– Por quê?! Por que Hades?! – vociferei enquanto embalava o corpo sem vida nos meus braços. Os cachos negros estavam manchados de sangue e os olhos fechados em um silêncio eterno.
– Esse estúpido fez tudo errado! Que droga!
– Ele está morto? Você o matou?
– Era para atingir o fedelho, esse imbecil estragou tudo!
Zeus gentilmente me alcançou e tirou o peso do corpo do meu. Fez uns sinais, balbuciou algumas coisas e apenas cobriu o corpo de Euro com um pano velho. Aquilo não estava acontecendo, Euro não estava morto, não podia estar.
– Bem, pelo visto você matou seu soldado e com isso a batalha chegou ao fim.
– Zeus e sua cara de pau. Não tenho culpa se esse servo era um imbecil a ponto de morrer pelo seu filho. Esse idiota vai me pagar lá embaixo.
– Não mais, eu libertei a alma dele, Hades, ele não ressuscitará.
– O que? Seu intrometido! Ele era meu soldado.
– Agora não é mais. E acabamos por aqui. Meu filho venceu a luta e a Helen voltará conosco. Sua festinha chegou ao fim.
– Meu irmão não cante vitória, não sabemos o dia de amanhã.
– Amanhã é outro dia Hades, mas hoje a vitória foi nossa. Venha querida, você voltará conosco e nunca mais precisará ver esse desvairado.
E eu segui, apenas me deixando levar por Zeus e seu braço quente. Meu olhar ainda focado no boneco de cera com um pano em cima, meu coração pequeno demais para responder ao mundo. Hades fora derrotado, eu tinha minha liberdade mas Euro... ele...
– Está tudo bem? Você está péssima? Sorria, você está livre!
Olhar Celena tão perto me fez ficar ainda mais tonta, ela estava radiante e linda com um longo vestido dourado. Sua euforia só me trouxe maior tontura e quando encontrei aqueles olhos azuis as lágrimas vieram com uma facilidade enorme. Sabia que podia contar com a minha grande amiga.
– O que houve? Não está feliz?
– Ele morreu Celena... Euro se foi para sempre.
– Mas ele era malvado, Helen, ele não era o herói. O meu irmão era e ele te salvou.
– O malvado salvou a vida do seu irmão! Ele se atirou na frente daquele raio e morreu por ele! - As lágrimas escorriam com velocidade e toda confusão mental me tornou ainda mais agressiva. Ninguém estava sentindo a mesma coisa que? A maneira absurda que Euro foi morto e ninguém fazia nada? Que pessoas doentes eram essas que acham válida a morte de alguém pela liberdade de outra?
– Ela está confusa Celena, deixa que a levarei pra casa agora mesmo.
– Eu não estou confusa, Sebastian, e ainda não entendo o que você fez. Euro tinha falado sobre o acordo, você tinha aceitado por que ele não fez nenhum sinal de negativa. Por que deu pra trás? Por que não manteve sua palavra? - Recebi um olhar de indiferença e incredulidade, quem era esse homem?
– Esse assunto trataremos na sua casa. Vamos.
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A viagem de retorno foi rápida, algumas nuvens carregadas e um vento forte. Em nenhum momento dirigi a palavra ou o olhar a Sebastian, definitivamente esse não era o nosso melhor momento. No que ele tinha se transformado? Por que aceitou a luta? Ele estava indiferente desde o início, mas qual era a razão? Eu queria pular daquele maldito meio de transporte e mergulha na escuridão, queria simplesmente desaparecer e esquecer toda aquela tragédia, toda a dor que meu coração sentia.
– Chegamos.
– Ótimo!
Desci o mais rápido que pude e segui caminhando para o velho atalho, a chuva já me trazia sinais de uma gripe. Involuntariamente olhei para trás e percebi que Sebastian não me seguia, estava na mesma posição do pouso e o olhar ainda mais duro.
– O que é? Não vem comigo?
– Não.
– O que? Qual é o seu problema? Você está vivo, isso deveria te deixar feliz! Além disso eu estou livre, essa não foi a razão daquela luta estúpida que matou Euro? – As palavras saíam como raios e finalmente o olhar de Sebastian encontrou o meu.
– Correção: matou o seu amante.
– Do que você está falando? – tentei parecer calma e tranqüila mas no fundo um turbilhão de tremores me fez balançar.
– Eu vi vocês naquela noite que ele te levou, eu vi o beijo e vi o quanto você gostou dele.
– Sebastian eu...
– Você vai ficar quieta, dar meia volta e retornar para essa droga de casa que eu comprei pensando em viver ao seu lado. E depois disso Helen você nunca mais vai lembrar de mim e dessa vez eu vou fazer um feitiço bem feito.
– Você não está falando sério – as primeiras lágrimas começaram a cair e precisei lutar para manter a calma. –Você não pode fazer isso comigo.
– Pois farei Helen. Eu me arrependo de tercruzado o seu caminho, me arrependo de ter me envolvido com uma pessoa tão sujacomo você. O que você acha que passou pela minha cabeça quando vi aquele servote tocando, beijando sua boca e te acariciando? Como acha que me senti Helen?Você, com essa pose de santa e sempre me dando lição de moral pelo meu ciúme,olha no que você se tornou! Vai dizer que também dormiu com Hades? Eu nãoduvidaria!
