volumoso livro sobre as regras de português e fui ler. Sempre dava certo, em questão de segundos eu estava dormindo profundamente.